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Um meteorito contém evidências de água líquida em Marte há 742 milhões de anos
19 de novembro de 2024
 

O Meteorito de Lafayette foi arrancado da superfície de Marte e depois viajou pelo espaço durante cerca de 11 milhões de anos. Acabou por ir parar a uma gaveta da Universidade Purdue em 1931 e, desde então, tem ensinado aos cientistas mais sobre Marte.
Crédito: Purdue Brand Studio
 
     
 
 
 

Um asteroide atingiu Marte há 11 milhões de anos e enviou pedaços do Planeta Vermelho a voar pelo espaço. Um desses pedaços de Marte acabou por se despenhar na Terra, algures no estado norte-americano de Indiana, e é um dos poucos meteoritos que podem ser atribuídos diretamente a Marte. Este meteorito foi redescoberto numa gaveta da Universidade Purdue em 1931 e, por isso, recebeu o nome de Meteorito de Lafayette.

Durante as primeiras investigações do Meteorito de Lafayette, os cientistas descobriram que este tinha interagido com água líquida enquanto esteve em Marte. Há muito que os cientistas se interrogam sobre quando terá ocorrido essa interação com a água líquida. Uma colaboração internacional de cientistas determinou recentemente a idade dos minerais do Meteorito de Lafayette que se formaram quando havia água líquida. A equipa publicou os seus resultados na revista Geochemical Perspective Letters.

Marissa Tremblay, professora assistente do Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias da Universidade Purdue, é a principal autora desta publicação. Marissa Tremblay utiliza gases nobres, como o hélio, o néon e o árgon, para estudar os processos físicos e químicos que moldam as superfícies da Terra e de outros planetas. A autora explica que alguns meteoritos marcianos contêm minerais que se formaram através da interação com água líquida enquanto ainda se encontravam em Marte.

"A datação destes minerais pode, portanto, dizer-nos quando é que havia água líquida à superfície de Marte ou perto dela, no passado geológico do planeta", afirma. "Datámos estes minerais no meteorito marciano de Lafayette e descobrimos que se formaram há 742 milhões de anos. Não pensamos que houvesse água líquida em abundância na superfície de Marte nesta altura. Ao invés, pensamos que a água veio do derretimento de gelo subsuperficial próximo chamado pergelissolo, e que o derretimento do pergelissolo foi causado pela atividade magmática que ainda ocorre periodicamente em Marte até aos dias de hoje".

Nesta publicação, a sua equipa demonstrou que a idade obtida para o momento da interação água-rocha em Marte era robusta e que o "cronómetro" utilizado não foi afetado por coisas que aconteceram ao Meteorito de Lafayette depois de ter sido alterado na presença de água.

"A idade poderia ter sido afetada pelo impacto que expeliu o Meteorito de Lafayette de Marte, pelo aquecimento que o meteorito sofreu durante os 11 milhões de anos em que esteve a flutuar no espaço, ou pelo aquecimento que o Meteorito de Lafayette sofreu quando caiu na Terra e ardeu um pouco na atmosfera terrestre", diz. "Mas conseguimos demonstrar que nada disto afetou a idade da alteração aquosa".

Ryan Ickert, investigador sénior de Purdue, é coautor do artigo científico. Ele utiliza isótopos radioativos pesados e estáveis para estudar as escalas de tempo dos processos geológicos. Demonstrou que outros dados de isótopos (anteriormente utilizados para estimar o tempo de interação água-rocha em Marte) eram problemáticos e tinham sido provavelmente afetados por outros processos.

"Este meteorito é o único que tem evidências de ter reagido com água. A data exata desta reação era controversa e a nossa publicação data quando a água estava presente", afirma.

Encontrado numa gaveta

Graças à investigação, sabe-se bastante sobre a história da origem do Meteorito de Lafayette. Foi expelido da superfície de Marte há cerca de 11 milhões de anos por um evento de impacto.

"Sabemos isto porque, depois de ter sido ejetado de Marte, o meteorito foi bombardeado por partículas de raios cósmicos no espaço exterior, o que provocou a produção de certos isótopos", diz Tremblay. "Muitos meteoroides são produzidos por impactos em Marte e noutros corpos planetários, mas apenas alguns acabam por cair na Terra".

Mas quando o Meteorito de Lafayette atingiu a Terra, a história ficou um pouco confusa. Sabe-se com certeza que o meteorito foi encontrado numa gaveta da Universidade Purdue em 1931. Mas como foi lá parar continua a ser um mistério. Tremblay e outros fizeram progressos na explicação da história da linha temporal pós-Terra numa publicação recente.

"Utilizámos contaminantes orgânicos da Terra encontrados no Meteorito de Lafayette (especificamente, doenças das colheitas) que eram particularmente prevalentes em certos anos para determinar a altura em que pode ter caído e se a queda do meteorito pode ter sido testemunhada por alguém", diz Tremblay.

Meteoritos: cápsulas do tempo

Os meteoritos são "cápsulas do tempo" de planetas e corpos celestes do nosso Universo. Transportam consigo fragmentos de dados que podem ser desvendados pelos geocronologistas. Distinguem-se das rochas que podem ser encontradas na Terra por uma crosta que se forma na sua descida através da nossa atmosfera e que muitas vezes é visível no céu noturno como "estrelas cadentes".

"Podemos identificar meteoritos estudando os minerais que neles estão presentes e as relações entre esses minerais no interior do meteorito", diz Tremblay. "Os meteoritos são frequentemente mais densos do que as rochas terrestres, contêm metal e são magnéticos. Também podemos procurar coisas como uma crosta de fusão que se forma durante a entrada na atmosfera da Terra. Finalmente, podemos utilizar a química dos meteoritos (especificamente a sua composição isotópica do oxigénio) para identificar de que corpo planetário vieram ou a que tipo de meteorito pertencem".

A datação dos minerais de alteração no Meteorito de Lafayette e, de uma forma mais geral, nesta classe de meteoritos de Marte chamada nakhlites, tem sido um objetivo a longo prazo da ciência planetária, porque os cientistas sabem que a alteração ocorreu na presença de água líquida em Marte. No entanto, estes materiais são especialmente difíceis de datar, e as tentativas anteriores de os datar eram muito incertas e/ou provavelmente afetadas por outros processos que não a alteração aquosa.

"Demonstrámos uma forma robusta de datar minerais de alteração em meteoritos que pode ser aplicada a outros meteoritos e corpos planetários para compreender quando é que a água líquida pode ter estado presente", afirma Tremblay.

// Universidade Purdue (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Geochemical Perspective Letters)
// Artigo científico sobre a linha temporal pós-Terra do Meteorito de Lafayette (Mary Ann Liebert, Inc.)

 


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EurekAlert!
SPACE.com
Popular Science
PHYSORG

Marte:
NASA
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia
The Nine Planets
Meteoritos marcianos (Wikipedia)

 
   
 
 
 
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