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Hubble descobre pormenores escaldantes sobre a jovem estrela FU Orionis
26 de novembro de 2024
 

Esta é uma ilustração das fases iniciais da explosão da jovem estrela FU Orionis (FU Ori), rodeada por um disco de material. Uma equipa de astrónomos utilizou as capacidades ultravioletas do Telescópio Espacial Hubble para aprender mais sobre a interação entre a superfície estelar de FU Ori e o disco de acreção que tem despejado gás sobre a estrela em crescimento há quase 90 anos. Descobriram que o disco interior, que toca a estrela, é muito mais quente do que o esperado - 16.000 K - quase três vezes a temperatura da superfície do nosso Sol. Esta temperatura escaldante é quase duas vezes mais quente do que se pensava anteriormente.
Crédito: NASA-JPL, Caltech
 
     
 
 
 

Em 1936, os astrónomos observaram um evento intrigante na constelação de Orionte: a jovem estrela FU Orionis (FU Ori) tornou-se cem vezes mais brilhante numa questão de meses. No seu pico, FU Ori era intrinsecamente 100 vezes mais brilhante do que o nosso Sol. No entanto, ao contrário de uma estrela em explosão, a sua luminosidade diminuiu apenas ligeiramente desde então.

Agora, uma equipa de astrónomos utilizou as capacidades ultravioletas do Telescópio Espacial Hubble da NASA para aprender mais sobre a interação entre a superfície estelar de FU Ori e o disco de acreção que tem despejado gás sobre a estrela em crescimento durante quase 90 anos. Descobriram que o disco interior que toca a estrela é extraordinariamente quente - o que desafia a sabedoria convencional.

As observações foram efetuadas com os instrumentos COS (Cosmic Origins Spectrograph) e STIS (Space Telescope Imaging Spectrograph) do telescópio. Os dados incluem os primeiros espetros no ultravioleta distante e no ultravioleta próximo de FU Ori.

"Esperávamos validar a parte mais quente do modelo do disco de acreção, para determinar a sua temperatura máxima, medindo mais perto do que nunca a orla interior do disco de acreção", disse Lynne Hillenbrand do Caltech em Pasadena, no estado norte-americano da Califórnia, e coautora do artigo científico. "Penso que havia alguma esperança de vermos algo mais, como a interface entre a estrela e o seu disco, mas não estávamos certamente à espera disso. O facto de termos visto tanto a mais - era muito mais brilhante no ultravioleta do que o previsto - foi a grande surpresa".

Uma melhor compreensão da acreção estelar

Originalmente considerada como um caso único entre as estrelas, FU Ori exemplifica uma classe de estrelas jovens e eruptivas que sofrem mudanças dramáticas de brilho. Estes objetos são um subconjunto das estrelas T Tauri clássicas, que são estrelas em formação recente que se estão a "construir" através da acreção de material do seu disco e da nebulosa circundante. Nas estrelas T Tauri clássicas, o disco não toca diretamente na estrela porque é restringido pela pressão exterior do campo magnético da estrela.

Os discos de acreção em torno de objetos tipo FU Ori, no entanto, são suscetíveis a instabilidades devido à sua enorme massa relativamente à estrela central, a interações com uma companheira binária ou a material em queda. Tal instabilidade significa que a taxa de acreção de massa pode mudar dramaticamente. O aumento do ritmo perturba o delicado equilíbrio entre o campo magnético estelar e a borda interior do disco, levando a que o material se aproxime e acabe por tocar na superfície da estrela.

O aumento da taxa de material em queda e a proximidade do disco de acreção à estrela tornam os objetos FU Ori muito mais brilhantes do que uma típica estrela T Tauri. De facto, durante uma explosão, a própria estrela é ofuscada pelo disco. Além disso, o material do disco está a orbitar rapidamente à medida que se aproxima da estrela, muito mais depressa do que a rotação da superfície estelar. Isto significa que deve haver uma região onde o disco impacta a estrela e o material abranda e aquece significativamente.

"Os dados do Hubble indicam uma região de impacto muito mais quente do que os modelos previam anteriormente", disse Adolfo Carvalho, do Caltech e principal autor do estudo. "Em FU Ori, a temperatura é de 16.000 K [quase três vezes a temperatura da superfície do nosso Sol]. Esta temperatura escaldante é quase o dobro da calculada por modelos anteriores. Isto desafia-nos e encoraja-nos a pensar como é que um tal salto na temperatura pode ser explicado".

Para resolver a diferença significativa de temperatura entre os modelos anteriores e as recentes observações do Hubble, a equipa oferece uma interpretação revista da geometria da região interior de FU Ori: O material do disco de acreção aproxima-se da estrela e, quando atinge a superfície estelar, produz-se um choque quente que emite muita luz ultravioleta.

A sobrevivência de planetas em torno de FU Ori

Compreender os mecanismos do rápido processo de acreção de FU Ori relaciona-se mais amplamente com ideias da formação e sobrevivência de planetas.

"O nosso modelo revisto, baseado nos dados do Hubble, não é estritamente uma má notícia para a evolução dos planetas, é uma espécie de mistura", explicou Carvalho. "Se o planeta estiver muito afastado no disco durante a sua formação, as explosões de um objeto FU Ori deverão influenciar o tipo de elementos químicos que o planeta acabará por herdar. Mas se um planeta em formação estiver muito próximo da estrela, a história é um pouco diferente. No espaço de algumas explosões, qualquer planeta que se esteja a formar muito perto da estrela pode mover-se rapidamente para o interior e acabar por se fundir com ela. Podemos perder, ou pelo menos fritar completamente, planetas rochosos que se estejam a formar perto de uma estrela deste género".

Está a ser feito trabalho adicional com as observações UV do Hubble. A equipa está a analisar cuidadosamente as várias linhas de emissão espetral de múltiplos elementos presentes no espetro obtido pelo COS. Isto deverá fornecer mais pistas sobre o ambiente de FU Ori, tal como a cinemática do gás que entra e sai da região interior.

"Muitas destas estrelas jovens são espetroscopicamente muito ricas nos comprimentos de onda do ultravioleta distante", refletiu Hillenbrand. "Uma combinação do Hubble, do seu tamanho e cobertura de comprimentos de onda, bem como as circunstâncias afortunadas de FU Ori, permitem-nos ver mais profundamente do que nunca o motor deste fascinante tipo de estrela".

// NASA (comunicado de imprensa)
// STScI (comunicado de imprensa)
// Caltech (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal Letters)

 


Quer saber mais?

FU Orionis:
Wikipedia

Classe de estrelas FU Orionis:
Wikipedia
Simostronomy

Formação estelar:
Wikipedia

Acreção:
Wikipedia

Discos protoplanetários:
Wikipedia
Formação planetária (Wikipedia)

Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
Hubblesite
STScI
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais
Arquivo de Ciências do eHST
Wikipedia

 
   
 
 
 
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