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Estudo conclui que marcas em encostas marcianas não são, provavelmente, sinais de fluxo líquido
23 de maio de 2025
 

Marcas escuras em declives na superfície de Marte.
Crédito: ESA/TGO/CaSSIS
 
     
 
 
 

Investigadores analisaram uma base de dados global de 500.000 marcas estranhas que ocorrem em encostas marcianas íngremes, concluindo que são mais provavelmente causadas por processos secos do que por fluxos líquidos.

Um novo estudo realizado por cientistas planetários da Universidade de Brown, nos EUA, e da Universidade de Berna, na Suíça, lança dúvidas sobre uma das pistas mais tentadoras de que poderá haver água a fluir, atualmente, no planeta Marte.

Durante anos, os cientistas observaram estranhas marcas que corriam pelas encostas e paredes de crateras marcianas. Alguns interpretaram essas estrias como fluxos líquidos, sugerindo a possibilidade de existirem atualmente ambientes habitáveis no Planeta Vermelho. Mas este novo estudo, que utilizou a aprendizagem de máquina para criar e analisar um enorme conjunto de dados de características destes declives, aponta para uma explicação diferente: um processo seco relacionado com a atividade do vento e da poeira.

"Um dos grandes focos da investigação sobre Marte é a compreensão dos processos atuais em Marte - incluindo a possibilidade de água líquida à superfície", disse Adomas Valantinas, investigador pós-doutorado em Brown, coautor do estudo com Valentin Bickel, investigador em Berna. "O nosso estudo analisou estas características, mas não encontrou evidências de água. O nosso modelo favorece processos de formação secos".

A investigação foi publicada na revista Nature Communications na passada segunda-feira, dia 19 de maio.

Os cientistas viram pela primeira vez estas estranhas riscas em imagens transmitidas pela missão Viking da NASA na década de 1970. As marcas têm geralmente uma tonalidade mais escura do que o terreno circundante e estendem-se por centenas de metros em terrenos inclinados. Algumas duram anos ou décadas, enquanto outras aparecem e desaparecem mais rapidamente. As características de vida mais curta - denominadas RSL (sigla inglesa para "recurring slope lineae") - parecem aparecer nos mesmos locais durante os períodos mais quentes do ano marciano.

A origem destas riscas tem sido um tema quente entre os cientistas planetários. O Marte moderno é extremamente seco e as temperaturas raramente ultrapassam o ponto de congelação. Ainda assim, é possível que pequenas quantidades de água - talvez provenientes de gelo enterrado, aquíferos subterrâneos ou ar anormalmente húmido - se misturem com sal suficiente para criar um fluxo mesmo na superfície congelada de Marte. A ser verdade, as RSLs e as marcas nos declives poderiam assinalar nichos raros e habitáveis num mundo desértico.

Outros investigadores não estão convencidos. Afirmam que as estrias são desencadeadas por processos secos, como quedas de rochas ou rajadas de vento, e só aparecem com aspeto líquido em imagens orbitais.

 
Marcas escuras em declives na superfície de Marte.
Crédito: ESA/TGO/CaSSIS
 

Na esperança de obterem novos conhecimentos, Bickel e Valantinas recorreram a um algoritmo de aprendizagem de máquina para catalogar o maior número possível destas linhas de declive. Depois de treinarem o algoritmo com base em observações confirmadas, utilizaram-no para analisar mais de 86.000 imagens de satélite de alta resolução. O resultado foi um mapa marciano global, inédito, com mais de 500.000 características.

"Uma vez na posse deste mapa global, pudemos compará-lo com bases de dados e catálogos de outras coisas como temperatura, velocidade do vento, hidratação, atividade de deslizamento de rochas e outros fatores". disse Bickel. "Depois procurámos correlações em centenas de milhares de casos para compreender melhor as condições em que estas características se formam".

Esta análise geoestatística mostrou que as marcas de declive e as RSLs não estão geralmente associadas a fatores que sugerem uma origem líquida ou gelada, tais como uma orientação específica do declive, flutuações de temperatura elevadas à superfície ou humidade elevada. Em vez disso, o estudo concluiu que ambas as características têm maior probabilidade de se formarem em locais com velocidade do vento e deposição de poeiras acima da média - fatores que apontam para uma origem seca.

Os investigadores concluem que as estrias se formam muito provavelmente quando camadas de poeira fina deslizam subitamente de encostas íngremes. Os fatores específicos podem variar. As estrias de declive parecem ser mais comuns perto de crateras de impacto recentes, onde as ondas de choque podem fazer com que a poeira da superfície se solte. As RSLs, por sua vez, são mais frequentemente encontradas em locais onde os diabos marcianos de poeira ou as quedas de rochas são frequentes.

Em conjunto, os resultados lançam novas dúvidas sobre as marcas de declive e as RSLs como ambientes habitáveis.

Isto tem implicações significativas para a futura exploração de Marte. Embora os ambientes habitáveis possam parecer bons alvos de exploração, a NASA prefere manter-se à distância. Quaisquer micróbios terrestres que possam ter apanhado boleia numa nave espacial poderiam contaminar ambientes marcianos habitáveis, complicando a procura de vida em Marte. Este estudo sugere que o risco de contaminação em locais com marcas no declive não é muito preocupante.

"Essa é a vantagem desta abordagem de grandes volumes de dados", disse Valantinas. "Ajuda-nos a excluir algumas hipóteses a partir de órbita antes de enviarmos uma nave espacial para explorar".

// Universidade de Brown (comunicado de imprensa)
// Universidade de Berna (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Communications)

 


Quer saber mais?

Marte:
NASA
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia
The Nine Planets
Marcas escuras em encostas (Wikipedia)
RSL (Wikipedia)

Missão Viking:
Wikipedia
NASA

 
   
 
 
 
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