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ANDRÓMEDA - O NOSSO FUTURO LAR?
16 de Maio de 2007
 

Astrónomos correram novas simulações para saber o que aconteceria quando uma colisão esperada tiver lugar entre a nossa Galáxia e a galáxia de Andrómeda, uma nossa vizinha conhecida.

Os resultados foram surpreendentes: o "fogo-de-artifício" celeste que se esperava à medida que as grandes nuvens de gás se juntarem para formar novas estrelas não será um grande espectáculo. Em seu lugar, surgiu uma possibilidade ainda mais louca.

De acordo com os cientistas T. J. Cox e Abraham Loeb do Centro para Astrofísica de Harvard-Smithsonian, as simulações de computador indicam que há uma possibilidade entre 37 de acabarmos por viver na outra galáxia - a majestosa Andrómeda.

"Os futuros astrónomos no Sistema Solar poderão observar a Via Láctea", a nossa presente Galáxia, "como uma galáxia externa no céu nocturno", escreveram Cox e Loeb num artigo sobre o que descobriram. Por outras palavras, a Via Láctea já não seria aquela faixa familiar esbranquiçada que passa pelo céu, mas um distante borrão de luz.

Paradoxalmente, isto poderá proporcionar uma muito melhor visão do nosso antigo lar galáctico do que quando lá vivíamos. A Via Láctea visível no céu nocturno é apenas uma pequena parte da nossa Galáxia, e bloqueia tudo o resto.

A Via Láctea, Andrómeda e cerca de 40 outras galáxias mais pequenas constituem a nossa vizinhança galáctica, com o nome de Grupo Local. Como tal, este é "o laboratório mais próximo, e por isso a nossa ferramenta mais poderosa para estudar a formação e evolução das estruturas galácticas."

Devido a este grupo local de galáxias estar unido pela gravidade, quebram uma regra geral, que as galáxias por todo esse Universo se estão a afastar umas das outras. Em particular, Andrómeda está a aproximar-se da Via Láctea a uns estimados 120 km por segundo - embora ainda permaneça a uns 2.5 milhões de anos-luz de distância, a reunião familiar ainda está longe de acontecer. Um ano-luz é a distância que a luz percorre num ano.

Os astrónomos não estão à espera de uma colisão. Ao invés, os dois monstros estelares orbitar-se-ão um ao outro cada vez mais perto, atraídos pela gravidade. Isto provocará umas quantas passagens rasantes, as suas formas serão alteradas, que culminarão com uma fusão final numa única gigante galáxia desprovida de elegância.

As duas galáxias provavelmente fundir-se-ão dentro de cinco mil milhões de anos, por isso, "ainda dentro do tempo de vida do Sol," escrevem Cox e Loeb no seu artigo, publicado on-line e entregue ao jornal mensal da Sociedade Astronómica Real.

Por volta do fim do segundo encontro imediato, existe uma probabilidade de 50% que o nosso Sol seja arrastado, em conjunto com os seus planetas e outras estrelas, numa longa cauda que se extende da nossa Galáxia, provocada pelo puxo gravitacional de Andrómeda.

Mas também existe uma probabilidade de 2.7%, acrescentam, que o nosso Sistema Solar nem permaneça na Galáxia. Com a sua gravidade, Andrómeda pode roubar a totalidade do nosso Sistema Solar: pode ficar mais ligado pela gravidade a Andrómeda que à Via Láctea. Claro, depois da fusão, voltaríamos à nossa velha casa galáctica, agora irreconhecível e em estado de calamidade. Encontrar-nos-íamos nos limites da nova fundida galáxia.

As colisões galácticas não são de grande risco para os seus habitantes. "Os sistemas planetários ultrapassam relativamente bem estas colisões", disse o astrónomo Joshua Barnes. "As suas estrelas centrais podem ser expelidas em caudas de marés ou espalhadas em direcções ao acaso, mas a gravidade actua tão gradualmente que as órbitas planetárias não são afectadas."

Cox e Loeb também não indicam a possibilidade de qualquer grande aumento de formação estelar, que alguns esperavam que resultasse das colisões de nuvens gasosas das duas galáxias. As estrelas formam-se em tais regiões onde o gás se torna mais compacto, e começa a ceder sobre a sua própria gravidade. Embora tais explosões de formação estelar sejam comuns nas colisões galácticas, tanto a Via Láctea como Andrómeda são demasiado "pobres em gás" para muito disto acontecer, escrevem Cox e Loeb.

No entanto, ainda existe gás suficiente, acrescentam, para provavelmente fazer o buraco ou buracos negros no centro da nova galáxia brilhar ainda com mais intensidade. Os buracos negros são objectos extraordinariamente compactos cuja intensa gravidade "suga" tudo na sua vizinhança. O novo gás que se possa mover para essa área seria por isso absorvido. Aqueceria no processo e começaria a emitir poderosas radiações, que poderiam afectar as formas de vida, dependendo da sua distância. O trabalho de Cox e Loeb não examina estas possibilidades com detalhe.

As incertezas de onde o Sol acabará por ficar, acrescentam, nascem sobretudo das incertezas de onde estará quando Andrómeda chegar. A distância entre o Sol e o centro da Via Láctea é previsível - é quase sempre a mesma - mas o resto é difícil de prever. Por isso Cox e Loeb estudaram estrelas à mesma direcção do Centro Galáctico para medir a probabilidade do que poderá acontecerá à nossa. A direcção de Andrómeda é também muito pouco conhecida.

Onde quer que o Sistema Solar acabe, afirmam Cox e Loeb, as galáxias fora do Grupo Local poderão até afastar-se, devido à cada vez mais rápida expansão do Universo. Por isso, dentro de 100 mil milhões de anos - se restar alguém para observar - a nova galáxia e o Grupo Local poderão bem ser os únicos objectos que conseguiremos observar no Universo.

Links:

Notícias relacionadas:
Artigo científico de Cox e Loeb (em formato PDF)
CfA (comunicado de imprensa)
SPACE.com
New Scientist
MSNBC
Scientific American.com

Via Láctea:
Núcleo de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve
SEDS.org
Wikipedia

Galáxia de Andrómeda (M31):
SEDS.org
Wikipedia
Animação da colisão de M31 com a Via Láctea (formato DIVX)

 


A nossa vizinha galáxia de Andrómeda, o objecto mais distante visível à vista desarmada.
Crédito: Robert Gendler
(clique na imagem para ver versão maior)


Concepção de artista da colisão da Via Láctea com a galáxia de Andrómeda, vista da Terra.
Crédito: James Gitlin (STScI)
(clique na imagem para ver versão maior)


Poderá ser este o nosso céu será num futuro bem distante?
Crédito: T. & D. Hallas
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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