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ESTARÁ A VIA LÁCTEA CONDENADA AO BOMBARDEAMENTO GALÁCTICO?
2 de Setembro de 2009

 

À medida que os cientistas tentam aprender mais sobre a evolução das galáxias, uma questão permanece ainda em aberto: se as colisões com galáxias anãs vizinhas irão um dia fragmentar o disco da Via Láctea.

Um novo estudo sugere que esse infeliz destino é improvável.

Embora os astrónomos saibam que tais colisões tenham provavelmente ocorrido no passado, novas simulações computacionais mostram que ao invés de destruir uma galáxia, estas colisões "incham" o disco galáctico, particularmente em torno dos limites, e produzem estruturas denominadas anéis estelares.

Esta descoberta resolve dois mistérios: o destino provável da Via Láctea às mãos das suas galáxias-satélite -- as mais massivas das quais são as Grandes Nuvens de Magalhães -- e a origem dos seus limites "tipo algodão-doce", que os astrónomos já observaram noutros locais do Universo e denominaram de "brilho fulgurante."

O estudo também conclui que a misteriosa matéria escura, que constitui a maioria do Universo, também desempenha aqui um papel importante.

Os astrónomos acreditam que todas as galáxias estão embebidas em enormes halos de matéria escura, e que a maioria das grandes galáxias situa-se em intersecções de filamentos de matéria escura, que formam um tipo de teia gigantesca no nosso Universo. As mais pequenas galáxias-satélite fluem ao longo de tranças na teia, e são puxadas para órbita das grandes galáxias como a nossa Via Láctea.

O astrónomo Stelios Kazantzidis da Universidade Estatal do Ohio, e seus colegas, levaram a cabo detalhadas simulações computacionais de formação de galáxias, para determinar o que aconteceria se uma galáxia-satélite -- tal como as Grandes Nuvens de Magalhães e a sua matéria escura associada -- colidisse com uma galáxia espiral como a nossa.

A sua conclusão: a galáxia-satélite desintegrar-se-ia gradualmente, enquanto a sua gravidade era influenciada pelo limite da galáxia maior, arrastando estrelas e outro material. O resultado seria um disco galáctico brilhante como o da Via Láctea, que começa estreito no centro e que se alarga mais para os limites.

Os resultados podem acalmar a mente de quem temia que os nossos vizinhos galácticos e sua matéria escura associada eventualmente destruísse o nosso disco galáctico -- daqui a milhares de milhões de anos.

Kazantzidis não pode, no entanto, oferecer uma garantia de 100%.

"Nós não podemos ter a certeza do que irá acontecer à Via Láctea, mas podemos dizer que os nossos achados se aplicam a uma grande classe de galáxias parecidas à nossa," disse Kazantzidis. "As nossas simulações mostraram que o impacto da galáxia-satélite não destrói a galáxia espiral -- na realidade conduzem a sua evolução, ao produzir esta brilhante forma e criando anéis estelares -- espectaculares anéis de estrelas que temos visto em muitas galáxias espirais no Universo."

Ele e seus colegas não fizeram este estudo só para determinar o destino da nossa Galáxia. Em dois artigos científicos publicados no Astrophysical Journal, anunciam que as suas simulações oferecem uma nova maneira de testar -- e validar -- o actual modelo cosmológico do Universo.

De acordo com o modelo, o Universo contém, desde o Big Bang, uma certa quantidade de matéria normal e uma quantidade muito maior de matéria escura. A natureza exacta da matéria escura é desconhecida, e os cientistas continuam em busca de pistas ao estudar a acção recíproca entre a matéria escura e a matéria normal.

Esta é a primeira vez que as colisões entre galáxias espirais e galáxias-satélite foram simuladas com este nível de detalhe, disse Kazantzidis, e o estudo revelou que os limites brilhantes de galáxias e os anéis estelares são sinais visíveis dessas interacções.

A nossa Galáxia mede 100.000 anos-luz de diâmetro. E no entanto estamos rodeados por uma nuvem ou "halo" de matéria escura que é 10 vezes maior -- 1 milhão de anos-luz, explicou.

Embora os astrónomos visionem o halo de matéria escura como algo parcialmente difuso, contém regiões densas que orbitam a nossa Galáxia em associação com as galáxias-satélite, como as Grande Nuvens de Magalhães.

"Nós sabemos, graças a simulações cosmológicas de formação galáctica, que estas galáxias mais pequenas provavelmente interagem muito frequentemente com os discos galácticos ao longo da história cósmica. Dado que vivemos num disco galáctico, é importante saber se estas interacções podem destruír o disco," disse Kazantzidis. "Nós vimos que as galáxias não são destruídas, mas que os encontros deixam para trás um tesouro de assinaturas consistentes com o modelo cosmológico actual, e consistentes com as nossas observações de galáxias no Universo."

Uma assinatura é o aumentar de brilho dos limites da galáxia, tal como os limites da Via Láctea e de outras galáxias.

Nós consideramos que este aumento de brilho é uma das consequências observáveis mais importantes das interacções entre galáxias-satélite e o disco galáctico."

Em ambos os artigos, os cientistas tiveram em conta os impactos de muitas e diferentes galáxias mais pequenas num disco galáctico maior e primário. Calcularam o número provável de satélites e os seus percursos orbitais, e simularam o que aconteceria durante a colisão, incluindo quando a matéria escura interagia gravitacionalmente com o disco da galáxia espiral.

Nenhum dos discos galácticos foi destruído; pelo contrário, as galáxias primárias gradualmente desintegraram as galáxias-satélite, cujo material por fim se tornou parte da galáxia maior.

Os satélites passaram vezes sem conta pelo disco galáctico, e em cada passagem, perdiam alguma da sua massa, um processo que eventualmente as destruíria completamente.

Embora a galáxia primária tenha sobrevivido, formou limites brilhantes muito parecidos com os da nossa Galáxia de hoje em dia.

"Cada galáxia espiral tem uma formação complexa e uma história evolucionária," disse Kazantzidis. "Nós esperaríamos compreender exactamente como a Via Láctea se formou e como irá evoluir. "Podemos nunca ter sucesso em compreender a sua história exacta, mas podemos tentar aprender o máximo que pudermos sobre ela, e sobre outras galáxias."

Links:

Notícias relacionadas:
Universidade Estatal do Ohio (comunicado de imprensa)
Astrophysical Journal (requer subscrição)
Science Daily
Diário de Notícias

Via Láctea:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia
Absolute Astronomy
SEDS

Matéria Escura:
Martin White: Dark Matter
Wikipedia
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On-line Journey through Astronomy

 


Esta imagem de uma simulação mostra a densidade da matéria esucra na nossa Via Láctea, que se sabe conter um fino disco antigo de estrelas. O brilho (azul-até-violeta-até-vermelho-até-amarelo) corresponde à crescente concentração de matéria escura. A brilhante região central corresponde aproximadamente à matéria gasosa e estelar, luminosa, da Via Láctea, e os aglomerados brilhantes indicam satélites de matéria escura que orbitam a nossa Galáxia.
Crédito: Stelios Kazantzidis, Universidade Estatal do Ohio
(clique na imagem para ver versão maior)


Mapas de densidade de discos estelares ilustrando a transformação morfológica de um disco galáctico submetido ao bombardeamento por estruturas de matéria escura. As brilhantes cores indicam regiões de mais densidade de discos estelares. O painel esquerdo mostra o disco inicial, enquanto o painel direito ilustra o disco final após violentos encontros gravitacionais com as estruturas em órbita.
Crédito: Stelios Kazantzidis, Universidade Estatal do Ohio
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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