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"GULLIES" MARCIANAS NÃO SÃO PROVAVELMENTE FORMADAS POR ÁGUA LÍQUIDA
2 de agosto de 2016

 


As "gullies" marcianas, vistas na imagem do topo captada pela HiRISE da MRO, são parecidas com características cá na Terra esculpidas por água líquida. No entanto, quando observadas juntamente com informação mineralógica do CRISM (imagem de baixo), não aparece nenhuma evidência de alteração por água.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UA/JHUAPL
(clique na imagem para ver versão maior)

 

Novas descobertas usando dados da sonda MRO (Mars Reconnaissance Orbiter) da NASA mostram que as características denominadas "gullies" de Marte não são, provavelmente, formadas pelo fluxo de água líquida. Esta nova evidência permitirá aos investigadores delimitarem ainda mais as teorias da formação de "gullies" marcianas, e revelar mais detalhes sobre os processos geológicos recentes do Planeta Vermelho.

Os cientistas usam o termo "gully" (em português poderá ser algo parecido com ravinas) para formações em Marte que partilham três características na sua forma: uma alcova na parte superior, um canal e um "avental" de material depositado no fundo. As "gullies" são diferentes de outro tipo de características nas encostas marcianas, estrias chamadas RSL (em inglês, recurring slope lineae), que se distinguem pelo escurecimento e desvanecimento sazonal, ao invés de características de como o solo é esculpido. A água, sob a forma de sal hidratado, já foi identificada nos locais das RSL. O novo estudo foca-se nas "gullies" e nos seus processos de formação, adicionando informações sobre a composição a imagens obtidas previamente.

Os investigadores do JHUAPL (Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory) em Laurel, no estado americano de Maryland, examinaram dados de composição em alta-resolução de mais de 100 locais de "gullies" em Marte. Estes dados, recolhidos pelo instrumento CRISM (Compact Reconnaissance Imaging Spectrometer for Mars) a bordo da MRO, foram então correlacionados com imagens obtidas pelo instrumento HiRISE (High Resolution Imaging Science Experiment) e pelo CTX (camera and Context Camera) da mesma sonda.

Os resultados não mostraram nenhuma evidência mineralógica para a água líquida abundante ou seus subprodutos, apontando assim para outros mecanismos que não o fluxo de água - tais como o congelamento e descongelamento de dióxido de carbono - como os principais motores da evolução de "gullies" recentes.

As descobertas foram publicadas na revista Geophysical Research Letters.

As "gullies" são uma característica comum e generalizada à superfície de Marte, ocorrendo principalmente entre os 30 e os 50 graus de latitude em ambos os hemisférios norte e sul, normalmente em inclinações viradas para os polos. Na Terra, formações semelhantes são formadas pelo fluxo de água líquida; no entanto, sob condições atuais, a água líquida é transitória à superfície de Marte e pode ocorrer apenas como pequenas quantidades de água salgada nas faixas RSL. A falta de água suficiente para esculpir ravinas resultou numa variedade de teorias para a sua criação, incluindo diferentes mecanismos que envolvem a evaporação de água e dióxido de carbono gelados.

"A equipa HiRISE e outras já haviam mostram a existência de atividade sazonal nas 'gullies' - principalmente no hemisfério sul - ao longo dos últimos anos, e o dióxido de carbono gelado é o principal mecanismo suspeito. No entanto, outros investigadores favoreceram a água líquida como o principal mecanismo," afirma Jorge Núñez do APL, autor principal do artigo. "O que a HiRISE e outras câmaras não foram capazes de determinar por conta própria era a composição do material nas 'gullies', porque são câmaras óticas. A fim de trazer outra peça importante para ajudar a resolver o enigma, usámos o CRISM, um espectrómetro de imagem, para observar que tipos de minerais estavam presentes nas 'gullies' e para ver se podia lançar luz sobre os principais mecanismos responsáveis."

Núñez e colegas aproveitaram um novo produto de dados do CRISM chamado MTRDR (Map-projected Targeted Reduced Data Records). Isso permitiu-lhes realizar mais facilmente as suas análises e, em seguida, correlacionar os achados com imagens da câmara HiRISE.

"Na Terra e em Marte, sabemos que a presença de filossilicatos - argilas - ou outros minerais hidratados indica a formação em água líquida," comenta Núñez. "No nosso estudo, não encontrámos nenhumas evidências de argilas ou outros minerais hidratados na maioria das 'gullies' que examinámos e, quando os vimos, eram detritos da erosão de rochas antigas, expostas e transportadas encosta abaixo, em vez de alterados por fluxos mais recentes de água. Estas 'gullies' esculpem terreno e expõem argilas provavelmente formadas há milhares de milhões de anos, quando a água líquida era mais estável à superfície marciana."

Outros investigadores criaram modelos de computador que mostram como a sublimação do dióxido de carbono gelado e sazonal pode criar "gullies" parecidas com aquelas observadas em Marte, e como a sua forma pode imitar os tipos de ravinas que a água líquida pode criar. O novo estudo dá mais suporte a esses modelos.

 


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Links:

Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
29/09/2015 - NASA confirma evidências de fluxos de água líquida no planeta Marte do presente

Notícias relacionadas:
NASA (comunicado de imprensa)
Geophysical Research Letters
Astronomy
SPACE.com
Science alert
PHYSORG
AstroPT

"Gullies" de Marte:
Wikipedia

Marte:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia
Fluxos sazonais em encostas marcianas (Wikipedia)

MRO:
NASA 
JPL 
Wikipedia

 
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