Top thingy left
 
EXOPLANETA APARENTEMENTE DESAPARECE NAS ÚLTIMAS OBSERVAÇÕES DO HUBBLE
24 de abril de 2020

 


Impressão de artista que mostra a colisão de dois objetos em órbita da estrela Fomalhaut, localizada a 25 anos-luz de distância.
Crédito: ESA, NASA e M. Kornmesser

 

Agora vemo-lo, agora não.

O que os astrónomos pensavam ser um planeta para lá do nosso Sistema Solar, aparentemente desapareceu de vista. Embora isto aconteça na ficção científica, como o planeta natal do Super-Homem, Krypton, os astrónomos estão à procura de uma explicação plausível.

Uma interpretação é que, em vez de ser um objeto planetário, fotografado pela primeira vez em 2004, Fomalhaut b pode na realidade ser uma vasta nuvem de poeira em expansão, produzida numa colisão entre dois grandes corpos que orbitam a próxima e brilhante estrela Fomalhaut. Potenciais observações de acompanhamento poderão confirmar esta conclusão extraordinária.

"Estas colisões são extremamente raras e, portanto, é importante conseguirmos ver uma," disse András Gáspár da Universidade do Arizona em Tucson, EUA. "Nós pensamos que estávamos no lugar certo e à hora certa para testemunhar um evento tão improvável com o Telescópio Espacial Hubble da NASA."

"O sistema Fomalhaut é o laboratório de testes definitivo para todas as nossas ideias sobre como os exoplanetas e os sistemas estelares evoluem," acrescentou George Rieke do Observatório Steward da Universidade do Arizona. "Temos evidências de tais colisões noutros sistemas, mas nada desta magnitude já foi observado no nosso Sistema Solar. É um diagrama de como os planetas se destroem."

O objeto, chamado Fomalhaut b, foi anunciado pela primeira vez em 2008, com base em dados obtidos em 2004 e 2006. Era claramente visível em vários anos de observações do Hubble que revelaram que era um ponto em movimento. Até então, as evidências de exoplanetas tinham sido inferidas principalmente por métodos de deteção indireta, como as subtis oscilações estelares e sombras de planetas passando à sua frente.

No entanto, ao contrário de outros exoplanetas fotografados diretamente, com Fomalhaut b os quebra-cabeças persistentes surgiram bem cedo. O objeto era excecionalmente brilhante no visível, mas não tinha nenhuma assinatura infravermelha detetável. Os astrónomos conjeturaram que o brilho adicional veio de uma enorme concha ou anel de poeira em torno do planeta que podia estar relacionado com uma colisão. A órbita de Fomalhaut b também parecia invulgar, possivelmente muito excêntrica.

"O nosso estudo, que analisou todos os dados de arquivo do Hubble sobre Fomalhaut, revelou várias características que, juntas, pintam uma imagem de que o objeto com o tamanho de um planeta pode nunca ter sequer existido," disse Gáspár.

A equipa enfatiza que o prego final no caixão surgiu quando a análise dos dados das imagens do Hubble captadas em 2014 mostrou que o objeto, para sua incredulidade, havia desaparecido. A somar ao mistério, imagens anteriores mostraram que o objeto diminuía continuamente de brilho ao longo do tempo, disseram. "Claramente, Fomalhaut b estava a fazer coisas que um planeta genuíno não deveria estar a fazer," disse Gáspár.

A interpretação é que Fomalhaut b está a expandir-se lentamente de uma colisão que lançou uma nuvem de poeira para o espaço. Levando em consideração todos os dados disponíveis, Gáspár e Rieke pensam que a colisão ocorreu não muito antes das primeiras observações feitas em 2004. Atualmente, a nuvem de detritos, composta por partículas de poeira com aproximadamente 1 micrómetro (1/50 do diâmetro de um cabelo humano), está abaixo do limite de deteção do Hubble. Estima-se que a nuvem de poeira tenha agora crescido para um tamanho superior ao da órbita da Terra em torno do nosso Sol.

Igualmente confuso, é que a equipa relata que o objeto está provavelmente numa rota de escape, em vez de numa órbita elíptica, como esperado para planetas. Isto baseia-se nas observações acrescentadas posteriormente pelos investigadores aos gráficos de trajetória de dados mais antigos. "Uma nuvem massiva de poeira, formada recentemente, que sofre forças radiativas consideráveis da estrela central Fomalhaut, seria colocada nessa trajetória," disse Gáspár. "O nosso modelo é capaz de explicar naturalmente todos os parâmetros observáveis independentes do sistema: o seu ritmo de crescimento, o seu desvanecimento e a sua trajetória."

Dado que Fomalhaut b está atualmente dentro de um vasto anel de detritos gelados que rodeia a estrela, os corpos em colisão provavelmente seriam uma mistura de gelo e poeira, como os cometas que existem na Cintura de Kuiper na orla externa do nosso Sistema Solar. Gáspár e Rieke estimam que cada um destes corpos semelhantes a cometas mede cerca de 200 km (cerca de metade do tamanho do asteroide Vesta).

Segundo os autores, o seu modelo explica todas as características observadas de Fomalhaut b. A modelagem sofisticada da dinâmica da poeira, feita numa rede de computadores da Universidade do Arizona, mostra que esse modelo é capaz de ajustar quantitativamente todas as observações. Segundo os cálculos do autor, no sistema Fomalhaut, localizado a cerca de 25 anos-luz da Terra, pode ocorrer um evento deste género a cada 200.000 anos.

Gáspár e Rieke - juntamente com outros membros de uma extensa equipa - vão também observar o sistema de Fomalhaut com o Telescópio Espacial James Webb da NASA no seu primeiro ano de operações. A equipa fotografará diretamente as regiões interiores e mais quentes do sistema, resolvendo espacialmente e pela primeira vez o elusivo componente tipo-cintura de asteroides de um sistema exoplanetário. A equipa vai também procurar outros planetas genuínos em órbita de Fomalhaut que possam estar a esculpir gravitacionalmente o disco externo. E também vão analisar a composição química do disco.

O seu artigo foi publicado dia 20 de abril na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

 

 


comments powered by Disqus

 


Este diagrama simula o que os astrónomos, estudando observações pelo Telescópio Espacial Hubble, obtidas ao longo de vários anos, consideram evidências para a primeira deteção do rescaldo de uma titânica colisão planetária noutro sistema estelar. A imagem à esquerda mostra um vasto anel de detritos gelados que rodeia a estrela Fomalhaut, localizada a 25 anos-luz de distância. A estrela é tão brilhante que um disco escuro foi usado para bloquear a sua luz para que o disco de poeira pudesse ser fotografado. Em 2008, os astrónomos viram o pensavam ser a primeira imagem direta de um planeta em órbita de uma outra estrela. No entanto, em 2014 o candidato a planeta desvaneceu abaixo do limite de deteção do Hubble. A melhor interpretação é que o objeto nunca foi um planeta genuíno, mas uma nuvem de poeira em expansão criada a partir de uma colisão entre dois corpos menores, cada um com aproximadamente 200 km diâmetro. O diagrama à direita tem por base uma simulação da nuvem em expansão, cada vez mais ténue. Feita de partículas muito finas de poeira, tem um tamanho atual estimado em mais de 320 milhões de quilómetros. Pensa-se que colisões como esta ocorram em torno de Fomalhaut a cada 200.000 anos. Portanto, a fim de observar este evento transiente, o Hubble estava a observar o local certo à hora certa.
Crédito: NASA, ESA e A. Gáspár e G. Rieke (Universidade do Arizona)


// NASA (comunicado de imprensa)
// ESA (comunicado de imprensa)
// Hubblesite (comunicado de imprensa)
// Universidade do Arizona (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Proceedings of the National Academy of Sciences)
// Artigo científico (arXiv.org)

Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
26/10/2012 - Novo estudo traz exoplaneta duvidoso de "volta dos mortos"
15/05/2012 - Anéis de poeira podem não significar planetas
17/04/2012 - ALMA revela funcionamento de sistema planetário próximo
27/09/2011 - Descuido exoplanetário levanta dúvidas
15/11/2008 - Grandes descobertas: primeiras imagens de planetas em torno de outras estrelas
24/06/2005 - A "Cintura de Kuiper" de Fomalhaut

Notícias relacionadas:
Science
SPACE.com
science alert
Astronomy Now
COSMOS
Inverse
Reuters
Gizmodo
ars Technica
SAPOTEK
SIC Notícias

Fomalhaut:
Wikipedia
Fomalhaut b (Wikipedia)

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
STScI
SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

 
Top Thingy Right