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  Astroboletim #1649  
  27/12 a 30/12/2019  
     
 
Efemérides

Dia 27/12: 361.º dia do calendário gregoriano.
História:
m 1571, nascia Johannes Kepler, astrónomo e matemático alemão. Foi uma figura-chave na revolução científica do século XVII, conhecido principalmente pelas suas leis do movimento planetário

Em 1968, a Apollo 8 aterra no Oceano Pacífico, terminando a primeira missão tripulada à Lua.
Em 2004, radiação de uma explosão no magnetar SGR 1806-20 alcança a Terra. É o evento exosolar mais brilhante alguma vez observado.
Observações: Júpiter em conjunção com o Sol, pelas 18:00.
Ao lusco-fusco, cerca de 30 minutos depois do pôr-do-Sol, aviste a fina Lua Crescente baixa a sudoeste. Está bem para baixo e para a direita de Vénus. Usando binóculos, procure Saturno a desaparecer para trás do horizonte poucos graus para baixo e para a direita da Lua. Saturno voltará ao céu noturno no próximo verão.

Dia 28/12: 362.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1612, Galileu Galilei torna-se no primeiro astrónomo a observar o planeta Neptuno, embora o catalogue erradamente como uma estrela fixa.
Em 1798, nascia Thomas Henderson, astrónomo escocês, conhecido por ter sido o primeiro a medir a distância até Alpha Centauri.
Em 1895, Wilhem Röntgen publica um artigo no qual descreve a sua descoberta de um novo tipo de radiação, que mais tarde se veio a chamar raios-X.
Em 1882, nascia Arthur Eddington, astrofísico que confirmaria a previsão de Einstein de encurvamento do espaço-tempo no célebre eclipse de 1919 observado na ilha de Príncipe (território português nessa época).

Foi quem desenvolveu o modelo da pulsação das cefeidas e trabalhou a par de Einstein na tentativa de unificação das forças fundamentais.
Em 1973, o cometa Kohoutek atingia o periélio.
Observações: A fina Lua Crescente está por baixo de Vénus, baixos a sudoeste ao anoitecer.
Sirius brilha baixa a este-sudeste após a hora de jantar. Procyon, a estrela mais brilhante de Cão Menor, brilha para a esquerda de Sirius a cerca de dois punhos à distância do braço esticado. Se vive perto da latitude 30º N, as duas estrelas caninas estarão à mesma altura acima do seu horizonte pouco depois de nascerem. Se estiver a norte dessa latitude, Procyon estará mais alta. Se estiver a sul, Sirius será a estrela mais alta das duas.

Dia 29/12: 363.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1923 nascia Yvonne Choquet-Bruhat, física e matemática francesa, cujo trabalho se situou na interseção da matemática com a física, nomeadamente na teoria da relatividade geral de Einstein. O seu trabalho foi aplicado na deteção das ondas gravitacionais.

Observações: Continue a observar a viagem da Lua pelo céu. Onde está hoje, em comparação com Vénus?

Dia 30/12: 364.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 2000, dá-se a passagem das sondas acopladas Cassini-Huygens por Júpiter.

Passam a 9.721.846 km do topo das nuvens de Júpiter à medida que recebem um impulso gravitacional para a última parte da viagem até Saturno.
Observações: À medida que as estrelas começam a aparecer, volte-se para norte e olhe para cima. Cassiopeia forma agora um "M" achatado inclinado cerca de 45º (dependendo da posição geográfica do observador). Quase uma hora depois, o "M" está horizontal. As constelações que passam perto do zénite parecem girar depressa em relação à direção "cima".

 
     
 
Curiosidades


enxame galáctico de Virgem contém aproximadamente 1300 galáxias (talvez até 2000).

 
 
   
Hubble investiga planetas de "algodão doce"
 
Esta ilustração mostra a estrela parecida com o Sol, Kepler 51, e os três gigantes gasosos que o telescópio espacial Kepler da NASA descobriu em 2012-2014. Estes planetas têm todos mais ou menos o tamanho de Júpiter mas uma fração minúscula da sua massa. Isto significa que os planetas têm uma densidade extraordinariamente baixa, mais parecida com a de esferovite, em vez de rocha ou água, com base em novas observações do Telescópio Espacial Hubble. Os planetas podem ter-se formado muito mais longe da sua estrela e migrado para dentro. Agora, as suas atmosferas de hidrogénio/hélio estão a escapar para o espaço. Eventualmente, ficam para trás planetas muito mais pequenos. O campo estelar de fundo está corretamente ilustrado, como seria se olhássemos de volta para o Sol, à distância de mais ou menos 2600 anos-luz de Kepler 51, ao longo do braço espiral de Orionte da nossa Galáxia. No entanto, o Sol é demasiado ténue para ser visto a olho nu nesta imagem simulada.
Crédito: NASA, ESA e L. Hustak, J. Olmsted, D. Player e F. Summers (STscI)
 

Novos dados do Telescópio Espacial Hubble da NASA forneceram as primeiras pistas da química de dois planetas que podem ter a densidade de algodão doce, localizados no sistema Kepler 51. Este sistema, que na realidade possui três exoplanetas do género em órbita de uma estrela parecida com o Sol, foi descoberto pelo telescópio espacial Kepler da NASA em 2012. No entanto, só em 2014 é que as baixas densidades destes exoplanetas foram determinadas, para surpresa de muitos.

As recentes observações do Hubble permitiram que uma equipa de astrónomos refinasse as estimativas de massa e tamanho destes mundos - confirmando independentemente a sua natureza "fofa". Com apenas algumas vezes a massa da Terra, as suas atmosferas de hidrogénio/hélio são tão inchadas que são quase do tamanho de Júpiter. Por outras palavras, estes planetas podem parecer tão grandes e volumosos quanto Júpiter, mas são aproximadamente cem vezes mais leves em termos de massa.

O como e o porquê das suas atmosferas serem tão inchadas ainda estão por descobrir, mas esta característica torna os planetas de "algodão doce" alvos ideais para a investigação atmosférica. Usando o Hubble, a equipa procurou evidências de componentes, principalmente água, nas atmosferas dos planetas chamados Kepler-51 b e 51 d. O Hubble observou os planetas quando passaram à frente da sua estrela, com o objetivo de observar a cor infravermelha do seu pôr-do-Sol. Os astrónomos deduziram a quantidade de luz absorvida pela atmosfera no infravermelho. Este tipo de observação permite que os cientistas procurem os sinais reveladores dos constituintes químicos dos planetas, como a água.

Para surpresa da equipa do Hubble, descobriram que os espectros dos dois planetas não tinham assinaturas químicas reveladoras. Eles atribuem este resultado a nuvens de partículas altas nas suas atmosferas. "Isto foi completamente inesperado," disse Jessica Libby-Roberts da Universidade do Colorado, em Boulder, EUA. "Tínhamos planeado observar grandes recursos de absorção de água, mas simplesmente não existiam. Estava tudo nublado!" No entanto, ao contrário das nuvens de água da Terra, as nuvens nestes planetas podem ser compostas por cristais de sal ou neblinas fotoquímicas, como aquelas encontradas na maior lua de Saturno, Titã.

 
Esta imagem ilustra os três gigantes gasosos em torno da estrela parecida com o Sol, Kepler 51, em comparação com alguns dos planetas do nosso Sistema Solar. Estes planetas têm todos mais ou menos o tamanho de Júpiter mas uma fração minúscula da sua massa. O telescópio espacial Kepler da NASA detetou as sombras destes planetas em 2012-2014 enquanto passavam à frente da sua estrela. Não temos imagens diretas. Portanto, as cores dos planetas de Kepler 51 nesta impressão de artista são imaginárias.
Crédito: NASA, ESA e L. Hustak e J. Olmsted (STScI)
 

Estas nuvens fornecem à equipa informações sobre como Kepler-51 b e 51 d se comparam com outros planetas de baixa massa e ricos em gás para lá do nosso Sistema Solar. Ao comparar os espectros dos planetas inchados com os de outros planetas, a equipa foi capaz de apoiar a hipótese de que a formação de nuvens/neblinas está ligada à temperatura de um planeta - quanto mais frio é um planeta, mais nublado se torna.

A equipa também explorou a possibilidade destes planetas não serem completamente inchados. A atração gravitacional entre os planetas cria pequenas mudanças nos seus períodos orbitais e, a partir destes efeitos cronológicos, podemos derivar as suas massas planetárias. Ao combinar as variações de tempo em que um planeta passa em frente da sua estrela (um evento chamado trânsito) com os trânsitos observados pelo telescópio espacial Kepler, a equipa restringiu mais eficazmente as massas planetárias e as dinâmicas do sistema. Os seus resultados concordam com as medições anteriores para Kepler-51 b. No entanto, descobriram que Kepler-51 d era um pouco menos massivo (ou o planeta era ainda mais inchado) do que se pensava anteriormente.

Por fim, a equipa concluiu que as baixas densidades destes planetas são em parte uma consequência da tenra idade do sistema, com apenas 500 milhões de anos, em comparação com os 4,6 mil milhões de anos do Sol. Os modelos sugerem que estes planetas se formaram fora da "linha de neve" da estrela, a região de possíveis órbitas onde os materiais gelados podem sobreviver. Os planetas migraram então para dentro, como uma fila de vagões.

Agora, com os planetas muito mais perto da estrela, as suas atmosferas de baixa densidade deverão evaporar-se para o espaço ao longo dos próximos milhares de milhões de anos. Usando modelos de evolução planetária, a equipa conseguiu mostrar que Kepler-51 b, o planeta mais próximo da estrela, irá um dia (daqui a mil milhões de anos) parecer-se com uma versão mais pequena e mais quente de Neptuno, um tipo de planeta razoavelmente comum em toda a Via Láctea. No entanto, parece que Kepler-51 d, que está mais distante da estrela, continuará a ser um planeta estranho de baixa densidade, embora vá encolher e perder uma pequena parte da sua atmosfera. "Este sistema é um laboratório único para testar teorias sobre a evolução planetária," disse Zach Berta-Thompson da Universidade do Colorado, em Boulder.

A boa notícia é que nem tudo está perdido para a determinação da composição atmosférica destes dois planetas. O Telescópio Espacial James Webb da NASA, com a sua sensibilidade a comprimentos de onda infravermelhos mais longos, pode ser capaz de espiar através das camadas de nuvens. Observações futuras com este telescópio podem fornecer informações sobre a composição destes planetas. Até lá, estes planetas permanecem um "mistério doce".

// NASA (comunicado de imprensa)
// Hubblesite (comunicado de imprensa)
// ESA (comunicado de imprensa)
// Universidade do Colorado (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


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Kepler-51:
Wikipedia
Kepler-51 b (NASA)
Kepler-51 b (Exoplanet.eu)
Kepler-51 c (NASA)
Kepler-51 c (Exoplanet.eu)
Kepler-51 d (NASA)
Kepler-51 d (Exoplanet.eu)

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
STScI
SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

Telescópio Espacial Kepler:
NASA (página oficial)
K2 (NASA)
Arquivo de dados do Kepler
Arquivo de dados da missão K2
Wikipedia

JWST (Telescópio Espacial James Webb):
NASA
STScI
ESA
Wikipedia

 
   
Novas descobertas que podem revelar a geologia de exoplanetas
 
Investigadores da The Open University fizeram novas descobertas que podem revelar a geologia de planetas para lá do nosso Sistema Solar.
Crédito: Projeto DMPP
 

Os astrónomos anunciaram a descoberta de três exoplanetas como parte do projeto DMPP (Dispersed Matter Planet Project), usando o instrumento HARPS (High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher) acoplado ao telescópio de 3,6 m do ESO em La Silla, Chile.

A equipa estudou as estrelas conhecidas como DMPP–1, DMPP–2 and DMPP–3. Os planetas descobertos DMPP-1b, DMPP-1c, DMPP-1d, DMPP-1e, DMPP-2b e DMPP-3Ab, estão muito próximos das suas estrelas e são aquecidos a temperaturas de 1100ºC - 1800º C. A estas temperaturas, a atmosfera e até a superfície rochosa do planeta podem desaparecer, e parte deste material dispersa-se para formar um fino manto de gás.

Esta nuvem filtra a luz estelar, produzindo pistas que permitiram à equipa captar a pequena fração de estrelas com estes planetas invulgares e muito quentes. Com um estudo mais aprofundado, a composição química da nuvem pode ser medida, revelando o tipo de rocha à superfície do planeta quente.

Os planetas recém-descobertos, nomeadamente DMPP-1d, DMPP-1e e DMPP-3Ab, podem ser a chave para desvendar a geologia dos planetas rochosos para lá do Sistema Solar.

A professora Carole Haswell, do Departamento de Astronomia da Open University, Reino Unido, disse: "estas novas descobertas são muito promissoras para novos estudos. Devem permitir-nos medir as relações entre a massa, tamanho e composição dos planetas para lá do nosso próprio Sistema Solar.

"Agora podemos ver como os planetas em geral são construídos e se o nosso próprio planeta é típico. Por exemplo, ainda não sabemos se é coincidência que no Sistema Solar, a Terra e Vénus sejam os maiores objetos rochosos e possuam ferro como a sua maior fração de massa."

DMPP-1 tem três super-Terras com massas entre três e dez vezes a da Terra, orbitando a estrela a cada poucos dias. Também tem um planeta quente tipo-Neptuno que orbita a estrela a cada 20 dias.

O Dr. Daniel Staab, ex-aluno de doutoramento da mesma universidade, explicou: "DMPP-1 hospeda um sistema planetário realmente importante com três exoplanetas de baixa massa cuja composição podemos medir."

DMPP-2b é um planeta gigante com quase metade da massa de Júpiter numa órbita de cinco dias. Tinha sido negligenciado em estudos anteriores porque a estrela pulsa, o que obscurece a assinatura da força gravitacional do planeta em órbita.

Comentando a mais empolgante destas novas descobertas, o Dr. John Barnes, investigador na Open University: "DMPP-3 foi uma grande surpresa, estávamos à procura de um sinal minúsculo indicando um planeta em órbita e de baixa massa, mas a primeira coisa que encontrámos foi um enorme sinal devido a uma estrela companheira que não esperávamos!"

A estrela companheira, DMPP-3B, é apenas massiva o suficiente para sustentar a fusão de hidrogénio, tem das massas mais baixas de todas as estrelas movidas pelo mesmo mecanismo que o Sol. Estas estrelas minúsculas são muito ténues e difíceis de encontrar. Depois de contabilizar esta estrela fraca, o Dr. Barnes e a sua equipa encontraram um planeta, DMPP-3Ab, com duas ou três a massa da Terra que completa uma órbita em torno da estrela mais brilhante a cada sete dias. O Dr. Barnes concluiu: "É difícil determinar como este planeta foi formado!"

// The Open University (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (Nature Astronomy)
// Artigo científico #1 (arXiv.org)
// Artigo científico #2 (Nature Astronomy)
// Artigo científico #2 (arXiv.org)
// Artigo científico #3 (Nature Astronomy)
// Artigo científico #3 (arXiv.org)
// Palestra da professora Carole Haswell - Descobrindo Novos Planetas (ouLife via YouTube)

 


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DMPP-1 (HD 38677):
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DMPP-2 (HD 11231):
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DMPP-3 (HD 42936):
SIMBAD
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Exoplanetas:
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Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
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Open Exoplanet Catalogue
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Observatório La Silla:
ESO
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ESO:
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Astrónomos propõem novo método de descobrir atmosferas em mundos rochosos
 
Esta impressão de artista mostra um exoplaneta rochoso com uma atmosfera nublada em órbita de uma anã vermelha. Os astrónomos identificaram um novo método que pode permitir que o Telescópio Espacial James Webb detete a atmosfera de um exoplaneta em poucas horas de tempo de observação.
Crédito: L. Hustak e J. Olmsted (STScI)
 

Quando o Telescópio Espacial James Webb da NASA for lançado em 2021, uma das contribuições mais esperadas para a astronomia será o estudo dos exoplanetas - planetas que orbitam estrelas distantes. Uma das questões mais prementes da ciência exoplanetária é: será que um pequeno planeta rochoso, em órbita íntima de uma estrela anã vermelha, consegue reter uma atmosfera?

Numa série de quatro artigos publicados na revista The Astrophysical Journal, uma equipa de astrónomos propõe um novo método de usar o Webb para determinar se um exoplaneta rochoso tem uma atmosfera. A técnica, que envolve a medição da temperatura do planeta enquanto passa por trás da sua estrela e volta depois a ser visível, é significativamente mais rápida do que os métodos tradicionais de deteção atmosférica, como a espectroscopia de transmissão.

"Descobrimos que o Webb podia facilmente inferir a presença ou ausência de uma atmosfera em torno de uma dúzia de exoplanetas rochosos com menos de 10 horas de tempo de observação por planeta," disse Jacob Bean da Universidade de Chicago, coautor de três dos artigos.

Os astrónomos estão particularmente interessados em exoplanetas que orbitam estrelas anãs vermelhas por várias razões. Estas estrelas, mais pequenas e mais frias que o Sol, são o tipo mais comum de estrela na nossa Galáxia. Além disso, dado que as anãs vermelhas são pequenas, um planeta que passe à sua frente parece bloquear uma fração maior da luz estelar caso a estrela fosse maior, como o nosso Sol. Isto torna o planeta que orbita uma anã vermelha mais fácil de detetar por meio desta técnica de "trânsito".

As anãs vermelhas também produzem muito menos calor do que o nosso Sol, de modo que para desfrutar de temperaturas habitáveis, um planeta precisaria de orbitar muito perto de uma anã vermelha. De facto, para estar na zona habitável - a área em torno da estrela onde pode existir água líquida à superfície de um planeta - o planeta tem que orbitar muito mais perto da estrela do que Mercúrio está do Sol. Como resultado, transitará a estrela mais frequentemente, facilitando observações repetidas.

Mas um planeta que orbita tão perto de uma anã vermelha está sujeito a condições adversas. As anãs vermelhas jovens são muito ativas, lançando enormes proeminências e erupções de plasma. A estrela também emite um forte vento de partículas carregadas. Todos estes efeitos podem potencialmente destruir a atmosfera de um planeta, deixando para trás uma rocha nua.

"A perda atmosférica é a ameaça existencial número um à habitabilidade dos planetas," disse Bean.

Outra característica fundamental dos exoplanetas que orbitam perto de anãs vermelhas também o é para a nova técnica: espera-se que sofram bloqueio de maré, o que significa que têm sempre o mesmo lado voltado para a estrela. Como resultado, vemos diferentes fases do planeta em diferentes pontos da sua órbita. Quando cruza a face da estrela, vemos apenas o lado noturno do planeta. Mas quando está prestes a viajar para trás da estrela (um evento conhecido como eclipse secundário), ou quando está apenas a emergir de trás da estrela, podemos observar o lado diurno.

Se um exoplaneta rochoso não possuir atmosfera, o seu lado diurno será muito quente, assim como vemos com a Lua ou Mercúrio. No entanto, se um exoplaneta rochoso tiver uma atmosfera, espera-se que a presença dessa mesma atmosfera diminua a temperatura diurna medida pelo Webb. Isto pode ser feito de duas maneiras. Uma atmosfera espessa pode transportar o calor do lado diurno para o lado noturno através de ventos. Uma atmosfera mais fina pode ainda conter nuvens, que refletem parte da luz estelar, diminuindo assim a temperatura do lado diurno do planeta.

"Sempre que acrescentamos uma atmosfera, estamos a diminuir a temperatura do lado diurno. Portanto, se virmos algo mais frio que rocha nua, inferiremos que provavelmente é sinal de uma atmosfera," explicou Daniel Koll do MIT (Massachusetts Institute of Technology), o autor principal de dois dos artigos científicos.

O Webb é ideal para fazer estas medições porque possui um espelho muito maior do que outros telescópios, como o Hubble ou o Spitzer da NASA, que permite recolher mais luz e estudar os comprimentos de onda infravermelhas apropriados.

Os cálculos da equipa mostram que o Webb deverá ser capaz de detetar a assinatura de calor da atmosfera de um planeta num a dois eclipses secundários - apenas algumas horas de observação. Em contraste, a deteção de uma atmosfera através de observações espectroscópicas normalmente exige oito ou mais trânsitos para estes mesmos planetas.

A espectroscopia de transmissão, que estuda a luz estelar filtrada pela atmosfera do planeta, também sofre interferência devido a nuvens ou neblinas, que podem mascarar as assinaturas moleculares da atmosfera. Nesse caso, o gráfico espectral, em vez de mostrar linhas de absorção pronunciadas devido a moléculas, seria essencialmente plano.

"Na espectroscopia de transmissão, se obtivermos uma linha plana, isso não nos diz nada. A linha plana pode significar que o Universo está repleto de planetas mortos que não têm atmosfera, ou que o Universo está repleto de planetas que têm toda uma gama de atmosferas diversas e interessantes, mas parecem-nos todos iguais porque são nublados," disse Eliza Kempton da Universidade de Maryland, coautora de três dos artigos.

"As atmosferas exoplanetárias sem nuvens e neblinas são como unicórnios - ainda não as vimos, e podem não existir," acrescentou.

A equipa enfatizou que uma temperatura mais baixa do que o esperado para o lado diurno será uma pista importante, mas que não confirma a existência de uma atmosfera. Quaisquer dúvidas remanescentes sobre a presença de uma atmosfera podem ser descartadas com estudos de acompanhamento usando outros métodos como a espectroscopia de transmissão.

A verdadeira força da nova técnica será determinar qual a fração dos exoplanetas rochosos que provavelmente possui uma atmosfera. Aproximadamente uma dúzia de exoplanetas que são bons candidatos para este método foram detetados neste último ano. É provável que mais sejam encontrados quando o Webb ficar operacional.

"O TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) está a encontrar muitos destes planetas," afirmou Kempton.

O método do eclipse secundário tem uma limitação chave: funciona melhor em planetas demasiado quentes para estarem na zona habitável. No entanto, determinar se estes planetas quentes hospedam atmosferas tem implicações importantes para os planetas na zona habitável.

"Se os planetas quentes conseguem manter uma atmosfera, os mais frios também devem conseguir," disse Koll.

O Telescópio Espacial James Webb será o principal observatório científico espacial do mundo quando for lançado em 2021. Vai resolver mistérios do nosso Sistema Solar, olhar para mundos distantes em torno de outras estrelas e investigar as misteriosas estruturas e origens do nosso Universo e o nosso lugar nele. O Webb é um projeto internacional liderado pela NASA e pelos seus parceiros, a ESA e a Agência Espacial Canadiana.

// NASA/JPL (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico #1 (arXiv.org)
// Artigo científico #2 (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico #2 (arXiv.org)
// Artigo científico #3 (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico #3 (arXiv.org)
// Artigo científico #4 (arXiv.org)

 


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Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
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JWST (Telescópio Espacial James Webb):
NASA
STScI
ESA
Wikipedia

TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite):
NASA
NASA/Goddard
Programa de Investigadores do TESS (HEASARC da NASA)
MAST (Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais)
Exoplanetas descobertos pelo TESS (NASA Exoplanet Archive)
Wikipedia

 
   
Álbum de fotografias - O Hexágono de Inverno
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Petr Horálek
 
A Lua Nova de dezembro trouxe um eclipse solar para alguns durante esta temporada de Natal. Também deu belos céus noturnos aos observadores em redor do globo, como esta noite de inverno e sem Lua no hemisfério norte. Na cena, estrelas brilhantes do Hexágono de Inverno ao longo da Via Láctea. As aconchegantes cabanas de montanha no plano de frente situam-se perto da vila de Oravska Lesna, Eslováquia. Os brilhantes faróis celestes que assinalam o asterismo bem conhecido são Aldebarã, Capella, Pollux (e Castor), Procyon, Rigel e Sirius. Esta paisagem noturna de inverno também revela nebulosas fracas em Orionte e o adorável enxame das Plêiades. Siga este link para ver a legenda do hexágono.
 
   
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