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  Astroboletim #1702  
  30/06 a 02/07/2020  
     
 
Efemérides

Dia 30/06: 182.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1905, Albert Einstein publica o artigo "Sobre a Electrodinâmica dos Corpos em Movimento", no qual introduz a relatividade especial.
Em 1908, ocorria o grande impacto de Tunguska na Sibéria.

Em 1971, três cosmonautas são encontrados mortos no seu veículo de regresso, Soyuz 11, depois de uma missão com problemas da Salyut 1. A tripulação morreu devido a uma de fuga de ar através de uma válvula. Permanecem os únicos humanos a não ter morrido na Terra.
Em 1972, é adicionado o primeiro segundo ao sistema UTC
Em 2001, era lançado o WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) a partir do Centro Espacial Kennedy.
Observações: A Lua encontra-se a poucos graus de Alpha Librae, um binário largo com uma separação de 231 segundos de arco. Os componentes são desiguais, de magnitude 2,8 e 5,1.
As estrelas centrais da constelação de Lira, que formam um pequeno triângulo e paralelograma, apoiam-se para baixo e para a direita de Vega a este. As duas estrelas mais brilhantes do padrão, depois de Vega, são as estrelas que perfazem a parte de baixo do paralelograma: Beta e Gamma Lyrae, Sheliak e Sulafat. Estão atualmente alinhadas verticalmente. Beta é a que está no topo. Beta Lyrae é um binário eclipsante. Compare-e com Gamma sempre que olhar para Lira. Normalmente, Beta é apenas um pouco mais ténue do que Gamma. Mais cedo ou mais tarde, "apanhará" Beta quando é definitivamente mais ténue do que o normal.

Dia 01/07: 183.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1770, o Cometa Lexell passa a uns meros 2,2 milhões de quilómetros da Terra, menos de 9 vezes a distância entre a Terra e a Lua.
Em 1917, o espelho de 2,5 m chega ao Monte Wilson.

O empresário John D. Hooker doou os fundos para o vidro, que foi o mesmo utilizado para as garrafas de vinho feito pela companhia de Saint Gobrain em França.
Em 2004, inserção orbital da Cassini-Huygens em Saturno.
Em 2013, descoberta da lua Hipocampo de Neptuno
Observações: Eclipse de Calisto, entre as 00:10 e as 04:34.
Eclipse de Io, entre as 01:53 e as 04:12.
Ocultação de Io, entre as 02:13 e as 04:32.
Mercúrio na sua conjunção inferior, pelas 03:49.
Ocultação de Calisto, entre as 03:15 e as 07:36.
Eclipse de Europa, entre as 04:02 e as 06:59.
Ocultação de Europa, entre as 04:44 e as 07:39.
A Lua, quase Cheia, brilha a poucos graus de Beta Scorpii, a estrela do topo da cabeça de Escorpião. Beta Sco é outra famosa estrela dupla telescópica: separação de 14 segundos de arco, magnitudes 2,8 e 4,9.
Trânsito da sombra de Io, entre as 23:10 e as 01:29 (já de dia 2).
Trânsito de Io, entre as 23:27 e as 01:49 (já de dia 2).

Dia 02/07: 184.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1967, os satélites de raios-gama Vela 3 e 4, lançados com a intenção de detetar explosões de bombas nucleares, tornam-se famosos pela sua inesperada descoberta dos GRB's (explosões de raios-gama).
Em 1985, era lançada a missão Giotto. O seu objetivo era passar pelo cometa Halley e enviar de volta as primeiras imagens do núcleo de um cometa.

O primeiro encontro ocorreu a 13 de março de 1986, a uma distância de 596 km. A Giotto também estudou o Cometa P/Grigg-Skjellerup durante a sua missão.
Em 2013, a União Astronómica Internacional dá os nomes Cérbero e Estige à 4.ª e 5.ª luas de Plutão, respetivamente.
Observações: Eclipse de Io, entre as 20:20 e as 22:41.
Trânsito da sombra de Europa, entre as 22:34 e as 01:26 (já de dia 3).
Trânsito de Europa, entre as 23:06 e as 01:59 (já de dia 3).
Procure, esta noite, Antares para baixo e para a direita da Lua. O nome Antares significa "Anti-Ares", "rival de Marte" em Grego. Porque são ambos laranja. Por volta da 1 ou 2 da manhã destas noites (dependendo de onde vive no fuso horário), pode comparar os dois astros diretamente. Hoje, já depois da meia-noite (já dia 3), Antares e a Lua estão baixos a sudoeste, e Marte já nasceu e está mais ou menos à mesma altura mas a este.
Marte, de magnitude -0,5, é atualmente quatro vezes mais brilhantes do que Antares, de magnitude +1,0. Esta vai distorcer a sua comparação de cores. Quanto mais brilhante algo é, mais pálido (esbranquiçado) a sua cor parece aos nossos olhos apesar do tom e saturação atual da cor. Como uma espécie de fotografia sobre-exposta.
Trânsito da sombra de Ganimedes, entre as 03:24 (já de dia 3) e as 06:58.
Trânsito de Ganimedes, entre as 04:32 (já de dia 3) e as 08:06.

 
 
   
Aproxima-se o lançamento do rover Perseverance
 
Num laboratório em Pasadena, Califórnia, os engenheiros observaram o primeiro teste de condução do rover Mars 2020 da NASA no dia 17 de dezembro de 2019.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

O rover Perseverance da NASA está a menos de um mês da data de lançamento prevista para 20 de julho. A missão de astrobiologia do veículo vai procurar sinais de vida microscópica passada em Marte, explorar a geologia do local de aterragem na Cratera Jezero e demonstrar tecnologias para ajudar a preparar futuras explorações robóticas e humanas. E o rover fará isso tudo ao recolher as primeiras amostras de rocha e rególito marciano (rocha quebrada e poeira) para envio à Terra por várias missões futuras.

"Há cinquenta e um anos atrás, a NASA estava a preparar-se para a primeira aterragem humana na Lua," disse Jim Bridenstine, administrador da NASA. "Hoje estamos no limiar de outro momento monumental na exploração: a recolha de amostras em Marte. Enquanto comemoramos os heróis da Apollo 11, as futuras gerações podem também reconhecer as mulheres e os homens da missão Perseverance - não apenas pelo que alcançarão a centenas de milhões de quilómetros de casa, mas pelo que conseguiram realizar cá neste mundo a caminho do lançamento."

A missão Mars 2020 tem lançamento previsto para este verão desde que a agência anunciou o projeto em dezembro de 2012. Devido às posições relativas da Terra e de Marte, as oportunidades de lançamento surgem apenas a cada 26 meses. Se o Perseverance não fosse para Marte este verão, o projeto teria que esperar até setembro de 2022 para tentar novamente, afetando seriamente os objetivos a longo prazo do Programa de Exploração de Marte da NASA e aumentando o risco geral da missão.

Com o território vêm desafios significativos no que toca ao planeamento de uma missão marciana. No caso do Perseverance - a carga útil mais pesada alguma vez lançada para o Planeta Vermelho - esses desafios incluíram a implementação de um novo projeto de teste para confirmar a robustez do seu design de para-quedas. Também houve um grande esforço para aprimorar o desempenho do sistema de recolha de amostras (SCS - Sample Caching System), o mecanismo mais complexo e mais limpo (em termos biológicos) alguma vez enviado para o espaço. Mas de todos os obstáculos enfrentados pelos homens e pelas mulheres do projeto Perseverance, a pandemia de coronavírus representou o maior desafio, com precauções de segurança que exigem muito trabalho remoto.

 
Visto de baixo, o rover Perseverance (Mars 2020) da NASA contém uma placa para a direita da sua roda do meio. Apresentando uma haste entrelada por uma serpente, que simboliza a cura e a medicina, relembra o impacto da pandemia de COVID-19 e homenageia a perseverança dos profissionais de saúde de todo o mundo.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

"A equipa nunca vacilou na sua busca pela plataforma de lançamento," disse Michael Watkins, diretor do JPL da NASA no sul da Califórnia. "Foi graças à sua dedicação e à ajuda de outras instalações da NASA que chegámos até aqui."

Perseverante

No meio desta tensão adicional de manter o calendário enquanto incorporando precauções adicionais - e manter amigos, familiares e colegas em segurança - a equipa da missão Mars 2020 tem consciência da dedicação e do trabalho árduo das pessoas na comunidade médica de todo o mundo durante a pandemia. Com essas pessoas em mente, a missão instalou uma placa no lado esquerdo do chassi do rover, entre a roda do meio e a roda traseira. O gráfico na placa de alumínio com 8 por 13 cm mostra a Terra, apoiada pela comunidade médica - representada pelo antigo símbolo da haste entrelaçada por uma serpente. Uma linha representando a trajetória da nave desde a Flórida Central até Marte, ilustrado como um pequeno ponto no plano de fundo.

 
Acoplada ao rover Perseverance, esta placa de alumínio com 8 por 13 cm relembra o impacto da pandemia de COVID-19 e homenageia a perseverança dos profissionais de saúde de todo o mundo.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

"Queríamos demonstrar a nossa gratidão por aqueles que colocaram o seu bem-estar pessoal em risco pelo bem dos outros," disse Matt Wallace, vice-gerente do projeto Perseverance no JPL. "É nossa esperança que quando as futuras gerações viajarem para Marte e encontrarem o nosso rover, se relembrem destas pessoas da Terra, do ano de 2020."

Todos os principais componentes da espaçonave que transporta o rover (desde a concha que o protege, até aos estágios de cruzeiro e de descida) estão agora na configuração que estarão na plataforma de lançamento no Centro Espacial Kennedy, no estado norte-americano da Flórida. Já estão incluídos na carga que os protegerá durante o lançamento e a semana passada foram transportados para o Complexo 41 de Lançamentos Espaciais, onde serão anexados ao topo de um foguetão Atlas V da United Launch Alliance.

"A missão tem um lançamento, mais de 500 milhões de quilómetros de espaço interplanetário e sete minutos de terror para chegar com segurança à superfície de Marte," disse Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciências Planetárias da NASA. "Quando virmos a paisagem da Cratera Jezero pela primeira vez e realmente começarmos a perceber a recompensa científica diante de nós, é que a 'diversão' começa."

A Missão

A missão astrobiológica do rover Perseverance vai procurar sinais de vida microbiana antiga. Também vai caracterizar o clima e a geologia do planeta, abrir caminho para a exploração humana do Planeta Vermelho e será a primeira missão planetária a recolher e a armazenar amostras rochosas e de poeira marciana. Missões subsequentes, atualmente sob consideração pela NASA (em conjunto com a ESA), enviarão naves espaciais para Marte a fim de recolher essas amostras armazenadas à superfície e enviá-las para a Terra para análises mais profundas.

 
O estágio de cruzeiro, em forma de disco, da missão do rover Perseverance, que contém o estágio de descida e o rover popriamente dito. O escudo de calor (em baixo) foi acoplado no dia 28 de maio de 2020, no Centro Espacial Kennedy na Flórida.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/KSC
 

A missão Mars 2020 faz parte de um programa maior que inclui missões à Lua como uma maneira de preparar a exploração humana do Planeta Vermelho. Encarregada de fazer regressar astronautas à Lua até 2024, a NASA estabelecerá uma presença humana sustentada na Lua e em seu redor até 2028 através dos planos de exploração lunar Artemis da NASA.

Independentemente do dia em que o rover Perseverance levante voo durante o período de lançamento de 20 de julho a 11 de agosto, aterrará na Cratera Jezero de Marte no dia 18 de fevereiro de 2021. A aterragem com uma data e hora específica ajuda os planeadores da missão a melhor entender a iluminação e a temperatura no local de aterragem em Marte, bem como a posição dos satélites em órbita de Marte, encarregados de registar e retransmitir dados da nave durante a sua descida e pouso.

// NASA (comunicado de imprensa)
// Rover Perseverance - contagem decrescente para Marte (NASA via YouTube)
// Lançamento do Perseverance durante pandemia de COVID-19 (NASA JPL via YouTube)

 


Saiba mais

Cobertura da missão do rover Perseverance pelo CCVAlg - Astronomia:
29/05/2020 - O detetive a bordo do rover Perseverance
19/11/2019 - Rover Mars 2020 vai procurar fósseis microscópicos
15/02/2019 - Sonda MAVEN vai diminuir a sua órbita em preparação para o rover 2020 da NASA
15/05/2018 - NASA planeia levar um helicóptero até Marte
29/05/2018 - Rochas marcianas podem conter sinais de vida

Notícias relacionadas:
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Marte:
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Cratera Jezero:
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Rover Perseverance:
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Descobertas duas super-Terras em órbita de anã vermelha próxima
 
Impressão de artista do sistema multiplanetário de super-Terras recém-descoberto em órbita da anã vermelha Gliese 887.
Crédito: Mark Garlick
 

Os exoplanetas mais próximos fornecem-nos as melhores oportunidades para estudos detalhados, incluindo a busca por evidências de vida para lá do Sistema Solar. Uma investigação liderada pela Universidade de Gotinga, Alemanha, por astrónomos do projeto RedDots, detetou um sistema de super-Terras em órbita da estrela próxima Gliese 887, a anã vermelha mais brilhante do céu. As super-Terras são exoplanetas com uma massa maior do que a da Terra, mas substancialmente inferior às dos nossos gigantes gelados locais, Úrano e Neptuno. As super-Terras recém-descobertas ficam perto da zona habitável da anã vermelha, onde a água pode existir no estado líquido, e podem ser mundos rochosos. Os resultados foram publicados na revista Science.

A equipa de astrónomos do RedDots monitorizou a anã vermelha usando o espectrógrafo HARPS do ESO no Chile. Usaram uma técnica chamada "oscilação Doppler", que lhes permite medir as pequenas oscilações da estrela provocadas pela atração gravitacional dos planetas. Os sinais regulares correspondem a órbitas de apenas 9,3 e 21,8 dias, indicando duas super-Terras - Gliese 887b e Gliese 887c - ambas maiores que a Terra e movendo-se rapidamente, muito mais depressa que Mercúrio. Os cientistas estimam que a temperatura de Gliese 887c ronde os 70ºC.

Gliese 887 é uma das estrelas mais próximas do Sol, a cerca de 11 anos-luz de distância. É muito mais ténue e tem aproximadamente metade do tamanho do nosso Sol, o que significa que a zona habitável está muito mais próxima de Gliese 887 do que a distância Terra-Sol. O RedDots descobriu mais dois factos interessantes sobre Gliese 887, que acabam sendo boas notícias não apenas para os planetas recém-descobertos, mas também para os astrónomos. A primeira é que a anã vermelha tem muito poucas manchas estelares, ao contrário do nosso Sol. Se Gliese 887 fosse tão ativa quanto o nosso Sol, é provável que um vento estelar forte - fluxo de material que pode erodir a atmosfera de um planeta - simplesmente varresse as atmosferas dos planetas. Isto significa que os planetas recém-descobertos podem reter as suas atmosferas ou ter atmosferas mais espessas que a da Terra, e potencialmente hospedar vida, mesmo que GJ887 receba mais luz do que a Terra. A outra característica interessante que a equipa descobriu é que o brilho de Gliese 887 é quase constante. Portanto, será relativamente fácil detetar as atmosferas do sistema de super-Terras, tornando-o um alvo principal do Telescópio Espacial James Webb, o sucessor do Telescópio Hubble.

A Dra. Sandra Jeffers, da Universidade de Gotinga e autora principal do estudo, conclui: "Estes planetas vão fornecer as melhores possibilidades para estudos mais detalhados, incluindo a busca por vida para lá do nosso Sistema Solar."

// Universidade de Gotinga (comunicado de imprensa)
// Instituto de Astrofísica das Canárias (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science)

 


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Gliese 887:
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Gliese 887b (Exoplanet.eu)
Gliese 887c (Exoplanet.eu)

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

JWST (Telescópio Espacial James Webb):
NASA
STScI
ESA
Wikipedia

 
   
Colisão de buracos negros pode ter "explodido com luz"
 
Impressão de artista de um buraco negro supermassivo e do seu disco circundante de gás. Embebidos neste disco estão dois buracos negros mais pequenos que se orbitam um ao outro. Usando dados do ZTF (Zwicky Transient Facility) no Observatório Palomar, investigadores identificaram um surto de luz que se suspeita ter vindo de um par de buracos negros pouco depois de se terem fundido num buraco negro maior. A fusão dos buracos negros teria feito com que o buraco negro resultante, maior, se movesse no disco, "lavrando" o gás e criando luz. Estes buracos negros em fusão foram avistados no dia 21 de maio de 2019 pelo LIGO da NSF e pelo detetor europeu Virgo, que detetaram ondas gravitacionais geradas pela fusão.
Crédito: Caltech/R. Hurt (IPAC)
 

Quando dois buracos negros espiralam um em direção ao outro e finalmente colidem, emitem ondulações no espaço e no tempo chamadas ondas gravitacionais. Tendo em conta que os buracos negros não emitem luz, não se espera que estes eventos tenham brilho, ou radiação eletromagnética. Mas alguns teóricos criaram maneiras pelas quais uma fusão de buracos negros pode explodir com luz. Agora, pela primeira vez, os astrónomos viram evidências de um desses cenários de produção de luz.

Com a ajuda do ZTF (Zwicky Transient Facility) do Caltech, financiado pela NSF (National Science Foundation) e localizado no Observatório Palomar perto de San Diego, EUA, os cientistas descobriram o que poderá ser um surto de luz de um par de buracos negros. A fusão dos buracos negros foi testemunhada pela primeira vez pelo LIGO (Laser Interferometer Gravitational-wave Observatory) da NSF e pelo detetor europeu Virgo no dia 21 de maio de 2019, num evento chamado S190521g. À medida que os buracos negros se fundiam, agitando o espaço e o tempo, libertaram ondas gravitacionais.

Enquanto isto acontecia, o ZTF realizava o seu levantamento robótico do céu que capturava todos os tipos de objetos que libertam luz, entram em erupção ou de outro modo variam no céu noturno. Uma libertação de luz que o levantamento captou, gerada por um buraco negro supermassivo ativo e distante, ou quasar, chamado J1249+3449, foi identificado na região do evento de ondas gravitacionais S190521g.

"Este buraco negro supermassivo era já ativo anos antes deste surto mais abrupto," diz Matthew Graham, professor de astronomia no Caltech e cientista do projeto ZTF. "O surto ocorreu na escala de tempo certa e no local certo, para coincidir com o evento de ondas gravitacionais. No nosso estudo, concluímos que o surto provavelmente foi o resultado de uma fusão de buracos negros, mas não podemos descartar completamente outras possibilidades." Graham é o autor principal do novo estudo, publicado dia 25 de junho na revista Physical Review Letters.

"O ZTF foi construído especificamente para identificar tipos novos, raros e variáveis de atividade astronómica como esta," diz Ralph Gaume, diretor da Divisão de Ciências Astronómicas da NSF. "O suporte de novas tecnologias pela NSF continua a expandir o modo como podemos rastrear estes eventos."

Como é que dois buracos negros em fusão podem libertar luz? No cenário delineado por Graham e colegas, dois buracos negros parceiros estavam aninhados dentro de um disco em redor de um buraco negro muito maior.

"No centro da maioria das galáxias, esconde-se um buraco negro supermassivo. É rodeado por um enxame de estrelas e remanescentes estelares, incluindo buracos negros," diz a coautora K. E. Saavik Ford da Centro de Graduação da CUNY (City University of New York), da BMCC (Borough of Manhattan Community College) e do AMNH (American Museum of Natural History). "Estes objetos pululam como abelhas zangadas em torno da monstruosa abelha rainha no centro. Podem encontrar brevemente parceiros gravitacionais e formar pares, mas geralmente perdem os seus parceiros rapidamente para esta dança louca. Mas no disco de um buraco negro supermassivo, o gás converte o enxame num minueto clássico, organizando os buracos negros para que possam formar pares," explica.

Depois da fusão dos buracos negros, o novo buraco negro, agora maior, é chutado numa direção aleatória e varre o gás no disco. "É a reação do gás a esta 'bala veloz' que cria o clarão brilhante, visível com telescópios," diz o coautor Barry McKernan, também do Centro de Graduação da CUNY, da BMCC e do AMNH.

Prevê-se que tal surto comece dias ou semanas após a libertação inicial de ondas gravitacionais produzidas durante a fusão. Neste caso, o ZTF não capturou o evento imediatamente, mas quando os cientistas voltaram para examinar as imagens de arquivo do ZTF meses depois, encontraram um sinal que começou dias após o evento de ondas gravitacionais de maio de 2019. O ZTF observou o surto a desaparecer lentamente ao longo de um período de um mês.

Os cientistas tentaram obter uma visão mais detalhada da luz do buraco negro supermassivo, a que chamamos espectro, mas quando o observaram, a libertação de luz já havia desaparecido. Um espectro teria fornecido mais apoio à ideia de que o surto tinha vindo da fusão de buracos negros dentro do disco do buraco negro supermassivo. No entanto, os investigadores dizem que foram capazes de descartar outras possíveis causas para o surto observado, incluindo uma supernova ou um evento de perturbação de marés, que ocorre quando um buraco negro essencialmente "come" uma estrela.

Além disso, a equipa afirma que não é provável que o surto de luz tenha ocorrido devido aos fenómenos habituais do buraco negro supermassivo, que regularmente se alimenta do disco circundante. Usando o CRTS (Catalina Real-Time Transient Survey), liderado pelo Caltech, foram capazes de avaliar o comportamento do buraco negro ao longo dos últimos 15 anos e descobriram que a sua atividade era relativamente normal até maio de 2019, quando se intensificou repentinamente.

"Os buracos negros supermassivos como este têm erupções a toda a hora. Não são objetos silenciosos, mas o momento, tamanho e localização deste surto foi espetacular," diz o coautor Mansi Kasliwal, professor assistente de astronomia no Caltech. "A razão pela qual a busca por explosões como esta é tão importante é que ajuda bastante a responder a questões da astrofísica e da cosmologia. Se pudermos fazer isto novamente e detetar a luz das fusões de outros buracos negros, podemos definir melhor os locais de origem destes buracos negros e aprender mais sobre as suas origens."

O buraco negro recém-formado deverá provocar outro surto nos próximos anos. O processo de fusão deu ao objeto um impulso que deverá fazer com que este entre novamente no disco do buraco negro supermassivo, produzindo outra libertação de luz que o ZTF deverá conseguir observar.

// Caltech (comunicado de imprensa)
// Centro de Graduação da CUNY (comunicado de imprensa)
// NASA JPL (comunicado de imprensa)
// Universidade do Minnesota (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Physical Review Letters)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


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S190521g (ou GW 190521):
GraceDB
Wikipedia

Ondas gravitacionais:
GraceDB (Gravitational Wave Candidate Event Database)
Wikipedia
Astronomia de ondas gravitacionais - Wikipedia
Ondas gravitacionais: como distorcem o espaço - Universe Today
Detetores: como funcionam - Universe Today
As fontes de ondas gravitacionais - Universe Today
O que é uma onda gravitacional (YouTube)

Buracos negros:
Wikipedia

ZTF:
Caltech
ipac
Wikipedia

LIGO:
Página oficial
Caltech
Advanced LIGO
Wikipedia

Virgo:
EGO
Wikipedia

 
   
Álbum de fotografias - Europa e Júpiter pela Voyager 1
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: NASAVoyager 1, JPL, Caltech; Processamento e Licença: Alexis Tranchandon / Solaris
 
O que são estas manchas em Júpiter? A maior, logo para a direita do centro, é a Grande Mancha Vermelha - um enorme sistema de tempestades que assola Júpiter, possivelmente desde a provável anotação de Giovanni Cassini há 355 anos atrás. Ainda não se sabe porque é que a Grande Mancha é vermelha. A mancha para baixo e para a esquerda é uma das maiores luas de Júpiter: Europa. Imagens da Voyager em 1979 reforçam a hipótese moderna de que Europa possui um oceano subterrâneo e, portanto, é um bom lugar para procurar vida extraterrestre. Mas e a mancha escura no canto superior direito? Esta é a sombra de outra das grandes luas de Júpiter: Io. A Voyager 1 descobriu que Io é tão vulcânica que nem sequer foram encontradas crateras de impacto. Dezasseis exposições do "flyby" da Voyager 1 em 1979 foram recentemente reprocessadas para criar esta imagem em destaque. Há cerca de 43 anos, a Voyager 1 foi lançada da Terra e iniciou uma das maiores explorações do Sistema Solar de todos os tempos.
 
   
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