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  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
Com o apoio do Centro Ciência de Tavira
   
 
  Astroboletim #1777  
  19/03 a 22/03/2021  
     
 
Efemérides

Dia 19/03: 78.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1915, Plutão era fotografado pela primeira vez. No entanto, não foi identificado como planeta.

Em 2008, GRB 080319B, uma explosão cósmica que se torna no objeto mais distante visível [brevemente] a olho nu.
Observações: A Lua brilha entre Aldebarã e Marte.
Pollux e Castor, de Gémeos, passam quase por cima das nossas cabeças pelas 20:20 caso viva a latitudes médias norte.
As cabeças das figuras dos gémeos são, no máximo, gémeas fraternais. Pollux é visivelmente mais brilhante do que Castor e laranja pálida. Quanto à sua natureza física? Nem são da mesma "espécie".
Pollux é uma única gigante laranja. Castor é um par binário de duas estrelas mais pequenas, mais quentes, de sequência principal, um bonito binário para telescópios amadores. Se Pollux fosse uma bola de basquetebol, Castor A e B seria bolas de ténis separadas por cerca de 800 metros.
Além disso, cada estrela de Castor é orbitada intimamente por uma anã vermelha não visível - um berlinde no nosso modelo "desportivo" - com um período de apenas alguns dias.
E um par íntimo, muito distante, de anãs vermelhas, Castor C, é visível através de telescópios amadores como um pontinho pequeníssimo de magnitude 10 a 70 segundos de arco para sul-sudeste do par principal - no nosso modelo, um par de berlindes separados por apenas 7,5 cm, a pelo menos 16 km das bolas de ténis de Castor A e B.

Dia 20/03: 79.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1916, era publicada a Teoria da Relatividade Geral na sequência das lectures apresentadas à Academia Prussiana de Ciências a 25 de novembro de 1915.
Em 1964 era criada a ESRO (European Space Research Organization) percursora da ESA (Agência Espacial Europeia).

Em 2015, um eclipse solar, o equinócio e uma super-Lua ocorrem no mesmo dia.
Observações: A Terra atravessa o equinócio de março da sua órbita às 09:37. É quando o Sol cruza o equador (tanto o equador da Terra quanto o equador celeste), viajando para norte. Começa a primavera no hemisfério norte, o outono no hemisfério sul.
A Lua brilha entre as pontas dos chifres de Touro, Beta e Zeta Tauri. Estas duas estrelas formam um longo retângulo com Marte e Aldebarã: um asterismo temporário especial de meados de março de 2021.

Dia 21/03: 80.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1768, nascia Jean-Baptiste Joseph Fourier, matemático e físico francês, conhecido por ter iniciado a investigação das séries de Fourier e das suas aplicações para problemas como a transferência de calor e vibrações.

Fourier é também considerado o descobridor do efeito de estufa.
Em 1905, Albert Einstein publica a sua teoria sobre a relatividade especial.
Em 1927, nascia Halton Arp, astrónomo americano conhecido pelo seu Atlas de Galáxias Peculiares de 1966, que contém muitos exemplos de galáxias em interação e em fusão. 
Em 1965, a NASA lança a Ranger 9, a última numa série de sondas lunares não tripuladas.
Observações: A Lua continua a sua viagem por entre as estrelas do Hexágono de Inverno.

Dia 22/03: 81.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1394 nascia Ulugh Beg, astrónomo da dinastia Timúrida, que construiu o Observatório Ulugh Beg em Samarkand, considerado por muitos um dos melhores observatórios do mundo islâmico e o maior da Ásia Central (à data).
Em 1799 nascia F.W.A. Argelander, compilador de catálogos estelares que estudou as estrelas variáveis e criou a primeira organização astronómica internacional.
Em 1982, lançamento da missão STS-3, do vaivém Columbia
Em 1995, o cosmonauta Valeryiv Polyakov regressa à Terra depois de quebrar o recorde do maior tempo passado na estação espacial Mir: 438 dias.
Em 1996, lançamento da STS-76, do vaivém Atlantis
Em 1997, o Cometa Hale-Bopp faz a sua maior aproximação à Terra.

Em 2010, última comunicação do rover Spirit com a Terra.
Observações: Depois da hora de jantar, Pollux, a Lua e Betelgeuse fazem quase uma reta na vertical. Ou, alternativamente, Pollux, Castor e o nosso satélite natural constituem um triângulo de "cabeça para baixo".

 
     
 
Curiosidades


Ouça aqui os primeiros sons do rover Perseverance a percorrer a superfície de Marte!

 
 
   
Cientistas determinam origem de estranho objeto interestelar

Em 2017, foi descoberto o primeiro objeto interestelar no nosso Sistema Solar por meio do observatório astronómico Pan-STARRS no Hawaii. Foi denominado 'Oumuamua, que significa "batedor" ou "mensageiro" em havaiano. O objeto era como um cometa, mas com características estranhas o suficiente para desafiar a classificação.

Dois astrofísicos da Universidade Estatal do Arizona, Steven Desch e Alan Jackson, decidiram explicar as características estranhas de 'Oumuamua e determinaram que é provavelmente um pedaço de um planeta semelhante a Plutão de outro sistema solar. Os seus achados foram publicados recentemente num par de artigos da revista AGU Journal of Geophysical Research: Planets.

 
Esta pintura por William K. Hartmann, cientista sénior emérito do PSI (Planetary Science Institute) em Tucson, no estado norte-americano do Arizona, tem por base uma comissão de Michael Belton e mostra uma ilustração do objeto 'Oumuamua como um disco em forma de panqueca.
Crédito: William Hartmann
 

"Em muitos aspetos, 'Oumuamua parecia-se com um cometa, mas era suficientemente peculiar noutros para que a sua natureza permanecesse um mistério, e as especulações eram abundantes," disse Desch.

A partir de observações do objeto, Desch e Jackson determinaram várias características do objeto que diferiam do que era esperado de um cometa.

Em termos de velocidade, o objeto entrou no Sistema Solar a uma velocidade um pouco mais baixa do que o esperado, indicando que não deverá ter viajado pelo espaço interestelar durante mais de mil milhões de anos. Em termos de tamanho, a sua forma de panqueca também era mais achatada do que qualquer outro objeto conhecido do Sistema Solar.

Também observaram que embora o objeto tenha adquirido um leve empurrão para longe do Sol (um "efeito de foguete" comum em cometas à medida que a luz solar vaporiza os gelos de que são feitos), o impulso foi mais forte do que podia ser explicado. Finalmente, o objeto carecia de escape gasoso detetável, que geralmente é representado visivelmente pela cauda de um cometa. No geral, o objeto era muito parecido com um cometa, mas diferente de qualquer cometa já observado no Sistema Solar.

Desche e Jackson levantaram a hipótese de que o objeto era feito de gelos diferentes e calcularam a rapidez com que esses gelos se sublimariam (passando de sólido para gás) à medida que 'Oumuamua passava pelo Sol. A partir daí, calcularam o efeito de foguete, a massa, a forma do objeto e a refletividade dos gelos.

"Foi um momento emocionante para nós," disse Desch. "Percebemos que um pedaço de gelo seria muito mais refletivo do que se assumia, o que significava que poderia ser mais pequeno. O mesmo efeito de foguete daria a 'Oumuamua um impulso maior, maior do que os cometas geralmente têm."

Desche e Jackson encontraram um gelo em particular - azoto sólido - que fornecia uma correspondência exata para todas as características do objeto simultaneamente. E dado que o azoto gelado pode ser visto à superfície de Plutão, é possível que um objeto semelhante a um cometa seja feito do mesmo material.

"Sabíamos que tínhamos acertado na ideia quando concluímos o cálculo de qual o albedo (quão refletivo é o corpo) faria o movimento de 'Oumuamua corresponder às observações," disse Jackson. "Esse valor acabou sendo o mesmo que observamos na superfície de Plutão ou de Tritão, corpos cobertos por azoto gelado."

Então calcularam o ritmo a que os pedaços de gelo de azoto teriam sido arrancados das superfícies de Plutão e corpos semelhantes no início da história do nosso Sistema Solar. E calcularam a probabilidade de pedaços de azoto gelado de outros sistemas solares alcançarem o nosso.

"Provavelmente foi arrancado da superfície por um impacto há 500 milhões de anos e expulso do seu sistema natal," disse Jackson. "Ser composto por azoto gelado também explica a forma invulgar de 'Oumuamua. Conforme as camadas externas de gelo de azoto evaporavam, a forma do corpo ter-se-ia tornado progressivamente mais achatada, assim como um sabão quando as camadas externas são removidas com o uso."

 
Ilustração de uma história plausível para 'Oumuamua: origem no seu sistema parente há cerca de 0,4 mil milhões de anos; erosão por raios cósmicos durante a sua viagem até ao Sistema Solar, incluindo a sua maior aproximação ao Sol de dia 9 de setembro de 2017, e a sua descoberta em outubro de 2017. A cada ponto da sua história, a ilustração mostra o tamanho previsto de 'Oumuamua e a proporção entre as suas dimensões mais longas e pequenas.
Crédito: S. Selkirk/Universidade Estatal do Arizona
 

Poderia 'Oumuamua ser tecnologia alienígena?

Embora a natureza cometária de 'Oumuamua tenha sido rapidamente reconhecida, a incapacidade de a explicar imediatamente em detalhe levou à especulação de que se tratava de uma peça de tecnologia alienígena, como no livro publicado recentemente "Extraterrestrial: The First Signs of Intelligent Life Beyond Earth" por Avi Loeb da Universidade de Harvard.

Isto gerou um debate público sobre o método científico e sobre a responsabilidade dos cientistas em não tirar conclusões precipitadas.

"Todos nós estamos interessados em extraterrestres, e era inevitável que este primeiro objeto de fora do Sistema Solar fizesse as pessoas pensarem neles," disse Desch. "Mas é importante, na ciência, não tirar conclusões precipitadas. Foram necessários dois ou três anos para descobrir uma explicação natural - um pedaço de azoto gelado - que corresponda a tudo o que sabemos sobre 'Oumuamua. Isto não é muito tempo na ciência, e demasiado cedo para dizer que se esgotaram todas as explicações naturais."

Embora não existam evidências de que seja tecnologia alienígena, como fragmento de um planeta parecido com Plutão, 'Oumuamua forneceu aos cientistas uma oportunidade especial de olhar para os sistemas exosolares de uma forma que não podiam antes. À medida que mais objetos como 'Oumuamua são encontrados e estudados, os cientistas podem continuar a expandir a nossa compreensão de como são os outros sistemas planetários e as maneiras pelas quais são parecidos ou diferentes do nosso próprio Sistema Solar.

"Esta investigação é empolgante porque provavelmente resolvemos o mistério de 'Oumuamua e podemos identificá-lo razoavelmente como um pedaço de um 'exo-Plutão', um planeta parecido a Plutão noutro sistema solar," explicou Desch. "Até agora, não havia como saber se outros sistemas solares tinham planetas semelhantes a Plutão, mas agora já vimos um pedaço de um a passar pela Terra."

Desch e Jackson esperam que futuros telescópios, como o Observatório Vera Rubin (também chamado LSST, "Large Synoptic Survey Telescope") no Chile, sejam capazes de fazer levantamentos regulares de todo o céu meridional, que possam começar a encontrar ainda mais objetos interestelares que eles e outros cientistas possam usar para testar ainda mais as suas ideias.

"Espera-se que mais ou menos ao longo da próxima década possamos obter estatísticas sobre quais os tipos de objetos que passam pelo Sistema Solar e se pedaços de azoto são raros ou comuns como calculámos," disse Jackson. "De qualquer forma, deveremos ser capazes de aprender muito sobre outros sistemas solares e se passaram pelos mesmos tipos de histórias colisionais que o nosso."

// Universidade Estatal do Arizona (comunicado de imprensa)
// União Geofísica Americana (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (AGU Journal of Geophysical Research: Planets)
// Artigo científico #1 (arXiv.org)
// Artigo científico #2 (AGU Journal of Geophysical Research: Planets)
// Artigo científico #2 (arXiv.org)
// O objeto interestelar 'Oumuamua (Universidade Estatal do Arizona via YouTube)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
17/04/2020 - Nova teoria de formação explica o misterioso objeto interestelar 'Oumuamua
20/11/2018 - NASA aprende mais sobre o visitante interestelar 'Oumuamua
28/09/2018 - Seguindo 'Oumuamua até ao seu local de origem
29/06/2018 - VLT vê 'Oumuamua a acelerar
20/03/2018 - 'Oumuamua veio provavelmente de um sistema binário
09/02/2018 - As três surpresas de 'Oumuamua
19/12/2017 - Mais informações sobre o objeto 'Oumuamua
21/11/2017 - Observações do ESO mostram que o primeiro asteroide interestelar não é como nenhum objeto observado até à data
31/10/2017 - Pequeno asteroide ou cometa está apenas de "visita" ao Sistema Solar

'Oumuamua:
NASA/JPL
Wikipedia

Objeto interestelar:
Wikipedia

Pan-STARRS:
STScI
Instituto de Astronomia da Universidade do Hawaii
Wikipedia

 
   
O que aconteceu à água de Marte? Ainda está lá presa

Há milhares de milhões de anos, o Planeta Vermelho era muito mais azul; de acordo com evidências ainda encontradas à superfície, a água abundante fluiu por Marte formando lagos e oceanos profundos. A questão que se põe é, então para onde foi toda esta água?

A resposta: para lado nenhum. Segundo uma nova investigação do Caltech e do JPL, uma porção significativa da água de Marte - entre 30 e 99 por cento - está presa dentro de minerais na crosta do planeta. A investigação desafia a teoria atual de que a água do Planeta Vermelho escapou para o espaço.

A equipa do Caltech/JPL descobriu que há cerca de quatro mil milhões de anos, Marte continha água suficiente para cobrir todo o planeta com um oceano com aproximadamente 100 a 1500 metros de profundidade; um volume aproximadamente equivalente a metade do Oceano Atlântico da terra. Mas, mil milhões de anos depois, o planeta estava tão seco quanto hoje. Anteriormente, os cientistas que procuravam explicar o que aconteceu com a água que corria em Marte sugeriram que escapou para o espaço, vítima da baixa gravidade de Marte. Embora parte da água realmente tenha deixado Marte desta maneira, parece agora que tal fuga não pode ser responsável pela maior parte da perda de água.

 
Esta vista global de Marte é composta por aproximadamente 100 imagens do orbitador Viking.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/USGS
 

"A fuga atmosférica não explica totalmente os dados que temos sobre a quantidade de água que realmente existiu em Marte," diz a candidata a doutoramento no Caltech, Eva Scheller, autora principal de um artigo científico sobre a pesquisa, publicado pela revista Science no dia 16 de março e apresentado no mesmo dia na Conferência de Ciência Lunar e Planetária. Os coautores de Scheller são Bethany Ehlmann, professora de ciências planetárias e diretora associada do Instituto Keck para Estudos Espaciais; Yuk Yung, professor de ciências planetárias e investigador sénior do JPL; Danica Adams, estudante no Caltech; e Renyu Hu, investigador do JPL. O Caltech gere o JPL para a NASA.

A equipa estudou a quantidade de água em Marte ao longo do tempo em todas as suas formas (vapor, líquido e gelo) e a composição química da atual atmosfera e crosta do planeta por meio da análise de meteoritos, bem como usando dados fornecidos por rovers e orbitadores, olhando em particular para a proporção de deutério para hidrogénio.

A água é composta por hidrogénio e oxigénio: H2O. No entanto, nem todos os átomos de hidrogénio são criados iguais. Existem dois isótopos estáveis de hidrogénio. A vasta maioria dos átomos de hidrogénio tem apenas um protão dentro do núcleo atómico, enquanto uma pequena fração (cerca de 0,02%) existe como deutério, ou o chamado hidrogénio "pesado", que tem um protão e um neutrão no núcleo.

O hidrogénio mais leve (também conhecido como prótio) tem mais facilidade em escapar da gravidade do planeta para o espaço do que a sua contraparte mais pesada. Por causa disto, o escape de água de um planeta pela atmosfera superior deixaria uma assinatura reveladora na proporção de deutério para hidrogénio na atmosfera do planeta; haveria uma proporção descomunal de deutério deixado para trás.

No entanto, a perda de água apenas através da atmosfera não pode explicar o sinal de deutério para hidrogénio observado na atmosfera marciana nem as grandes quantidades de água no passado. Em vez disso, o estudo propõe que uma combinação de dois mecanismos - o aprisionamento de água em minerais na crosta do planeta e a perda de água para a atmosfera - pode explicar o sinal de deutério para hidrogénio observado na atmosfera marciana.

Quando a água interage com a rocha, a erosão química forma argilas e outros minerais hidratados que contêm água como parte da sua estrutura mineral. Este processo ocorre tanto na Terra quanto em Marte. Dado que a Terra é tectonicamente ativa, a crosta velha é derretida continuamente no manto e forma uma nova crosta nos limites das placas, reciclando água e outras moléculas de volta para a atmosfera através do vulcanismo. Marte, no entanto, é principalmente tectonicamente inativo e, portanto, a "secagem" da superfície, assim que ocorre, é permanente.

"A fuga atmosférica claramente teve um papel na perda de água, mas as descobertas da última década de missões marcianas apontaram para o facto de que havia um enorme reservatório de antigos minerais hidratados cuja formação certamente diminuiu a disponibilidade de água ao longo do tempo," disse Ehlmann.

"Toda esta água foi sequestrada bastante cedo, e nunca mais reciclada," diz Scheller. A investigação, que se baseou em dados de meteoritos, telescópios, observações de satélites e amostras analisadas por rovers em Marte, ilustra a importância de existirem várias maneiras de estudar o Planeta Vermelho, salienta.

Ehlmann, Hi e Yung colaboraram anteriormente em pesquisas que buscam entender a habitabilidade de Marte traçando a história do carbono, dado que o dióxido de carbono é o principal constituinte da atmosfera. Em seguida, a equipa planeia continuar a usar dados isotópicos e de composição mineral para determinar o destino dos minerais contendo azoto e enxofre. Além disso, Scheller planeia continuar a examinar os processos pelos quais a água da superfície de Marte foi perdida para a crosta usando experiências laboratoriais que simulam processos de erosão marciana, bem como através de observações da crosta antiga pelo rover Perseverance. Scheller e Ehlmann vão também ajudar nas operações da missão Mars 2020 do Perseverance para recolher amostras de rochas e envio à Terra, o que permitirá às cientistas e aos seus colegas testar estas hipóteses sobre as causas das mudanças climáticas em Marte.

// Caltech (comunicado de imprensa)
// NASA (comunicado de imprensa)
// MIT (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science)

 


Saiba mais

Notícias relacionadas:
Nature
SPACE.com
Astronomy Now
New Scientist
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Marte:
CCVAlg - Astronomia
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Água em Marte (Wikipedia)

Rover Perseverance:
NASA
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Perscrutando o núcleo empoeirado de uma galáxia para estudar um buraco negro supermassivo ativo

Investigadores vão em breve mapear e modelar o núcleo da galáxia vizinha Centaurus A com o Telescópio Espacial James Webb da NASA.

Centaurus A é uma galáxia gigante, mas as suas aparições em observações telescópicas podem enganar. Faixas de poeira escura e jovens enxames de estrelas azuis, que cruzam a sua região central, são aparentes no ultravioleta, no visível e no infravermelho próximo, pintando uma paisagem bastante moderada. Mas se mudarmos para comprimentos de onda em raios-X e rádio desvenda-se uma cena muito mais "barulhenta": do núcleo da galáxia elíptica disforme, jatos espetaculares de material irromperam do seu buraco negro supermassivo - conhecido como núcleo galáctico ativo - enviando material para o espaço muito além dos limites da galáxia.

 
Centaurus A ostenta um disco central deformado de gás e poeira, que é evidência de uma colisão e fusão com outra galáxia. Também tem um núcleo galáctico ativo que emite fatos periodicamente. É a quinta galáxia mais brilhante do céu e fica a apenas 13 milhões de anos-luz da Terra, tornando-se um alvo ideal para estudar um núcleo galáctico ativo - um buraco negro supermassivo que emite jatos e ventos - com o Telescópio Espacial James Webb da NASA.
Crédito: raios-X - NASA/CXC/SAO; ótico - Rolf Olsen; infravermelho - NASA/JPL-Caltech; rádio - NRAO/AUI/NSF/Univ.de Hertfordshire/M. Hardcastle
 

O que, precisamente, está a acontecer no seu núcleo para provocar toda esta atividade? As próximas observações lideradas por Nora Lützgendorf e Macarena García Marín da ESA usando o Telescópio Espacial James Webb da NASA permitirão aos cientistas examinar através do seu núcleo empoeirado em alta resolução para, pela primeira vez, começar a responder a estas perguntas.

"Há tanta coisa a acontecer em Centaurus A," explica Lützgendorf. "O gás, o disco e as estrelas da galáxia movem-se sob a influência do seu buraco negro supermassivo central. Dado que a galáxia está tão perto de nós, seremos capazes de usar o Webb para criar mapas bidimensionais para ver como o gás e as estrelas se movem na sua região central, como são influenciados pelos jatos do seu núcleo galáctico ativo e, em última análise, caracterizar melhor a massa do seu buraco negro."

 
O núcleo empoeirado de Centaurus A é aparente na luz visível, mas os seus jatos são melhor visualizados em raios-X e no rádio. Com as futuras observações pelo Telescópio Espacial James Webb da NASA no infravermelho, os investigadores esperam localizar melhor a massa do buraco negro supermassivo central da galáxia, bem como evidências que mostram onde os jatos foram expelidos.
Crédito: raios-X - NASA/CXC/SAO; ótico - Rolf Olsen; infravermelho - NASA/JPL-Caltech; rádio - NRAO/AUI/NSF/Univ.de Hertfordshire/M. Hardcastle
 

Uma rápida retrospetiva

Cliquemos no botão "retroceder" para rever um pouco do que já se sabe sobre Centaurus A. É bem estudada porque está relativamente próxima - a cerca de 13 milhões de anos-luz - o que significa que podemos resolver claramente a galáxia inteira. O primeiro registo foi feito em meados do século XIX, mas os astrónomos perderam o interesse até à década de 1950 porque a galáxia parecia ser uma galáxia elíptica quieta, embora deformada. Assim que os investigadores começaram a observá-la com radiotelescópios nas décadas de 1940 e 50, Centaurus A tornou-se radicalmente mais interessante - os seus jatos tornaram-se visíveis. Em 1954, os cientistas descobriram que Centaurus A é o resultado de duas galáxias que se fundiram, o que mais tarde foi estimado ter ocorrido há 100 milhões de anos.

Com mais observações no início dos anos 2000, os investigadores estimaram que há cerca de 10 milhões de anos, o seu núcleo galáctico ativo disparou jatos gémeos em direções opostas. Quando examinada em todo o espectro eletromagnético, desde raios-X ao rádio, fica claro que há muito mais nesta história que ainda precisamos de aprender.

"Os estudos em vários comprimentos de onda de qualquer galáxia são como camadas de uma cebola. Cada comprimento de onda mostra algo diferente," disse Marin. "Com os instrumentos de infravermelho próximo e médio do Webb, veremos gás e poeira muito mais frios do que em observações anteriores e aprenderemos muito mais sobre o ambiente no centro da galáxia."

 
Os buracos negros supermassivos, que ficam no centro das galáxias, são vorazes. Periodicamente, "sorvem" ou "engolem" os discos giratórios de gás e poeira que os orbitam, o que pode resultar em fluxos massivos que afetam a formação de estrelas localmente e mais longe. Quando o Telescópio Espacial James Webb da NASA começar a observar os núcleos das galáxias, os seus instrumentos infravermelhos vão perfurar através da poeira para fornecer imagens e dados incríveis de alta resolução que permitem aos investigadores aprender precisamente como um processo desencadeia outro e como criam um enorme ciclo de feedback.
Crédito: NASA, ESA e L. Hustak (STScI)
 

Visualizando os dados do Webb

A equipa liderada por Lützgendorf e Marín vai observar Centaurus A não apenas obtendo imagens com o Webb, mas reunindo dados conhecidos como espectros, que espalham a luz nos seus comprimentos de onda componentes, como um arco-íris. Os espectros do Webb vão revelar informações de alta resolução sobre as temperaturas, velocidades e composições do material no centro da galáxia.

Em particular, o NIRSpec (Near Infrared Spectrograph) e o MIRI (Mid-Infrared Instrument) do Webb vão fornecer à equipa de investigação uma combinação de dados: uma imagem mais um espectro de cada pixel dessa imagem. Isto permitirá que os investigadores construam intricados mapas 2D dos espectros que os ajudarão a identificar o que está a acontecer por trás do véu de poeira no centro - e analisá-lo em profundidade de muitos ângulos.

Compare este estilo de modelagem com a análise de um jardim. Da mesma forma que os botânicos classificam as plantas com base em conjuntos específicos de características, estes cientistas vão classificar os espectros do MIRI do Webb para construir "jardins" ou modelos. "Se tirarmos uma foto de um jardim a uma grande distância," explicou Marín, "veremos algo verde, mas com o Webb, vamos poder ver folhas e flores individuais, os seus caules e talvez o solo por baixo."

À medida que a equipa de pesquisa analisa os espectros, vão construir mapas de partes individuais do jardim, comparando um espectro com outro espectro próximo. Isto é análogo a determinar que partes contêm que espécies de plantas com base nas comparações de "caules," "folhas," e "flores" à medida que avançam.

"Quando se trata da análise espectral, fazemos muitas comparações," continuou Marín. "Se eu comparar dois espectros nesta região, talvez descubra que o que foi observado contém uma população proeminente de estrelas jovens. Ou talvez confirme quais as áreas que são poeirentas e aquecidas. Ou talvez identifiquemos emissão oriunda do núcleo galáctico ativo."

Por outras palavras, o "ecossistema" de espectros tem vários níveis, que permitirão à equipa definir com melhor precisão o que está presente e onde está presente - o que é possível graças aos instrumentos infravermelhos especializados do Webb. E, dado que estes estudos terão como base os muitos que os antecederam, os astrónomos serão capazes de confirmar, refinar ou abrir novos caminhos identificando novas características.

"Pesando" o buraco negro de Centaurus A

A combinação de imagens e espectros fornecidos pelo NIRSpec e pelo MIRI permitirá que a equipa crie mapas de altíssima resolução das velocidades do gás e das estrelas no centro de Centaurus A. "Nós planeamos usar estes mapas para modelar como todo o disco no centro da galáxia se move para determinar com mais precisão a massa do buraco negro," explica Lützgendorf.

Dado que os investigadores entendem como a gravidade de um buraco negro governa a rotação do gás próximo, podem usar os dados do Webb para "pesar" o buraco negro em Centaurus A. Com um conjunto mais completo de dados infravermelhos, também determinarão se partes diferentes do gás estão a comportar-se conforme o previsto. "Estou ansiosa por preencher totalmente os nossos dados," disse Lützgendorf. "Espero ver como o gás ionizado se comporta e gira, e onde podemos ver os jatos."

Os investigadores também esperam abrir novos caminhos. "É possível que encontremos coisas que ainda não considerámos," explica Lützgendorf. "Em alguns aspetos, estaremos a cobrir um território completamente novo com o Webb." Marín concorda totalmente e acrescenta que é de valor incalculável aproveitar a grande quantidade de dados. "Os aspetos mais interessantes destas observações é o potencial para novas descobertas," disse. "Acho que podemos encontrar algo que nos faça olhar para trás para outros dados e reinterpretar o que foi visto antes."

Estes estudos de Centaurus A serão realizados como parte dos programas conjuntos de Tempo de Observação Garantido de Gillian Wright e Pierre Ferruit. Todos os dados do Webb serão armazenados no MAST (Barbara A. Mikulski Archive for Space Telescopes) no STScI (Space Telescope Science Institute) em Baltimore, EUA.

// NASA (comunicado de imprensa)
// Dissecando os buracos negros supermassivos: o ciclo de feedback (STScI via YouTube)

 


Saiba mais

Centaurus A:
Wikipedia
SEDS.org
Imagens do Hubble

JWST (Telescópio Espacial James Webb):
NASA
STScI
ESA
Wikipedia

 
   
Também em destaque
  A cratera mais antiga do mundo, feita por um meteorito, não é uma cratera de impacto (via Universidade de Waterloo)
Vários anos após a descoberta, por cientistas, do que era considerada a cratera mais antiga feita por um meteorito no nosso planeta, outra equipa descobriu que na verdade é o resultado de processos geológicos normais. A equipa descobriu que as características desta região são inconsistentes com uma cratera de impacto. Em 2012, a equipa original tinha-a identificado como o remanescente de uma cratera de meteorito com 3 mil milhões de anos. Ler fonte
     
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Álbum de fotografias - Poeira Estelar na Nuvem Molecular de Perseu
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Kerry-Ann Lecky HepburnStuart Heggie
 
Nuvens de poeira estelar vagueiam por esta profunda paisagem do céu, através da nuvem molecular de Perseu, a cerca de 850 anos-luz de distância. Nebulosas empoeiradas que refletem a luz de estrelas jovens embebidas destacam-se no campo de visão telescópico de quase 2 graus de largura. Com uma nebulosa de reflexão de característica cor azulada, NGC 1333 está no centro, vdB 13 no canto superior direito, com a nebulosa amarelada de reflexão vdB 12 perto do topo da imagem. Estão a formar-se estrelas na nuvem molecular, embora a maioria esteja obscurecida em comprimentos de onda visíveis pela poeira. Ainda assim, indícios de emissão vermelha contrastante de objetos Herbig-haro, os jatos e o gás brilhante chocado emanado das estrelas recém-formadas, são evidentes em NGC 1333. O ambiente caótico pode ser semelhante àquele em que o nosso próprio Sol se formou há 4,5 mil milhões de anos. À distância estimada da nuvem molecular de Perseu, esta cena cósmica estender-se-ia por cerca de 40 anos-luz.
 
   
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