Problemas ao ver este e-mail?
Veja no browser

 
 
  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
Com o apoio do Centro Ciência de Tavira
   
 
 
  Astroboletim #1817  
  06/08 a 09/08/2021  
     
 

Astronomia no Verão pelo Centro Ciência Viva de Tavira

Observação noturna do céu de Tavira no Parque do Palácio da Galeria
Datas:
08-08-2021 20:30 - Inscrição
09-08-2021 20:30 - Inscrição
15-08-2021 20:30 - Inscrição
16-08-2021 20:30 - Inscrição
22-08-2021 20:30 - Inscrição
23-08-2021 20:30 - Inscrição
29-08-2021 20:30 - Inscrição
30-08-2021 20:30 - Inscrição
02-09-2021 20:30 - Inscrição
03-09-2021 21:00 - Data esgotada - Lista de espera

Observação noturna do céu na Mata da Conceição
10-09-2021 21:30 - Inscrição

Astronomia no Verão pelo Centro Ciência Viva do Algarve

Observação astronómica dos astros Salgados
09-08-2021 21:00 - Inscrição

Observação astronómica ao pé do Moinho de Maré no Parque Natural da Ria Formosa
11-08-2021 20:15 - Data esgotada -  Lista de espera

Breve encontro com a Lua em Loulé
16-08-2021
Hora: 18:00 - Inscrição
Hora: 18:15 - Inscrição
Hora: 18:30 - Inscrição
Hora: 18:45 - Inscrição
Hora: 19:00 - Inscrição

Observação no Miradouro da Praia da Marinha
19-08-2021 20:30 - Inscrição

Observação astronómica entre a Penina e a Pena
25-08-2021 20:30 - Inscrição

Observação astronómica em São Brás de Alportel
26-08-2021 20:45 - Inscrição

Programa em atualização
Consulte sempre a página das atividades para informações mais detalhadas como o itinerário, ponto de encontro, coordenadas GPS, etc., e para fazer a sua inscrição obrigatória.
Todas as atividades estão dependentes de condições meteorológicas favoráveis.
Não dispensa a consulta do FAQ no site da Ciência Viva no Verão

 
     
 
Efemérides

Dia 06/08: 218.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1961, era lançada a Vostok 2 pela União Soviética, levando a bordo o cosmonauta Gherman Titov, que fez o primeiro voo soviético com a duração de um dia.
Em 1996, a NASA anuncia que o meteorito ALH 84001, que se pensa ser originário de Marte, continha evidências de formas de vidas primitivas. No entanto, atualmente os resultados são tidos como inconclusivos e insuficientes.
Em 2012, o rover Curiosity aterra na superfície de Marte.

Observações: A brilhante Vega passa o mais alto no céu pelas 23 horas, dependendo de quão para este ou oeste está o observador.
Quão perto passa do zénite depende de quão norte ou sul está o observador. Passa exatamente pelo zénite à latitude 39º N. Quão detalhadamente consegue ver isto só apenas olhando?
Deneb passa o mais alto no céu duas horas depois de Vega. Mas para ver Deneb exatamente no zénite, precisamos de estar mais para norte, a 45º N (sul da França, por exemplo).

Dia 07/08: 219.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1959, lançamento do Explorer 6 que, com uma massa de 64,4 kg, torna-se no primeiro satélite a enviar fotos da Terra a partir de órbita. 

Em 1976, a Viking 2 entra em órbita de Marte.
Em 2000, uma equipa internacional de pesquisa planetária descobre em Epsilon Eridani, a apenas 10,5 anos-luz da Terra, um novo planeta gasoso. A descoberta foi, alguns anos depois, colocada em causa. Atualmente, a NASA lista o exoplaneta como "confirmado".
Observações: Já conseguiu ver algum meteoro das Perseídas? Por agora só conseguimos ver a ocasional estrela cadente, mas os seus números estão gradualmente a aumentar. O pico será quarta-feira à noite, dia 11 para 12 de agosto, mas a chuva começa a aparecer duas a três semanas antes.
Durante esta altura do ano é quase certo ser uma Perseída caso siga o seu percurso pelo céu e descubra que esta linha interseta a parte norte da constelação de Perseu.

Dia 08/08: 220.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1576, é colocada a pedra angular do observatório Uraniborg de Tycho Brahe, em Ven, Dinamarca.

Em 1977, a estação soviética Salyut 5 arde na atmosfera. Lançada no dia 22 de junho de 1976, a estação esteve tripulada durante 67 dias. 
Em 1989 era lançada a missão STS-28, a quarta missão secreta do Departamento de Defesa americano.
Em 2001, lançamento da sonda Genesis, a primeira missão de recolha de material desde o programa Apollo, a primeira a enviar material desde para lá da órbita da Lua (amostras de vento solar).
Observações: Lua Nova, pelas 14:50.

Dia 09/08: 221.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1973 era lançada a sonda soviética Mars 7. A 6 de março de 1974 o "orbiter"/"lander" falha a entrada na órbita de Marte. A órbita torna-se, assim, solar. 

Em 1976, lançamento da soviética Luna 24, a última missão do programa Luna e a terceira a enviar amostras lunares. A cápsula aterrou na Terra no dia 22 de agosto do mesmo ano.
Observações: Aproveite o anoitecer para observar Vénus a oeste. Mais tarde, Saturno e Júpiter já estão suficientemente altos a sudeste para observação.

 
 
   
Novas observações do ESO mostram que exoplaneta rochoso tem apenas metade da massa de Vénus

Com o auxílio do VLT (Very Large Telescope) do ESO no Chile, uma equipa de astrónomos obteve novos resultados sobre os planetas que orbitam uma estrela próxima, L 98-59, os quais se parecem com os planetas interiores do nosso Sistema Solar. Entre as descobertas, encontram-se: um planeta com metade da massa de Vénus (o exoplaneta mais leve alguma vez medido pelo método de velocidade radial), um mundo oceânico e um possível planeta na zona habitável da estrela.

"O planeta na zona habitável pode ter uma atmosfera que poderá permitir e proteger vida," disse María Rosa Zapatero Osorio, astrónoma no Centro de Astrobiologia de Madrid, Espanha, e autora, entre outros, do estudo publicado ontem na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics.

 
Esta imagem artística mostra L 98-59b, um dos planetas do sistema L 98-59 situado a 35 anos-luz de distância da Terra. Este sistema planetário contém quatro planetas rochosos confirmados com um quinto potencial, o mais afastado da estrela, ainda por confirmar.
Em 2021, os astrónomos usaram dados do instrumento ESPRESSO (Echelle SPectrograph for Rocky Exoplanets and Stable Spectroscopic Observations), montado no VLT (Very Large Telescope) do ESO, para medir a massa de L 98-59b e descobriram que este planeta tem cerca de metade da massa de Vénus. Trata-se assim do planeta mais leve alguma vez medido com o método de velocidade radial.
Crédito: ESO/M. Kornmesser
 

Estes resultados são um importante passo em frente na busca de vida em planetas do tamanho da Terra fora do nosso Sistema Solar. A deteção de bioassinaturas num exoplaneta depende muito da nossa capacidade de estudar a sua atmosfera, no entanto, os telescópios atuais não são suficientemente grandes para atingir a resolução necessária para que possamos levar a cabo este tipo de estudo em pequenos planetas rochosos. O recentemente estudado sistema planetário, chamado L 98-59 (como a sua estrela), é um bom alvo para futuras observações de atmosferas de exoplanetas. Este sistema encontra-se em órbita de uma estrela a apenas 35 anos-luz de distância da Terra e descobriram-se agora planetas rochosos, como a Terra ou Vénus, que estão suficientemente perto da estrela para se manterem quentes.

Com o auxílio do VLT (Very Large Telescope) do ESO, a equipa conseguiu inferir que três dos planetas podem conter água no seu interior ou na sua atmosfera. Os dois planetas mais próximos da estrela são provavelmente secos, mas podem conter pequenas quantidades de água. O terceiro planeta poderá ter até cerca de 30% da sua massa em água, parecendo por isso ser um mundo de oceanos.

Adicionalmente, a equipa descobriu exoplanetas "escondidos", os quais não tinham ainda sido detetados anteriormente neste sistema planetário. Foi descoberto um quarto planeta e suspeita-se ainda da presença de um quinto numa zona à distância certa da estrela para poder conter água líquida à sua superfície. "Descobrimos pistas que apontam para a presença de um planeta do tipo terrestre situado na zona habitável deste sistema," comenta Olivier Demangeon, investigador no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Universidade do Porto, e autor principal deste novo estudo.

Este trabalho representa um imenso avanço técnico, já que os astrónomos conseguiram determinar, pelo método de velocidade radial, que o planeta mais interno do sistema tem apenas metade da massa de Vénus. Trata-se assim do exoplaneta mais leve medido até à data com esta técnica, a qual consiste em calcular as pequenas oscilações sofridas pela estrela devido à minúscula atração gravitacional exercida pelos planetas que a orbitam.

A equipa utilizou o instrumento ESPRESSO (Echelle SPectrograph for Rocky Exoplanets and Stable Spectroscopic Observations) montado no VLT do ESO para estudar o sistema L 98-59. "Sem a precisão e estabilidade fornecidas pelo ESPRESSO, estas medições não teriam sido possíveis," diz Zapatero Osorio. "Este é, de facto, um passo em frente na nossa capacidade em medir as massas dos mais pequenos exoplanetas situados fora do Sistema Solar."

 
Este esquema mostra uma comparação entre o sistema planetário L 98-59 (em cima) com parte do Sistema Solar interior (Mercúrio, Vénus e Terra), destacando-se as semelhanças entre os dois.
L 98-59 contém quatro planetas rochosos confirmados (pintados a cores no painel superior), em órbita de uma estrela anã vermelha situada a 35 anos-luz de distância da Terra. O planeta mais próximo da estrela tem cerca de metade da massa de Vénus, o que o torna o exoplaneta mais leve alguma vez detetado pelo método de velocidade radial. Até cerca de 30% da massa do terceiro planeta pode ser água, fazendo deste um mundo de oceanos. A existência do quarto planeta foi confirmada, mas os cientistas não sabem ainda qual a sua massa e raio (o seu tamanho provável está indicado pela linha a tracejado). A equipa descobriu também indícios da presença de um quinto planeta, o mais afastado da estrela, embora se saiba muito pouco sobre ele. A ser confirmado, estará a orbitar na zona habitável do sistema, local onde a existência de água líquida à superfície é possível.
Neste esquema, as distâncias às estrelas e entre os planetas não estão à escala. O diagrama foi composto de modo a fazer coincidir as zonas habitáveis de ambos os sistemas. Tal como indicado no esquema, que inclui uma escala de temperaturas (em Kelvin [K]), a Terra e o quinto planeta não confirmado do sistema L 98-59 recebem quantidades semelhantes de luz e calor das suas estrelas respetivas. Assumindo atmosferas semelhantes, este quinto planeta poderia ter uma temperatura média à superfície semelhante à da Terra e ter também água líquida à sua superfície.
Crédito: ESO/L. Calçada/M. Kornmesser (reconhecimento: O. Demangeon)
 

Os astrónomos tinham já descoberto, em 2019, três dos planetas do sistema L 98-59 com o auxílio do satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA. Este satélite utiliza o chamado método de trânsito — onde uma diminuição do brilho emitido pela estrela, que é causada por um planeta a passar à sua frente, é usada para inferir as propriedades do planeta em questão — para encontrar exoplanetas e calcular os seus tamanhos. No entanto, foi apenas adicionando medições de velocidade radial obtidas pelo ESPRESSO e pelo seu percursor, o instrumento HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher), que Demangeon e a sua equipa conseguiram encontrar mais planetas neste sistema e medir as massas e os raios dos três primeiros. "Se quisermos saber como é constituído um planeta, precisamos, pelo menos, de conhecer a sua massa e o seu raio," explica Demangeon.

A equipa espera continuar a estudar este sistema com o futuro telescópio espacial JWST (James Webb Space Telescope) da NASA/ESA/CSA. Também o futuro ELT (Extremely Large Telescope) do ESO, atualmente em construção no deserto chileno do Atacama e que se espera que comece a observar em 2027, será ideal para o estudo destes planetas. "O instrumento HIRES que será montado no ELT terá a capacidade de estudar as atmosferas de alguns dos planetas do sistema L 98-59, complementando assim, a partir do solo, o JWST," diz Zapatero Osorio.

"Este sistema anuncia-nos o que está para vir," acrescenta Demangeon. "Como sociedade temos andado à procura de planetas do tipo terrestre desde o nascer da astronomia e estamos agora finalmente a aproximarmo-nos da deteção de um planeta deste tipo na zona habitável da sua estrela, e para o qual poderemos estudar a sua atmosfera."

// ESO (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Astronomy & Astrophysics)
// Artigo científico (PDF)
// ESOcast 242 light: um sistema planetário vizinho revela os seus segredos (ESO via YouTube)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
02/07/2019 - TESS encontra o seu exoplaneta mais pequeno até agora

Notícias relacionadas:
SPACE.com
science alert
PHYSORG
TSF
Expresso
SAPO tek

L 98-59:
Simbad
L 98-59b (NASA)
L 98-59b (Exoplanet.eu)
L 98-59c (NASA)
L 98-59c (Exoplanet.eu)
L 98-59d (NASA)
L 98-59d (Exoplanet.eu)

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
NASA
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

VLT:
ESO
Wikipedia

ESO:
Página oficial
Wikipedia

TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite):
NASA
NASA/Goddard
Programa de Investigadores do TESS (HEASARC da NASA)
MAST (Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais)
Exoplanetas descobertos pelo TESS (NASA Exoplanet Archive)
Wikipedia

 
   
Modelo descreve estrela próxima que se assemelha à nossa na sua juventude

Uma nova investigação liderada pela NASA fornece uma visão mais detalhada de uma estrela próxima que se parece com o nosso jovem Sol. O trabalho permite que os cientistas entendam melhor como o nosso Sol pode ter sido quando era jovem e como pode ter moldado a atmosfera do nosso planeta e o desenvolvimento da vida na Terra.

Muitas pessoas sonham em encontrar uma versão mais jovem de si próprias para trocar conselhos, identificar as origens das suas características e partilhar esperanças para o futuro. Com 4,65 mil milhões de anos, o nosso Sol é uma estrela de meia-idade. Os cientistas costumam ficar curiosos para saber exatamente quais as propriedades que permitiram com que o nosso Sol, nos seus anos mais jovens, sustentassem a vida na vizinha Terra.

 
Ilustração do possível aspeto do Sol há 4 mil milhões de anos, por volta da época em que a vida se desenvolveu na Terra.
Crédito: Centro de Voo Espacial Goddard da NASA/CIL
 

Sem uma máquina do tempo para transportar cientistas milhares de milhões de anos para o passado, retraçar a atividade inicial da nossa estrela pode parecer uma façanha impossível. Felizmente, na nossa Via Láctea - o segmento cintilado e espiralado do Universo onde o nosso Sistema Solar está localizado - existem mais de 100 mil milhões de estrelas. Uma em cada dez compartilha características com o nosso Sol, e muitas estão nos estágios iniciais de desenvolvimento.

"Imagine que eu queria reproduzir a foto de um adulto quando este tinha um ou dois anos, e todas as fotos foram apagadas ou perdidas. Eu olharia para uma foto dele agora, e para fotos dos seus parentes mais próximos, com mais ou menos essa idade e, a partir daí, reconstruiria as suas fotos de bebé," disse Vladimir Airapetian, astrofísico sénior da Divisão de Heliofísica do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland, autor principal do novo estudo. "Este é o tipo de processo que estamos a seguir aqui - olhar para as características de uma jovem estrela semelhante à nossa, para melhor entender como a nossa própria estrela era na sua juventude e o que lhe permitiu alimentar a vida num dos seus planetas próximos."

Kappa 1 Ceti é uma tal análoga solar. A estrela está localizada a cerca de 30 anos-luz de distância (em termos espaciais, é como um vizinho que mora na rua ao lado) e tem uma idade estimada em 600 a 750 milhões de anos, mais ou menos a mesma idade que o nosso Sol tinha quando a vida se desenvolveu na Terra. Também tem massa e temperatura superficial semelhantes ao nosso Sol, disse o segundo autor do estudo, Meng Jin, heliofísico do Instituto SETI e do LMSAL (Lockheed Martin Solar and Astrophysics Laboratory) na Califórnia. Todos estes fatores fazem de Kappa 1 Ceti uma "gémea" do nosso jovem Sol na época em que a vida surgiu na Terra e um importante alvo de estudo.

Airapetian, Jin e vários colegas adaptaram um modelo solar existente para prever algumas das características mais importantes, embora difíceis de medir, de Kappa 1 Ceti. O modelo baseia-se na entrada de dados de uma variedade de missões espaciais, incluindo o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) e o NICER da NASA e o XMM-Newton da ESA. A equipa publicou o seu estudo na revista The Astrophysical Journal.

Poder estelar

Tal como as crianças humanas, as crianças estelares são conhecidas pelas suas explosões de energia e atividade. Para as estrelas, uma das maneiras pela qual esta energia contida é libertada é na forma de um vento estelar.

Os ventos estelares, como as próprias estrelas, são compostos principalmente de um gás superaquecido conhecido como plasma, criado quando as partículas de um gás se dividem em iões carregados positivamente e eletrões carregados negativamente. O plasma mais energético, com a ajuda do campo magnético de uma estrela, pode disparar da parte mais externa e mais quente da atmosfera de uma estrela, a coroa, numa erupção, ou fluir de forma mais constante em direção aos planetas próximos como vento estelar. "O vento estelar flui continuamente de uma estrela em direção aos planetas próximos, influenciando o ambiente destes planetas," disse Jin.

Estrelas mais jovens tendem a gerar ventos estelares mais quentes e vigorosos e erupções de plasma mais poderosas do que as estrelas mais velhas. Estas explosões podem afetar a atmosfera e a química dos planetas próximos e, possivelmente, até catalisar o desenvolvimento de matéria orgânica - os blocos de construção da vida - nesses planetas.

O vento estelar pode ter um impacto significativo nos planetas em qualquer fase da vida. Mas os ventos estelares fortes e altamente densos das estrelas jovens podem comprimir os escudos magnéticos de proteção dos planetas circundantes, tornando-os ainda mais suscetíveis aos efeitos das partículas carregadas.

 
Impressão de artista de uma ejeção de massa coronal a atingir a fraca magnetosfera da jovem Terra.
Crédito: NASA/GSFC/CIL
 

O nosso Sol é um exemplo perfeito. Em comparação com agora, na sua infância, o nosso Sol provavelmente girava três vezes mais depressa, tinha um campo magnético mais forte e emitia partículas altamente energéticas e radiação mais intensa. Hoje em dia, para os espetadores sortudos, o impacto destas partículas às vezes é visível perto dos polos do planeta como auroras, as boreais ou as austrais. Airapetian diz que há 4 mil milhões de anos, considerando o impacto do vento do nosso Sol naquela época, estas tremendas auroras eram provavelmente visíveis de muitos mais lugares em torno do planeta.

Este alto nível de atividade no nosso jovem Sol pode ter empurrado para trás a magnetosfera protetora da Terra, e fornecido ao planeta - não perto o suficiente para ficar tostado como Vénus, nem distante o suficiente para ser negligenciado como Marte - a química atmosférica ideal para a formação de moléculas biológicas.

Processos semelhantes podem estar em desenvolvimento noutros sistemas estelares por toda a nossa Galáxia e no Universo.

"O meu sonho é encontrar um exoplaneta rochoso no estágio em que o nosso planeta estava há mais de 4 mil milhões de anos, a ser moldado pela sua jovem estrela ativa e quase pronto para hospedar vida," disse Airapetian. "Entender como o nosso Sol era quando a vida estava a começar a desenvolver-se na Terra vai ajudar-nos a refinar a nossa busca por estrelas com exoplanetas que podem eventualmente hospedar vida."

Uma gémea solar

Embora os análogos solares possam ajudar a resolver um dos desafios de espreitar o passado do Sol, o tempo não é o único fator que complica o estudo do nosso jovem Sol. Também existe a distância.

Temos instrumentos capazes de medir com precisão o vento estelar do nosso próprio Sol, chamado vento solar. No entanto, ainda não é possível observar diretamente o vento estelar de outras estrelas na nossa Galáxia, como Kappa 1 Ceti, porque estão demasiado distantes.

Quando os cientistas desejam estudar um evento ou fenómeno que não podem observar diretamente, a modelagem científica pode ajudar a preencher as lacunas. Os modelos são representações ou previsões de um objeto de estudo, construídas com base em dados científicos existentes. Embora os cientistas já tenham modelado anteriormente o vento estelar desta estrela, disse Airapetian, usaram suposições mais simplificadas.

A base para o novo modelo de Kappa 1 Ceti por Airapetian, Jin e colegas é o AWSoM (Alfvén Wave Solar Model), que pertence à Rede de Modelos do Clima Espacial desenvolvido pela Universidade de Michigan. O modelo funciona inserindo informações conhecidas sobre uma estrela, incluindo o seu campo magnético e dados da linha de emissão ultravioleta, para prever a atividade do vento estelar. Quando o modelo foi testado no nosso Sol, foi validado e verificado contra dados observacionais para verificar se as suas previsões são precisas.

"É capaz de modelar os ventos e a coroa com alta fidelidade," disse Jin. "E é um modelo que também podemos usar noutras estrelas para prever o seu vento estelar e, assim, investigar a habitabilidade. É o que fizemos aqui."

Estudos anteriores basearam-se em dados recolhidos pelo TESS e pelo Hubble para identificar Kappa 1 Ceti como uma gémea solar jovem e para reunir as informações necessárias a inserir no modelo, como o campo magnético e dados da linha de emissão ultravioleta.

"Todos os modelos precisam de inputs para obter outputs," disse Airapetian. "Para obter resultados úteis e precisos, os dados de entrada precisam de ser dados sólidos, idealmente de várias fontes ao longo do tempo. Temos todos esses dados de Kappa 1 Ceti, e realmente sintetizámo-los neste modelo preditivo para ir além dos estudos anteriores, puramente observacionais, da estrela."

Airapetian compara o modelo da sua equipa a um relatório médico. Para obter uma imagem completa de como o paciente está, é provável que o médico converse com ele, reúna dados como frequência cardíaca e temperatura e, se necessário, realize vários testes mais especializados, como uma análise ao sangue ou ultrassom. Estes provavelmente formularão uma avaliação precisa do bem-estar do paciente com uma combinação destas métricas, não apenas uma.

Da mesma forma, usando muitas informações sobre Kappa 1 Ceti recolhidas por diferentes missões espaciais, os cientistas são mais capazes de prever a sua coroa e o vento estelar. Dado que o vento estelar pode afetar o escudo magnético de um planeta vizinho, este desempenha um papel na habitabilidade. A equipa também está a trabalhar noutro projeto, examinando mais de perto as partículas que podem ter surgido das primeiras erupções solares, bem como a química prebiótica na Terra.

O passado do nosso Sol, escrito nas estrelas

Os investigadores esperam usar o seu modelo para mapear os ambientes de outras estrelas semelhantes ao Sol em vários estágios de vida.

Especificamente, têm olhos postos na jovem estrela EK Dra - a 111 anos-luz de distância e com apenas 100 milhões de anos - que provavelmente gira três vezes mais depressa e lança mais proeminências e plasma do que Kappa 1 Ceti. A documentação de como estas estrelas semelhantes de várias idades diferem umas das outras ajudará a caracterizar a trajetória típica da vida de uma estrela.

O seu trabalho, disse Airapetian, tem tudo a ver com "olhar para o nosso próprio Sol, o seu passado e o seu possível futuro, através das lentes de outras estrelas."

// NASA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

Kappa 1 Ceti:
Simbad
SolStation.com
Wikipedia

Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
Hubblesite
STScI
SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite):
NASA
NASA/Goddard
Programa de Investigadores do TESS (HEASARC da NASA)
MAST (Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais)
Exoplanetas descobertos pelo TESS (NASA Exoplanet Archive)
Wikipedia

NICER:
NASA
Wikipedia

Observatório XMM-Newton:
ESA
Wikipedia

 
   
Porque é que esta estranha estrela metálica está a sair da Via Láctea?

A cerca de 2000 anos-luz da Terra, há uma estrela catapultando-se em direção à orla da Via Láctea. Esta estrela em particular, conhecida como LP 40-365, faz parte de uma classe única de estrelas que se movem rapidamente - fragmentos remanescentes de estrelas anãs brancas massivas - que sobreviveram em pedaços após uma explosão estelar gigantesca.

"Esta estrela está a mover-se tão depressa que quase certamente está a deixar a Galáxia... está a mover-se a 3 milhões de quilómetros por hora," diz JJ Hermes, professor assistente de astronomia da Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Boston, EUA. Mas porque é que este objeto voador está a sair da Via Láctea? Porque é um estilhaço de uma explosão passada - um evento cósmico conhecido como supernova - que ainda está sendo impulsionado para a frente.

 
Nesta impressão de artista, um par íntimo de anãs brancas eventualmente explode no que é chamado de supernova. Isto ocorre quando uma anã branca se alimenta da sua estrela companheira até que ambas são detonadas. Às vezes só sobram remanescentes.
Crédito: Caltech/ZTF
 

"Ter passado por uma detonação parcial e ainda sobreviver é muito interessante e único, e foi apenas nos últimos anos que começámos a pensar que este tipo de estrela podia existir," diz Odelia Putterman, ex-aluna da mesma universidade que já trabalhou no laboratório de Hermes.

Num novo artigo publicado na revista The Astrophysical Journal Letters, Hermes e Putterman relatam novas observações deste "estilhaço estelar" que fornecem novas informações sobre estrelas com passados catastróficos semelhantes.

Putterman e Hermes analisaram dados do Telescópio Espacial Hubble e do TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), que examina o céu e recolhe informações da luz de estrelas próximas e distantes. Ao observar vários tipos de dados de ambos os telescópios, os investigadores e colaboradores descobriram que LP 40-365 não somente está a ser lançada para fora da Galáxia mas, com base nos padrões de brilho, também está a girar ao sair.

"A estrela basicamente foi disparada pela explosão, e estamos a observar a sua rotação ao sair," diz Putterman, segunda autora do artigo.

"Analisámos com mais detalhe para descobrir porque é que aquela estrela estava, repetidamente, a ficar mais brilhante e mais ténue, e a explicação mais simples é que estamos a ver algo na sua superfície a girar para dentro e para fora de vista a cada nove horas," sugerindo o seu período de rotação, explica Hermes. Todas as estrelas giram - até o nosso próprio Sol gira lentamente sob o seu eixo a cada 27 dias. Mas para um fragmento de estrela que sobreviveu a uma supernova, nove horas é considerado relativamente lento.

As supernovas ocorrem quando uma anã branca fica demasiado massiva para se sustentar, eventualmente desencadeando uma detonação cósmica de energia. A determinação da rotação de uma estrela como LP 40-365, após uma supernova, pode fornecer pistas sobre o sistema binário de onde é originária. É comum no Universo as estrelas formarem pares íntimos, incluindo anãs brancas, que são estrelas altamente densas que se formam no final da vida de uma estrela. Se uma anã branca der muita massa a outra, a estrela recetora pode autodestruir-se, resultando numa supernova. As supernovas são comuns e podem acontecer de muitas maneiras diferentes, dizem os cientistas, mas geralmente são muito difíceis de observar. Isto dificulta a determinação de qual a estrela que implodiu e de qual a estrela que "despejou" demasiada massa na sua parceira.

Com base no período de rotação relativamente lento de LP 40-365, Hermes e Putterman sentem-se mais confiantes para afirmar que é um estilhaço da estrela que se autodestruiu após ter consumido demasiada massa da sua parceira, quando ainda se orbitavam uma à outra a grandes velocidades. Dado que as estrelas se orbitam uma à outra tão depressa e tão intimamente, a explosão atingiu-as ambas, e agora vemos apenas LP 40-365.

"Este artigo acrescenta mais uma camada de conhecimento sobre o papel que estas estrelas desempenharam quando a supernova ocorreu," e o que pode acontecer após a explosão, diz Putterman. "Ao entender o que está a acontecer com esta estrela em particular, podemos começar a entender o que está a acontecer com muitas outras estrelas semelhantes oriundas de uma situação semelhante."

"Estas estrelas são muito estranhas," diz Hermes. Estrelas como LP 40-365 não são apenas algumas das estrelas mais rápidas conhecidas dos astrónomos, mas também as estrelas mas ricas em metais já detetadas. Estrelas como o nosso Sol são compostas de hélio e hidrogénio, mas uma estrela que sobreviveu a uma supernova é composta principalmente de material metálico, porque "o que estamos a ver são subprodutos de violentas reações nucleares que ocorrem quando uma estrela explode," diz Hermes, o que torna estilhaços estelares como este especialmente fascinantes de estudar.

// Universidade de Boston (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal Letters)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
12/02/2021 - Remanescente de explosão rara descoberto no centro da Via Láctea
08/08/2014 - Hubble encontra sistema estelar de supernova ligada a potencial "estrela zombie"
29/03/2013 - Astrónomos descobrem novo tipo de supernova

LP 40-365:
Wikipedia

Supernovas do Tipo Iax:
Wikipedia

Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
Hubblesite
STScI
SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite):
NASA
NASA/Goddard
Programa de Investigadores do TESS (HEASARC da NASA)
MAST (Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais)
Exoplanetas descobertos pelo TESS (NASA Exoplanet Archive)
Wikipedia

 
   
Álbum de fotografias - Uma Perseída e a Via Láctea
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Dandan Huang
 
Era brilhante e verde e cintilava à medida que se movia rapidamente pelo plano de fundo da Via Láctea. Deixou um rastro que levou 30 minutos a dissipar-se. Tendo em conta o dia, 12 de agosto, e a direção, para longe de Perseu, foi provavelmente um pequeno pedaço do núcleo do Cometa Swift-Tuttle "lavrando" a atmosfera da Terra - e, portanto, parte da anual chuva de meteoros das Perseídas. O astrofotógrafo capturou a bola de fogo que saiu disparada pelo céu em 2018 por cima de um vale em Yichang, Hubei, China. O rastro do meteoro, também registado em vídeo, terminou perto da direção de Marte no canto inferior esquerdo. Na próxima semana, a chuva de meteoros das Perseídas de 2021 vai atingir o pico novamente. Este ano a Lua pôr-se-á logo após o Sol, deixando um céu noturno ideal para observarmos muitas Perseídas em locais escuros e limpos por todo o planeta Terra.
 
   
Arquivo | Feed RSS | Contacte o Webmaster | Remover da lista
 
       
       
   
Centro Ciência Viva do Algarve
Rua Comandante Francisco Manuel
8000-250, Faro
Portugal
Telefone: 289 890 922
E-mail: info@ccvalg.pt
Centro Ciência Viva de Tavira
Convento do Carmo
8800-311, Tavira
Portugal
Telefone: 281 326 231 | Telemóvel: 924 452 528
E-mail: geral@cvtavira.pt
   

Os conteúdos das hiperligações encontram-se na sua esmagadora maioria em Inglês. Para o boletim chegar sempre à sua caixa de correio, adicione noreply@ccvalg.pt à sua lista de contactos. Este boletim tem apenas um caráter informativo. Por favor, não responda a este email. Contém propriedades HTML e classes CSS - para vê-lo na sua devida forma, certifique-se que o seu cliente de webmail suporta este tipo de mensagem, ou utilize software próprio, como o Outlook ou outras apps para leitura de mensagens eletrónicas.

Recebeu esta mensagem por estar inscrito na newsletter de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve e do Centro Ciência Viva de Tavira. Se não a deseja receber ou se a recebe em duplicado, faça a devida alteração clicando aqui ou contactando o webmaster.

Esta mensagem destina-se unicamente a informar e está de acordo com as normas europeias de proteção de dados (ver RGDP), conforme Declaração de Privacidade e Tratamento de dados pessoais.

2021 - Centro Ciência Viva do Algarve | Centro Ciência Viva de Tavira

ccvalg.pt cvtavira.pt