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  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
Com o apoio do Centro Ciência de Tavira
   
 
  Astroboletim #1849  
  26/11 a 29/11/2021  
     
 
Efemérides

Dia 26/11: 330.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1937, nascia Boris Borisovich Yegorov, cosmonauta e físico. Torna-se no primeiro físico a fazer um voo espacial.
Em 1965, a França lança o seu primeiro satélite, o Astérix. Torna-se na terceira nação a entrar no espaço.
Em 1990, o foguetão Delta II (7000) levanta voo pela primeira vez.
Em 2011, é lançado para o espaço o Mars Science Laboratory, que tem a bordo o rover Curiosity.

Em 2018, o módulo InSight pousa em Elysium Planitia, Marte.
Observações: Por volta das 19:30, o Grande Quadrado de Pégaso encontra-se nivelado bem alto a sul. O seu lado direito (oeste) aponta bem para baixo até Fomalhaut. O seu lado este aponta menos diretamente até Beta Ceti (também conhecida como Deneb Kaitos ou Diphda), mas não tão para baixo.
O que está para baixo destas duas estrelas? Se tiver acesso a um horizonte desimpedido a sul, imagine um triângulo equilátero com Fomalhaut e Beta Ceti como os seus cantos de topo. Perto de onde estaria o terceiro canto, está Alpha Phoenicis, ou Ankaa, na constelação da Fénix. A sua magnitude de 2,4 não é muito elevada mas é o ponto mais brilhante na área. Tem um tom amarelo-alaranjado (binóculos ajudam). Já alguma vez tinha visto a constelação da Fénix?

Dia 27/11: 331.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1701 nascia Anders Celsius, astrónomo, físico e matemático sueco. Fundou o Observatório Astronómico de Uppsala em 1741, e em 1742 propôs a escala de temperatura que tem o seu nome.
Em 1871 nascia Giovanni Giorgi, engenheiro eléctrico italiano que inventou o sistema de medição Giorgi, o percursor do SI (Sistema Internacional). 
Em 1971, a sonda soviética Mars-2, apesar do seu falhanço, torna-se no primeiro objeto feito pelo Homem a atingir Marte.

Em 2001, é descoberta, pelo Hubble, uma atmosfera de hidrogénio e sódio no exoplaneta HD 209458 (Osiris), a primeira atmosfera detetada num planeta extrasolar.
Observações: Planeta anão Ceres em oposição, pelas 04:00.
Lua em Quarto Minguante, pelas 12:28.

Dia 28/11: 332.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1964, a NASA lança a sonda Mariner 4.

Foi a primeira sonda a fazer um voo rasante pelo Planeta Vermelho e a primeira a enviar imagens da superfície de outro mundo a partir do espaço profundo.
Em 2000, é descoberto 20000 Varuna, um objeto da Cintura de Kuiper. É provavelmente um planeta anão.
Observações: Não parece que o Sol já se põe o mais cedo possível? Poderá ter razão! Ainda estamos a três semanas do solstício de inverno - mas o Sol põe-se o mais cedo possível por volta do dia 6 ou 7 de dezembro à latitude de Faro, Portugal. Hoje estamos a uns meros 2 minutos dessa hora.
Este desfasamento do solstício é balançado pelo oposto ao nascer-do-Sol: o Sol só nasce o mais tarde possível dia 4 de janeiro. Culpe a inclinação do eixo da Terra e a excentricidade da órbita.

Dia 29/11: 333.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1803, nascia Christian Doppler, matemático e físico austríaco, famoso pela sua descoberta do que é agora denominado efeito Doppler.

Em 1961, Enos, um chimpanzé, é lançado para o espaço a bordo da missão Mercury-Atlas 5. A nave orbitou a Terra duas vezes e aterrou no mar perto da costa de Porto Rico.
Em 1965, a agência espacial canadiana lança o satélite Alouette 2.
Em 1967, lançamento de primeiro satélite australiano, o WRESAT.
Observações: A "frigideira" da Ursa Menor desce durante a noite nesta altura do ano, para a esquerda ou para baixo e para a esquerda da Estrela Polar. Por volta das 23 horas, situa-se mesmo por baixo da Polar.
A Galáxia de Andrómeda e o Duplo Enxame de Perseu são dois dos mais famosos objetos do céu profundo. Estão ambos catalogados como tendo quarta magnitude, e num céu razoavelmente bom conseguimos observá-los à vista desarmada. Os binóculos tornam esta tarefa mais fácil. Estão apenas separados por 22º, muito altos a este ao início destas noites - para a direita da Cassiopeia e mais perto e para baixo de Cassiopeia, respetivamente.
Mas têm um aspeto muito diferente, quanto mais escuro for o céu do observador. Veja por si próprio(a).

 
     
 
Curiosidades


Uma pequena colónia da comum bactéria Streptococcus mitis viajou clandestinamente durante quase três anos a bordo da Surveyor 3 da NASA, uma sonda não tripulada que aterrou na Lua em 1967. A tripulação da Apollo 12 recolheu os organismos e trouxe-os de volta para a Terra sob condições esterilizadas. Esta experiência não planeada provou que certos microrganismos podem sobreviver anos sob exposição a radiação, ao vácuo do espaço e a temperaturas baixíssimas, sem qualquer nutriente, água ou fonte de energia. Alguns cientistas dizem que a vida poderá ter viajado de Marte até à Terra dentro de uma rocha espacial.

 
 
   
Gaia revela que a maioria das companheiras galácticas da Via Láctea são recém-chegadas ao nosso canto do espaço

Os dados da missão Gaia da ESA estão a reescrever a história da nossa Galáxia, a Via Láctea. O que tradicionalmente se pensava serem galáxias satélites da Via Láctea agora revelam-se, na sua maioria, recém-chegadas ao nosso ambiente galáctico.

 
A nossa Galáxia, a Via Láctea, é rodeada por cerca de cinquenta galáxias anãs. A maioria destas galáxias só é identificável por meio de telescópios e recebeu o nome da constelação em que aparecem no céu (por exemplo, Dragão, Escultor ou Leão). No entanto, as duas galáxias anãs mais óbvias são chamadas Grande Nuvem de Magalhães (GNM) e Pequena Nuvem de Magalhães (PNM) e são facilmente visíveis a olho nu. Tradicionalmente, estas galáxias anãs foram consideradas satélites em órbita da Via Láctea há já muitos milhares de milhões de anos. No entanto, agora novos dados da nave Gaia da ESA mostraram que a maioria das galáxias anãs estão a passar pela Via Láctea pela primeira vez. Isto força os astrónomos a reconsiderar a história da Via Láctea e como se formou, juntamente com a natureza e a composição das próprias galáxias anãs.
Crédito: ESA/Gaia/DPAC
 

Uma galáxia anã é uma coleção de milhares a vários milhares de milhões de estrelas. Durante décadas, pensou-se amplamente que as galáxias anãs que rodeiam a Via Láctea eram satélites, o que significa que foram capturadas para órbita da nossa Galáxia e que têm sido nossas companheiras constantes por milhares de milhões de anos. Agora, os movimentos destas galáxias anãs foram calculados com uma precisão sem precedentes, graças aos dados do terceiro lançamento de dados do Gaia. E os resultados são surpreendentes.

François Hammer, do Observatório de Paris e colegas de toda a Europa e China, usaram dados do Gaia para calcular os movimentos de 40 galáxias anãs em torno da Via Láctea. Fizeram isto computando um conjunto de valores conhecidos como velocidades tridimensionais para cada galáxia e, em seguida, usando-os para calcular a energia orbital e o momento angular (rotacional) da galáxia.

Eles descobriram que estas galáxias estão a mover-se muito mais depressa do que as estrelas gigantes e enxames que orbitam a Via Láctea. Tão depressa que não poderiam ainda estar em órbita da Via Láctea, onde as interações com a nossa Galáxia e com o seu conteúdo teriam "minado" a sua energia orbital e momento angular.

A nossa Galáxia canibalizou várias galáxias anãs no seu passado. Por exemplo, há 8-10 mil milhões de anos, uma galáxia anã chamada Gaia-Encélado foi absorvida pela Via Láctea. As suas estrelas podem ser identificadas nos dados do Gaia devido às suas órbitas excêntricas e à gama de energias que possuem.

Mais recentemente, há 4-5 mil milhões de anos, a galáxia anã de Sagitário foi capturada pela Via Láctea e atualmente está a ser fragmentada e assimilada. A energia das suas estrelas é maior do que as de Gaia-Encélado, indicando o menor tempo que estiveram sujeitas à influência da Via Láctea.

No caso das galáxias anãs do novo estudo, que representam a maioria das galáxias anãs em redor da Via Láctea, as suas energias são ainda mais altas. Isto sugere fortemente que só chegaram à nossa vizinhança nos últimos milhares de milhões de anos.

A descoberta reflete aquela feita sobre a Grande Nuvem de Magalhães (GNM), uma galáxia anã maior, tão perto da Via Láctea que é visível como uma mancha de luz no céu noturno do hemisfério sul. A GNM também foi considerada uma galáxia satélite da Via Láctea até à década de 2000, quando os astrónomos mediram a sua velocidade e descobriram que estava a viajar depressa demais para estar vinculada gravitacionalmente. Em vez de uma companheira, a GNM está a visitar-nos pela primeira vez. Agora sabemos que o mesmo se aplica à maioria das galáxias anãs.

Então, será que estas recém-chegadas vão entrar em órbita ou simplesmente passar por nós? "Algumas serão capturadas pela Via Láctea e tornar-se-ão satélites," diz François.

Mas dizer exatamente quais é difícil porque depende da massa exata da Via Láctea, e esse é um valor que é difícil de calcular com qualquer precisão real para os astrónomos. As estimativas variam por um factor de dois.

A descoberta das energias das galáxias anãs é importante porque obriga-nos a reavaliar a natureza das próprias galáxias anãs.

À medida que uma galáxia anã orbita a Via Láctea, a sua atração gravitacional tenta fragmentá-la. Em física, isto é conhecido como força de maré. "A Via Láctea é uma galáxia grande, de modo que as suas forças de marés são simplesmente gigantescas e é muito fácil destruir uma galáxia anã depois de talvez uma ou duas passagens," explica François.

Por outras palavras, tornar-se companheira da Via Láctea é uma sentença de morte para as galáxias anãs. A única coisa que poderia resistir às "garras" destrutivas da nossa Galáxia é caso a anã tivesse uma quantidade significativa de matéria escura. A matéria escura é a substância misteriosa que os astrónomos pensam que existe no Universo para fornecer a gravidade extra e assim manter juntas as galáxias individuais.

E assim, na visão tradicional de que as anãs da Via Láctea eram galáxias satélites que estiveram em órbita durante muitos milhares de milhões de anos, assumia-se que deveriam ser dominadas pela matéria escura e assim equilibrar a força das marés da Via Láctea e mantê-las intactas. O facto do Gaia ter revelado que a maioria das galáxias anãs estão a circular a Via Láctea pela primeira vez significa que não precisam necessariamente de incluir qualquer matéria escura, e devemos reavaliar se estes sistemas estão em equilíbrio ou, ao invés, no processo de destruição.

"Graças em grande parte ao Gaia, agora é óbvio que a história da Via Láctea é muito mais lendária do que os astrónomos haviam entendido anteriormente. Ao investigar estas pistas tentadoras, esperamos descobrir ainda mais sobre os capítulos fascinantes do passado da nossa Galáxia," disse Timo Prusti, cientista do projeto Gaia da ESA.

// ESA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

Via Láctea:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia
SEDS

Galáxia satélite:
Wikipedia

Galáxias satélites da Via Láctea:
Wikipedia

Gaia-Encélado:
Wikipedia

Anã de Sagitário:
SolStation.com
Wikipedia

Grande Nuvem de Magalhães:
Wikipedia
SEDS

Matéria escura:
Wikipedia

Gaia:
ESA
ESA - 2
Gaia/ESA
Programa Alertas de Ciência Fotométrica do Gaia
EDR3 do Gaia
SPACEFLIGHT101
Wikipedia

 
   
Astrónomos descobrem mais de 300 novos possíveis exoplanetas

Astrónomos da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) identificaram 366 novos exoplanetas, em grande parte graças a um algoritmo aí desenvolvido. Entre as suas descobertas mais notáveis está um sistema planetário que compreende uma estrela e pelo menos dois planetas gigantes gasosos, cada um com aproximadamente o tamanho de Saturno e localizados excecionalmente perto um do outro.

As descobertas estão descritas num artigo publicado na revista The Astronomical Journal.

 
Investigadores identificaram 366 novos exoplanetas usando dados do Telescópio Espacial Kepler, incluindo 18 sistemas planetários parecidos ao aqui ilustrado, Kepler-444, que tinha sido identificado anteriormente pelo telescópio.
Crédito: Tiago Campante/Peter Devine via NASA
 

O termo "exoplanetas" é usado para descrever planetas para lá do nosso Sistema Solar. O número de exoplanetas identificados pelos astrónomos totaliza menos de 5000, de modo que a identificação de novas centenas é um avanço significativo. O estudo de um novo grupo tão grande de corpos pode ajudar os cientistas a melhor entender como os planetas se formam e como as órbitas evoluem, e pode fornecer novas informações sobre o quão invulgar é o nosso Sistema Solar.

"Descobrir centenas de novos exoplanetas é uma conquista significativa por si só, mas o que diferencia este trabalho é como vai iluminar características da população exoplanetária como um todo," disse Erik Petigura, professor de astronomia na UCLA e coautor da investigação.

O autor principal do artigo é Jon Zink, que obteve o seu doutoramento em junho e atualmente é bolsista de pós-doutoramento. Ele e Petigura, bem como uma equipa internacional de astrónomos chamada projeto "Scaling K2", identificaram os exoplanetas usando dados da missão K2 do Telescópio Espacial Kepler da NASA.

A descoberta foi possível graças a um novo algoritmo de deteção de planetas desenvolvido por Zink. Um desafio na identificação de novos planetas é que as reduções no brilho estelar podem ter origem no instrumento ou de uma fonte astrofísica alternativa que imita uma assinatura planetária. Descobrir o que é o quê requer investigações extra, o que tradicionalmente é extremamente demorado e só pode ser realizado por meio de inspeção visual. O algoritmo de Zink é capaz de separar quais os sinais que indicam exoplanetas e quais os que são meramente ruído.

"O catálogo e o algoritmo de deteção de planetas que Jon e a equipa do Scaling K2 criaram é um grande avanço na compreensão da população de planetas," disse Petigura. "Não tenho dúvidas que irão aprimorar a nossa compreensão dos processos físicos pelos quais os planetas se formam e evoluem."

A missão original do Kepler teve um fim inesperado em 2013, quando uma falha mecânica deixou a espaçonave incapaz de apontar com precisão para uma região do céu que vinha a observar há anos.

Mas os astrónomos redirecionaram o telescópio para uma nova missão conhecida como K2, cujo objetivo era identificar exoplanetas em torno de estrelas distantes. Os dados do K2 estão a ajudar os cientistas a entender como a localização das estrelas na Galáxia influencia que tipo de planetas são capazes de se formar ao seu redor. Infelizmente, o software usado pela missão Kepler original, para identificar possíveis planetas, era incapaz de lidar com as complexidades da missão K2, incluindo a capacidade de determinar o tamanho dos planetas e a sua localização em relação à estrela.

O trabalho anterior de Zink e colaboradores introduziu o primeiro "pipeline" totalmente automatizado para a missão K2, com software para identificar planetas prováveis nos dados processados.

Para o novo estudo, os investigadores usaram o novo software para analisar todo o conjunto de dados da missão K2 - cerca de 500 terabytes de dados que abrangem mais de 800 milhões de imagens de estrelas - para criar um "catálogo" que em breve será incorporado ao arquivo exoplanetário principal da NASA. Os investigadores usaram o supercomputador Hoffman2 da UCLA para processar os dados.

Além dos 366 novos planetas identificados pelos investigadores, o catálogo lista 381 outros planetas que já tinham sido identificados anteriormente.

Zink disse que as descobertas podem ser um passo significativo para ajudar os astrónomos a entender quais os tipos de estrelas que são mais prováveis de ter planetas em órbita e o que isso indica sobre os blocos de construção necessários para uma formação planetária bem-sucedida.

"Precisamos de olhar para uma gama ampla de estrelas, não apenas aquelas como o nosso Sol, para entender isso," explicou.

A descoberta do sistema planetário com dois planetas gigantes também foi significativa porque é raro encontrar gigantes gasosos - como Saturno no nosso próprio Sistema Solar - tão perto da sua estrela hospedeira quanto estavam neste caso. Os investigadores ainda não conseguem explicá-los, mas Zink disse que isso torna a descoberta especialmente útil porque pode ajudar os cientistas a formar uma compreensão mais precisa dos parâmetros de como os planetas e sistemas planetários se desenvolvem.

"A descoberta de cada novo mundo fornece um vislumbre único da física que desempenha um papel na formação planetária," concluiu.

// UCLA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astronomical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
NASA
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

Telescópio Espacial Kepler:
NASA (página oficial)
Arquivo de dados do Kepler
Arquivo de dados da missão K2
Wikipedia

Hoffman 2:
UCLA

 
   
Estrela com "hélice" veloz é a anã branca com rotação mais rápida

De acordo com uma equipa de astrónomos liderada pela Universidade de Warwick, uma anã branca que completa uma rotação a cada 25 segundos é a anã branca confirmada com rotação mais rápida.

Os cientistas estabeleceram o período de rotação da estrela pela primeira vez, confirmando-a como um exemplo extremamente raro de um sistema de hélice magnética: a anã branca está a puxar plasma gasoso de uma estrela companheira próxima e a lança-lo para o espaço a cerca de 3000 km/s.

 
Impressão de artista de LAMOST J024048.51+195226.9, a anã branca com a mais rápida rotação conhecida e apenas a segunda que se sabe ter uma "hélice magnética".
Crédito: Universidade de Warwick/Mark Garlick
 

Publicada dia 22 de novembro na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, é apenas a segunda anã branca com hélice magnética a ser identificada em mais de setenta anos graças a uma combinação de instrumentos poderosos e sensíveis que permitiram aos cientistas capturar um vislumbre da estrela veloz.

Uma anã branca é uma estrela que queimou todo o seu combustível e libertou as suas camadas externas, passando agora por um processo de encolhimento e arrefecimento ao longo de milhões de anos. A estrela que a equipa da Universidade de Warwick observou, de nome LAMOST J024048.51+195226.9 - ou J0240+1952 para abreviar, tem o tamanho da Terra, mas pensa-se que seja pelo menos 200.000 vezes mais massiva. Faz parte de um sistema binário e a sua imensa gravidade está a puxar material, na forma de plasma, da sua estrela companheira maior.

No passado, este plasma caía no equador da anã branca a alta velocidade, fornecendo a energia que deu origem à rotação vertiginosamente alta. Colocando em contexto, uma rotação do planeta Terra leva 24 horas, enquanto o equivalente em J0240+1952 é uns meros 25 segundos. Este valor é quase 20% mais rápido do que a anã branca confirmada com a rotação mais comparável, que completa uma rotação em pouco mais de 29 segundos.

No entanto, em algum ponto da sua evolução, J0240+1952 desenvolveu um forte campo magnético. O campo magnético atua como uma barreira protetora, fazendo com que a maior parte do plasma em queda seja expulso da anã branca. O restante fluirá em direção aos polos magnéticos da estrela. Este reúne-se em manchas brilhantes à superfície da estrela e conforme giram para dentro e fora de vista, da perspetiva da Terra, provocam pulsações na luz que os astrónomos observam, que então usam para medir a rotação da estrela.

A autora principal, a Dra. Ingrid Pelisoli, do Departamento de Física da Universidade de Warwick, disse: "J0240+1952 terá completado várias rotações no curto espaço de tempo que as pessoas levam para ler sobre ela, é realmente incrível. A rotação é tão alta que a anã branca deve ter uma massa acima da média para apenas permanecer junta e não se fragmentar.

"Está a puxar material da sua estrela companheira devido ao seu efeito gravitacional, mas à medida que se aproxima da anã branca, o campo magnético começa a dominar. Este tipo de gás é altamente condutor e adquire muita velocidade com este processo, que o impulsiona para longe da estrela e para o espaço."

J0240+1952 é uma das únicas duas estrelas com este sistema de hélice magnética descobertas nos últimos setenta anos. Embora o material lançado para fora da estrela tenha sido observado pela primeira vez em 2020, os astrónomos não tinham sido capazes de confirmar a presença da alta rotação, que é um ingrediente principal de uma hélice magnética, pois as pulsações são demasiado rápidas e fracas para a observação por outros telescópios.

Para visualizar a estrela a essa velocidade pela primeira vez, a equipa da Universidade de Warwick usou o instrumento altamente sensível HiPERCAM, operado em conjunto por Warwick e pela Universidade de Sheffield com financiamento do Conselho Europeu de Investigação. Este foi especialmente acoplado no maior telescópio ótico do mundo atualmente em funcionamento, o GTC (Gran Telescopio Canarias) de 10 metros de diâmetro em La Palma, a fim de capturar o máximo de luz possível.

"Estes tipos de estudos são possíveis graças à combinação única da capacidade de imagem rápida do HiPERCAM com a maior área de recolha de luz do mundo, fornecida pelo GTC," disse Antonio Cabrera, chefe de operações científicas do GTC.

O professor Tom Marsh, coautor do estudo e também do Departamento de Física da Universidade de Warwick, acrescenta: "É apenas a segunda vez que encontramos um destes sistemas de hélice magnética, de modo que agora sabemos que não é uma ocorrência única. Estabelece que o mecanismo de hélice magnética é uma propriedade genérica que opera nestes binários, caso as circunstâncias sejam adequadas.

"A segunda descoberta é quase tão importante quanto a primeira, pois desenvolve-se um modelo para a primeira e, com a segunda, podemos testá-lo para ver se funciona. Esta descoberta recente mostrou que o modelo funciona muito bem, previu que a estrela tinha que estar a girar bastante depressa, e de facto está."

// Universidade de Warwick (comunicado de imprensa)
// Universidade de Sheffield (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

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ScienceDaily
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Gizmodo

Anãs brancas:
Wikipedia

GTC (Gran Telescopio Canarias):
Página principal
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  Telescópio Espacial James Webb preparado para levantar a névoa que rodeia os sub-Neptunos (via NASA)
Mais de metade dos sistemas estelares semelhantes ao Sol investigados na Via Láctea abrigam um tipo misterioso de planeta diferente de qualquer outro no nosso Sistema Solar. Estudos atmosféricos detalhados fornecerão percepções importantes sobre alguns dos planetas mais comuns - e misteriosos - conhecidos na Galáxia. Ler fonte
 
   
Álbum de fotografias - Plêiades: O Enxame Estelar das Sete Irmãs
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Damien Cannane
 
Já alguma vez viu o enxame estelar das Plêiades? Mesmo que sim, provavelmente nunca o viu tão grande e nítido como aqui. Talvez o enxame de estrelas mais famoso do céu, as estrelas brilhantes das Plêiades podem ser vistas sem binóculos, mesmo das profundezas de uma cidade poluída pela luz. No entanto, com uma longa exposição a partir de um local escuro, a nuvem de poeira em torno do aglomerado de estrelas das Plêiades torna-se muito evidente. A exposição em destaque, obtida a partir do estado norte-americano da Flórida, cobre uma área do céu com várias vezes o tamanho da Lua Cheia. Também conhecidas como Sete Irmãs e M45, as Plêiades estão situadas a cerca de 400 anos-luz de distância na direção da constelação de Touro. Uma lenda comum, mas com um toque moderno, é que uma das estrelas mais brilhantes desvaneceu desde que o enxame recebeu o seu nome, deixando apenas seis das estrelas irmãs visíveis a olho nu. O número atual de estrelas visíveis das Plêiades, ainda assim, pode ser mais ou menos do que sete, dependendo de quão escuro é o céu em redor e da vista do observador.
 
   
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