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BOLETIM ASTRONÓMICO - EDIÇÃO N.º 337
28 de Julho de 2007
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OBSERVANDO O ZÉNITE NO VERÃO

À medida que o céu escurece nas noites limpas da próxima semana, um padrão reconhecido pelo Homem desde a antiguidade surge quase sobre as nossas cabeças: trata-se da constelação de Hércules, que deu origem à lenda mitológica do semi-deus heróico filho da mortal Alcmena e de Zeus (Júpiter na mitologia romana).

As estrelas que compõem a constelação são, na sua maioria,muito ténues e parece algo caricato que uma personagem mitológica tão forte possa ser representado no céu por estrelas tão fracas. Nas culturas pré-gregas era suposto representar um homem ajoelhado e era conhecida como "O que está ajoelhado".

Exemplo de fotografia e respectiva legenda
Concepção mitológica da constelação de Hércules.
Criado usando o Starry Night Pro.
(clique na imagem para ver maior)

Uma inspecção de alguns livros que são guias das constelações sugere que se procure um H distorcido, mas podem imaginar-se uma série de figuras a partir das estrelas que se observam à vista desarmada.

No centro da constelação está um asterismo que é conhecido como Pedra-Chave (ou Fecho de Abóboda) que é um quasi-trapézio constituído pelas estrelas Eta, Pi, Epsilon, e Zeta Hércules. É asterismo, que é um grupo de estrelas de uma ou mais constelações que formam uma figura distintamente discernível à vista desarmada. Os maiores asterismos como a Caçarola (ou Grande Carro ou Carro de David) na Ursa Maior, o Grande Quadrado em Pégaso ou o Triângulo de Verão (que tem estrelas das constelações do Cisne (Deneb), de Lira (Vega) e da Águia (Altair) são normalmente mais conhecidos que a forma das constelações que contêm as estrelas que lhes dão origem.

Exemplo de fotografia e respectiva legenda
A constelação de Hércules. A verde, no lado Oeste, (direita da figura) está assinalada a posição de M13.
Criado usando o Starry Night Pro

Alguns poderão não estar familiarizados com o termo pedra-chave. Muitos arcos são construídos com uma grande pedra central que fecha o arco e que de certo modo suporta todo o peso que é apoiado sobre o arco (ou abóboda). A pedra-chave foi uma das mais importantes descobertas da arquitectura, tendo sido o seu desenho o segredo de muitos dos grandes arquitectos medievais.

A este respeito, e revelando a importância da pedra-chave na arquitectura medieval, reza a História de Portugal a seguinte lenda sobre a construção do Mosteiro da Batalha:

Em deteminado momento o arquitecto original da obra Mestre Afonso Domingues cegou e foi substituído por Huguet (por vezes escrito Ouguet). Passado algum tempo estava Huguet a vangloriar-se da sua obra, quando reparou que havia fendas a abrirem-se na abóbada que ameaçava caír. Irrompeu pela igreja como um possesso, dizendo, entre muitas frases incongruentes, que o Mestre Afonso Domingues lhe tinha enfeitiçado o trabalho.

Pensando que o irlandês estava possuído pelo demónio, os frades acorreram a exorcizá-lo perante o espanto do Rei. Huguet caiu desmaiado ao mesmo tempo que um tremendo estrondo anunciava a queda da abóbada, apenas vinte e quatro horas depois de ter sido concluída.

El-Rei D. João I chamou então Afonso Domingues à sua presença e nomeou-o novamente mestre das obras do mosteiro, pondo o irlandês sob as suas ordens. A construção da abóbada foi então retomada, seguindo o primitivo traço.

Chegou assim o grande dia em que foram retiradas as traves que sustentavam a abóbada. Apenas foi deixada no centro da sala uma pedra onde ficou sentado Mestre Afonso Domingues. O velho mestre ficou sentado naquela pedra, sem comer e beber, durante três dias, como mostra da sua convicção de que a abóboda estava segura. Ao fim do terceiro dia, recebeu El-Rei a triste notícia de que o Mestre tinha morrido.As suas últimas palavras foram: "A abóbada não caiu ... a abóbada não cairá!"

A Pedra-Chave de Hércules tem no seu lado Oeste o famoso Enxame de Hércules , o enxame globular M 13, que pode ser visto à vista desarmada numa noite escura de Verão. Trata-se de uma concentração de 100.000 estrelas localizadas apenas à distância de 23.000 anos-luz de nós.

Os enxames globulares são aglomerados que se encontram normalmente numa região da Via Láctea fora do disco e que recebe o nome de Halo.

Se tiver uns binóculos poderá identificar facilmente M13 pois parece nos binóculos uma estrela desfocada. Num pequeno telescópio de 10-15 cm de abertura começam a observar-se detalhes de centenas de pontos, aumentando o número de estrelas observável com a abertura do telescópio. O astrónomo Robert H. Baker (1880-1962) chamou a M13 o "maravilhoso crisântemo de estrelas".

Um objecto fantástico e fácil de descobrir, não deixe de o tentar observar. Um pouco por todo o país pode encontrar astrónomos a fazer "Astronomia no Verão" que não deixarão de o tentar ajudar a observá-lo. Para saber onde observar próximo de si, consulte as informações constantes na página oficial da Astronomia no Verão, da Agência Ciência Viva em http://www.cienciaviva.pt/veraocv/astronomia/astro2007/.

 
  ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS
       
  Foto  
A cauda gravitacional da NGC 3628 - Crédito: Steve Mandel (Galaxy Images)
A "apenas" 30 milhões de anos-luz, a grande galáxia espiral NGC 3628 (no centro da imagem) partilha a sua vizinhança no Universo local com duas outras grandes galáxias espirais, sendo o grupo conhecido como o Tripleto de Leão . Os outros membros do trio são M65 no extremo inferior e M66, que se encontra um pouco acima e para a direita. O mais intrigante desta interacção é a cauda que se projecta para cima do disco de NGC 3628 ao longo de uma distância de cerca de 300.000 anos-luz. Estas estrelas foram removidas por interacções tidais ocorridas no passado e é essencialmente composta por estrelas que, sendo a cor predominantemente azul, serão estrelas jovens.
Ver imagem em alta-resolução
 
  ESPAÇO ABERTO 2007:  
 
Desde 15 de Julho, todos os dias excepto às segundas-feiras, na açoteia do Centro Ciência Viva do Algarve.
Observações dependentes das condições atmosféricas.
 
 
  EFEMÉRIDES:  
 

Dia 28/07: 209º dia do  calendário gregoriano.
História: Em 1851 era tirada a primeira fotografia do Sol durante um eclipse total, a partir da qual se descobre a coroa solar.
Em 1867 nascia Charles Dillon Perrine, astrónomo americano-argentino, descobridor de duas luas de Júpiter (Himalia em 1904 e Elara em 1905) e director do Observatório Nacional Argentino (hoje com o nome Observatório Astronómico de Córdoba).
Em 1964 era lançada a sonda Ranger 7, que regista as primeiras imagens da Lua tiradas por uma nave americana.
Observações: Io reaparece depois de ser eclipsado por Júpiter por volta das 04h31 (hora local).

Dia 29/07: 210º dia do  calendário gregoriano.
História: Em 1851, A. De Gasparis descobria o asteróide 15 Eunomia.
Em 1898, nascia o físico Isidor Isaac Rabi, que recebeu o prémio Nobel da Física em 1944, pelo seu método de ressonância para registar as propriedades magnéticas do núcleo atómico.
Observações: A Grande Mancha de Júpiter atravessa o meridiano central por volta das 02h06 (hora local), devendo ser visível durante 60 minutos antes e depois desta hora.

Dia 30/07: 211 º dia do calendário gregoriano.
História:Em 1971, os astronautas da Apollo 15 aterram na Lua.
Observações: À 1h48 (hora local) Lua Cheia.

Dia 31/07: 212º dia do  calendário gregoriano.
História: Em 1971, os astronautas da Apollo 15, David Scott e James Irwin, conduzem o primeiro rover lunar.
Em 1976, eram apresentadas as primeiras fotos de Marte da sonda Viking 1.
Em 1999, despenhava-se intencionalmente sobre a Lua a sonda Lunar Prospector, que pretendia encontrar água sob a crosta da Lua.
Observações: Neptuno a 1,3º N da Lua às 2h00 (hora local).

 
 
  CURIOSIDADES:  
 
Se o Sol fosse do tamanho do ponto na seguinte letra "i", a estrela mais próxima estaria a cerca de 16 km de distância.
 
 
  PERGUNTE AO ASTRÓNOMO:  
 
Tem alguma dúvida sobre Astronomia no geral que gostaria de ver esclarecida? Pergunte-nos! Tentaremos responder à sua questão da melhor maneira possível.
 
 
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