A sonda Deep Impact colidiu com o cometa Tempel 1, produzindo uma explosão de luz que deixou em estado de choque a sala de controlo da missão no JPL da NASA na Califórnia, EUA. O clima era de uma alegria imensa, com vivas e aplausos.
Os cientistas saltaram de alegria, cerraram os punhos e abraçaram-se uns aos outros. A sua missão deliberadamente colidiu com um cometa pela primeira vez de um modo perfeito.
"E pensávamos que seria subtil," dizia o triunfante cientista do JPL Don Yeomans, um dos membros da equipa da Deep Impact. "Foi consideravelmente mais brilhante, e tem muito mais material a saír do que se esperava," disse.
"Estamos completamente extáticos," disse o director do JPL, Charles Elachi, acerca do sucesso da missão de 330 milhões de dólares. "Valeu todos os cêntimos gastos."
O objectivo da colisão cósmica era fazer um buraco na superfície do cometa de modo a libertar material de dentro, revelando detalhes acerca do interior dos cometas. Estes corpos de gelo e poeira com alguns quilómetros de tamanho acredita-se que contenham material primordial, preservado desde a formação do Sistema Solar no gélido espaço profundo.
Uma razão para a espectacular explosão poderá ser que a fracturada crosta do cometa tenha libertado pressão à sub-superfície, permitindo uma pluma bem maior do que seria de esperar, disse Yeomans.
No entanto, será só através de análises detalhadas que poderemos confirmar com exactidão o que aconteceu a 133 milhões de quilómetros da Terra. "Como um aparelho com o tamanho de uma máquina de lavar roupa pode ter produzido tão grande distúrbio levará ainda algum tempo a explicar," disse Yeomans.
Mesmo antes da colisão, as sondas gémeas - o próprio "Impactor" e a sonda "Flyby" que observou o evento de uma distância segura - estavam ambas a enviar imagens bem mais detalhadas do que quaisquer anteriores do núcleo de um cometa. A cerca de 28 cm, a resolução máxima das imagens é quase 100 vezes melhor que as anteriores melhores imagens de um cometa, tiradas em 2004 pela missão Stardust.
As imagens mostram inúmeras características perfeitamente circulares, que podem ser crateras de impacto ou buracos de escoamento. Mostram também longas características lineares, uma topografia variada de áreas ásperas e de uma região lisa - "tudo o que um geólogo iria adorar", afirma Yeomans.
Dúzias de observatórios na Terra, bem como quatro em órbita, estiveram também a observar o cometa na altura do impacto, durante o qual este aumentou seis vezes de brilho (duas magnitudes), em relação ao nível anterior à colisão. Levará dias a recolher os dados e a analisar todas as medições, diz o investigador principal da Deep Impact, Michael A'Hearn.
Mas é já claro que existem algumas características espectrais não identificadas na luz reflectida pelo material ejectado, o que significa que o objectivo da missão, o de aprender coisas novas sobre a composição interna do cometa, será completamente atingido.
E as incríveis imagens (tendo em conta o problema no foco a que fizémos referência numa notícia anterior) já enviadas pela sonda imediatamente depois do impacto representam apenas 10% do total registado (os dados espectrais são os que irão demorar mais tempo a serem enviados, cerca de quatro dias), adicionou A'Hearn: "Existem muitas mais espectaculares imagens." Convém também dizer que as imagens aqui presentes do cometa são "raw", isto é, ainda não foram tratadas. Após a sua modificação, deverão ficar muito mais bem definidas.
A equipa da Deep Impact não ficou apenas deliciada com o sucesso do impacto, mas também pela sobrevivência da sonda rasante depois de ter sido salpicada por detritos da cauda (ou coma) do cometa.
"Está completamente intacta," diz Keyur Patel, sub-gerente do projecto Deep Impact. E as imagens enviadas desde aí mostram que as ópticas da sonda também sobreviveram, escapando ilesas aos perigos.
Mas existe um lado negativo para a espectacular pluma produzida pelo impacto, diz Yeomans. A quantidade de poeira foi tão grande, brilhante e duradoura, que pode ter bloqueado as tentativas da sonda rasante de tirar imagens da cratera resultante.

Outra imagem do impacto da Impactor com o cometa Tempel 1.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UMD
A sonda tinha apenas uma janela de 13 minutos para registar tais imagens. "A poeira que levantámos tornou isto mais complicado - é bem opaca," diz.
Os cientistas do projecto tinham tantas incertezas acerca dos efeitos do impacto que até faziam apostas acerca do tamanho da cratera - um dos indicadores mais importantes da estrutura do núcleo de um cometa.

Última imagem tirada pela sonda de impacto antes de colidir com a superfície do cometa.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UMD
Pode-se ver aqui (em formato Quicktime) um filme da aproximação da Deep Impact até ao cometa Tempel 1 entre 1 de Maio e 2 de Julho, dois dias antes do impacto. É constituído por imagens da câmara de resolução média da sonda e mostra três proeminências de gás e poeira.
Os dados, resultados e imagens no Tempel 1 irão continuar a ser enviados durante as próximas horas e os próximos dias. Estes, por exemplo, irão ser usados ao planear a aterragem da sonda Rosetta num cometa daqui a uma década. Espera-se também que se aprenda muito mais sobre a origem do Sistema Solar.
UPDATE DE ÚLTIMA HORA:
XMM-Newton detecta água no cometa Tempel 1
As imagens mostram as emissões dos iões de hidróxilo, o produto do decaímento directo da água.
Cerca de 1.5 horas depois do impacto, o brilho dos groupos de hidróxilo aumentou por um factor de aproximadamente cinco. Mais tarde, cerca de 4.5 horas do impacto, a emissão ultravioleta diminui novamente, o que indica que o pico deverá ter passado.
A presença de água no cometa Tempel 1 é consistente com as medições preliminares da composição do cometa feitas na semana passada pelo instrumento ALICE da sonda da ESA, Rosetta.
Links:
Filme do voo suicida da sonda "Impactor" da missão Deep Impact (em formato Quicktime):
http://photojournal.jpl.nasa.gov/archive/PIA02125.mov
Notícias relacionadas:
http://skyandtelescope.com/news/article_1541_1.asp
http://www.esa.int/SPECIALS/Rosetta/SEMM0Y5DIAE_0.html
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1227426&idCanal=10
http://dsc.discovery.com/news/briefs/20050704/deepimpacthit.html
http://www.physorg.com/news4920.html
http://www.physorg.com/news4918.html
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http://www.physorg.com/news4926.html
http://www.physorg.com/news4927.html
http://www.space.com/missionlaunches/050704_deepimpact_success.html
http://www.space.com/missionlaunches/050704_deepimpact_update.html
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http://www.timesonline.co.uk/article/0,,1-1680269,00.html
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http://english.aljazeera.net/NR/exeres/3E144D67-4995-4167-B553-96BA5F3D7B26.htm
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http://msnbc.msn.com/id/8458183/
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http://www.universetoday.com/am/publish/hubble_deep_impact.html
http://www.universetoday.com/am/publish/deep_impact_smash.html
http://www.sciencedaily.com/releases/2005/07/050703230308.htm
http://www.sic.pt/online/noticias/vida/20050704+-+Projectil+lancado+por+sonda+Deep+Impact+colidiu+com+cometa.htm
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http://tsf.sapo.pt/online/ciencia/interior.asp?id_artigo=TSF162547
http://www.tvi.iol.pt/informacao/noticia.php?id=556379
http://www.rtp.pt/index.php?article=185394&visual=16
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24752277
Deep Impact:
http://www.nasa.gov/mission_pages/deepimpact/main/index.html?skipIntro=1
http://deepimpact.jpl.nasa.gov/home/index.html
http://www.nasa.gov/mission_pages/deepimpact/images/index.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Deep_Impact_%28space_mission%29