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COMETA HOLMES CONTINUA A DESLUMBRAR
7 de Novembro de 2007
 

O cometa que subitamente se tornou um milhão de vezes mais brilhante há duas semanas continua a "brilhar" com uma luminosidade fora do comum, deixando os observadores intrigados com o que causou o aumento repentino de brilho e se o cometa repetirá esta façanha nos meses seguintes.

O Cometa 17P/Holmes é normalmente um dos inúmeros cometas invisíveis, com cerca de 3,3 quilómetros de comprimento e cerca de 25.000 vezes demasiado ténue para ser observado à vista desarmada. Mas a seguir ao repentino aumento de brilho de 23 de Outubro, a cabeleira do cometa, uma concha de gás e poeira, tem crescido a um ritmo de 0.5 quilómetros por segundo, fazendo com que o cometa pareça uma "estrela" enevoada, observável a olho nu na constelação de Perseu.

O cometa foi na realidade descoberto durante um semelhante, mas menos espectacular, aumento de brilho durante o mês de Novembro de 1892. Voltou ao normal nas semanas seguintes, para posteriormente aumentar dramaticamente outra vez em Janeiro de 1893.

O cometa orbita o Sol a cada sete anos num percurso que o leva desde a distância da órbita de Júpiter até aproximadamente duas vezes a da Terra. Curiosamente, em ambos os eventos, o de 1892 e este mais recente, o cometa inicalmente aumentou de brilho aproximadamente cinco meses depois de alcançar o periélio - a sua maior aproximação do Sol.

"É algo curioso que o aumento de brilho tenha ocorrido no mesmo período da órbita," diz Brian Marsden, antigo director do Centro de Planetas Menores no Centro para Astrofísica Harvard-Smithsonian em Massachusetts, EUA. "Será interessante ver se se comporta da mesma maneira [como antes]."

O "timing" comum dos dois mega-aumentos a seguir ao periélio, sugere que a intensidade da radiação do Sol é um factor-chave neste aumento de brilho. Mas só isso não é suficiente, pois o cometa alcança o periélio a cada sete anos e não produz tal aumento há 115 anos. Existem muitos outros cometas que fazem maiores aproximações ao Sol que o Cometa 17P/Holmes sem aumentar tanto de brilho.

"O facto de ter aumentado de brilho por um factor de um milhão é realmente incrível," diz David Jewitt da Universidade do Hawaii em Honolulu, EUA. "O que há de tão especial neste? Não sabemos."

Michael Mumma, director do Centro para Astrobiologia Goddard em Greenbelt, Maryland, EUA, e colegas, estão observando o cometa com o telescópio de 10 metros, Keck II, no infravermelho. Descobriram que o cometa está ainda activamente a libertar gás. Na sua maioria é vapor de água, mas foram observados traços de etano, acetileno e cianido de hidrogénio. "Esperamos aprender muito mais sobre o material dentro do interior do núcleo do cometa," disse Mumma.

A explicação padrão para os aumentos de brilho dos cometas diz que um evento súbito expõe os gelos frescos do núcleo à radiação solar. Isto faz com que vaporizem, arrastando com eles poeira. A luz solar reflectida dessa poeira amplia o brilho do cometa.

Num telegrama electrónico distribuido pela União Astronómica Internacional, Zdenek Sekanina do JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA, sugere que uma camada lisa que fazia parte do núcleo pode ter sido quebrada e completamente desintegrada para produzir o aumento de brilho. A ideia, que não foi comentada até agora por homólogos da especialidade, é parcialmente baseada na estimativa da massa das partículas na cabeleira. Outra hipótese sugere que bolsas de gás volátil ficaram de alguma maneira capturadas no núcleo. Eventualmente, a pressão interna faz com que a superfície quebre, produzindo violentas libertações e consequentemente o aumento de brilho.

Tom Van Flanderna da Meta Research em Sequim, Washington, EUA, sugere uma possibilidade mais estranha. Argumenta que os cometas são orbitados por satélites e que ocasionalmente um satélite colide com o seu cometa, produzindo um aumento de brilho. Uma ideia semelhante foi levantada há mais de 20 anos pelo astrónomo Fred Whipple, que sugeriu que o aumento de 1892 do Cometa Holmes foi provocado por um satélite que raspou a superfície do núcleo e que o segundo aumento em 1893 foi o resultado da colisão do satélite com a superfície do cometa.

Jewitt diz que a recorrência recente do aumento de brilho de cometa vai contra o modelo de satélite. "O facto que este aconteceu ao fim de 115 anos - com nada nos anos intermédios - torna este modelo mais «ad hoc»", disse. Marsden concorda, e acredita que o que quer que tenha causado o repentino aumento de brilho do cometa tem que ser intrínseco ao cometa. "Precisamos de continuar a observar e ver o que acontece," acrescenta.

Mumma diz que o cometa pode diminuir de brilho a qualquer altura. No caso do evento de há 115 anos, o cometa rapidamente atenuou de brilho depois do segundo aumento. "Isto é parte do desafio - tentar aprender o máximo possível antes que desapareça," diz.

Felizmente, a própria diminuição de brilho também poderá ajudar a descobrir o que causou este aumento. O cometa está actualmente na cintura de asteróides, a uma distância do Sol de cerca de duas vezes e meia a distância da Terra (ou 2.5 unidades astronómicas). Já não é possível sublimar água gelada para lá das 3 UA, por isso se o cometa ainda estiver activo para lá desse ponto, algo mais volátil que a água gelada deverá estar a conduzir a sua actividade.

Links:

Cometa Holmes:
Wikipedia
Sky & Telescope
Aplicação Java que simula em 3D a órbita do cometa

 

Foto do Cometa Holmes, tirada a 2 de Novembro, na França. A estrela mais próxima do núcleo através da cabeleira é HD 23104.
Crédito: Gil-Estel
(clique na imagem para ver versão maior)
 
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