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SOL PARECE CALMO DEMAIS
14 de Junho de 2008

 

A superfície do Sol tem estado relativamente despida nos últimos dois anos, e isso preocupa vários cientistas que afirmam possa ter entrado noutro Mínimo Maunder, uma abstinência de manchas solares que durou 50 anos e que alguns ligaram à Pequena Idade do Gelo do século XVII.

Pode uma nova "seca" de manchas solares mergulhar-nos num feitiço frio durante décadas?

Não é muito provável, diz David Hathaway, físico solar do Centro Aerospacial Marshall da NASA em Huntsville, Alaska, EUA.

A questão foi levantada após uma conferência internacional que teve lugar a semana passada na Universidade Estatal de Montana, onde os cientistas discutiram a escassez de actividade solar no último par de anos.

"Continua a estar morto," diz Saku Tsuneta do Observatório Nacional Astronómico do Japão e gestor do programa da missão solar Hinode. "É uma pequena preocupação, uma preocupação muito pequena," porque o período de inactividade parece durar mais tempo que o normal. Alguns cientistas pensam que tais períodos de inactividade, tal como o Mínimo Maunder, são responsáveis por épocas frias no passado, tais como a Pequena Idade do Gelo.

A energia do Sol conduz todo o clima e meteorologia na Terra. E Hathaway concorda que existem boas indicações que as flutuações no rendimento solar relacionadas com os ciclos das manchas solares influenciam o clima da Terra. E o Mínimo Maunder não é a única prova - os cientistas ligaram dois mínimos solares mais pequenos (períodos de tempo com muito poucas manchas solares) no princípio do século XIX a climas frios, bem como a períodos anteriores ao Mínimo Maunder deduzidos de registos anulares de árvores, afirma.

Mas o Sol não é a única coisa que influencia o nosso clima: erupções vulcânicas, fenómenos a larga-escala como o El Niño, e, mais recentemente, a acumulação de gases de estufa na atmosfera também afectam o clima global.

Antes da revolução industrial, o Sol provavelmente correspondia a entre 10 e 30 percento da variabilidade climática, disse Hathaway, mas agora que os gases do efeito de estufa começaram a acumular-se, "a contribuição do Sol está a ficar cada vez mais pequena," acrescenta.

Os ciclos solares são os declínios e fluxos da actividade magnética do Sol ao longo de um período de aproximadamente 11 anos, que afecta a formação de características solares como as proeminências e as manchas solares. Estas últimas são áreas mais frias e ténues da superfície do Sol.

O último ciclo solar, que atingiu o seu máximo em 2001, foi particularmente intenso, com um aumento de tempestades solares entre 2000 e 2002. Tal intensa actividade no pico do ciclo solar tende a levar a uma menor actividade no fim do ciclo.

Sinais do actual e novo ciclo solar (que na realidade se sobrepõe ao último ciclo) começaram a aparecer em Novembro de 2006, e as suas primeiras manchas foram observadas em Janeiro deste ano, e outra vez em Abril, disse Hathaway. Este facto só por si já exclui um novo Mínimo Maunder, afirma Hathaway, dado que este ciclo solar já começou a produzir manchas, mesmo que em poucos números.

Este ciclo apenas "começou lentamente," afirma Hathaway.

Os últimos três ciclos solares foram também o que Hathaway chama de "grandes ciclos," que significa que tiveram mais que o número médio de manchas solares (a média situa-se entre as 110 e 120 manchas solares num dado dia durante o máximo do ciclo). Não é invulgar que tal enchente de ciclos prolíficos seja seguida por ciclos solares mais "mudos" (tal como o ciclo que antecedeu os últimos três grandes ciclos).

Hathaway diz que os físicos solares estão dividos no que respeita às suas previsões do novo ciclo solar - uns dizem que irá ser pequeno, outros dizem que será outro ciclo forte. As previsões variam entre um máximo de 75 e 150 manchas durante o pico. "Existem na realidade dois campos," disse Hathaway. Qualquer que seja o número, este "não será zero," acrescenta.

O porquê do Sol ser tão inconstante na sua produção de manchas solares é ainda incerto. "Ainda não compreendemos totalmente como é que o Sol faz isto," nota Hathaway.

Os cientistas, mesmo assim, sabem que dois processos no Sol influenciam a actividade das manchas solares. O primeiro é a força da região que situa na base da zona de convecção do Sol, a cerca de 30% do interior do Sol.

Esta zona pode esticar os campos magnéticos do Sol, que depois afectam a força do ciclo solar, e por isso o número de manchas solares. O segundo processo, chamado de circulação meridional, descreve o fluxo de material estelar a partir do equador para os pólos e novamente para o equador, que pode também influenciar a força do ciclo.

Mais para o fim do último ciclo solar, por exemplo, "o fluxo pareceu diminuir bastante," enfraquecendo o ciclo e reduzindo o número de manchas, afirma Hathaway. "Foi o fluxo mais lento que já observámos," acrescenta.

Por isso, com base em quase 400 anos de registos de manchas solares que os cientistas têm, este começo lento não é invulgar. "Está apenas a levar o seu tempo," disse Hathaway.

(A sua previsão pessoal é que a actividade solar começará a acelerar nos próximos meses. "Continuo a observar todos os dias," diz.)

Embora exista um debate sobre como e se o Mínimo Maunder provocou na realidade a Pequena Idade do Gelo, os cientistas propuseram algumas hipóteses de como a poderá ter desencadeado.

Uma ideia deriva do facto do Sol emitir muito mais radiação ultravioleta quando está coberto por manchas solares, o que pode afectar a química da atmosfera da Terra. A outra é que quando o Sol está activo, produz campos magnéticos entrelaçados que bloqueiam os raios cósmicos. Alguns cientistas propuseram que a falta de manchas solares significa que estes raios cósmicos estão a bombardear a Terra e a criar nuvens, que podem arrefer a superfície da Terra.

Mas estas ideias não foram ainda provadas, e de qualquer modo, a contribuição do Sol é pequena quando comparada com os vulcões, com o El Niño e o efeito de estufa, salienta Hathaway.

Mesmo que houvesse outro Mínimo Maunder, sofreríamos os efeitos dos gases de estufa e o clima da Terra permaneceria quente. "Não os sobrepõe de modo nenhum," diz Hathaway.

Links:

Notícias relacionadas:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg (09/01/08)
Núcleo de Astronomia do CCVAlg (23/12/06)
Universidade de Montana
Universe Today
SPACE.com
FOX News
UPI.com

Sol:
Wikipedia
Núcleo de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve

Pequena Idade do Gelo:
Wikipedia

 


A imagem mais recente do Sol, capturada pela sonda SOHO.
Crédito: SOHO; ESA/NASA
(clique na imagem para ver versão maior)


Manchas solares capturadas pela sonda SOHO a 30 de Março de 2001. Foram a fonte de numerosas proeminências e ejecções de massa coronal, incluindo uma das maiores em mais de 25 anos, registada a 2 de Abril de 2001.
Crédito: SOHO; ESA/NASA
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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