Quando o cometa Holmes entrou inesperadamente em erupção em 2007, astrónomos profissonais e amadores de todo o mundo apontaram os seus telescópios na direcção do espectacular evento. A sua missão era determinar o porquê de ter explodido tão subitamente.
As observações pelo Telescópio Espacial Spitzer da NASA, tiradas após a explosão, aprofundaram o mistério, mostrando "serpentinas" com um comportamento estranho na concha de poeira que rodeava o núcleo do cometa. Os dados também oferecem um olhar raro do material libertado do núcleo, e confirmam descobertas anteriores das sondas Stardust e Deep Impact da NASA.
"Os dados que obtivémos com o Spitzer não se parecem nada com o que normalmente vemos nos cometas," disse Bill Reach do Centro Científico Spitzer da NASA no Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena, EUA. É o investigador principal das observações do Spitzer. "A explosão do cometa Holmes proporcionou-nos um raro olhar do interior do núcleo de um cometa." As conclusões foram apresentadas na 40.ª reunião da Divisão de Ciências Planetárias em Ithaca, Nova Iorque.
A cada seis anos, o cometa 17P/Holmes afasta-se de Júpiter e aproxima-se na direcção do Sol, viajando no mesmo percurso geralmente sem muitos incidentes. No entanto, por duas vezes durante os últimos 116 anos, em Novembro de 1892 e em Outubro de 2007, o cometa Holmes explodiu à medida que se aproximava da cintura de asteróides, e de um dia para o outro aumentou de brilho um milhão de vezes.
Numa tentativa de compreender estas estranhas ocorrências, os astrónomos apontaram o Telescópio Espacial Spitzer da NASA ao cometa em Novembro de 2007 e em Março de 2008. Ao usar o espectógrafo infravermelho do Spitzer, Reach foi capaz de recolher dados valiosos sobre a composição do interior sólido do Holmes. Tal como um prisma que divide a luz visível num arco-íris, o espectógrafo quebra a radiação infravermelha do cometa nos seus componentes, revelando as impressões digitais dos vários químicos.
Em Novembro de 2007, Reach notou uma grande quantidade de fina poeira de silicatos, ou grãos cristalizados mais pequenos que areia. Notou que esta observação particular revelou materiais semelhantes aos vistos em torno de outros cometas onde os grãos receberam um tratamento violento, incluindo a missão Deep Impact da NASA, que fez colidir um projéctil no cometa Tempel 1; a missão Stardust, que recolheu partículas do cometa Wild 2 numa "rede" a 21.000 quilómetros por hora, e a explosão do cometa Hale-Bopp em 1995.
"A poeira cometária é muito sensível, o que significa que os grãos são muito facilmente destruídos", afirmou Reach. "Nós pensamos que os finos silicatos são produzidos nestes eventos violentos pela destruição de partículas maiores que originam de dentro do núcleo do cometa."
Quando o Spitzer observou a mesma porção do cometa novamente em Março de 2008, as pequenas poeiras de silicato tinham desaparecido e apenas estavam presentes partículas de tamanho maior. "A observação de Março diz-nos que existe uma janela muito pequena para estudar a composição do cometa após um evento violento como a explosão do cometa Holmes," disse Reach.
O cometa Holmes não só tem componentes invulgares na poeira, como não aparenta ser um cometa típico. De acordo com Jeremie Vaubaillon, um colega de Reach no Caltech, imagens obtidas na Terra pouco tempo depois da explosão revelaram "serpentinas" na concha de poeira que rodeava o cometa. Os cientistas suspeitam que tenham sido produzidas após a explosão por fragmentos que escaparam do núcleo do cometa.
Em Novembro de 2007, estes filamentos de material apontavam na direcção oposta à do Sol, o que parecia natural porque os cientistas acreditavam que a radiação do Sol estava empurrando estes fragmentos para longe. No entanto, quando o Spitzer observou os mesmos filamentos em Março de 2008, ficaram surpresos ao descobrir que ainda apontavam na mesma direcção que há cinco meses atrás, embora o cometa se tivesse movido e a luz solar o alcançasse de uma posição diferente. "Nunca vimos nada parecido num cometa. A forma prolongada tem ainda que ser totalmente compreendida," disse Vaubaillon.
Ele nota que a concha que rodeia o cometa também age de modo peculiar. A forma da concha não mudou como o esperado desde Novembro de 2007 até Março de 2008. Vaubaillon disse que isto é devido aos grãos de poeira observados em Março de 2008 serem relativamente grandes, com aproximadamente um milímetro em tamanho, e por isso mais difíceis de mover.
"Se a concha fosse composta de grãos de poeira mais pequenos, teria sido alterada à medida que a orientação do Sol mudava com o passar do tempo," disse Vaubaillon. "Esta imagem do Spitzer é única. Nenhum outro telescópio observou o cometa Holmes em tanto detalhe, cinco meses após a explosão."
"Tal como as pessoas, todos os cometas são um pouco diferentes. Já estudamos cometas há centenas de anos -- 116 anos no caso do cometa Holmes -- mas ainda não os compreendemos realmente," disse Reach. "No entanto, com as observações do Spitzer e os dados de outros telescópios, estamos cada vez mais perto."
Links:
Notícias relacionadas:
NASA (comunicado de imprensa)
JPL (comunicado de imprensa)
Space Daily
Universe Today
SpaceRef.com
redOrbit
Space Spin
Cometa Holmes:
Wikipedia
Aplicação Java que simula em 3D a órbita do cometa
Telescópio Espacial Spitzer:
Página oficial
Centro Espacial Spitzer
Wikipedia |