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TELESCÓPIO KEPLER IRÁ PESQUISAR "TERRAS" EXTRASOLARES
6 de Fevereiro de 2009

 

Quão comuns são as Terras extrasolares - pequenos planetas rochosos que orbitam à distância ideal para não serem demasiado quentes para a água evaporar e não demasiado frios para ficar congelada? Até agora, pistas da sua existência têm sido difícieis de obter, porque os estudos não são sensíveis o suficiente para descobrir tais planetas.

Isto pode em breve mudar graças ao telescópio espacial Kepler, que a NASA espera lançar no próximo dia 5 de Março. A sua posição única no Sistema Solar e sensibilidade sem precedentes significa que pela primeira vez seremos capazes de observar planetas do tamanho da Terra na "zona habitável" das suas estrelas - a região onde a tempertura no planeta deverá ser ideal para a existência de água líquida à sua superfície.

"Todos esperamos que existam muitos destes planetas," diz o líder científico do Kepler, William Borucki do Centro de Pesquisa Ames da NASA em Moffett Field, Califórnia, EUA. "Se existirem por aí muitas Terras, a vida poderá ser bem mais comum do que se pensa," afirma - e talvez mesmo civilizações extraterrestres "à espera que nós a contactemos".

Sabemos que existem planetas um pouco maiores que a Terra. Um foi descoberto por telescópios terrestres usando uma técnica chamada lentes gravitacionais, e outro pelo satélite Corot (descoberta anunciada esta semana), uma missão que pesquisa trânsitos planetários com capacidades mais limitadas que o Kepler, lançado em 2006. Potencialmente, podem existir outros dois planetas rochosos com apenas poucas vezes a massa da Terra a orbitar a estrela anã vermelha Gliese 581, e pensa-se que um dos dois possa encontrar-se na zona habitável do sistema. Mas estão, na melhor das hipóteses, perto do limite da zona habitável, por isso é incerto que possam sustentar água líquida nas suas superfícies.

"A detecção de um planeta verdadeiramente de massa terrestre numa órbita verdadeiramente habitável permanece ainda como um 'santo Graal' da Astronomia," afirma Gregory Laughlin da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, que lidera um estudo terrestre de trânsitos exoplanetários com o nome Transitsearch.

O problema está no método principal até agora usado para descobrir exoplanetas. A grande maioria foram descobertos usando um método chamado velocidade radial, que pesquisa o espectro de luz estelar por sinais de movimento periódico devido à influência gravitacional dos seus planetas. Este método não é ainda sensível o suficiente para detectar planetas tão leves como a Terra.

O Kepler foi desenhado especificamente para remediar este problema. Irá utilizar a cada vez mais vantajosa técnica de pesquisa de outros mundos através de "trânsitos planetários". Ao monitorizar mais de 100.000 estrelas em busca de atenuações periódicas no seu brilho, pode detectar quando um planeta passa à sua frente.

O Kepler terá a sua própria órbita em torno do Sol, relativamente longe da Terra, por isso o nosso planeta não irá interferir com as observações. Isto permitirá com que a missão observe ininterruptamente a mesma zona do céu durante toda a missão de pelo menos três anos e meio. Por contraste, o Corot orbita a Terra, onde o nosso planeta bloqueia grande parte do céu. Isto, combinado com a necessidade de evitar a luz oriunda do Sol, faz com que o Corot observe uma zona do céu apenas cinco meses de cada vez.

Ao estudar uma zona do céu durante mais tempo, o Kepler poderá observar pelo menos três trânsitos de quaisquer planetas que descubra, planetas estes que tenham uma órbita de um ano, tal como a Terra. Este é o mínimo necessário para confirmar que o evento ocorre num intervalo preciso, e por isso excluir outros factores que possam confundir os astrónomos, como flutuações no brilho da própria estrela.

O telescópio Kepler também será muito mais sensível que o Corot. Terá uma abertura de 95 centímetros, ao passo que a do Corot é de 27 cm, o que permitirá observar planetas até um tamanho mínimo de metade do da Terra, aproximadamente o tamanho de Marte.

Ninguém sabe quantos planetas tipo-Terra o Kepler irá descobrir, mas um sinal esperançoso é que os planetas tipo-Júpiter parecem ser muito comuns. Foram descobertos à volta de aproximadamente 15% de estrelas tipo-Sol. "Nós pensamos que é mais difícil construir um Júpiter do que uma Terra," afirma Borucki, dado que Júpiter necessita de muito mais material.

Independentemente das descobertas do Kepler, é este o próximo grande capítulo da procura de planetas extrasolares. Se os planetas tipo-Terra forem comuns, então pelo menos alguns deles provavelmente orbitam as suas estrelas perto o suficiente para as missões futuras os estudarem ainda com mais pormenor, em busca de oxigénio e outras pistas que possam apontar para a presença de vida.

A NASA e a ESA têm missões planeadas, a Terrestrial Planet Finder e a Darwin, respectivamente, que poderão ser lançadas antes de 2020, para tentar observar a ténue luz dos planetas extrasolares na zona habitável das suas estrelas. Um grande objectivo seria o de medir o espectro de luz que passa pelas suas atmosferas, procurando a assinatura do oxigénio e outros químicos que apontariam na direcção da presença de vida.

O sucesso dessas missões depende do Kepler, afirma Jonathan Lunine da Universidade do Arizona, em Tucson, que liderou um comité chamado Exoplanet Task Force, que produziu um relatório o ano passado acerca dos mundos extrasolares. Se as Terras forem realmente abundantes, deveremos ser capazes de fazer estas grandes análises usando "o tipo de planos que as pessoas dizem ser implementáveis nos próximos 15 anos e com custos que podemos contemplar," afirma. Mas se o Kepler descobrir que os mundos rochosos na zona habitável são raros, então poderá não haver nenhum suficientemente perto de nós para observarmos em detalhe. Uma missão capaz de observar mundos ainda mais distantes poderá ser tecnicamente demasiado complicada e cara para ser posta em prática durante muito tempo.

Pelo menos a História dá-nos esperança que as Terras alienígenas não sejam uma raridade. Desde que Copérnico retirou o nosso próprio planeta do centro do Universo, o seu lugar no Cosmos tem-se mostrado cada vez menos privilegiado. "Descobriu-se que a Terra era apenas mais um planeta entre muitos," diz Lunine. "Agora estamos a chegar à conclusão que o nosso Sistema Solar não é necessariamente nem particularmente especial; sabemos que existem centenas de planetas em torno de outras estrelas."

Mas a grande questão permanece: será que os planetas com o tamanho e propriedades da Terra são comuns no Universo? "É o telescópio Kepler que nos irá dar a resposta," conclui Lunine.

Links:

Notícias relacionadas:
SPACE.com
Reuters
MSNBC

Telescópio Espacial Kepler:
NASA (página oficial)
Mapa das zonas de estudo do Kepler (formato PDF)
Wikipedia

Planetas extrasolares:
Wikipedia
Wikipedia (lista)
Wikipedia (lista de extremos)
Catálogo de planetas extrasolares vizinhos (PDF)
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares
Exosolar.net
Extrasolar Visions

COROT:
Página oficial
ESA
Wikipedia

 


Impressão de artista do Telescópio Espacial Kepler no espaço.
Crédito: NASA
(clique na imagem para ver versão maior)


Área alvo do Kepler na Via Láctea.
Crédito: Carter Roberts
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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