A sonda Cassini da NASA capturou o seu primeiro raio de luz reflectido de um lago na lua de Saturno, Titã, confirmando a presença de líquido na secção da lua pontilhada com muitas e grandes bacias tipo-lago.
Os cientistas da Cassini já procuram um clarão de luz, também conhecido como reflexão especular, desde que a sonda começou a orbitar Saturno em 2004. Mas o hemisfério norte de Titã, que tem mais lagos que o hemisfério sul, tem estado nublado devido à estação de Inverno. O Sol apenas começou a iluminar directamente os lagos do hemisfério norte à medida que se aproximava do equinócio em Agosto de 2009, o começo da Primavera no hemisfério norte. A espessa atmosfera de Titã também bloqueia os reflexos de luz solar na maioria dos comprimentos de onda. Esta fortuita imagem foi capturada no dia 8 de Julho de 2009, usando o espectómetro visual e infravermelho da Cassini.
"Esta imagem diz-nos muito acerca de Titã -- atmosfera espessa, lagos superficiais e características de outro mundo," disse Bob Pappalardo, cientista do projecto Cassini, do JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA. "É uma combinação perturbante de estranheza, mesmo assim parecida à Terra. Esta imagem é uma das fotografias icónicas da Cassini."
Titã, a maior lua de Saturno, cativa os cientistas devido às suas muitas semelhanças com a Terra. Os cientistas teorizam há já 20 anos que a fria superfície do satélite natural contém mares ou lagos de hidrocarbonetos líquidos, o que o torna no outro único corpo do Sistema Solar, além da Terra, a ter líquidos à sua superfície. Embora os dados da Cassini não tenham indicado mares vastos, revelaram grandes lagos perto dos pólos norte e sul de Titã.
Em 2008, cientistas da Cassini, usando dados no infravermelho, confirmaram a presença de líquido em Ontario Lacus, o maior lago do hemisfério sul de Titã. Mas ainda procuravam a prova final para confirmar líquidos no hemisfério norte, onde os lagos são também maiores.
Katrin Stephan, do Centro Aeroespacial Alemão em Berlim, membro associado da equipa do espectómetro visual e infravermelho da Cassini, processou a imagem inicial e foi o primeiro a ver o reflexo no dia 10 de Julho.
"Fiquei logo entusiasmado porque o reflexo lembrava-me de uma imagem do nosso próprio planeta, obtida em órbita, que mostrava reflexos da luz solar num oceano," disse Stephan. "Mas tivémos que trabalhar um pouco mais para termos a certeza que o reflexo não seria relâmpagos ou um vulcão em erupção."
Os membros da equipa da Universidade do Arizona, em Tucson, EUA, processaram ainda mais a imagem, e os cientistas foram capazes de comparar a nova imagem com imagens de radar e perto do infravermelho, obtidas entre 2006 e 2008.
Foram também capazes de correlacionar o reflexo na linha costeira sul de um lago denominado Kraken Mare. O enorme Kraken Mare cobre cerca de 400.000 quilómetros quadrados, uma área maior que o Mar Cáspio, o maior lago da Terra.
A descoberta mostra que a linha costeira de Kraken Mare tem estado estável durante os últimos três anos e que Titã tem um ciclo hidrológico contínuo que leva líquidos para a superfície, afirma Ralf Jaumann, membro da equipa do espectómetro visual e infravermelho, que lidera os cientistas do Centro Aeroespacial Alemão que trabalham na Cassini. Claro, neste caso, o líquido no ciclo hidrológico é o metano e não água, como na Terra.
"Estes resultados relembram-nos quão único é Titã no Sistema Solar," acrescenta Jaumann. "Mas também nos mostram que o líquido tem um poder universal de esculpir superfícies geológicas, qualquer que seja."
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Notícias relacionadas:
NASA (comunicado de imprensa)
Universe Today
PHYSORG.com
Discover
Scientific American
Science Daily
Wired
CNN
Titã:
Solarviews
Wikipedia
Saturno:
Solarviews
Wikipedia
Cassini:
Página oficial (NASA)
Wikipedia |
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Imagem que mostra os primeiros raios de Solar reflectidos de um lago na lua de Saturno, Titã.
Crédito: NASA/JPL/Universidade do Arizona/DLR
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