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VENUS EXPRESS PREPARA-SE PARA DAR MERGULHO ATMOSFÉRICO
20 de Maio de 2014

 
 

Depois de oito anos em órbita, a sonda Venus Express da ESA completou as suas observações científicas de rotina e prepara-se para um mergulho ousado na atmosfera hostil do planeta.

A Venus Express foi lançada a bordo de um foguetão Soyuz-Fregat a partir do Cosmódromo russo de Baikonur, Cazaquistão, no dia 9 de Novembro de 2005, e chegou a Vénus em 11 de Abril de 2006.

Tem orbitado Vénus numa órbita elíptica de 24 horas que a transporta desde uns distantes 66.000 km por cima do pólo sul - proporcionando vistas globais incríveis - até uma altitude de cerca de 250 km por cima do pólo norte, perto do topo da atmosfera do planeta.

Com um conjunto de sete instrumentos, a sonda tem fornecido um estudo compreensivo da ionosfera, atmosfera e superfície de Vénus.

"A Venus Express ensinou-nos quão variável é o planeta em todas as escalas de tempo e, além disso, deu-nos pistas sobre como poderia ter mudado desde a sua formação há 4,6 mil milhões de anos atrás," afirma Håkan Svedhem, cientista do projecto na ESA.

"Esta informação ajuda-nos a decifrar como a Terra e Vénus vieram a ter vidas drasticamente diferentes, mas também notámos que existem algumas semelhanças fundamentais."

Separados à nascença?

Vénus tem uma temperatura superficial de mais de 450º C, muito mais quente que um forno normal de cozinha, e uma mistura extremamente densa de gases nocivos como atmosfera. Mas do estudo infravermelho da composição química da superfície rochosa levado a cabo pela missão, aprendemos que Vénus pode ter tido um sistema de placas tectónicas como a Terra, e até mesmo um oceano de água.

Assim como a Terra, Vénus perde partes da sua atmosfera superior para o espaço e a sonda europeia mediu que escapa o dobro de átomos de hidrogénio do que de oxigénio. Dado que a água é feita de dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio, a fuga observada indica que a água está sendo quebrada na atmosfera.

Hoje, a quantidade total de água na Terra é 100.000 vezes maior que a de Vénus. Mas porque os dois planetas têm praticamente o mesmo tamanho e formaram-se à mesma altura, ambos podem ter tido quantidades semelhantes deste líquido precioso nos seus primeiros anos.

Entretanto, as câmaras da sonda seguiram milhares de características no topo das nuvens a cerca de 70 km por cima da superfície do planeta, incluindo um enorme vórtice no pólo sul de Vénus que partilha semelhanças com os furacões na Terra. A sonda também registou surtos de relâmpagos - identificados pela sua assinatura electromagnética - gerados nas nuvens de ácido sulfúrico.

Os estudos da atmosfera em "super-rotação" do planeta - que completa uma volta ao globo em apenas quatro dias terrestres, muito mais depressa que os 243 dias que Vénus demora a completar uma rotação em torno do seu eixo - também descobriram algumas surpresas interessantes. Num estudo, a velocidade média do vento aumentou de 300 km/h para 400 km/h durante um período de seis anos terrestres.

Por outro lado, um estudo separado descobriu que a rotação do planeta tinha abrandado 6,5 minutos desde que a sonda Magalhães da NASA, que completou a sua missão de cinco anos em Vénus há 20 anos atrás, a mediu.

No entanto, ainda não se sabe se há uma relação entre o aumento da velocidade dos ventos e a diminuição da rotação.

O levantamento de radar da Magalhães revelou que a sua superfície foi fortemente alterada no passado por um grande número de vulcões. Mas a Venus Express forneceu pistas tentadoras de que o planeta pode muito bem ser ainda geologicamente activo nos dias de hoje. Um estudo descobriu inúmeros fluxos de lava que devem ter sido criados há não mais que 2,5 milhões de anos, ainda "ontem" em escalas de tempo geológicas, e talvez até muito mais recentemente.

De facto, as medições de dióxido de enxofre na atmosfera superior demonstraram grandes variações no decorrer da missão. Embora as peculiaridades na circulação atmosférica possam produzir um resultado semelhante, é o argumento mais convincente até à data de vulcanismo activo.

O canto final do cisne

Agora, depois de oito anos em órbita, o combustível necessário para manter a órbita elíptica está no fim e em breve esgotar-se-á. Assim, as operações científicas de rotina terminaram a semana passada e a sonda está sendo preparada para uma missão final: um mergulho controlado mais profundo na atmosfera, nunca antes tentado.

"Já realizámos várias curtas campanhas anteriores de arrasto aerodinâmico onde raspámos as finas camadas superiores da atmosfera a cerca de 165 km, mas queremos ir mais fundo, talvez até aos 130 km, talvez ainda mais baixo," afirma Patrick Martin, gerente da missão Venus Express.

"É somente através da realização de operações ousadas como esta que podemos ganhar novos conhecimentos, não só sobre regiões geralmente inacessíveis da atmosfera do planeta, mas também sobre como a nave e os seus componentes respondem a um ambiente tão hostil."

Esta fase de "aerotravagem experimental" está planeada para 18 de Junho - 11 de Julho, período em que serão possíveis algumas medições científicas limitadas com instrumentos que analisam o campo magnético, vento solar e átomos. Além disso, os sensores de temperatura e pressão irão registar as condições deste ambiente.

"A campanha também oferece a oportunidade para desenvolver e praticar as técnicas de operações críticas necessárias para a aerotravagem, uma preciosa experiência para a preparação de missões planetárias futuras que possam exigir tal manobra na sua operação." afirma Paolo Ferri, chefe de operações da missão.

A aerotravagem pode ser usada como forma de entrar em órbita de planetas sem ter que transportar tanto combustível, reduzindo assim a massa de lançamento.

É possível que o combustível restante na Venus Express seja esgotado nesta fase ou que a sonda não sobreviva a estas operações arriscadas. Mas se ainda continuar de boa saúde, a sua órbita será elevada novamente e as operações limitadas irão continuar por mais alguns meses, caso o combustível permita.

No entanto, até ao final do ano, é provável que a Venus Express faça a sua descida final até à atmosfera do planeta, terminando o seu fantástico esforço científico.

"A Venus Express penetrou mais profundamente nos mistérios deste planeta do que alguém jamais sonhou e, sem dúvida, continuará a surpreender-nos até ao último minuto," conclui Håkan.

Links:

Notícias relacionadas:
ESA (comunicado de imprensa)
The Planetary Society
Astronomy
Universe Today
SPACE.com
redOrbit
PHYSORG
gizmag

Venus Express:
ESA 
NASA
Wikipedia

Vénus:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg 
Wikipedia


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Vista global do hemisfério sul de Vénus num mosaico de imagens obtidas pelo instrumento VIRTIS (Visible and Infrared Thermal Imaging Spectrometer) a bordo da Venus Express no dia 16 de Maio de 2006. O lado nocturno do hemisfério (em vermelho) é constituído por imagens infravermelhas e mostra as camadas inferiores das nuvens que rodeiam o planeta a cerca de 45 km de altitude. O lado diurno do hemisfério (em azul) é constituído por imagens no ultravioleta obtidas aos 480 nanómetros. Mostra o topo superior das nuvens a cerca de 65 km de altitude. A parte central avermelhada do painel central foi obtida aos 3,8 nanómetros e mostra o vórtice duplo no pólo sul, a uma altitude de 60 km, rodeado por um colar de ar "frio".
Crédito: ESA/VIRTIS-VenusX IASF-INAF, Observatório de Paris (R. Hueso, Univ. de Bilbau)
(clique na imagem para ver versão maior)


Impressão de artista de um vulcão activo em Vénus.
Crédito: ESA/AOES
(clique na imagem para ver versão maior)


Visualização da Venus Express durante a sua manobra de aerotravagem, que orbitará até uma altitude de 130 km entre 18 de Junho de 11 de Julho. No mês que a antecede, a altitude será gradualmente reduzida desde os 200 km até aos 130 km. Se a sonda sobreviver será elevada novamente até aos 450 km, permitindo a continuação das operações durante mais alguns meses. No entanto, eventualmente a sonda mergulhará na atmosfera e a missão chegará ao fim.
Crédito: ESA-C. Carreau
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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