Top thingy left
 
VLT OBSERVA ESTRELA A "DANÇAR" EM TORNO DE BURACO NEGRO SUPERMASSIVO, PROVANDO MAIS UMA VEZ QUE EINSTEIN TINHA RAZÃO
21 de abril de 2020

 


Esta imagem artística ilustra a precessão da órbita da estrela S2 em torno do buraco negro no centro da Via Láctea, com o efeito exagerado para melhor compreensão.
Crédito: ESO/L. Calçada

 

Observações levadas a cabo com o VLT (Very Large Telescope) revelaram pela primeira vez que uma das estrelas em órbita do buraco negro supermassivo situado no centro da Via Láctea se desloca tal como previsto pela Teoria da Relatividade Geral de Einstein. A sua órbita apresenta a forma de uma roseta e não a de uma elipse como previsto pela Teoria da Gravitação de Newton. Este resultado, procurado há muito tempo, foi possível graças a medições cada vez mais precisas executadas durante 30 anos, que permitiram aos cientistas desvendar os mistérios do monstro que se esconde no coração da nossa Galáxia.

"A Relatividade Geral de Einstein prevê que as órbitas ligadas de um objeto em torno de outro não são fechadas, como descrito na Gravitação Newtoniana, mas que precessam na direção do plano do movimento. Este efeito famoso — observado pela primeira vez na órbita que o planeta Mercúrio descreve em torno do Sol — tratou-se da primeira evidência a favor da Relatividade Geral. Detetámos agora, um século mais tarde, este mesmo efeito no movimento de uma das estrelas que orbita a fonte rádio compacta Sagitário A*, situada no centro da Via Láctea. Esta descoberta observacional fortalece a evidência que aponta para Sagitário A* ser um buraco negro supermassivo com 4 milhões de massas solares," diz Reinhard Genzel, Diretor do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre em Garching, Alemanha, e o cientista por detrás do programa de 30 anos que deu origem a este resultado.

Situado a 26.000 anos-luz de distância do Sol, Sagitário A* e o enxame estelar denso que o rodeia fornecem-nos um laboratório único para testar a Física num regime de gravidade extrema, que, se assim não fosse, permaneceria inexplorado. Uma destas estrelas, S2, desloca-se em direção ao buraco negro atingindo uma proximidade de 20 mil milhões de km (o que corresponde a cento e vinte vezes a distância entre o Sol e a Terra), sendo assim uma das estrelas mais próximas encontradas em órbita do gigante massivo. Na sua máxima aproximação ao buraco negro, S2 desloca-se pelo espaço a uma velocidade de quase 3% da velocidade da luz, completando uma órbita a cada 16 anos. "Depois de seguirmos a estrela na sua órbita durante mais de duas décadas e meia, as nossas medições extremamente precisas detetam de forma robusta a precessão de Schwarzschild no percurso de S2 em torno de Sagitário A*," explica Stefan Gillessen do MPE, que liderou a análise das medições publicada na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics.

 

A maioria das estrelas e planetas têm uma órbita não circular e por isso o seu deslocamento afasta-as e aproxima-as do objeto que orbitam. A órbita de S2 precessa, o que significa que a localização do ponto mais próximo do buraco negro supermassivo muda a cada órbita, de tal modo que a órbita seguinte se encontra rodada relativamente à anterior, fazendo assim com que o seu percurso siga a forma de uma roseta. A Relatividade Geral dá-nos uma previsão precisa de quanto é que a órbita muda e as medições mais recentes correspondem exatamente à teoria. Este efeito, chamado precessão de Schwarzchild, nunca tinha sido medido anteriormente numa estrela em órbita de um buraco negro supermassivo.

Este estudo levado a cabo com o auxílio do VLT do ESO ajuda também os cientistas a compreender melhor o que se passa na vizinhança do buraco negro supermassivo situado no centro da nossa Galáxia. "Uma vez que as medições de S2 seguem tão bem a Relatividade Geral, podemos colocar limites rigorosos na quantidade de matéria invisível — tal como matéria escura distribuída ou buracos negros mais pequenos — que rodeia Sagitário A*. Isto é importante para percebermos a formação e evolução dos buracos negros supermassivos," dizem Guy Perrin e Karine Perrault, os cientistas líderes do projeto em França.

Este resultado trata-se do culminar de 27 anos de observações da estrela S2, usando, na maior parte do tempo, uma frota de instrumentos instalados no VLT do ESO, situado no deserto chileno do Atacama. O número de dados que marcam a posição e velocidade da estrela atesta bem a exaustividade e precisão deste novo trabalho de investigação: a equipa efetuou mais de 330 medições no total, usando os instrumentos GRAVITY, SINFONI e NACO. Uma vez que a estrela leva vários anos a completar uma órbita em torno do buraco negro, foi crucial seguir a estrela durante quase três décadas para que pudessem ser reveladas as complexidades do seu movimento orbital.

 

Este trabalho foi levado a cabo por uma equipa internacional liderada por Frank Eisenhauer do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre com colaboradores de França, Portugal, Alemanha e do ESO. Esta equipa compõe a colaboração GRAVITY, nome retirado do instrumento desenvolvido para o Interferómetro do VLT, o qual combina a radiação recolhida pelos quatro Telescópios Principais de 8 metros do VLT, transformando-os num super-telescópio com uma resolução equivalente a um telescópio de 130 metros de diâmetro. Em 2018, esta mesma equipa revelou outro efeito previsto pela Relatividade Geral, ao observar a radiação emitida por S2 a ser esticada no sentido dos comprimentos de onda maiores, na altura em que esta estrela passou perto de Sagitário A*. "O nosso resultado anterior mostrou que a radiação emitida pela estrela sofre os efeitos da Relatividade Geral. Agora mostrámos que também a própria estrela sente o efeito da Relatividade Geral," disse Paulo Garcia, investigador no Centro de Astrofísica e Gravitação, no Porto, e um dos cientistas que lidera o projeto GRAVITY.

Com o futuro Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, a equipa acredita poder observar estrelas muito mais ténues em órbitas ainda mais próximas do buraco negro supermassivo. "Com o ELT talvez possamos capturar estrelas suficientemente próximas do buraco negro para sentirem efetivamente a rotação deste objeto supermassivo," disse Andreas Eckart da Universidade de Colónia, Alemanha, outro dos cientistas que lidera o projeto. Se tal acontecer, os astrónomos poderão medir as duas características, rotação e massa, que caracterizam Sagitário A* e definir o espaço-tempo que o rodeia. "Isto corresponderia, uma vez mais, a testar a Relatividade mas a um nível completamente diferente," conclui Eckart.

 


comments powered by Disqus

 


Esta simulação mostra as órbitas das estrelas muito próximas do buraco negro supermassivo situado no coração da Via Láctea. Uma destas estrelas, chamada S2, orbita este objeto a cada 16 anos e passou muito próximo do buraco negro em maio de 2018. Este é o laboratório perfeito para testar a física gravitacional e especificamente a teoria da relatividade geral de Einstein.
Crédito: ESO/L. Calçada/spaceengine.org


// ESO (comunicado de imprensa)
// Instituto Max Planck para Física Extraterrestre (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Astronomy & Astrophysics)
// Artigo científico (arXiv.org)
// Entrevista com Reinhard Genzel (ESO via YouTube)

Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
02/11/2018 - As observações mais detalhadas de matéria a orbitar perto de um buraco negro
27/07/2018 - Primeiro teste bem sucedido da relatividade geral de Einstein realizado perto de buraco negro supermassivo
15/08/2017 - Indicações de efeitos relativistas em estrelas que orbitam o buraco negro supermassivo situado no centro da Galáxia
10/12/2008 - Estudo sem precedentes segue estrelas em órbita do buraco negro supermassivo da Via Láctea

Notícias relacionadas:
Science
Sky & Telescope
SPACE.com
ScienceDaily
New Scientist
PHYSORG
COSMOS
ScienceNews
Popular Mechanics
science alert
Astronomy Now
Futurism
Forbes
UPI
Reuters
CNN
Ars Technica
RTP
SIC Notícias
tvi24
Expresso
Público
Jornal de Notícias
Correio da Manhã
ZAP.aeiou

S2:
Wikipedia

Sagitário A*:
Wikipedia

Buraco negro supermassivo:
Wikipedia

Via Láctea:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia
SEDS

Teoria da Relatividade Geral:
Wikipedia

VLT:
Página oficial
Wikipedia

ESO:
Página oficial
Wikipedia

 
Top Thingy Right