Há décadas que os cientistas estudam a superfície da Lua para ajudar a compreender a sua complexa história geológica e evolutiva. Evidências dos mares lunares (áreas escuras e planas da Lua cheias de lava solidificada) sugerem que a Lua sofreu uma compressão significativa no seu passado distante. Os investigadores suspeitavam que as grandes cristas arqueadas no lado visível da Lua tinham sido formadas por contrações que ocorreram há milhares de milhões de anos - concluindo que os mares lunares permaneceram adormecidos desde então.
No entanto, um novo estudo revela que o que se encontra por baixo da superfície lunar pode ser mais dinâmico do que se pensava. Dois cientistas da Instituição Smithsonian e uma geóloga da Universidade de Maryland descobriram que pequenas cristas localizadas no lado oculto da Lua eram notavelmente mais jovens do que as cristas estudadas anteriormente no lado visível. As suas descobertas foram publicadas na revista The Planetary Science Journal no passado dia 21 de janeiro de 2025.
"Muitos cientistas pensam que a maior parte dos movimentos geológicos da Lua ocorreram há dois mil milhões e meio, talvez três mil milhões de anos", disse Jaclyn Clark, investigadora do Departamento de Geologia da Universidade de Maryland, EUA. "Mas estamos a ver que estas formas tectónicas de relevo estiveram recentemente ativas ao longo dos últimos mil milhões de anos e podem ainda estar ativas hoje. Estas pequenas cristas dos mares parecem ter-se formado nos últimos 200 milhões de anos, o que é relativamente recente, tendo em conta a escala de tempo da Lua".
Utilizando técnicas avançadas de mapeamento e modelação, a equipa encontrou 266 pequenas cristas, até então desconhecidas, no lado oculto da Lua. De acordo com os investigadores, as cristas aparecem tipicamente em grupos de 10 a 40 em regiões vulcânicas que provavelmente se formaram há 3,2-3,6 mil milhões de anos em áreas estreitas onde podem existir pontos fracos na superfície da Lua. Para estimar a idade destas pequenas cristas, os investigadores usaram uma técnica chamada contagem de crateras. Descobriram que as cristas eram notavelmente mais jovens do que outras características nas suas imediações.
"Essencialmente, quanto mais crateras uma superfície tiver, mais velha é; a superfície tem mais tempo para acumular mais crateras", explicou Clark. "Depois de contar as crateras à volta destas pequenas cristas e de ver que algumas delas atravessam crateras de impacto existentes, pensamos que estas formas de relevo estiveram tectonicamente ativas nos últimos 160 milhões de anos".
Curiosamente, Clark notou que as cristas do lado oculto eram semelhantes em estrutura às encontradas no lado visível da Lua, o que sugere que ambas foram criadas pelas mesmas forças, provavelmente uma combinação do encolhimento gradual da Lua e mudanças na órbita lunar. As missões Apollo detetaram, há décadas, sismos lunares superficiais; as novas descobertas sugerem que estas pequenas cristas podem estar relacionadas com atividade sísmica semelhante. Aprender mais sobre a evolução da superfície lunar pode ter implicações importantes para a logística de futuras missões à Lua.
"Esperamos que as futuras missões à Lua incluam ferramentas como o radar de penetração no solo, para que os investigadores possam compreender melhor as estruturas por baixo da superfície lunar", disse Clark. "Saber que a Lua ainda é geologicamente dinâmica tem implicações muito reais para o local onde planeamos colocar os nossos astronautas, equipamentos e infraestruturas".
// Universidade de Maryland (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Planetary Science Journal)
Quer saber mais?
Lua:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia
Programa Apollo:
NASA
Wikipedia |