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  Astroboletim #1570  
  26/03 a 28/03/2019  
     
 
29/03/19 - Observação Noturna + palestra - MUDANÇA DA HORA
21:30 - Este evento inclui uma apresentação sobre um tema astronómico, seguida de observação astronómica noturna com telescópio no nosso maravilhoso terraço (dependente de meteorologia favorável).
Local: CCVAlg
Adultos: 2€ | Jovens: 1€
Pré-inscrição: siga este link
Telefone: 289 890 920
E-mail: info@ccvalg.pt
 
     
 
12/04/19 - Noites Astronómicas em Tavira
21:00-22:00 - A sessão será dedicada a observação da lua. Será também possível fazer um registo fotográfico da lua e das suas crateras com auxílio de telescópio.
Local: Praça da República - Tavira
Telefones: 281 326 231; 924 452 528
E-mail: geral@cvtavira.pt
 
     
 
Efemérides

Dia 26/03: 85.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1958, o exército dos Estados Unidos lança o Explorer 3.

Observações: Esta é a altura do ano em que a pequena e ténue constelação de Ursa Menor, o lar da Estrela Polar, está para a sua direita. A muito maior e mais brilhante constelação da Ursa Maior curva-se bem para cima, "deitando água" sobre a mais pequena.

Dia 27/03: 86.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1845, nascia Wilhelm Röntgen, físico alemão que produziu e detetou radiação eletromagnética num comprimento de onda que hoje chamamos de raios-X, um feito que lhe valeu o Prémio Nobel da Física em 1901.
Em 1969, era lançada a Mariner 7

Em 1972, lançamento da soviética Venera 8, um veículo de aterragem que alcançou o planeta Vénus no dia 22 de julho do mesmo ano e transmitiu dados durante 50 minutos. 
Observações: Antes do amanhecer, olhe para sul-sudeste e aviste a Lua. O ponto brilhante logo para a sua direita é o planeta Júpiter.
Mercúrio estacionário, pelas 13:00.

Dia 28/03: 87.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1802, Heinrich Wilhem Matthäus Olbers descobre 2 Pallas, o segundo asteroide conhecido.

Em 1993 é descoberto um remanescente de supernova na galáxia M81 (Ursa Maior), pelo astrónomo amador espanhol Francisco Garcia Diaz.
Observações: Lua em Quarto Minguante, pelas 04:10.
Cassiopeia, a constelação que assinala o outono e o inverno, retira-se para baixo depois do cair da noite. Procure-a perto do horizonte a norte-noroeste. Mas, para observadores a latitudes médias norte, Cassiopeia é circumpolar, nunca desaparecendo completamente. Por volta da uma da manhã, está mais baixa a norte, deitada não exatamente na horizontal.

 
     
 
Curiosidades

Quer viajar até ao Centro da Via Láctea? Veja esta nova visualização imersiva e em ultra-alta-definição. O filme a 360 graus fornece uma oportunidade sem paralelo de observar em redor do centro da nossa Galáxia, a partir do ponto de vista do buraco negro supermassivo central, em qualquer direção que o utilizador queira.

 
 
   
Hubble rastreia o ciclo de vida das tempestades gigantes em Neptuno

Em 1989, a sonda Voyager 2 da NASA passou por Neptuno - o seu alvo planetário final antes de chegar aos confins do Sistema Solar. Foi a primeira vez que uma nave visitou este mundo remoto. À medida que a sonda por lá passava, tirou fotos de duas tempestades gigantes no hemisfério sul de Neptuno. Os cientistas apelidaram as tempestades de "Grande Mancha Escura" e "Mancha Escura 2".

Apenas cinco anos depois, em 1994, o Telescópio Espacial Hubble da NASA obteve imagens nítidas de Neptuno à distância da Terra de 4,3 mil milhões de quilómetros. Os cientistas estavam ansiosos por observar as tempestades novamente. Em vez disso, as fotografias do Hubble revelaram que tanto a Grande Mancha Escura, do tamanho da Terra, quanto a Mancha Escura 2, tinham desaparecido.

 
Esta é uma composição que mostra imagens de tempestades em Neptuno pelo Telescópio Espacial Hubble (esquerda) e pela sonda Voyager 2 (direita). A imagem do Hubble, pela câmara WFC3 (Wide Field Camera 3), obtida em setembro e novembro de 2018, mostra uma nova tempestade escura (topo, centro). Na imagem da Voyager, uma tempestade conhecida como Grande Mancha Escura pode ser vista no centro. Tem mais ou menos 13000 por 6000 km em tamanho - tão grande, no seu eixo maior, quanto a Terra. As nuvens brancas vistas a pairar na vizinhança das tempestades estão a maiores altitudes do que o material escuro.
Crédito: NASA/ESA/GSFC/JPL
 

"Foi certamente uma surpresa," recorda-se Amy Simon, cientista planetária do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland. "Estávamos habituados a olhar para a Grande Mancha Vermelha de Júpiter, que presumivelmente está por lá há quase dois séculos." Os cientistas planetários imediatamente começaram a construir simulações de computador para entender o misterioso desaparecimento da Grande Mancha Escura.

Agora parte do projeto OPAL (Outer Planet Atmospheres Legacy), Simon e seus colegas estão a começar a responder a estas perguntas. Graças às imagens captadas pelo Hubble, a equipa não só testemunhou pela primeira vez a formação de uma tempestade, como desenvolveu restrições que determinam a frequência e duração dos sistemas de tempestades.

O nascimento de uma tempestade

Em 2015, a equipa OPAL começou uma missão anual para analisar imagens de Neptuno capturadas pelo Hubble e detetou uma pequena mancha escura no hemisfério sul. Todos os anos, desde então, Simon e colegas observaram o planeta e monitorizaram a tempestade enquanto se dissipava. Em 2018, surgiu uma nova mancha escura, pairando a 23 graus de latitude norte.

"Estávamos tão ocupados a rastrear esta tempestade pequena de 2015, que não estávamos necessariamente à espera de ver outra grande tão cedo," comenta Simon acerca da tempestade, parecida em tamanho à Grande Mancha Escura. "Foi uma surpresa agradável. De cada vez que obtemos novas imagens do Hubble, algo é diferente do que esperávamos."

Além disso, o nascimento da tempestade foi capturado "em direto". Ao analisarem imagens de Neptuno, pelo Hubble, obtidas de 2015 a 2017, a os cientistas descobriram várias pequenas nuvens brancas formadas na região onde a mancha escura mais recente apareceria mais tarde. Publicaram os seus achados na edição de 25 de março da revista Geophysical Research Letters.

As nuvens de alta altitude são feitas de cristais de metano gelado, que lhes conferem a sua característica aparência branca e brilhante. Pensa-se que estas nuvens companheiras pairem acima das tempestades, análogas ao modo como as nuvens lenticulares cobrem montanhas altas na Terra. A sua presença, anos antes de uma nova tempestade ser avistada, sugere que as manchas escuras podem ter uma origem muito mais profunda na atmosfera do que se pensava anteriormente.

"Da mesma forma que um satélite terrestre observaria a meteorologia da Terra, observamos a meteorologia em Neptuno," comenta Glenn Orton, cientista planetário no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, também do projeto OPAL. Assim como os furacões são seguidos na Terra, as imagens do Hubble revelaram o caminho sinuoso da mancha escura. Ao longo de um período de quase 20 horas, a tempestade moveu-se para oeste, deslocando-se um pouco mais devagar do que os ventos de alta velocidade de Neptuno.

Mas estas tempestades neptunianas são diferentes dos ciclones que vemos na Terra ou em Júpiter. Assim como os padrões de vento que as impulsionam. Parecidas aos trilhos que impedem que as bolas de bowling entrem nas calhas, bandas finas de correntes ventosas em Júpiter mantêm a Grande Mancha Vermelha num caminho definido. Em Neptuno, as correntes de vento operam em bandas muito mais amplas em redor do planeta, permitindo que tempestades como a Grande Mancha Escura vagueiem lentamente pelas latitudes. As tempestades normalmente pairam entre os jatos de ventos equatoriais oeste e as correntes que sopram para leste nas latitudes mais altas antes que os fortes ventos as separem.

São necessárias ainda mais observações. "Queremos ser capazes de estudar como os ventos estão a mudar com o tempo," diz Simon.

Tempo médio de vida?

Simon também faz parte de uma equipa de cientistas liderados pelo estudante Andrew Hsu, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que identificou quanto tempo estas tempestades duram e com que frequência ocorrem.

Eles suspeitam que as novas tempestades surgem em Neptuno a cada quatro a seis anos. Cada tempestade pode durar até seis anos, embora a expetativa de vida de dois anos seja mais provável, de acordo com resultados publicados dia 25 de março na revista The Astronomical Journal.

Foram descobertos um total de seis sistemas de tempestades desde que os cientistas se voltaram para Neptuno. A Voyager 2 identificou duas tempestades em 1989. Desde que o Hubble foi lançado em 1990, viu mais quatro destas tempestades.

Além de analisar os dados recolhidos pelo Hubble e pela Voyager 2, a equipa realizou simulações de computador que mapearam um total de 8000 manchas escuras girando pelo planeta gelado. Quando combinadas com 256 imagens de arquivo, estas simulações revelaram que o Hubble provavelmente teria detetado aproximadamente 70% das tempestades simuladas que ocorreram ao longo de um ano e cerca de 85% a 95% das tempestades com uma vida útil de dois anos.

Ainda pairam perguntas

As condições em Neptuno ainda são em grande parte um mistério. Os cientistas planetários esperam estudar em breve as mudanças na forma do vórtice e a velocidade do vento das tempestades. "Nós nunca medimos diretamente os ventos dentro dos vórtices escuros de Neptuno, mas estimamos que as velocidades do vento estão próximas dos 100 metros por segundo, bastante parecidas às velocidades do vento dentro da Grande Mancha Vermelha de Júpiter," diz Michael Wong, cientista planetário da Universidade da Califórnia em Berkeley. Ele realça que observações mais frequentes, usando o Telescópio Espacial Hubble, ajudarão a pintar uma imagem mais clara de como os sistemas de tempestades em Neptuno evoluem.

Simon diz que as descobertas em Neptuno terão implicações para aqueles que estudam exoplanetas, na nossa Galáxia, de tamanho idêntico aos gigantes de gelo. "Se estudarmos os exoplanetas e quisermos entender como funcionam, precisamos realmente de entender primeiro os nossos planetas," acrescenta Simon. "Temos muito pouca informação sobre Úrano e Neptuno."

Todos concordam que estes achados recentes estimulam o desejo de seguir com mais detalhe o nosso mais distante gigante planetário. "Quanto mais sabemos, mais nos apercebemos do que não sabemos," conclui Orton.

// NASA (comunicado de imprensa)
// União Geofísica Americana (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Geophysical Research Letters)

 


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Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
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SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

Sondas Voyager:
Página oficial (NASA)
Heavens Above
Voyager 1 (Wikipedia)
Voyager 2 (Wikipedia)

 
   
Formação estelar e poeira de estrelas antigas

Investigadores detetaram um sinal de rádio de poeira interestelar abundante em MACS0416_Y1, uma galáxia a 13,2 mil milhões de anos-luz de distância na direção da constelação de Erídano. Os modelos-padrão não conseguem explicar tanta poeira numa galáxia tão jovem, forçando-nos a reconsiderar a história da formação estelar. Os cientistas agora pensam que MACS0416_Y1 sofreu uma formação estelar escalonada, com dois períodos intensos 300 milhões e 600 milhões de anos após o Big Bang, e com uma fase calma entre eles.

As estrelas são os principais intervenientes no Universo, mas são apoiadas pelas mãos invisíveis dos bastidores: a poeira estelar e o gás. As nuvens cósmicas de poeira e gás são os locais de formação estelar e magistrais contadores da história cósmica.

"A poeira e os elementos relativamente pesados, como oxigénio, são disseminados pela morte das estrelas," disse Yoichi Tamura, professor associado da Universidade de Nagoya e autor principal do artigo científico. "Portanto, uma deteção de poeira em determinado momento indica que um número de estrelas já se formou e morreu bem antes desse ponto."

 
Imagem do ALMA e do Telescópio Espacial Hubble da galáxia distante MACS0416_Y1. A distribuição da poeira e do oxigénio gasoso traçada pelo ALMA tem tons avermelhados e esverdeados, respetivamente, enquanto a distribuição das estrelas captada pelo Hubble está a azul.
Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, Tamura et al.
 

Usando o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), Tamura e a sua equipa observaram a galáxia distante MACS0416_Y1. Dada a velocidade finita da luz, as ondas de rádio que observamos hoje nesta galáxia tiveram que viajar durante 13,2 mil milhões de anos para chegar até nós. Por outras palavras, fornecem uma imagem do aspeto da galáxia há 13,2 mil milhões de anos, apenas 600 milhões de anos após o Big Bang.

Os astrónomos detetaram um sinal fraco, mas revelador, de emissões de rádio de partículas de poeira em MACS0416_Y1. O Telescópio Espacial Hubble, o Telescópio Espacial Spitzer e o VLT (Very Large Telescope) do ESO observaram a luz das estrelas da galáxia; e da sua cor estimam que a idade estelar seja de 4 milhões de anos.

"Não é fácil," realça Tamura. "A poeira é demasiado abundante para ter sido formada em 4 milhões de anos. É surpreendente, mas precisamos de ter os pés assentes na terra. As estrelas mais antigas podem estar escondidas na galáxia, ou podem já ter morrido e desaparecido."

 
Impressão de artista da galáxia distante MACS0416_Y1. Com base em observações do ALMA e do Hubble, os cientistas assumem que esta galáxia contém enxames estelares com uma mistura de estrelas jovens e antigas. As nuvens de gás e poeira são iluminadas por luz estelar.
Crédito: NAOJ
 

"Já foram propostas várias ideias para superar esta crise orçamentária de poeira," disse Ken Mawatari, investigador da Universidade de Tóquio. "No entanto, nenhuma é conclusiva. Fizemos um novo modelo que não precisa de suposições extremas divergentes do conhecimento da vida das estrelas no Universo de hoje. O modelo explica bem tanto a cor da galáxia como a quantidade de poeira." Neste modelo, o primeiro surto de formação estelar começou aos 300 milhões de anos e durou 100 milhões de anos. Depois, a formação estelar acalmou durante algum tempo e recomeçou aos 600 milhões de anos. Os investigadores pensam que o ALMA observou esta galáxia no início da sua segunda geração de formação estelar.

"A poeira é um material crucial para planetas como a Terra," explica Tamura. "O nosso resultado é um passo importante para entender o início da história do Universo e a origem da poeira."

// Observatório ALMA (comunicado de imprensa)
// NAOJ (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


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"Chaminés" gigantes libertam raios-X do núcleo da Via Láctea

Ao examinar o centro da nossa Galáxia, o XMM-Newton da ESA descobriu duas colossais "chaminés" que canalizam o material da vizinhança do buraco negro supermassivo da Via Láctea em duas enormes bolhas cósmicas.

As bolhas gigantes foram descobertas em 2010 pelo Telescópio Espacial de Raios-Gama Fermi da NASA: uma estende-se acima do plano da Via Láctea e a outra por baixo, desenhando uma forma semelhante a uma ampulheta colossal que se estende por mais ou menos 50.000 anos-luz - cerca de metade do diâmetro de toda a Galáxia. Podem ser considerados "arrotos" gigantes de material das regiões centrais da nossa Via Láctea, onde reside o seu buraco negro central, conhecido como Sagitário A*.

Agora, o XMM-Newton descobriu dois canais de emissão de raios-X quentes saindo de Sagitário A*, finalmente ligando as redondezas imediatas do buraco negro às bolhas.

 
Impressão de artista de duas "chaminés" que funilam material quente e que emitem raios-X do centro da nossa Galáxia para duas bolhas cósmicas.
As duas chaminés galácticas foram reveladas usando dados recolhidos entre 2016 e 2018 pelo observatório espacial XMM-Newton da ESA, que completou o mais extenso mapa do núcleo da Via Láctea em raios-X.
As bolhas gigantes, emissoras de raios-gama, foram descobertas pelo Telescópio Espacial de Raios-Gama Fermi da NASA. Têm uma forma parecida a uma ampulheta colossal, abrangendo cerca de 50.000 anos-luz de ponta a ponta - comparável ao tamanho do disco estelar da Via Láctea e aproximadamente metade do diâmetro de toda a Galáxia.
Os dois canais quentes descobertos pelo XMM-Newton fluem para fora de Sagitário A*, o buraco negro supermassivo central da nossa Galáxia, e cada um mede centenas de anos-luz, finalmente ligando as redondezas imediatas do buraco negro com as bolhas. Os cientistas pensam que estas "chaminés" atuam como um conjunto de tubos de escape através dos quais a energia e a massa são transportadas do coração da nossa Galáxia até à base das bolhas, reabastecendo-as com material novo.
Crédito: ESA/XMM-Newton/G. Ponti et al. 2019; ESA/Gaia/DPAC (mapa da Via Láctea)
 

"Sabemos que as correntes e ventos de material e energia que emanam de uma galáxia são cruciais para esculpir e alterar a forma da Galáxia ao longo do tempo - são atores principais no modo como as galáxias e outras estruturas se formam e evoluem pelo cosmos," comenta Gabriele Ponti do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre em Garching, Alemanha, e do Instituto Nacional de Astrofísica na Itália.

"Felizmente, a nossa Galáxia dá-nos um laboratório próximo para explorar isto em detalhe, e examinar como o material flui para o espaço ao nosso redor. Nós usámos dados recolhidos pelo XMM-Newton entre 2016 e 2018 para formar o mapa de raios-X mais extenso já feito do núcleo da Via Láctea."

Este mapa revelou canais longos de gás superaquecido, cada um estendendo-se por centenas de anos-luz, fluindo para cima e para baixo do plano da Via Láctea

Os cientistas pensam que estes agem como um conjunto de tubos de escape através dos quais a energia e a massa são transportadas do coração da nossa Galáxia para a base das bolhas, reabastecendo-as com material novo.

Esta descoberta esclarece como a atividade que ocorre no núcleo da nossa Galáxia, tanto no presente como no passado, está ligada à existência de estruturas maiores em seu redor.

 
Imagem em raios-X do centro da nossa Via Láctea, onde reside o buraco negro supermassivo Sagitário A*. Esta imagem, obtida com o observatório espacial XMM-Newton da ESA, mostra a temperatura do gás emissor de raios-X nesta região turbulente, com regiões mais frias a vermelho e regiões mais quentes a verde e a azul.
A área brilhante do meio da imagem identifica a vizinhança de Sagitário A*. As características amarelas e laranjas acima e abaixo do centro são duas "chaminés" colossais, estendendo-se por centenas de anos-luz cada uma, que funilam material do Centro Galáctico para duas enormes bolhas cósmicas.
A imagem combina dados recolhidos nas seguintes bandas energéticas: 1,5-2,6 keV (vermelho); 2,35-2,56 keV (verde); 2,7-2,97 keV (azul). As muitas zonas esbranquiçadas, grandes e pequenas, são artefactos onde fontes de raios-X brilhantes e não relacionadas foram removidas da imagem. Clique aqui para uma versão animada da imagem; aqui para uma versão não legendada.
Crédito: ESA/XMM-Newton/G. Ponti et al. 2019, Nature
 

O fluxo pode ser um remanescente do passado da nossa Galáxia, de um período em que a atividade era muito mais prevalente e poderosa, ou pode provar que mesmo galáxias "quiescentes" - aquelas que abrigam um buraco negro supermassivo relativamente calmo e níveis moderados de formação estelar como a Via Láctea - podem orgulhar-se de ter enormes e energéticos fluxos exteriores de material.

"A Via Láctea é vista como uma espécie de protótipo de uma galáxia espiral padrão," diz o coautor Mark Morris da Universidade da Califórnia em Los Angeles, EUA.

"De certo modo, este achado lança luz sobre como todas as galáxias espirais típicas - e o seu conteúdo - podem comportar-se em todo o cosmos."

Apesar da sua classificação como quiescente na escala cósmica de atividade galáctica, dados anteriores do XMM-Newton revelaram que o núcleo da nossa Galáxia ainda é bastante tumultuoso e caótico. As estrelas moribundas explodem violentamente, atirando o seu material para o espaço; as estrelas binárias giram em redor uma da outra; e Sagitário A*, um buraco negro tão massivo quanto 4 milhões de sóis, está à espreita para devorar material que se aproxima, "arrotando" mais tarde radiação e partículas energéticas.

Gigantes cósmicos como Sagitário A* - e aqueles ainda mais massivos - hospedados por galáxias em todo o cosmos, serão explorados em detalhe por observatórios de raios-X como o ATHENA (Advanced Telescope for High-Energy Astrophysics) da ESA, com lançamento previsto para 2031. Outra missão futura da ESA, LISA (Laser Interferometer Space Antenna), vai procurar ondas gravitacionais libertadas pela fusão de buracos negros supermassivos no núcleo de galáxias distantes em colisão.

 
Impressão de artista de duas "chaminés" que funilam material quente e que emitem raios-X do centro da nossa Galáxia para duas bolhas cósmicas.
As duas chaminés galácticas foram reveladas usando dados recolhidos entre 2016 e 2018 pelo observatório espacial XMM-Newton da ESA, que completou o mais extenso mapa do núcleo da Via Láctea em raios-X.
As bolhas gigantes, emissoras de raios-gama, foram descobertas pelo Telescópio Espacial de Raios-Gama Fermi da NASA. Têm uma forma parecida a uma ampulheta colossal, abrangendo cerca de 50.000 anos-luz de ponta a ponta - comparável ao tamanho do disco estelar da Via Láctea e aproximadamente metade do diâmetro de toda a Galáxia.
Os dois canais quentes descobertos pelo XMM-Newton fluem para fora de Sagitário A*, o buraco negro supermassivo central da nossa Galáxia, e cada um mede centenas de anos-luz, finalmente ligando as redondezas imediatas do buraco negro com as bolhas. Os cientistas pensam que estas "chaminés" atuam como um conjunto de tubos de escape através dos quais a energia e a massa são transportadas do coração da nossa Galáxia até à base das bolhas, reabastecendo-as com material novo.
Crédito: ESA/XMM-Newton/G. Ponti et al. 2019; ESA/Gaia/DPAC (mapa da Via Láctea)
 

Entretanto, os cientistas estão ocupados a investigar estes buracos negros com missões atuais como a do XMM-Newton.

"Ainda há muito por fazer com o XMM-Newton - o telescópio pode rastrear uma região significativamente maior do núcleo da Via Láctea, o que nos ajudará a mapear as bolhas e o gás quente em redor da nossa Galáxia, bem como as suas ligações com outros componentes da Via Láctea, e esperamos descobrir como tudo isto está ligado," acrescenta Gabriele.

"Claro, também estamos ansiosos pela missão ATHENA e pelo avanço que irá permitir."

ATHENA combinará espectroscopia de raios-X de alta resolução com excelentes capacidades de imagem em amplas áreas do céu, permitindo com que os cientistas investiguem, como nunca antes, a natureza e o movimento do gás cósmico quente.

"Este excelente resultado do XMM-Newton dá-nos uma visão sem precedentes do que realmente está a acontecer no centro da Via Láctea, e apresenta o mapa de raios-X mais extenso já criado de toda a região central," diz o cientista do projeto XMM-Newton da ESA Norbert Schartel.

"Isto é especialmente excitante no contexto das nossas próximas missões. O XMM-Newton está a pavimentar o caminho para a futura geração de observatórios de raios-X, abrindo oportunidades abundantes para que essas poderosas espaçonaves façam novas descobertas substanciais sobre o nosso Universo."

// ESA (comunicado de imprensa)
// Instituto Max Planck para Física Extraterrestre (comunicado de imprensa)
// UCLA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
10/03/2017 - Hubble data última grande refeição do buraco negro da Via Láctea
20/03/2012 - Objetos misteriosos no limite do espectro eletromagnético

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  Imagens ultra-nítidas tornam estrelas antigas absolutamente maravilhosas! (via Observatório Gemini)
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Álbum de fotografias - Arp 194: Grupo de Galáxias em Fusão
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: NASAESAHubble; Processamento e Licença: Judy Schmidt
 
Porque é que estão a formar-se estrelas na ponte entre estas galáxias em colisão? Normalmente, quando as galáxias chocam, a formação estelar é confinada a discos de galáxias ou a caudas de maré. No entanto, em Arp 194 existem nós brilhantes de estrelas jovens numa ponte de ligação. As análises de imagens e dados, incluindo a imagem em destaque de Arp 194 pelo Hubble, bem como simulações de computador da interação, indicam que a galáxia de baixo passou através da galáxia de cima nos últimos 100 milhões de anos. O resultado deixou um fluxo de gás que agora está a cair em direção à galáxia inferior. Os astrónomos teorizam que as estrelas se formam nesta ponte devido ao recente desvanecimento de turbulência após a colisão rápida. Daqui a cerca de mil milhões de anos, as galáxias - incluindo uma galáxia mais pequena sobreposta na galáxia superior (consegue vê-la?) - vão fundir-se numa galáxia maior.
 
   
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