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  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
Com o apoio do Centro Ciência de Tavira
   
 
  Astroboletim #1710  
  28/07 a 30/07/2020  
     
     
 
Astronomia no Verão CCVAlg | CCVTavira

Atividades astronómicas planeadas para o restante mês de julho:

28/07 - Santa Catarina da Fonte do Bispo, a partir das 22:00, junto à Cooperativa Agrícola dos Produtores de Azeite de Santa Catarina da Fonte do Bispo (atividade realizada pelo CCVTavira)

31/07 - Carvoeiro, a partir das 21:30, junto ao Forte de Nossa Senhora da Encarnação (atividade realizada pelo CCVAlg)

Atividades astronómicas planeadas para o mês de agosto:

04/08 - Castelo de Paderne, Albufeira, a partir das 21:15, junto ao Castelo de Paderne (atividade realizada pelo CCVAlg)

05/08 - Ruinas Romanas de Milreu, Estoi, a partir das 21:15, no interior do Núcleo Museológico das Ruínas Romanas de Milreu (atividade realizada pelo CCVAlg)

07/08 - Rocha da Pena, Loulé, a partir das 20:45, ponto de encontro no estacionamento do café Bar das Grutas, no início do caminho para a Rocha da Pena (atividade realizada pelo CCVAlg)

07/08 - Tavira, a partir das 22:00, junto ao Forte do Rato (atividade realizada pelo CCVTavira)

14/08 - Passeio noturno pela Ria Formosa em barco solar, encontro às 20:30 no cais de embarque junto à Porta Nova (cais das portas do mar) na muralha Villa Adentro (parte antiga da cidade de Faro); atividade com custo (atividade realizada pelo CCVAlg)

18/08 - Santa Rita - Vila Nova de Cacela, a partir das 22:00, junto à Aldeia de Santa Rita, Vila Nova de Cacela (atividade realizada pelo CCVTavira)

22/08 - Portela, São Brás de Alportel, a partir das 21:00, junto ao Miradouro do Alto da Arroteia (atividade realizada pelo CCVAlg)

23/08 - Albufeira, Praia dos Salgados, a partir das 21:00, junto ao estacionamento da Praia dos Salgados (atividade realizada pelo CCVAlg)

26/08 - Aldeia da Rocha Amarela, Esteval dos Mouros - Alte, Loulé, a partir das 20:30, no entroncamento à entrada de Esteval dos Mouros (atividade realizada pelo CCVAlg)

26/08 - Castro Marim, a partir das 21:30, no parque de estacionamento do Agrupamento de Escolas de Castro Marim (atividade realizada pelo CCVTavira)

(obrigatório utilizar equipamento de proteção individual - máscara ou viseira - e seguir as instruções de higienização e distanciamento social; número limitado de presenças nas atividades seguindo as atuais regras de segurança da DGS; todas as atividades estão dependentes de condições meteorológicas favoráveis; consulte cada uma das atividades para obter mais informações e para fazer a sua inscrição obrigatória)

 
     
 
Efemérides

Dia 28/07: 210.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1851 era tirada a primeira fotografia do Sol durante um eclipse total, a partir da qual se descobre a coroa solar.
Em 1867 nascia Charles Dillon Perrine, astrónomo americano-argentino, descobridor de duas luas de Júpiter (Himalia em 1904 e Elara em 1905).

Foi também diretor do Observatório Nacional Argentino (hoje com o nome Observatório Astronómico de Córdoba).
Em 1964 era lançada a sonda Ranger 7, que regista as primeiras imagens da Lua tiradas por uma nave americana.
Observações: Ainda o verão não chegou a meio, mas já a constelação em forma de "W", Cassiopeia, das noites de outono e inverno, sobe a norte-nordeste com o passar da noite. E o Grande Quadrado de Pégaso, emblema do outono, sobe para ficar apoiado num canto logo acima do horizonte a este.

Dia 29/07: 211.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1851, A. De Gasparis descobria o asteroide 15 Eunomia.
Em 1898, nascia o físico Isidor Isaac Rabi, que recebeu o prémio Nobel da Física em 1944, pelo seu método de ressonância para registar as propriedades magnéticas do núcleo atómico.

Em 2005, astrónomos anunciam a descoberta do planeta anão Éris.
Observações: Assim que as estrelas fiquem visíveis, aviste a alaranjada Antares por baixo da Lua. Para a sua esquerda está a cabeça de Escorpião, uma fila quase na vertical de três estrelas mais fracas e de tom esbranquiçado.
A estrela de cima é Beta Scorpii ou Graffias, uma boa estrela dupla para telescópios.
A apenas 1º para baixo ou para baixo e para a esquerda (uma ponta de um dedo à distância do braço esticado) está o par largo Omega^1 e Omega^2 Scorpii, visível a olho nu, quase na vertical. Têm ambas magnitude 4 e separação de 0,25º. Os binóculos mostram a sua ligeira diferença de cor; são do tipo espectral B9 e G2.
Para a esquerda de Beta, a cerca de 1,6º, está Nu Scorpii (Jabbah), outro bom duplo telescópico. Ou melhor, triplo. Um alto poder de ampliação e um céu limpo e escuro revelam que o componente mais brilhante de Nu é ele próprio uma estrela dupla, com uma separação de 2 segundos de arco e alinhado quase na direção norte-sul.
Todos estes alvos binários devem ser brilhantes o suficiente para que a luz da Lua não seja um problema.

Dia 30/07: 212.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1971, os astronautas da Apollo 15 pousam na Lua.

Observações: As duas estrelas mais brilhantes do Verão são Vega, quase por cima das nossas cabeças quando ficar completamente noite, e Arcturo brilhando a oeste (o mais brilhante planeta Júpiter a sudeste não conta!). Desenhe uma linha de Vega a Arcturo. A um-terço do caminho, a linha atravessa a constelação de Hércules. A dois-terços até Arcturo passa pelo semicírculo de Coroa Boreal, que tem apenas uma estrela de brilho médio, Alphecca ou Gemma.

 
     
 
Curiosidades


O rover Perseverance da NASA, com lançamento previsto para dia 30 de julho, vai levar com ele o primeiro veículo aéreo marciano, um pequeno helicóptero chamado Ingenuity.

 
 
   
Espetacular flash ultravioleta pode finalmente explicar como as anãs brancas explodem
 
Composição, pelo ZTF, de SN2019yvq (ponto azul perto no centro da imagem) na galáxia hospedeira NGC 4441 (galáxia amarelada no centro da imagem), quase a 140 milhões de anos-luz da Terra. SN2019yvq exibiu um flash ultravioleta raramente observado nos dias que se seguiram à explosão da anã branca.
Crédito: ZTF/A. A. Miller (Universidade Northwestern) e D. Goldstein (Caltech)
 

Apenas pela segunda vez, os astrofísicos avistaram um flash espetacular de luz ultravioleta acompanhando a explosão de uma anã branca.

Um tipo extremamente raro de supernova, o evento deverá fornecer informações sobre vários mistérios de longa data, incluindo o que faz as anãs brancas explodirem, como a energia escura acelera o cosmos e como o Universo produz metais pesados, como o ferro.

"O flash UV diz-nos algo muito específico sobre como esta anã branca explodiu," disse o astrofísico Adam Miller, da Universidade Northwestern, que liderou a investigação. "Com o passar do tempo, o material explodido afasta-se da fonte. À medida que este material fica mais fino, podemos ver cada vez mais profundamente. Após um ano, o material será tão fino que veremos até ao centro da explosão."

Nesse ponto, disse Miller, a sua equipa saberá mais sobre como esta anã branca e todas as anãs brancas - que são remanescentes densos de estrelas mortas - explodem.

O artigo científico foi publicado dia 23 de julho na revista The Astrophysical Journal.

Evento comum com um "twist" raro

Usando o ZTF (Zwicky Transient Facility) financiado pela NSF (National Science Foundation) e localizado no Observatório Palomar, perto de San Diego, EUA, investigadores descobriram pela primeira vez a supernova peculiar em dezembro de 2019 - apenas um dia depois de explodir. O evento, denominado SN2019yvq, ocorreu numa galáxia relativamente próxima, localizada 140 milhões de anos-luz da Terra, muito perto da cauda da constelação de Dragão.

"Descobrir supernovas assim que nascem foi um dos grandes motivadores do ZTF. É um objetivo desafiador, mas quando os astrónomos são capazes de o fazer, como com a recente descoberta de SN2019yvq, isso pode revelar novas informações sobre a física das supernovas e dos seus sistemas progenitores," disse o professor Shri Kulkarni do Caltech, investigador principal do ZTF.

Em poucas horas, os astrofísicos usaram o Observatório Swift [Neil Gehrels] da NASA para estudar o fenómeno em comprimentos de onda ultravioleta e raios-X. Imediatamente classificaram SN2019yvq como uma supernova do tipo Ia (pronuncia-se "um-A"), um evento razoavelmente frequente quando uma anã branca explode.

"Estas são algumas das explosões mais comuns do Universo," disse Miller. "Mas este flash UV é especial. Os astrónomos há anos que procuram estes flashes e nunca os encontraram. Até onde sabemos, esta é apenas a segunda vez que um flash UV é visto com uma supernova do tipo Ia."

"O primeiro caso é iPTF14atg. Foi descoberto pelo iPTF (intermediate Palomar Transient Factory), o antecessor do ZTF," disse Yuhan Yao, coautor deste artigo. "SN2019yvq exibe uma velocidade muito maior do que iPTF14atg, demonstrando que este fenómeno é realmente mais comum do que se pensava originalmente."

Mistério quente

O flash raro, que durou alguns dias, indica que algo dentro ou perto da anã branca estava incrivelmente quente. Dado que as anãs brancas se tornam cada vez mais frias à medida que envelhecem, o influxo de calor intrigou os astrónomos.

"A maneira mais simples de criar luz ultravioleta é ter algo muito, muito quente," disse Miller. "Precisamos de algo muito mais quente do que o nosso Sol - um factor de três ou quatro vezes mais quente. A maioria das supernovas não são tão quentes, de modo que não recebemos radiação UV muito intensa. Algo invulgar deve ter acontecido com esta supernova para criar um fenómeno tão quente."

Miller e a sua equipa pensam que esta é uma pista importante para entender porque é que as anãs brancas explodem, que tem sido um mistério de longa data no campo. Atualmente, existem várias hipóteses concorrentes. Miller está particularmente interessado em explorar quatro hipóteses diferentes, que correspondem à análise de dados de SN2019yvq pela sua equipa.

Os cenários possíveis que podem fazer com que uma anã branca expluda com um flash UV são:

  1. Uma anã branca consome a sua estrela companheira e torna-se tão grande e instável que explode. Os materiais da anã branca e da estrela companheira colidem, provocando um flash de emissão ultravioleta;
  2. O material radioativo extremamente quente no núcleo da anã branca mistura-se com as suas camadas mais externas, fazendo com que a concha exterior atinja temperaturas mais altas do que o normal;
  3. Uma camada externa de hélio inflama carbono dentro da anã branca, despoletando uma explosão dupla extremamente quente e um flash UV;
  4. Duas anãs brancas fundem-se, provocando uma explosão com material ejetado em colisão que emite radiação ultravioleta.

"Dentro de um ano," disse Miller, "seremos capazes de descobrir qual destes quatro cenários é a explicação mais provável."

 
Evolução da luz ultravioleta e visível emitida por SN2019yvq. A maioria das supernovas do tipo Ia emitem muito mais luz na região visível do espectro eletromagnético do que no ultravioleta. Como aqui visto, SN2019yvq exibiu um flash ultravioleta espetacular depois de explodir.
Crédito: A. A. Miller/Universidade Northwestern
 

Informações impressionantes

Quando os cientistas souberem o que provocou a explosão, aplicarão essas descobertas para aprender mais sobre a formação planetária e sobre a energia escura.

Como a maior parte do ferro no Universo é produzido por supernovas do tipo Ia, uma melhor compreensão deste fenómeno pode dizer-nos mais sobre o nosso próprio planeta. O ferro das estrelas que explodiram, por exemplo, formou o núcleo de todos os planetas rochosos, incluindo a Terra.

"Se quisermos entender como a Terra foi formada, precisamos de entender de onde veio o ferro e qual a quantidade necessária," disse Miller. "Compreender as maneiras pelas quais uma anã branca explode dá-nos uma compreensão mais precisa de como o ferro é criado e distribuído por todo o Universo."

Iluminando a energia escura

As anãs brancas também já desempenham um papel enorme no entendimento atual da energia escura pelos físicos. Os cientistas preveem que as anãs brancas têm todas o mesmo brilho quando explodem. De modo que as supernovas do tipo Ia são consideradas "velas padrão", permitindo que os astrónomos calculem exatamente a que distância estão estas explosões da Terra. A utilização de supernovas para medir distâncias levou à descoberta da expansão acelerada do Universo e da energia escura, uma descoberta reconhecida com o Prémio Nobel da Física em 2011.

"A maioria das galáxias estão na verdade a afastar-se de nós. Se existirem explosões de supernovas do tipo Ia em galáxias muito distantes, as suas distâncias e velocidades podem ser inferidas a partir de quão brilhantes essas supernovas parecem ser, vistas a partir da Terra," explicou Yao. "Os astrónomos descobriram que o Universo está a expandir-se a um ritmo cada vez mais rápido, e a explicação mais popular é que dois-terços do Universo são constituídos pela misteriosa energia escura."

Ao melhor entender as explosões das anãs brancas, Miller pensa que podemos melhor entender a energia escura e a rapidez com que acelera o Universo.

"De momento, ao medir distâncias, tratamos todas estas explosões da mesma forma, mas temos boas razões para pensar que existem vários mecanismos de explosão," explicou. "Se conseguirmos determinar o mecanismo exato da explosão, pensamos que podemos separar melhor as supernovas e assim fazer medições mais precisas da distância."

// Universidade Northwestern (comunicado de imprensa)
// ZTF (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
22/05/2015 - Telescópios capturam raros momentos iniciais de supernova bebé

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SN2019yvq:
TNS (UAI)

iPTF14atg:
Wikipedia

Supernovas:
Wikipedia 
Tipo Ia (Wikipedia)

Remanescente de supernova:
NASA
Wikipedia
CCVAlg - Astronomia

ZTF:
Caltech
ipac
Wikipedia

Telescópio Swift:
NASA
Wikipedia

 
   
Uma história para a origem de uma família de meteoritos invulgares
 
Amostras de uma família de meteoritos raros, incluindo o da imagem, revelam que o seu planetesimal de origem, formado nos estágios inciais do Sistema Solar, era um objeto complexo e com camadas, com um núcleo líquido e uma crosta sólida, semelhante à Terra.
Crédito: Carl Agee, Instituto de Meteorítica, Universidade do Novo México; fundo editado por MIT News
 

A maioria dos meteoritos que caem na Terra são fragmentos de planetesimais, os corpos protoplanetários mais antigos do Sistema Solar. Os cientistas pensavam que estes corpos primordiais ou derreteram completamente no início da sua história ou permaneceram como pilhas de entulho não derretido.

Mas uma família de meteoritos tem confundido os investigadores desde a sua descoberta na década de 1960. Os diversos fragmentos, encontrados por todo o mundo, parecem ter-se separado do mesmo corpo primordial, mas a composição destes meteoritos indica que este objeto estava derretido e não derretido.

Agora, investigadores do MIT e de outras instituições determinaram que o corpo parental destes meteoritos raros era de facto um objeto diferenciado e com várias camadas que provavelmente tinha um núcleo metálico. Este núcleo era suficientemente grande para gerar um campo magnético que pode ter sido tão forte quanto o campo magnético da Terra é hoje.

Os seus resultados, publicados na revista Science Advances, sugerem que a diversidade dos primeiros objetos do Sistema Solar pode ter sido mais complexa do que os cientistas supunham.

"Este é um exemplo de um planetesimal que deve ter tido camadas sólidas e líquidas. Incentiva a busca por mais evidências de estruturas planetárias compostas," diz a autora principal Clara Maurel, estudante do Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias do MIT. "Compreender todo o espectro de estruturas, de sólido a totalmente líquido, é fundamental para decifrar como os planetesimais se formaram no início do Sistema Solar."

Os coautores de Maurel incluem o professor Benjamin Weiss do mesmo departamento do MIT, juntamente com colaboradores da Universidade de Oxford, da Universidade de Cambridge, da Universidade de Chicago, do Laboratório Nacional Lawrence em Berkeley e do SwRI (Southwest Research Institute).

Ferros estranhos

O Sistema Solar formou-se há cerca de 4,5 mil milhões de anos a partir de um turbilhão superquente de gás e poeira. À medida que este disco arrefecia gradualmente, pedaços de material colidiam e fundiam-se para formar corpos progressivamente maiores, como planetesimais.

A maioria dos meteoritos que caem para a Terra têm composições que sugerem que vieram de planetesimais primitivos de dois tipos: derretidos e não derretidos. Os dois tipos de objetos, pensam os cientistas, teriam sido formados relativamente depressa, em poucos milhões de anos, no início da evolução do Sistema Solar.

Se um planetesimal se formou nos primeiros 1,5 milhões de anos do Sistema Solar, elementos radiogénicos de vida curta podiam ter derretido totalmente o corpo devido ao calor libertado pelo seu decaimento. Os planetesimais sólidos podem ter-se formado mais tarde, quando o seu material apresentava menos quantidades de elementos radiogénicos, insuficientes para os derreter.

Há poucas evidências, no registo de meteoritos, de objetos intermédios com composições não derretidas e derretidas, à exceção de uma família rara de meteoritos chamados IIE ferro.

"Estes IIE ferros são meteoritos estranhos," disse Weiss. "Mostram evidências de que vieram de objetos primordiais que nunca derreteram, mas também evidências de que vieram de um corpo completamente ou pelo menos substancialmente derretido. Nós não sabemos onde colocá-los e foi isso que nos fez debruçar sobre eles."

Zonas magnéticas

Os cientistas descobriram anteriormente que os meteoritos IIE derretidos e não derretidos tiveram origem no mesmo planetesimal antigo, que provavelmente tinha uma crosta sólida sobre um manto líquido, como a Terra. Maurel e seus colegas perguntaram-se se o planetesimal também podia ter tido um núcleo metálico derretido.

"Será que este objeto derreteu o suficiente para que o material afundasse para o centro e formasse um núcleo metálico como o da Terra?" disse Maurel. "Era essa a peça que faltava na história destes meteoritos."

A equipa argumentou que, caso o planetesimal realmente tivesse hospedado um núcleo metálico, podia muito bem ter gerado um campo magnético, semelhante à forma como o núcleo líquido da Terra produz um campo magnético. Um campo tão antigo pode ter feito com que os minerais no planetesimal "apontassem" na direção do campo, como uma agulha numa bússola. Certos minerais podem ter mantido este alinhamento durante milhares de milhões de anos.

Maurel e colegas perguntaram-se se podiam encontrar estes minerais em amostras de meteoritos IIE que haviam caído para a Terra. Obtiveram dois meteoritos, que analisaram em busca de um tipo de mineral de níquel-ferro conhecido pelas suas propriedades excecionais de registo magnético.

A equipa analisou as amostras usando o ALS (Advanced Light Source) do Berkeley Lab, que produz raios-X que interagem com os grãos minerais em escalas nanométricas, de maneira a revelar a direção magnética dos minerais.

E assim foi. Os eletrões em vários grãos estavam alinhados numa direção semelhante - evidência de que o corpo parental gerou um campo magnético, com possivelmente até várias dezenas de microtesla, equivalente à força do campo magnético da Terra. Após descartar fontes menos plausíveis, a equipa concluiu que o campo magnético era provavelmente produzido por um núcleo metálico líquido. Para gerar este campo, estimam que o núcleo deve ter tido pelo menos várias dezenas de quilómetros de diâmetro.

Tais planetesimais complexos com composição mista (com camadas derretidas, na forma de um núcleo e manto líquidos, e não derretidas na forma de uma crosta sólida), diz Maurel, provavelmente teriam levado vários milhões de anos para se formar - um período de formação que é mais do que o que os cientistas haviam assumido até recentemente.

Mas de onde, dentro do corpo original, vieram estes meteoritos? Se o campo magnético tivesse sido gerado pelo núcleo do corpo original, isso significaria que os fragmentos que finalmente caíram na Terra não podiam ter vindo do próprio núcleo. Isto porque um núcleo líquido gera apenas um campo magnético enquanto gira e está quente. Quaisquer minerais que registassem o antigo campo magnético devem tê-lo feito fora do núcleo, antes deste arrefecer completamente.

Trabalhando com colaboradores da Universidade de Chicago, a equipa realizou simulações de alta velocidade de vários cenários de formação para estes meteoritos. Estas mostraram ser possível que um corpo com um núcleo líquido colidisse com outro objeto e que esse impacto desalojasse material do núcleo. Este material migraria para zonas próximas da superfície onde os meteoritos tiveram origem.

"À medida que o corpo arrefece, os meteoritos nestas regiões imprimem este campo magnético nos seus minerais. A determinado ponto, o campo magnético decairá, mas a impressão permanece," diz Maurel. "Mais tarde, este corpo passaria por muitas outras colisões até às colisões finais que colocariam os meteoritos na trajetória da Terra."

Será que este planetesimal complexo era um "outlier" do início do Sistema Solar, ou um de muitos objetos diferenciados? A resposta, diz Weiss, pode estar na cintura de asteroides, uma região povoada por remanescentes primordiais.

"A maioria dos corpos da cintura de asteroides parece não derretido à superfície," diz Weiss. "Se finalmente conseguirmos ver o interior dos asteroides, podemos testar esta ideia. Talvez alguns asteroides estejam derretidos por dentro, e corpos como este planetesimal sejam realmente comuns."

// MIT News (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science Advances)

 


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Formação e evolução do Sistema Solar:
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Planetesimal (Wikipedia)

Meteoritos:
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Classificação de meteoritos (Wikipedia)
IIE ferro (Wikipedia)

 
   
Há metal no ar
 
Impressão de artista do Júpiter ultraquente WASP-121 b.
Crédito: NASA, ESA e G. Bacon (STScI)
 

Com temperaturas atmosféricas que variam de aproximadamente 1650º C a 3590º C, os Júpiteres ultraquentes são laboratórios naturais para a ciência planetária extrema. Por exemplos, quaisquer moléculas na atmosfera de um Júpiter ultraquente serão decompostas nos seus átomos e iões componentes. Então, o que é que pode ser encontrado na atmosfera do Júpiter ultraquente WASP-121 b?

Laboratórios de ciência extrema

Os Júpiteres ultraquentes são diferentes de qualquer planeta no nosso Sistema Solar. São enormes, mas vivem muito perto das suas estrelas hospedeiras. Esta proximidade provoca muitos fenómenos invulgares, como variações químicas entre os lados diurno e noturno do planeta.

O calor intenso que os Júpiteres ultraquentes sofrem também leva à quebra dos seus componentes atmosféricos. Vários átomos e iões metálicos foram identificados nas atmosferas dos Júpiteres ultraquentes, incluindo sódio, ferro e magnésio neutros, e titânio e cálcio ionizados. No entanto, os metais mais neutros também podem ser detetados, especialmente nas partes inferiores das atmosferas destes planetas.

Saber que metais esperar num Júpiter ultraquente ajudaria em muito as observações e as classificações destes planetas. Para este fim, um grupo de investigadores liderados por Maya Ben-Yami (Universidade de Cambridge, Reino Unido) tentou prever que metais podem ser encontrados na atmosfera de WASP-121 b e, em seguida, comparou os seus resultados com as observações do planeta.

 
O espectro de modelo de transmissão de WASP-121 b com base em contribuições do ferro, crómio, vanádio e titânio neutros.
Crédito: Ben-Yami et al., 2020
 

Criando uma métrica de metal

WASP-121 b tem sido objeto de muitos estudos ao longo dos últimos anos. Completa uma órbita em torno da sua estrela a cada 1,3 dias e tem aproximadamente a massa de Júpiter. É um bom candidato à espectroscopia de transmissão - à observação da luz estelar filtrada através da atmosfera de um planeta para aprender mais sobre a composição atmosférica - já que é grande e a sua hospedeira é muito brilhante.

Ben-Yami e colaboradores começaram a sua análise modelando abundâncias atómicas para WASP-121 b. Usaram então estas abundâncias para entender o quão fortemente a assinatura de um metal apareceria num espectro. Depois de contabilizar efeitos como a rotação estelar, o resultado final é um espectro de transmissão modelo para WASP-121 b.

Com um modelo espectral em mão, Ben-Yami e colaboradores foram capazes de quantificar a probabilidade de um metal aparecer num espectro observado de WASP-121 b. Assumindo uma qualidade razoável e ruído de sinal para o espectro, descobriram que os metais neutros mais prováveis a serem observados em WASP-121 b seriam o ferro, titânio, vanádio e cromo.

 
Da esquerda para a direita e de cima para baixo, as deteções de ferro neutro, cromo neutro, vanádio neutro e ferro ionizado. As linhas brancas tracejadas indicam onde um modelo aplicado captou o sinal mais forte, o que, se suficientemente significativo, seria uma deteção. Vsys está relacionado com a velocidade da estrela hospedeira. Kp quantifica o efeito que um planeta tem no movimento da sua estrela hospedeira.
Crédito: Adaptado de Ben-Yami et al., 2020
 

Detetores de metais funcionais

A equipa usou observações obtidas pelo espectrógrafo HARPS (High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher) no Chile para testar as suas previsões. Com base nas suas métricas, pesquisaram os quatro metais mencionados anteriormente, juntamente com o escândio, ítrio e zircónio. Não conseguiram detetar o titânio, escândio, ítrio e zircónio neutros, mas recuperaram deteções anteriores de ferro neutro e ionizado. O mais excitante é que detetaram vanádio e cromo neutros pela primeira vez.

Estas deteções e não-deteções fornecem informações sobre o papel do óxido de vanádio e do óxido de titânio nos Júpiteres ulraquentes. Pensa-se que ambas as moléculas causem desvios na relação esperada entre a altitude e a temperatura. A deteção do vanádio neutro sugere que o óxido de vanádio é quebrado enquanto a não-deteção do titânio neutro sugere que o oposto é verdadeiro para o óxido de titânio.

Além das novas deteções de vanádio e cromo neutros, este estudo sugere que é viável investigar as atmosferas mais baixas dos Júpiteres ultraquentes usando métricas baseadas em modelos e espectros de alta qualidade. Tendo em conta que WASP-121 b é assim para o mais frio (ou menos quente), resta uma grande variedade de Júpiteres ultraquentes para caracterizar.

// AAS Nova (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal Letters)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


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CCVAlg - Astronomia:
06/08/2019 - Hubble descobre exoplaneta "metálico" em forma de bola de rugby
04/08/2017 - Hubble deteta exoplaneta com brilhante atmosfera de água

WASP-121 b:
NASA
Exoplanet.eu
Open Exoplanet Catalogue
Wikipedia

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

Observatório La Silla:
ESO
Wikipedia
HARPS (ESO)
HARPS (Wikipedia)

ESO:
Página oficial
Wikipedia

 
   
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  Sonda Juno captura primeiras imagens do polo norte da lua joviana, Ganimedes (via NASA)
A caminho do seu "flyby" de Júpiter de dia 26 de dezembro de 2019, a sonda Juno passou perto do polo norte do nono maior objeto no Sistema Solar, a lua Ganimedes. As imagens infravermelhas recolhidas pelo instrumento JIRAM (Jovian Infrared Auroral Mapper) da nave espacial fornecem o primeiro mapeamento infravermelho da fronteira norte da grande lua. Ler fonte
 
   
Álbum de fotografias - MAGIC e NEOWISE
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Urs Leutenegger
 
Os telescópios MAGIC de espelhos múltiplos e 17 metros de diâmetro refletem este céu estrelado do Observatório Roque de los Muchachos do ESO na ilha de La Palma, Canárias. MAGIC significa Major Atmospheric Gamma Imaging Cherenkov e os telescópios podem ver breves flashes de luz visível produzida em chuvas de partículas no ar à medida que raios-gama altamente energéticos colidem com a atmosfera superior da Terra. No dia 20 de julho, dois dos três telescópios na imagem procuravam raios-gama do centro da nossa Galáxia, a Via Láctea. No seu reflexo, mostram as estrelas brilhantes de Sagitário e Escorpião perto do Centro Galáctico a sudeste. Para lá do complexo de espelhos, acima do horizonte a noroeste e para baixo da Ursa Maior, está o Cometa NEOWISE. NEOWISE significa Near Earth Object Wide-field Infrared Survey Explorer. É o satélite em órbita da Terra que foi usado para descobrir o cometa designado C/2020 F3.
 
   
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