Problemas ao ver este e-mail?
Veja no browser

 
 
  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
Com o apoio do Centro Ciência de Tavira
   
 
  Astroboletim #1883  
  25/03 a 28/03/2022  
     
 

Apresentação às Estrelas | Abril estrelas mil!
Data: 14 de abril de 2022
Hora: 20:30-22:30
Local: Centro Ciência Viva do Algarve
Abril é o mês da Astronomia! E o tema desta sessão vai ser mesmo só "Estrelas", sejam elas verdadeiras ou alusivas. Celebramos o Global Astronomy Month (GAM) a maior celebração de Astronomia a nível global!
Adulto: 4€
Jovem: 2€
Menores de 12 anos: gratuito.
A observação astronómica com telescópio depende de condições meteorológicas favoráveis.
Pré-inscrição: siga este link
Telefone: 289 890 920
E-mail: info@ccvalg.pt

 
     
 
Efemérides

Dia 25/03: 84.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1538, nascia Christopher Clavius, astrónomo e matemático alemão que modificou a proposta do calendário gregoriano moderno. Nos seus últimos anos foi provavelmente um dos mais respeitados astrónomos na Europa e os seus livros foram usados para a educação astronómica durante mais de 50 anos e até fora do continente europeu.
Em 1655, Christiaan Huygens descobria a maior lua de SaturnoTitã

Em 1979, o primeiro vaivém espacial completamente funcional, o Columbia, chega ao Centro Espacial John F. Kennedy, para ser preparado para lançamento.
Em 1992, o cosmonauta Sergei Krikalev regressa à Terra após 10 meses a bordo da estação espacial Mir.
Observações: Lua em Quarto Minguante, pelas 05:37.
A Ursa Maior brilha alta a nordeste por estas noites, apoiando-se na sua "pega". Provavelmente já sabe que as duas estrelas que formam a frente da "frigideira" são as estrelas-guia: apontam para a Estrela Polar, atualmente para a sua esquerda.
E provavelmente também sabe que se seguir a curva da "pega da frigideira" de Ursa Maior vai ter a Arcturo, da constelação de Boieiro.
Mas sabe que se seguir as estrelas-guia na direção oposta, chega a Leão?
Desenhe uma linha diagonal que passa o início da "pega da frigideira" da Ursa Maior e continue até chegar a Gémeos.
Forme uma linha com as duas estrelas que formam a abertura da "frigideira" e chega a Capella.

Dia 26/03: 85.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1958, o exército dos Estados Unidos lança o Explorer 3.

Observações: A brilhante estrela alta a oeste-noroeste, durante e após o cair da noite, é Capella. A sua pálida cor amarelada coincide com a do Sol, o que significa que têm mais ou menos a mesma temperatura. Mas só que Capella é muito diferente. Consiste de duas gigantes amarelas, que se orbitam uma à outra a cada 104 dias. Além disso, para observadores telescópicos, é acompanhada por um distante e íntimo par de anãs vermelhas: Capella H e L, magnitudes 10 e 13.

Dia 27/03: 86.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1845, nascia Wilhelm Röntgen, físico alemão que produziu e detetou radiação eletromagnética num comprimento de onda que hoje chamamos de raios-X, um feito que lhe valeu o Prémio Nobel da Física em 1901.
Em 1969, era lançada a Mariner 7

Em 1972, lançamento da soviética Venera 8, um veículo de aterragem que alcançou o planeta Vénus no dia 22 de julho do mesmo ano e transmitiu dados durante 50 minutos.
Observações: Não se esqueça de mudar a hora do seu relógio. Em Portugal Continental e na Madeira adiantamos uma hora às 01:00, passando para as 02:00. Nos Açores a hora adianta 60 minutos às 00:00.
Antes do amanhecer, a Lua brilha a sudeste. Olhe para a sua esquerda para ver o triângulo composto por Vénus, e pelos mais ténues planetas Saturno em Marte.

Dia 28/03: 87.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1802, Heinrich Wilhem Matthäus Olbers descobre 2 Pallas, o segundo asteroide conhecido.

Em 1993 é descoberto um remanescente de supernova na galáxia M81 (Ursa Maior), pelo astrónomo amador espanhol Francisco Garcia Diaz.
Observações:
Repita a observação de ontem, mas repare a posição da Lua: está agora para baixo do trio planetário, em vez de para a sua direita. É uma boa oportunidade fotográfica, mas tenha em atenção o clarear do dia.

 
 
   
Gaia descobre partes da Via Láctea muito mais antigas do que o esperado
 
Este mapa foi criado a partir dos dados de mais de 1,8 mil milhões de estrelas. Mostra o brilho total e a cor de estrelas observadas pelo satélite Gaia da ESA como parte do EDR3.
As regiões mais brilhantes representam concentrações mais densas de estrelas brilhantes, enquanto as regiões mais escuras correspondem a zonas do céu onde são observadas menos estrelas e mais ténues. A cor da imagem foi obtida através da combinação da quantidade total de luz com a quantidade de luz azul e vermelha registada pelo Gaia em cada zona do céu.
A brilhante estrutura horizontal que domina a imagem é o plano da nossa Galáxia. É na realidade um disco achatado visto de lado que contém a maior parte das estrelas da Via Láctea. No meio da imagem, o Centro Galáctico aparece brilhante e repleto de estrelas.
As regiões escuras no plano Galáctico correspondem a nuvens de gás e poeira interestelar no plano da frente, que absorvem a luz de estrelas mais distantes. Muitas destas nuvens escondem berçários estelares onde estão a nascer novas gerações de estrelas.
Salpicados pela imagem também estão muito enxames abertos e globulares, bem como galáxias inteiras para lá da nossa. Os dois objetos brilhantes em baixo e à direita são a Grande e a Pequena Nuvens de Magalhães, duas galáxias anãs que orbitam a Via Láctea.
Clique aqui para ver uma versão desta imagem em muito mais alta resolução.
Uma imagem complementar que mostra o mapa de densidade do Gaia está aqui disponível.
Crédito: ESA/Gaia/DPAC. Reconhecimento: A. Moitinho
 

Utilizando dados da missão Gaia da ESA, os astrónomos mostraram que uma parte da Via Láctea conhecida como "disco espesso" começou a formar-se há 13 mil milhões de anos, cerca de 2 mil milhões de anos antes do esperado, e apenas 0,8 mil milhões de anos após o Big Bang.

Este resultado surpreendente vem de uma análise realizada por Maosheng Xiang e Hans-Walter Rix, do Instituto Max Planck para Astronomia em Heidelberg, Alemanha. Tiraram dados de brilho e de posicionamento do conjunto de dados EDR3 (Early Data Release 3) do Gaia e combinaram-nos com medições das composições químicas das estrelas, fornecidas por dados do LAMOST (Large Sky Area Multi-Object Fiber Spectroscopic Telescope) da China para cerca de 250.000 estrelas a fim de derivarem a sua idade.

Optaram por olhar para estrelas subgigantes. Nestas estrelas, a energia deixou de ser gerada no núcleo da estrela, tendo-se deslocado para uma concha em torno do núcleo. A própria estrela está a transformar-se numa estrela gigante vermelha. Dado que a fase subgigante é uma fase evolutiva relativamente breve na vida de uma estrela, permite que a sua idade seja determinada com grande precisão, mas continua a ser um cálculo complicado.

 
Estrutura básica da nossa Galáxia, vista de lado. Os novos resultados da missão Gaia da ESA fornecem uma reconstrução da história da Via Láctea, em particular da evolução do chamado disco espesso.
Crédito: Stefan Payne-Wardenaar/Instituto Max Planck para Astronomia
 

Qual é a idade das estrelas?

A idade de uma estrela é um dos parâmetros mais difíceis de determinar. Não pode ser medida diretamente, tem que ser inferida através da comparação das características de uma estrela com modelos de computador de evolução estelar. Os dados relativos à composição ajudam a fazê-lo. O Universo nasceu quase exclusivamente com hidrogénio e hélio. Os outros elementos químicos, conhecidos coletivamente como metais para os astrónomos, são feitos dentro das estrelas e explodem para o espaço no final da vida de uma estrela, onde podem ser incorporados na próxima geração de estrelas. Assim, as estrelas mais antigas têm menos metais e diz-se que têm uma metalicidade inferior.

Os dados do LAMOST fornecem a metalicidade. Juntos, o brilho e a metalicidade permitem aos astrónomos extrair a idade da estrela dos modelos de computador. Antes do Gaia, os astrónomos trabalhavam com incertezas de 20-40 por cento, o que poderia resultar em que as idades determinadas fossem imprecisas em mil milhões de anos ou mais.

A publicação de dados EDR3 do Gaia altera esta situação. "Com os dados de brilho do Gaia, somos capazes de determinar a idade de uma estrela subgigante com um erro de apenas alguns pontos percentuais," diz Maosheng. Armados com idades precisas para um-quarto de milhão de estrelas subgigantes espalhadas pela Galáxia, Maosheng e Hans-Walter deram início à análise.

Anatomia da Via Láctea

A nossa Galáxia é feita de diferentes componentes. No geral, estes podem ser divididos no halo e no disco. O halo é a região esférica que rodeia o disco, e tem sido tradicionalmente pensado como sendo o componente mais antigo da Galáxia. O disco é composto por duas partes: o disco fino e o disco espesso. O disco fino contém a maioria das estrelas que vemos como a faixa de luz no céu noturno a que chamamos Via Láctea. O disco espesso tem mais do dobro da altura do disco fino, mas é menor em raio, contendo apenas uma pequena percentagem das estrelas da Via Láctea na vizinhança solar.

Ao identificar estrelas subgigantes nestas diferentes regiões, os investigadores conseguiram construir uma linha temporal da formação da Via Láctea - e foi aí que tiveram uma surpresa.

Duas fases na história da Via Láctea

As idades estelares revelaram claramente que a formação da Via Láctea tem duas fases distintas. Na primeira fase, que começou apenas 0,8 mil milhões de anos após o Big Bang, o disco espesso começou a formar estrelas. As partes internas do halo podem também ter começado a juntar-se nesta fase, mas o processo acelerou rapidamente até à sua conclusão cerca de dois mil milhões de anos depois, quando uma galáxia anã conhecida como Gaia-Salsicha-Encélado se fundiu com a Via Láctea. Preencheu o halo com estrelas e, como claramente revelado pelo novo trabalho, desencadeou o disco espesso nascente para formar a maioria das suas estrelas. O disco fino de estrelas que contém o Sol foi formado durante a subsequente segunda fase da formação da Galáxia.

A análise também mostra que após a explosão de formação estelar, desencadeada pela fusão com Gaia-Salsicha-Encélado, o disco espesso continuou a formar estrelas até que o gás foi consumido cerca de 6 mil milhões de anos após o Big Bang. Durante este tempo, a metalicidade do disco espesso cresceu por mais do que um fator de 10. Mas, notavelmente, os investigadores veem uma relação estelar muito íntima entre a idade e a metalicidade, o que indica que durante todo esse período, o gás que formava as estrelas foi bem misturado por todo o disco. Isto implica que as primeiras regiões do disco da Via Láctea devem ter sido formadas a partir de gás altamente turbulento que efetivamente espalhou os metais por todo o lado.

 
Impressão de artista da nossa Galáxia, a Via Láctea, uma "galáxia espiral barrada" com cerca de 13 mil milhões de anos que alberga algumas centenas milhares de milhões de estrelas.
À esquerda, uma vista frontal mostra a estrutura espiral do disco galáctico, onde se encontra a maioria das estrelas, intercalada por uma mistura difusa de gás e poeira cósmica. O disco mede cerca de 100.000 anos-luz de diâmetro e o Sol situa-se a cerca de meio caminho entre o seu centro e a periferia.
À direita, uma vista de lado revela a forma achatada do disco. As observações apontam para uma subestrutura: um disco fino com cerca de 700 anos-luz de altura embutido num disco espesso, com cerca de 3000 anos-luz de altura e povoado por estrelas mais antigas.
Esta vista lateral mostra também o Bojo Galáctico, localizado na porção central da Via Láctea e albergando cerca de 10 mil milhões de estrelas, que são principalmente antigas e vermelhas. O Bojo, também visível na imagem à esquerda, tem uma forma geral alongada que se assemelha à de uma barra em forma de amendoim, com meio comprimento de cerca de 10.000 anos-luz, fazendo da Via Láctea uma galáxia em espiral barrada.
Para além do disco e da protuberância está o halo estelar, uma estrutura aproximadamente esférica com um raio de cerca de 100.000 anos-luz, contendo estrelas isoladas, bem como muitos enxames globulares - grandes aglomerados compactos de algumas das estrelas mais antigas da Galáxia. Numa escala mais grandiosa, a Via Láctea está embutida num halo ainda maior de matéria escura invisível.
Crédito: esquerda - NASA/JPL-Caltech; direita - ESA; esquema - ESA/ATG medialab
 

Uma linha temporal graças ao Gaia

A idade da formação inicial do disco espesso aponta para uma imagem diferente da história inicial da nossa Galáxia. "Desde a descoberta da antiga fusão com Gaia-Salsicha-Encélado, em 2018, que os astrónomos suspeitam que a Via Láctea já existia antes da formação do halo, mas não tínhamos uma imagem clara de como era essa Via Láctea. Os nossos resultados fornecem detalhes requintados sobre essa parte da Via Láctea, tais como a data do seu nascimento, o seu ritmo de formação estelar e a história do enriquecimento metálico. A reunião destas descobertas, utilizando dados do Gaia, está a revolucionar a nossa imagem de quando e como a nossa Galáxia foi formada," diz Maosheng.

E podemos ainda não estar a olhar suficientemente longe no Universo para ver discos galácticos semelhantes em formação. Uma idade de 13 mil milhões de anos corresponde a um desvio para o vermelho de 7, onde o desvio para o vermelho é uma medida que quão longe está um objeto celeste e por isso quanto tempo a sua luz demorou a atravessar o espaço até nós.

Novas observações poderão surgir num futuro próximo, uma vez que o Telescópio Espacial James Webb foi otimizado para ver as primeiras galáxias semelhantes à Via Láctea. E, no dia 13 de junho deste ano, o Gaia lançará a sua terceira publicação completa de dados (Gaia DR3). Este catálogo vai incluir espectros e informações derivadas como idades e metalicidades, tornando estudos como o de Maosheng ainda mais fáceis de realizar.

"Com cada nova análise e publicação de dados, o Gaia permite-nos reconstituir a história da nossa Galáxia com cada vez mais detalhes. Com o lançamento do Gaia DR3 em junho, os astrónomos poderão enriquecer ainda mais esta história," diz Timo Prusti, cientista do projeto Gaia da ESA.

// ESA (comunicado de imprensa)
// Instituto Max Planck (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
21/05/2021 - Determinando idades estelares para uma perspetiva mais detalhada da "montagem" da Via Láctea
23/10/2020 - Evidência de colisão lateral com galáxia anã descoberta na Via Láctea
21/01/2020 - TESS determina idade de antiga colisão com a Via Láctea
26/07/2019 - Revelados os primeiros dias da Via Láctea
02/11/2018 - Astrónomos descobrem o gigante que moldou os primórdios da Via Láctea
10/07/2018 - A "salsicha Gaia": a grande colisão que mudou a Via Láctea

Via Láctea:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia
SEDS
Disco fino (Wikipedia)
Disco espesso (Wikipedia)

Estrela subgigante:
Wikipedia

Gaia-Salsicha-Encélado:
Wikipedia
Simulação da Salsicha Gaia (Denis Erkal via YouTube)

Gaia:
ESA
ESA - 2
Gaia/ESA
Programa Alertas de Ciência Fotométrica do Gaia
EDR3 do Gaia
SPACEFLIGHT101
Wikipedia

LAMOST:
Página principal
Wikipedia

JWST (Telescópio Espacial James Webb):
NASA
STScI
STScI (website para o público)
ESA
Wikipedia
Facebook
Twitter
Instagram
Blog do JWST (NASA)
Onde está o Webb? (NASA)
Programas DD-ERS do Webb (STScI)

 
   
Pode o asteroide Ryugu ser um cometa extinto? Os cientistas respondem!

A missão Hayabusa2 descobriu recentemente informações sobre as características físicas do asteroide "Ryugu" que, segundo a teoria convencional, se formou a partir de uma colisão entre asteroides maiores. Agora, um estudo realizado por cientistas japoneses sugere que Ryugu é, na verdade, um cometa extinto. Com um modelo físico simples que se adapta às observações atualmente disponíveis, o estudo fornece uma melhor compreensão dos cometas, dos asteroides e da evolução do nosso Sistema Solar.

Os asteroides contêm muitas pistas sobre a formação e evolução dos planetas e dos seus satélites. A compreensão da sua história pode, portanto, revelar muito sobre o nosso Sistema Solar. Embora as observações feitas à distância, utilizando ondas eletromagnéticas e telescópios, sejam úteis, a análise de amostras recuperadas de asteroides podem fornecer muito mais detalhes sobre as suas características e sobre a sua formação. A missão Hayabusa foi um esforço nesta direção que, em 2010 e após 7 anos, regressou à Terra com amostras do asteroide Itokawa.

 
O asteroide Ryugu, fotografado pela sonda Hayabusa2 no dia 26 de junho de 2018.
Crédito: JAXA, Universidade de Tóquio e colaboradores
 

A sucessora desta missão, de nome Hayabusa2, ficou concluída perto do final de 2020, trazendo para a Terra material do asteroide 162173 "Ryugu", juntamente com uma coleção de imagens e dados recolhidos remotamente a partir de íntima proximidade. Embora as amostras ainda estejam a ser analisadas, a informação obtida remotamente revelou três características importantes sobre Ryugu. Em primeiro lugar, Ryugu é um asteroide "pilha de escombros", composto por pequenos pedaços de rocha e material sólido agrupados graças à gravidade, em vez de uma única pedra monolítica. Em segundo lugar, Ryugu tem a forma de um pião, provavelmente devido a deformação induzida por rotação rápida. Em terceiro lugar, Ryugu tem um teor de matéria orgânica notavelmente elevado.

Destes, a terceira característica levanta uma questão sobre a origem deste asteroide. O consenso científico atual é que Ryugu teve origem nos destroços deixados para trás pela colisão de dois asteroides maiores. No entanto, isto não pode ser verdade se o asteroide tiver um elevado teor de conteúdo orgânico (o que será confirmado quando as análises das amostras estiverem concluídas). Qual poderia, então, ser a verdadeira origem de Ryugu?

Num esforço recente para responder a esta questão, uma equipa de investigação liderada pelo professor associado Hitoshi Miura da Universidade da Cidade de Nagoya, Japão, propôs uma explicação alternativa apoiada por um modelo físico relativamente simples. Como explicado no seu artigo publicado na revista The Astrophysical Journal Letters, os investigadores sugerem que Ryugu, bem como asteroides semelhantes do tipo "pilha de escombros", poderiam, de facto, ser remanescentes de cometas extintos. Este estudo foi realizado em colaboração com o professor Eizo Nakamura e o professor associado Tak Kunihiro da Universidade de Okayama, Japão.

Os cometas são pequenos corpos que se formam nas regiões mais exteriores e frias do Sistema Solar. São compostos principalmente de água gelada, com alguns componentes rochosos (detritos) misturados. Se um cometa entra no Sistema Solar interior - o espaço delimitado pela cintura de asteroides "antes" de Júpiter - o calor da radiação solar faz com que o gelo sublime e escape, deixando para trás destroços rochosos que compactam devido à gravidade e formam um asteroide do tipo "pilha de escombros".

 
Dados recentemente obtidos pela missão Hayabusa2 sugerem que o asteroide Ryugu é na realidade um cometa extinto que perdeu a sua água gelada devido ao calor do aumento da radiação solar após se ter aproximado da cintura interna de asteroides.
Crédito: Miura et al. (2022) | The Astrophysical Journal Letters
 

Este processo encaixa em todas as características observadas em Ryugu, explica o Dr. Miura: "A sublimação do gelo faz com que o núcleo do cometa perca massa e encolha, o que aumenta a sua velocidade de rotação. Como resultado, o núcleo cometário pode adquirir a velocidade de rotação necessária para a forma de pião. Além disso, pensa-se que os componentes gelados dos cometas contenham matéria orgânica gerada no meio interestelar. Estes materiais orgânicos seriam depositados nos detritos rochosos deixados para trás à medida que o gelo sublimasse."

Para testar a sua hipótese, a equipa de investigação realizou simulações numéricas utilizando um modelo físico simples para calcular o tempo que a água gelada levaria a sublimar e o consequente aumento de velocidade de rotação do asteroide. Os resultados da sua análise sugeriram que Ryugu passou provavelmente algumas dezenas de milhares de anos como um cometa ativo antes de entrar na secção interna da cintura de asteroides, onde as altas temperaturas vaporizaram o gelo e o transformaram num asteroide "pilha de escombros".

No geral, este estudo indica que os objetos "pilha de escombros", em forma de pião e com elevado conteúdo orgânico, tais como Ryugu e Bennu (o alvo da missão OSIRIS-REx) são objetos de transição cometa-asteroide (ou TCAs). "Os TCAs são pequenos objetos que em tempos foram cometas ativos, mas que se extinguiram e aparentemente tornaram-se indistinguíveis dos asteroides," explica o Dr. Miura. "Devido às suas semelhanças tanto com cometas como com asteroides, os TCAs poderiam fornecer novas perspetivas sobre o nosso Sistema Solar."

Esperemos que análises composicionais detalhadas das amostras, tanto de Ryugu como de Bennu, possam lançar mais luz sobre estas questões.

// Universidade da Cidade de Nagoya (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal Letters)

 


Saiba mais

Asteroide Ryugu:
JPL
Wikipedia

Hayabusa2:
JAXA
Wikipedia

Asteroide Itokawa:
Wikipedia

Sonda Hayabusa:
Universidade de Tohoku 
Wikipedia

Asteroide Bennu:
NASA
NASA - 2 
Wikipedia

OSIRIS-REx:
Página oficial
NASA
Facebook
Twitter
YouTube
Instagram
Wikipedia

 
   
Marco científico: NASA confirma 5000 exoplanetas

Não há muito tempo, vivíamos num Universo com apenas um pequeno número de planetas conhecidos, todos eles em órbita do nosso Sol. Mas uma nova fornada de descobertas assinala um marco científico: foram agora confirmados, no total, mais de 5000 planetas para lá do nosso Sistema Solar.

 
Qual é o aspeto dos planetas para lá do nosso Sistema Solar? A imagem mostra uma variedade de possibilidades. Os cientistas descobriram os primeiros exoplanetas nos anos 90. A partir de 2022, a contagem é de pouco mais de 5000 exoplanetas confirmados.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

O odómetro planetário rodou a 21 de março, com o lote mais recente de 65 exoplanetas - planetas fora da nossa família solar imediata - adicionado ao Arquivo de Exoplanetas da NASA. O arquivo regista as descobertas de exoplanetas que aparecem em artigos científicos revistos por pares e que foram confirmados utilizando múltiplos métodos de deteção ou por técnicas analíticas.

Os mais de 5000 planetas encontrados até agora incluem mundos pequenos e rochosos como a Terra, gigantes de gás muitas vezes maiores que Júpiter e "Júpiteres quentes" em órbitas abrasadoramente íntimas em torno das suas estrelas. Existem "super-Terras", que são mundos rochosos maiores do que o nosso, e "mini-Neptunos", versões mais pequenas do que Neptuno do nosso Sistema Solar. Acrescente-se à mistura planetas que orbitam duas estrelas ao mesmo tempo e planetas que teimam em orbitar os remanescentes estelares de estrelas moribundas.

"Não é apenas um número," disse Jessie Christiansen, líder científica do arquivo e cientista de investigação do Instituto de Ciência Exoplanetária da NASA em Caltech, no estado norte-americano da Califórnia. "Cada um deles é um mundo novo, um planeta novinho em folha. Fico entusiasmada com cada um deles porque não sabemos nada sobre eles."

Mas sabemos isto: a nossa Galáxia contém provavelmente centenas de milhares de milhões de exoplanetas. A batida constante da descoberta começou em 1992 com estranhos novos mundos em órbita de uma estrela ainda mais estranha. Era um tipo de estrela de neutrões conhecida como pulsar, um cadáver estelar com rotação rápida que pulsa com rajadas de radiação de milissegundos. A medição de ligeiras alterações no tempo dos pulsos permitiu aos cientistas revelar planetas em órbita em torno do pulsar.

A descoberta de apenas três planetas em torno desta estrela giratória abriu essencialmente as comportas, disse Alexander Wolszczan, autor principal do artigo que, há 30 anos atrás, revelou os primeiros planetas a serem confirmados para lá do nosso Sistema Solar.

"Se conseguimos encontrar planetas em torno de uma estrela de neutrões, os planetas têm que estar basicamente por todo o lado," disse Wolszczan. "O processo de produção de planetas tem de ser muito robusto."

Wolszczan, que ainda procura exoplanetas como professor na Universidade Estatal da Pensilvânia, diz que estamos a abrir uma nova era de descobertas que irá além da simples adição de novos planetas à lista. O TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), lançado em 2018, continua a fazer novas descobertas exoplanetárias. Mas em breve os poderosos telescópios de próxima geração e os seus instrumentos altamente sensíveis, a começar pelo recentemente lançado Telescópio Espacial James Webb, irão captar luz das atmosferas dos exoplanetas, lendo quais os gases presentes para potencialmente identificar sinais indicadores de condições habitáveis.

O Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, cujo lançamento está previsto para 2027, fará novas descobertas de exoplanetas utilizando uma variedade de métodos. A missão ARIEL (Atmospheric Remote-sensing Infrared Exoplanet Large-survey) da ESA, com lançamento previsto para 2029, irá observar as atmosferas de exoplanetas.

"Para mim, é inevitável que encontremos algum tipo de vida algures - muito provavelmente do tipo primitivo", disse Wolszczan. A estreita ligação entre a química da vida na Terra e a química encontrada por todo o Universo, bem como a deteção de moléculas orgânicas disseminadas, sugere que a deteção da própria vida é apenas uma questão de tempo, acrescentou.

 
Os mais de 5000 exoplanetas confirmados na nossa Galáxia até agora incluem uma variedade de tipos - alguns que são semelhantes aos planetas do nosso Sistema Solar, outros muito diferentes. Entre estes encontra-se uma variedade misteriosa conhecida como "super-Terras" porque são maiores do que o nosso planeta e possivelmente rochosos.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

Como encontrar outros mundos

Este quadro nem sempre pareceu tão promissor. O primeiro planeta detetado em torno de uma estrela parecida com o Sol, em 1995, revelou-se um Júpiter quente: um gigante gasoso com cerca de metade da massa do nosso próprio Júpiter numa órbita extremamente íntima, de quatro dias, em torno da sua estrela. Por outras palavras, um ano neste planeta dura apenas quatro dias.

Assim que os astrónomos aprenderam a reconhecê-los, apareceram mais planetas deste tipo nos dados de telescópios terrestres - primeiro dúzias, depois centenas. Foram encontrados utilizando o método de "oscilação": o rastreamento de movimentos ligeiros de uma estrela, provocados pela atração gravitacional de planetas em órbita. Mas mesmo assim, nada parecia ser habitável.

A descoberta de mundos pequenos e rochosos como o nosso exigiu o próximo grande salto na tecnologia de caça exoplanetária: o método de "trânsito". O astrónomo William Borucki teve a ideia de fixar detetores de luz extremamente sensíveis a um telescópio, lançando-o depois para o espaço. O telescópio olharia durante anos para um campo com mais de 170.000 estrelas, à procura de pequenas quedas no brilho das estrelas quando um planeta passava em frente, do ponto de vista do Sistema Solar.

Essa ideia foi concretizada no Telescópio Espacial Kepler.

Borucki, investigador principal da missão Kepler, missão esta agora aposentada, diz que o seu lançamento em 2009 abriu uma nova janela sobre o Universo.

"Tenho uma verdadeira sensação de satisfação e realmente de admiração pelo que existe por aí," disse. "Nenhum de nós esperava esta enorme variedade de sistemas planetários e estrelas. É realmente espantoso."

// NASA (comunicado de imprensa)
// NASA confirma 5000 exoplanetas - e contando (JPL/NASA via YouTube)
// 5000 exoplanetas: ouça os sons da descoberta - sonificação de dados (NASA via YouTube)

 


Saiba mais

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
NASA
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite):
NASA
NASA/Goddard
Programa de Investigadores do TESS (HEASARC da NASA)
MAST (Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais)
Exoplanetas descobertos pelo TESS (NASA Exoplanet Archive)
Wikipedia

RST ([Nancy Grace] Roman Space Telescope, anteriormente WFIRST):
NASA
Wikipedia
Facebook
Twitter

JWST (Telescópio Espacial James Webb):
NASA
STScI
STScI (website para o público)
ESA
Wikipedia
Facebook
Twitter
Instagram
Blog do JWST (NASA)
Onde está o Webb? (NASA)
Programas DD-ERS do Webb (STScI)

ARIEL (Atmospheric Remote-sensing Infrared Exoplanet Large-survey):
Página principal
ESA
Wikipedia

Telescópio Espacial Kepler:
NASA (página oficial)
Arquivo de dados do Kepler
Arquivo de dados da missão K2
Wikipedia

 
   
Também em destaque
  Na lua gelada Encélado, as fissuras deixam o oceano interno "ferver" (via União Geofísica Americana)
Em 2006, a nave espacial Cassini registou geysers disparados a partir da "listas de tigre" perto do polo sul da lua de Saturno, Encélado - por vezes até 200 quilogramas de água por segundo. Um novo estudo sugere como a expansão do gelo durante ciclos milenares de arrefecimento poderia por vezes rachar a superfície gelada da lua e deixar sair o seu oceano interior, fornecendo uma possível explicação para os geysers. Ler fonte
     
  Missão Roman vai testar teorias alternativas da aceleração cósmica (via NASA)
Uma equipa de cientistas previu o retorno científico de um dos levantamentos planeados do Telescópio Espacial Nancy Grace Roman da NASA, que irá analisar milhões de galáxias espalhadas pelo espaço e pelo tempo. Os enormes e profundos panoramas da missão vão proporcionar a melhor oportunidade de discernir entre as principais teorias sobre o que está a acelerar a expansão do universo. Ler fonte
 
   
Álbum de fotografias - A Nebulosa da Bolha, pelo Hubble
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: NASAESAHubble; Processamento e direitos de autor: Mehmet Hakan Özsaraç
 
As estrelas massivas podem formar bolhas. A imagem em destaque mostra talvez a mais famosa de todas as bolhas estelares, NGC 7635, também conhecida como a Nebulosa da Bolha. Embora pareça delicada, a bolha com 7 anos-luz de diâmetro fornece evidências de processos violentos. Para cima e para a esquerda do centro da Bolha está uma estrela quente de classe O, várias centenas de milhares de vezes mais brilhante e cerca de 45 vezes mais massiva que o Sol. O furioso vento estelar e a radiação intensa dessa estrela criaram a estrutura de gás brilhante contra material mais denso numa nuvem molecular em redor. A intrigante Nebulosa da Bolha e a rede de nuvens associadas encontram-se a uns meros 7.100 anos-luz de distância na direção da constelação de Cassiopeia. Esta imagem espetacular da bolha cósmica é uma composição reprocessada de dados captados anteriormente pelo Telescópio Espacial Hubble.
 
   
Arquivo | Feed RSS | Contacte o Webmaster | Remover da lista
 
       
       
   
Centro Ciência Viva do Algarve
Rua Comandante Francisco Manuel
8000-250, Faro
Portugal
Telefone: 289 890 922
E-mail: info@ccvalg.pt
Centro Ciência Viva de Tavira
Convento do Carmo
8800-311, Tavira
Portugal
Telefone: 281 326 231 | Telemóvel: 924 452 528
E-mail: geral@cvtavira.pt
   

Os conteúdos das hiperligações encontram-se na sua esmagadora maioria em Inglês. Para o boletim chegar sempre à sua caixa de correio, adicione noreply@ccvalg.pt à sua lista de contactos. Este boletim tem apenas um caráter informativo. Por favor, não responda a este email. Contém propriedades HTML e classes CSS - para vê-lo na sua devida forma, certifique-se que o seu cliente de webmail suporta este tipo de mensagem, ou utilize software próprio, como o Outlook ou outras apps para leitura de mensagens eletrónicas.

Recebeu esta mensagem por estar inscrito na newsletter de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve e do Centro Ciência Viva de Tavira. Se não a deseja receber ou se a recebe em duplicado, faça a devida alteração clicando aqui ou contactando o webmaster.

Esta mensagem destina-se unicamente a informar e está de acordo com as normas europeias de proteção de dados (ver RGDP), conforme Declaração de Privacidade e Tratamento de dados pessoais.

2022 - Centro Ciência Viva do Algarve | Centro Ciência Viva de Tavira

ccvalg.pt cvtavira.pt