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METANO EM MARTE PERMANECE AINDA UM MISTÉRIO
5 de Novembro de 2008

 

Já sabemos da existência de metano na atmosfera de Marte há mais de quatro anos. Mas não sabemos de onde é que vem. Na Terra, o metano é produzido por agentes biológicos: decomposição vegetal ou flatulência de grandes animais como as vacas. Mas, claro, com as nossas extensas explorações de Marte, com rovers e câmaras de alta-resolução a partir de órbita, temos a certeza que não existem equivalentes bovinos ruminando por pastos no Planeta Vermelho. Mesmo que a vida tivesse existido no passado de Marte, o metano é quebrado rapidamente pela luz solar, e os cientistas calcularam que o metano deveria existir por apenas umas quantas centenas de anos na atmosfera marciana. A única possibilidade é que, de algum modo, quimica ou biologicamente, o metano esteja sendo substituído numa base regular. E agora, dois recentes trabalhos científicos delineando descobertas separadas em Marte tornam este metano ainda mais intrigante.

O metano foi descoberto em Marte por três grupos independentes em 2003-2004. Uma detecção foi feita através da sonda Mars Express, outra usou observações dos telescópios Keck II e Gemini Sul, e a terceira usou o telescópio do Canadá-França-Hawaii.

E o mistério de como o metano em Marte está sendo reabastecido continua a baralhar os cientistas, seguindo as suas observações num esforço de melhor compreender o que está acontecer no planeta. Michael Mumma do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, Maryland, foi um dos descobridores do metano. As suas observações e da sua equipa, ao longo dos últimos quatro anos, mostram que o metano não está espalhado uniformemente em torno de Marte, mas concentrado em vários locais "quentes". Observaram que nuvens de metano, podendo medir centenas de quilómetros, formam-se por cima destes locais e dissipam-se em apenas um ano - muito menos tempo que os 300-600 anos que se pensava ser o tempo necessário para o metano atmosférico ser destruído pela luz solar. Se o metano está a ser destruído tão rapidamente, também deve estar a ser criado muito mais rapidamente do que se pensava. Humma detalhou estes resultados o mês passado numa conferência de ciência planetária.

Um destes locais é Nili Fossae, uma fissura que sofreu erosão e está parcialmente preenchida por sedimentos e material rico em argilas, ejectado a partir de uma cratera vizinha. Poderá existir um ecossistema vivo, aí escondido por baixo da superfície marciana? Na Terra, os micróbios subterrâneos sobrevivem sem luz solar, sem oxigénio, ou contacto com a superfície. Além do mais, esta boa perspectiva torna-se mais interessante quando se sabe que na Terra, a maioria dos micróbios subterrâneos são organismos primitivos unicelulares que alimentam o seu metabolismo com energia química a partir do seu ambiente. Estes micróbios são chamados "metanogenes" porque fabricam metano como produto de excreção.

Nili Fossae é um dos possíveis locais de aterragem do Mars Science Laboratory, a próxima geração de rover actualmente com lançamento previsto para o próximo ano.

Mas os astrobiólogos não põem de parte a possibilidade de algum tipo de processo químico corrente em Marte, que pode estar a produzir o metano. Mas mesmo esta teoria é interessante, porque significa que existem processos activos no interior de Marte. Uma ideia proposta num artigo recente é que clatratos de metano encontram-se perto da superfície marciana, e estão constantemente a libertar pequenas quantidades de metano à medida que as temperaturas e pressões perto da superfície mudam. Os clatratos de metano são formas sólidas de água que contêm uma grande quantidade de metano dentro da sua estrutura cristalina.

Caroline Thomas e seus colegas da Universidade de Franche-Comte, dizem que os clatratos podem apenas existir perto da superfície de Marte se a atmosfera tivesse já sido rica em metano. De outro modo, os clatratos nunca poderiam-se ter formado. Uma possibilidade diz que a atmosfera terá sido uma vez temporariamente enriquecida pelo impacto de um cometa. Além do mais, a decoberta de depósitos de hematite cinzenta cristalina à superfície pode ser prova de uma antiga atmosfera marciana rica em metano.

Caso contrário, dizem os investigadores, a única outra possibilidade tem origem biológica.

"Os nossos resultados mostram que os hidratos (clatratos) ricos em metano podem ser estáveis à subsuperfície de Marte apenas se uma atmosfera primitiva rica em CH4 tivesse existido ou se uma fonte subsuperficial de CH4 tivesse estado (ou está) presente," escrevem os investigadores.

Então que significa tudo isto? O rover Mars Science Laboratory pode ter a capacidade de descobrir, ou pelo menos de nos aproximar da resolução deste mistério. Caso contrário, será necessária uma grande descoberta pelas outras sondas e telescópios a observar Marte. Mas é possível que não consigamos compreender totalmente porque Marte tem metano até que nós, seres humanos, viajemos até lá.

Links:

Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
2004/11/16 - Marte, metano e cientistas
2004/12/21 - Gigante rover irá procurar vida em Marte
2005/02/18 - Uma lufada de vida em Marte
2005/12/20 - Bactérias marcianas pode encontrar-se por baixo do gelo

Notícias relacionadas:
New Scientist
The Physics arXiv blog
Artigo científico (formato PDF)
Nature (requer subscição)

Mars Science Laboratory:
NASA
Wikipedia

Mars Express:
Página oficial da ESA
Wikipedia

Marte:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia

 


A sonda da ESA Mars Express foi uma das fontes da descoberta de metano em Marte.
Crédito: ESA
(clique na imagem para ver versão maior)


Concepção de artista do próximo rover a explorar Marte, o Mars Science Laboratory, com lançamento previsto para 2009.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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