Têm havido intensos debates ao longo dos anos acerca da existência de água gelada na Lua. Em breve, duas sondas da NASA vão ajudar a responder a esta questão ao observar a escuridão permanente das crateras no pólo Sul da Lua.
As duas novas sondas, a Lunar Reconnaissance Orbiter e a LCROSS, têm lançamento previsto para esta semana, a primeira missão lunar da NASA em mais de uma década. Qualquer gelo que descubram pode não ser só usado para matar a sede de um astronauta, mas também para fornecer combustível aos foguetões em aventuras para lá da Lua.
Todas as rochas lunares recolhidas até agora sugerem que a sua superfície é seca, e que qualquer água presa em cometas que aí colidiram é logo evaporada pelo Sol, à excepção de umas poucas moléculas de água apanhadas em pequenas pérolas de vidro vulcânico.
Mesmo assim, existem crateras profundas nos pólos da Lua que não recebem luz solar há já 2 mil milhões de anos ou mais, e no frio destas sombras permanentes - -200º C - os investigadores sugeriram que o gelo possa sobreviver, explica Anthony Colaprete, investigador principal da sonda LCROSS da NASA (Lunar Crater Observation and Sensing Satellite).
As controversas evidências acerca da existência de água na Lua começaram a aparecer em 1996 com a sonda Clementine, um projecto da NASA e do Pentágono. Os estudos de radar da superfície lunar reflectiram de volta do pólo sul o tipo de sinais que se esperaria de gelo e de outros compostos gelados.
No entanto, estudos posteriores com o rádio-telescópio de Arecibo em Porto Rico revelaram reflexos "mesmo de áreas expostas à luz solar, locais demasiado quentes para a água gelada sobreviver," disse Colaprete. Isto sugeriu que os reflexos que a Clementine observou podem não ter vindo de água mas de aglomerados de rochas.
Mas em 1998, a sonda Lunar Prospector da NASA também detectou sinais de água, desta vez em ambos os pólos. Os seus instrumentos analisaram neutrões absorvidos por uma variedade de elementos na superfície da Lua, incluíndo hidrogénio. A sonda descobriu hidrogénio concentrado nos pólos da Lua, no qual os cientistas conjecturaram que pudesse ter vindo de moléculas de água, pois cada contém dois átomos de hidrogénio. Os investigadores especularam que os pólos da lua contêm qualquer coisa como três mil milhões de toneladas de gelo.
O problema é que a Lunar Prospector podia medir apenas o hidrogénio, e não em que matéria estava. Em vez de gelo, o hidrogénio poderia vir de água agregada a argilas, ou protões do vento solar, ou do tipo de moléculas carregadas com carbono de cometas que poderão ter sido parte da sopa orgânica no qual se desenvolveu a vida na Terra, "ou uma mistura de todas estas coisas," disse Colaprete.
A LCROSS consiste de duas sondas que irão colidir com a Lua. A sua irmã, a Lunar Reconnaissance Orbiter, mapeará a Lua de órbita e trabalhará com outros aspectos terrestres e espaciais para estudar os impactos LCROSS.
Ao analisar a pluma, os cientistas esperam responder, de uma vez por todas, à questão da existência de água.
Qualquer gelo que exista na Lua poderá ser a chave para o futuro da Humanidade no espaço. Embora possa fornecer água aos colonos para beber e plantar alimentos, mais importante, pode ser dividida para fazer hidrogénio e oxigénio, combustível para foguetões.
"Lançar algo no vaivém espacial custa entre 7.000 e 11.000 Euros por galão (3,79 litros), por isso estamos a falar de aproximadamente 72.000 Euros para levar um galão de água até uma órbita baixa em torno da Terra," afirma Colaprete. "Se conseguirmos usar os pólos lunares como recursos, podemos usá-los como bases para ir para outras partes da Lua, ou para além da Lua, para além de Marte ou Europa ou qualquer outro local. Não precisaríamos de levar milhões de litros de combustível, podíamos produzi-los na Lua."
Além do mais, o gelo lunar pode ter permanecido intocado durante milhares de milhões de anos, por isso pode "servir como uma fantástica cápsula do tempo," afirma. "Este gelo pode vir de uma altura em que a Terra, a Lua e o Sistema Solar interior num todo estavam ainda em evolução, numa altura em que moléculas orgânicas poderão ter sido entregues à Terra. O que atinge a Lua também atinge a Terra."
Se existir aí gelo, a LCROSS também poderá determinar em que forma se encontra - se se encontra espalhado em pequenos grãos pelas crateras, ou em blocos maiores. Isto poderá ser importante para o modo como o gelo poderá ser minado - se os astronautas simplesmente o podem recolher em qualquer lado ou se precisam de procurar regiões com gelo.
"Os resultados que iremos obter poderão ser críticos para a determinação de como exploramos e usamos a Lua," finaliza Colaprete.
Links:
Notícias relacionadas:
SPACE.com
New Scientist
New York Times
Lunar Reconnaissance Orbiter:
NASA
Wikipedia
LCROSS:
NASA
Wikipedia
Lua:
Núcleo de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve
Wikipedia |
|

A sonda Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA vai começar uma série de missões robóticas com o objectivo de explorar a Lua antes de um regresso humano.
Crédito: NASA/GSFC
(clique na imagem para ver versão maior)

Esta ilustração da NASA representa como a água gelada pode permanecer escondida nas profundezas de crateras no pólo Sul, em sombra permanente.
Crédito: NASA/GSFC

Interpretação de artista da sonda LCROSS da NASA observando o primeiro impacto do estágio superior do seu foguetão, antes da própria colidir com o pólo Sul da Lua.
Crédito: NASA
(clique na imagem para ver versão maior)
|