O DESPERTADOR MAIS IMPORTANTE DO SISTEMA SOLAR
17 de Janeiro de 2014
Às 10 horas da próxima Segunda-feira, o despertador mais importante do Sistema Solar vai acordar a sonda espacial Rosetta da ESA.
A Rosetta está perseguindo o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko e, desde o seu lançamento em 2004, fez três passagens pela Terra e uma por Marte com o objectivo de ganhar velocidade suficiente e colocar-se numa trajectória em direcção ao cometa. Ao longo do caminho também encontrou os asteróides Steins e Lutetia.
Operando apenas a energia solar, a sonda foi colocada em sono profundo em meados de 2011 enquanto viajava para longe do Sol e em direcção à órbita de Júpiter. Para se preparar para este sono prolongado, a Rosetta foi orientada de modo a que os seus painéis solares ficassem apontados para o Sol e com uma rotação minuto a minuto para estabilidade. Os seus únicos dispositivos ligados eram o computador e alguns aquecedores.
Trinta e um meses depois, a órbita da Rosetta trouxe-a de volta até "apenas" 673 milhões de quilómetros do Sol, onde finalmente tem energia solar suficiente para alimentar todos os seus instrumentos. Está na hora de acordar.
O computador da Rosetta está programado para realizar uma sequência de eventos e restabelecer contacto com a Terra no dia 20 de Janeiro, começando com um "despertador" às 10:00 (hora de Portugal). Imediatamente depois, os seguidores de estrelas da sonda começam a aquecer, levando cerca de seis horas.
Em seguida, os seus propulsores serão disparados para parar a lenta rotação. Será feito um ligeiro ajuste na orientação da Rosetta para garantir que os painéis solares ainda estão directamente apontados para o Sol, antes que os seguidores estelares sejam ligados para determinar a atitude da nave espacial.
Assim que a atitude seja estabelecida, a Rosetta virar-se-á directamente para a Terra, ligará o seu transmissor e apontará a sua antena de alto-ganho para enviar o sinal que anuncia que está acordada. Por causa da grande distância da Rosetta - pouco mais de 807 milhões quilómetros da Terra - o sinal demorará 45 minutos até alcançar as estações terrestres. A primeira oportunidade para receber um sinal cá na Terra está prevista entre as 17:30 e as 18:30 (hora de Portugal).
As antenas de rastreamento profundo ficarão a ouvir o sinal, começando com a estação de 70 metros da NASA em Goldstone, no estado americano da Califórnia, seguida (à medida que a Terra gira) pela estação de Canberra no leste da Austrália. A antena New Norcia de 35 metros da ESA, na Austrália Ocidental, será a próxima na linha de espera do sinal.
Assim que o sinal seja recebido, será retransmitido imediatamente para o Centro de Operações da ESA (ESOC - ESA’s Operations Centre) em Darmstadt, na Alemanha. Este emocionante momento será anunciado ao mundo imediatamente via a conta da Rosetta no Twitter, @ESA_Rosetta.
Assim que os controladores da missão verifiquem a saúde da Rosetta, cada um dos seus instrumentos científicos serão novamente ligados e verificados, um esforço que vai demorar vários meses, enquanto a sonda continua a percorrer os restantes 9 milhões de quilómetros que a separam do cometa.
Em Maio, a Rosetta vai fazer uma grande manobra de alinhamento de modo a alcançar o seu alvo cometário em Agosto. Se tudo correr bem, tornar-se-á na primeira missão espacial a encontrar-se com um cometa, a primeira a tentar fazer uma aterragem e a primeira a seguir um cometa à medida que este dá a volta ao Sol.
Os cometas são considerados os blocos de construção primitivos do Sistema Solar e provavelmente ajudaram a "semear" a Terra com água, e talvez até mesmo os ingredientes para a vida. Mas ainda permanecem muitas questões fundamentais sobre estes objectos enigmáticos, e através do estudo compreensivo e detalhado do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, a Rosetta tem como objectivo desvendar os seus segredos.
Impressão de artista da sonda Rosetta.
Crédito: ESA, AOES Medialab
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Impressão de artista da Rosetta a libertar o "lander" Philae até ao cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Após uma longa fase de mapeamento entre Agosto e Setembro de 2014, será escolhido um local de aterragem para o Philae levar a cabo medições "in situ" em Novembro. A imagem não está à escala; a sonda Rosetta mede 32 metros em diâmetro incluindo os painéis solares, enquanto o cometa deve ter aproximadamente 4 km em diâmetro.
Crédito: ESA-C. Carreau/ATG medialab
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