EQUIPA DA STARDUST ANUNCIA DESCOBERTA DE POTENCIAIS PARTÍCULAS DE POEIRA INTERESTELAR
19 de Agosto de 2014
Entre as amostras recolhidas por cientistas que estudam a carga da sonda Stardust da NASA, desde o seu regresso à Terra em 2006, estão sete partículas microscópicas e raras de poeira interestelar que datam dos primórdios do Sistema Solar. A ser confirmado, estas partículas serão as primeiras amostras de poeira interestelar contemporânea.
Uma equipa de cientistas tem vasculhado o colector de aerogel e alumínio da sonda desde que a Stardust regressou em 2006. As sete partículas provavelmente vieram de fora do nosso Sistema Solar, talvez criadas numa explosão de supernova há milhões de anos atrás e alteradas pela exposição ao ambiente extremo do espaço.
O relatório da pesquisa aparece na edição de 15 de Agosto da revista Science. Doze outros artigos sobre as partículas serão publicados esta semana na revista Meteoritics & Planetary Science.
"Estes são os objectos mais difíceis que alguma vez teremos no laboratório para estudo, e o progresso que já fizemos na sua análise é um triunfo só por si," afirma Michael Zolensky, curador do laboratório Stardust no Centro Espacial Johnson da NASA e co-autor do artigo da Science.
A Stardust foi lançada em 1999 e regressou à Terra no dia 15 de Janeiro de 2006. O reservatório de amostras da Stardust foi transportado para o Centro Espacial Johnson onde os colectores permanecem preservados e protegidos para estudo científico.
Dentro do recipiente, uma bandeja parecida a uma raquete de ténis capturou as partículas em aerogel de sílica quando a sonda passou a 240 km de um cometa em Janeiro de 2004. Um lado oposto desta bandeja contém partículas de poeira interestelar capturadas pela sonda durante a sua viagem de sete anos e 4,8 mil milhões de quilómetros.
Os cientistas alertam que são necessários mais testes adicionais antes que possam dizer definitivamente que estas partículas são detritos do espaço interestelar. Mas se forem, as partículas podem ajudar a explicar a origem e evolução da poeira interestelar.
As partículas são muito mais diversificadas em termos de composição química e estrutura que os cientistas esperavam. As partículas mais pequenas são muito diferentes das maiores e parecem ter histórias diferentes. Muitas das partículas maiores têm sido descritas como tendo uma estrutura macia, semelhante a um floco de neve.
Duas das partículas, cada uma com apenas aproximadamente dois micrómetros (milésima de milímetro) em diâmetro, foram isoladas após o seu rasto ter sido descoberto por um grupo de cientistas-cidadãos. Estes voluntários, que se auto-intitulam "Dusters", estudaram mais de um milhão de imagens como parte de um projecto da Universidade da Califórnia, em Berkeley, EUA, que se revelou crítico para encontrar estas "agulhas num palheiro".
Um terceiro rasto, seguindo a direcção do vento durante o voo, foi deixado por uma partícula que aparentemente movia-se tão depressa - mais de 15 quilómetros por segundo - que vaporizou-se. Os voluntários identificaram rastos deixados por outras 29 partículas, que se determinou terem sido expulsas da sonda até aos colectores.
Quatro das partículas anunciadas na Science foram encontradas em folhas de alumínio entre os azulejos da bandeja do colector. Embora as folhas não fossem originalmente tidas em conta como superfícies de recolha de poeira, uma equipa internacional liderada pela física Rhonda Stroud do Laboratório Naval de Pesquisa do EUA pesquisou estas folhas e identificou quatro "covas" microscópicas com material composto por elementos que se encaixam no perfil de partículas de poeira interestelar.
Três destas quatro partículas, com apenas poucas décimas de micrómetro, contêm compostos de enxofre, que alguns astrónomos argumentam não ocorrer na poeira interestelar. Uma equipa de investigação preliminar planeia continuar a analisar os restantes 95% das folhas para eventualmente encontrar partículas suficientes para compreender a variedade e origens da poeira interestelar.
As supernovas, gigantes vermelhas e outras estrelas evoluídas produzem poeira interestelar e fabricam elementos pesados como o carbono, azoto e oxigénio, necessários para a vida. Duas partículas, apelidadas Orion e Hylabrook, passarão por mais testes para determinar as suas quantidades isotópicas de oxigénio, o que pode fornecer evidências ainda mais fortes da sua origem exosolar.
Cientistas do Centro Espacial Johnson já digitalizaram metade dos painéis a várias profundidades e transformaram estas digitalizações em filmes, que foram colocados online, onde os "Dusters" podem ter acesso e procurar rastos de partículas.
Assim que vários "Dusters" marquem um rasto provável, Andrew Westphal (autor principal do artigo da Science) e a sua equipa verificam as identificações. Em um milhão de "frames" já digitalizadas, cada com meio milímetro quadrado, os Dusters encontraram 69 rastos, enquanto Westphal encontrou dois. Trinta e um destes foram extraídos pelos cientistas, juntamente com o aerogel em redor, para serem analisados na Universidade da Califórnia.
O maior rasto de poeira interestelar descoberto na bandeja de aerogel da Stardust é um buraco de 35 micrómetros de comprimento produzido por uma partícula de 3 picogramas que provavelmente viajava tão depressa que se vaporizou no momento do impacto. Os outros dois grãos prováveis de poeira interestelar viajavam muito mais lentamente e permaneceram intactos após um pouso suave no aerogel.
Crédito: Andrew Westphal, Universidade da Califórnia em Berkeley
(clique na imagem para ver versão maior)
O maior rasto de poeira interestelar descoberto na bandeja de aerogel da Stardust é um buraco de 35 micrómetros de comprimento produzido por uma partícula de 3 picogramas que provavelmente viajava tão depressa que se vaporizou no momento do impacto. Os outros dois grãos prováveis de poeira interestelar viajavam muito mais lentamente e permaneceram intactos após um pouso suave no aerogel.
Crédito: Andrew Westphal, Universidade da Califórnia em Berkeley
(clique na imagem para ver versão maior)