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ENCONTROS PRÓXIMOS DO TIPO ESTELAR
1 de setembro de 2017

 


Impressão de artista do Gaia a mapear as estrelas da Via Láctea.
Crédito: ESA/ATG medialab; fundo - ESO/S. Brunier
(clique na imagem para ver versão maior)

 

Os movimentos de mais de 300.000 estrelas estudadas pelo satélite Gaia da ESA revelam que encontros próximos raros com o nosso Sol podem perturbar a nuvem de cometas nos confins do nosso Sistema Solar, enviando alguns na direção da Terra no futuro distante.

À medida que o Sistema Solar se move através da Galáxia, e à medida que outras estrelas se movem nas suas órbitas, os "encontros próximos" são inevitáveis - embora "próximo" ainda signifique muitos biliões de quilómetros.

Uma estrela, dependendo da sua massa e velocidade, precisaria chegar até cerca de 60 biliões de quilómetros antes de começar a ter um efeito no distante reservatório de cometas do Sistema Solar, a Nuvem de Oort, que se pensa estender-se até 15 biliões de quilómetros do Sol, cerca de 100.000 vezes a distância Terra-Sol.

Em comparação, o planeta mais distante, Neptuno, orbita a uma distância média de aproximadamente 4,5 mil milhões de quilómetros, ou 30 vezes a distância Terra-Sol.

A influência gravitacional das estrelas que passam perto da Nuvem de Oort pode perturbar os percursos dos cometas que aí residem, expelindo-os para órbitas que os aproximam do Sistema Solar interior.

Embora se pense que estas perturbações sejam responsáveis por alguns dos cometas que aparecem nos nossos céus a cada cem a mil anos, também têm o potencial de colocar cometas numa rota de colisão com a Terra ou com os outros planetas.

Compreender as movimentações passadas e futuras das estrelas é um objetivo fundamental do Gaia, pois recolhe dados precisos sobre posições e movimentos estelares ao longo da sua missão de cinco anos. Após 14 meses, o primeiro catálogo de mais de mil milhões de estrelas foi divulgado recentemente, que incluiu as distâncias e movimentos, em todo o céu, de mais de dois milhões de estrelas.

Ao combinar os novos resultados com informações existentes, os astrónomos começaram uma investigação detalhada e em larga-escala de estrelas que passavam perto do nosso Sol.

Até agora, os movimentos de mais de 300.000 estrelas, em relação ao Sol, foram traçados através da Via Láctea e a sua aproximação máxima foi determinada até cinco milhões de anos no passado e futuro.

Destas, descobriu-se que 97 vão passar até 150 biliões de quilómetros, enquanto 16 chegam a 60 biliões de quilómetros.

Embora estes 16 encontros sejam considerados razoavelmente próximos, destaca-se um encontro particularmente próximo, o da estrela Gliese 710, daqui a 1,3 milhões de anos. Prevê-se que passe a apenas cerca de 2,3 biliões de quilómetros (aproximadamente 16.000 vezes a distância Terra-Sol), bem dentro da Nuvem de Oort.

A estrela já está bem documentada e, graças aos dados do Gaia, a distância estimada do encontro foi recentemente atualizada. Anteriormente, havia um grau de certeza de 90% que passaria a 3,1-13,6 biliões de quilómetros. Agora, os dados mais precisos sugerem que passará a 1,5-3,2 biliões de quilómetros, sendo 2,3 biliões de quilómetros a distância mais provável.

Além disso, embora Gliese 710 tenha uma massa correspondente a 60% da massa do Sol, viaja muito mais devagar que a maioria das estrelas: quase 50.000 km/h na maior aproximação, em comparação com a média de 100.000 km/h.

A velocidade da passagem significa que terá muito mais tempo para exercer a sua influência gravitacional sobre os corpos da Nuvem de Oort, potencialmente enviando enxames de cometas na direção do Sistema Solar.

Apesar da sua velocidade mais lenta, aquando da aproximação máxima, ainda aparecerá como o objeto mais brilhante e veloz do céu noturno.

Igualmente importante, o estudo mais recente usou as medições do Gaia para fazer uma estimativa geral da frequência de encontros estelares, levando em consideração incertezas como estrelas que podem não ter sido observadas no catálogo existente.

Para 5 milhões de anos no passado e no futuro, a frequência global de encontros está estimada em aproximadamente 550 estrelas por cada milhão de anos, chegando até 150 biliões de quilómetros, das quais cerca de 20 alcançam uma distância de 30 biliões de quilómetros.

Isto equivale, aproximadamente, a um potencial encontro "próximo" a cada mais ou menos 50.000 anos. É importante realçar que não é garantida a perturbação de cometas pela estrela, de modo a entrarem nas regiões internas do Sistema Solar e, caso isso aconteça, que a Terra esteja na "linha de fogo".

Estas estimativas serão refinadas com os lançamentos futuros dos dados do Gaia. O segundo está calendarizado para abril de 2018, contendo a informação de aproximadamente 20 vezes o número de estrelas do primeiro catálogo, e também de estrelas muito mais distantes, permitindo a reconstrução até 25 milhões de anos no passado e no futuro.

 


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Links:

Cobertura da missão Gaia pelo Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
27/06/2017 - Cérebro artificial ajuda Gaia a encontrar estrelas velozes
17/02/2017 - Estrelas desaparecidas da vizinhança solar revelam velocidade do Sol e distância do Centro da Via Láctea
10/02/2017 - Nuvens de Magalhães estão ligadas por uma "ponte" de estrelas
16/09/2016 - O mapa de mil milhões de estrelas do Gaia sugere um tesouro vindouro
28/08/2015 - O primeiro ano de observações científicas do Gaia
07/07/2015 - Contando estrelas com o Gaia
21/01/2014 - Dados do Gaia-ESO mostram que Via Láctea pode ter sido formada de dentro para fora
20/12/2013 - Lançamento do Observatório Gaia

Notícias relacionadas:
ESA (comunicado de imprensa)
Artigo científico (PDF - Astronomy & Astrophysics)
PHYSORG

Via Láctea:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia

Gliese 710:
Wikipedia

Gaia:
ESA
ESA - 2
Arquivo de dados do Gaia
SPACEFLIGHT101
Wikipedia

 
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