"TOUPEIRA" DO INSIGHT TERMINA A SUA VIAGEM EM MARTE 19 de janeiro de 2021
Nesta impressão de artista do "lander" InSight da NASA em Marte, podem ser vistas camadas da subsuperfície do planeta, e diabos marcianos no plano de fundo.
Crédito: IPGP/Nicolas Sarter
A sonda de calor desenvolvida e construída pelo Centro Aeroespacial Alemão (DLR) e implantada em Marte pelo "lander" InSight da NASA terminou a sua parte da missão. Desde 28 de fevereiro de 2019 que a sonda de calor, chamada de "toupeira", tenta penetrar na superfície marciana para medir a temperatura interna do planeta, fornecendo detalhes sobre o motor térmico interno que impulsiona a evolução e a geologia de Marte. Mas a tendência inesperada do solo de se aglomerar privou a toupeira em forma de espigão da fricção necessária para se martelar até uma profundidade suficiente.
Depois de colocar o topo da toupeira a cerca de 2 ou 3 centímetros abaixo da superfície, a equipa tentou pela última vez usar a pá no braço robótico do InSight para raspar terra para a sonda e comprimi-la para fornecer atrito adicional. Depois da sonda ter realizado 500 golpes de martelo adicionais no sábado, dia 9 de janeiro, sem nenhum progresso, a equipa decidiu terminar os seus esforços.
Parte de um instrumento chamado HP3 (Heat Flow and Physical Properties Package), a toupeira é uma "estaca" com 40 centímetros de comprimento e com sensores de temperatura, ligada ao módulo InSight por um cabo. Estes sensores foram construídos para medir o calor que flui do planeta, assim que a toupeira cavasse até pelo menos 3 metros de profundidade.
"Demos tudo o que temos, mas Marte e a nossa toupeira heroica permanecem incompatíveis," disse Tilman Spohn do DLR, investigador principal do HP3. "Felizmente, aprendemos muito que beneficiará as missões futuras que tentam escavar o subsolo."
Enquanto o "lander" Phoenix da NASA raspou a camada superior da superfície marciana, nenhuma missão antes da do InSight tentou escavar o solo. Isto é importante por uma série de razões: os futuros astronautas podem precisar de escavar o solo para aceder à água gelada, enquanto os cientistas querem estudar o potencial da subsuperfície em sustentar vida microbiana.
"Estamos muito orgulhosos da nossa equipa que trabalhou arduamente para levar a toupeira do InSight mais fundo no planeta. Foi incrível vê-los a resolver problemas a milhões de quilómetros de distância," disse Thomas Zurbuchen, administrador associado para ciência na sede da agência espacial em Washington. "É por isso que corremos riscos na NASA - temos que empurrar os limites da tecnologia para aprender o que funciona e o que não funciona. Nesse sentido, fomos bem-sucedidos: aprendemos muito que beneficiará futuras missões a Marte e a outros lugares, e agradecemos aos nossos parceiros alemães da DLR por terem fornecido este instrumento e pela sua colaboração."
Sabedoria conquistada a ferros
As propriedades inesperadas do solo perto da superfície, ao lado do InSight, serão estudadas pelos cientistas nos próximos anos. O design da toupeira foi baseado no solo visto por missões anteriores a Marte - solo que se mostrou muito diferente do que a toupeira encontrou. Durante dois anos, a equipa trabalhou para adaptar o instrumento único e inovador a estas novas circunstâncias.
"A toupeira é um instrumento sem herança. O que tentámos fazer - escavar tão fundo com um dispositivo tão pequeno - não tem precedentes," disse Troy Hudson, cientista e engenheiro do JPL da NASA em Pasadena, no sul da Califórnia, que liderou esforços para que a toupeira penetrasse na crosta marciana. "Ter tido a oportunidade de levar isto até ao fim é a maior recompensa."
Além de aprender mais sobre o solo neste local, os engenheiros ganharam experiência inestimável no que toca a operar o braço robótico. De facto, usaram o braço e a pá de várias formas que nunca pretendiam no início da missão, incluindo pressioná-la contra a toupeira para esta penetrar no solo. O planeamento dos movimentos e o ajuste preciso com os comandos que enviavam ao InSight fez com que a equipa crescesse.
E vão colocar em prática, no futuro, a sua sabedoria conquistada a ferros. A missão pretende utilizar o braço robótico para enterrar o cabo que transmite dados e energia entre o módulo de aterragem e o seu sismómetro, que registou mais de 480 sismos marcianos. Esta manobra ajudará a reduzir as mudanças de temperatura que criam ruído nos dados sísmicos.
Há bastante mais ciência por vir do InSight. A NASA estendeu a missão por mais dois anos, até dezembro de 2022. Juntamente com a caça aos sismos, o "lander" hospeda uma experiência de rádio que está a recolher dados para revelar se o núcleo do planeta é líquido ou sólido. E os sensores meteorológicos do InSight são capazes de fornecer alguns dos dados climatéricos mais detalhados já obtidos em Marte. Juntamente com os instrumentos meteorológicos a bordo do rover Curiosity e em breve com o novo rover Perseverance, que pousará a 18 de fevereiro, os três veículos marcianos vão criar a primeira rede meteorológica noutro planeta.
A "toupeira", uma sonda de calor que viajou a bordo do módulo InSight da NASA, enquanto tentava martelar-se a ela própria no dia 9 de janeiro de 2021, o 754.º dia marciano, ou sol, da missão. Desde 28 de fevereiro de 2019 que tentam enterrar a toupeira. Sem sucesso, a equipa da missão decidiu terminar os seus esforços.
Crédito: NASA/JPL-Caltech