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MISSÃO CUMPRIDA PARA O COROT
28 de Junho de 2013

 

Depois de uma missão que durou o dobro do tempo planeado, o telescópio CoRoT (COnvection ROtation et Transits planétaires) do CNES (Centre National d'Etudes Spatiales) - capaz de ouvir a música dos céus e caçar planetas - deverá ser retirado de serviço. O seu espólio notável de resultados permitiu aos cientistas avançar da detecção de exoplanetas até ao seu estudo em detalhe, abrindo também uma nova janela para o interior das estrelas.

Lançado a 26 de Dezembro de 2006, o telescópio espacial CoRoT - uma iniciativa francesa sob a supervisão do CNES pelo Observatório de Paris com contribuições de vários laboratórios de pesquisa franceses e estrangeiros - estabeleceu novos padrões na ciência.

Um satélite pioneiro concebido para estudar as estrelas e procurar por planetas extra-solares, o CoRoT rapidamente demonstrou a sua capacidade para adquirir medições ultra-precisas do brilho das estrelas, operando quase continuamente durante períodos de vários meses. E a recolha resultante de resultados sem precedentes está ainda longe de terminar, já que as equipas científicas ainda estão analisando os dados.

À luz dos sucessos alcançados, o CNES e seus parceiros decidiram prolongar a missão do CoRoT - inicialmente prevista durar três anos - duas vezes, primeiro em 2009 e depois novamente em 2012. Mas após enfrentar 6 anos de bombardeamento intenso de partículas altamente energéticas no espaço, o seu instrumento parou de enviar dados a 2 de Novembro de 2012 e as equipas de engenharia no CNES e no centro francês CNRS de pesquisa foram incapazes de recuperar o instrumento. Uma série de operações serão agora realizadas para diminuir a órbita do CoRoT e serão efectuadas algumas experiências tecnológicas. A sua viagem terminará quando arder ao reentrar na atmosfera da Terra.

Na sua busca por exoplanetas, o CoRoT foi pioneiro na exploração de pequenos planetas com a descoberta do primeiro exoplaneta tipo-Terra confirmado em órbita de uma estrela semelhante ao nosso Sol, provando, assim, o valor da observação espacial. Ao todo, desde então revelou 32 planetas e mais de 100 aguardam confirmação.

Apoiados por uma vasta rede de telescópios complementares no solo, os cientistas obtiveram informações preciosas sobre os planetas descobertos pelo CoRoT, como o raio, massa e densidade - informações que revelam a sua estrutura interna e composição - e a inclinação e excentricidade da órbita. Números à parte, o que é notável sobre estes planetas é a sua extraordinária diversidade, especialmente no domínio dos gigantes gasosos.

Alguns dos planetas descobertos, como CoRoT-7b, orbitam a sua estrela em menos de 24 horas. CoRoT-9b, por outro lado, tem um período orbital de 95 dias, é um dos poucos exoplanetas de trânsito conhecidos que é "ameno". As densidades planetárias também variam surpreendentemente: CoRoT-20b, por exemplo, é quase duas vezes mais denso que a Terra, sugerindo que o seu interior é muito rico em elementos pesados cuja origem é difícil de explicar com os modelos actuais de formação planetária, enquanto outros, como CoRoT-26b, são ainda menos densos que Saturno e revelam-se anormalmente grandes. O CoRoT foi também o primeiro a obter medições do raio de anãs castanhas, objectos intermédios entre um planeta e uma estrela.

As teorias sobre a formação e evolução de sistemas planetários, com base até à década de 1990 apenas no conhecimento do nosso próprio Sistema Solar, foram "escancaradas" com a descoberta por telescópios terrestres dos primeiros planetas extrasolares com órbitas e massas muito diferentes. Mas sem informações mais precisas, quaisquer suposições sobre a sua natureza permaneciam difíceis. A missão espacial CoRoT, complementada por observações a partir do solo, portanto, levou a ciência exoplanetária desde a idade da detecção até à caracterização real e estudos detalhados.

O CoRoT e os telescópios terrestres também inovaram através do estudo combinado de estrelas e dos seus planetas, observando as suas interacções, efeitos de marés nas estrelas e o impacto do brilho de uma estrela sobre a estrutura de um planeta.

O CoRoT revolucionou a física estelar em igual extensão. Ao medir as frequências e amplitudes das vibrações estelares com uma precisão sem precedentes, abriu literalmente um novo campo de estudo: a análise temporal da micro-variabilidade das estrelas.

Tal como os instrumentos musicais, as frequências de vibração das estrelas são uma assinatura única que nos diz mais sobre a sua estrutura, funcionamento e idade. Entre os ricos resultados do CoRoT, a descoberta de vibrações comparáveis às do Sol em estrelas muito diferentes, aquelas nomeadamente mais velhas ou massivas, é um achado fundamental que irá ajudar os cientistas a melhor compreender o funcionamento interno das estrelas, onde todos os ingredientes dos planetas e da vida são fabricados.

A nossa Galáxia está repleta de gigantes vermelhas, estrelas que estão perto do final da sua vida. O CoRoT mostrou que as propriedades de oscilação são um indicador da sua massa, raio e idade exacta, e conseguiu medi-las nos confins da Galáxia. Quando combinado com as medições da posição e velocidade do GAIA (Global Astrometric Interferometer for Astrophysics), este resultado chave dará novas informações sobre o passado e futuro destas regiões exteriores da Via Láctea.

Embora o CoRoT deixe um legado significativo, muitos sucessores já estão em linha. Na ESA, a missão CHEOPS (CHaracterising ExOPlanets Satellite), seleccionada em 2012 e com lançamento previsto para 2017, e as missões EChO (Exoplanet Characterisation Observatory) e Platão competindo para lançamento em 2024, todas vão beber ao património do CoRoT. No chão, inúmeras campanhas de detecção exoplanetária estão também em andamento. Do outro lado do Atlântico, o satélite Kepler da NASA - que também parou de transmitir - seguiu os passos do CoRoT em 2009 e a futura missão TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) foi recentemente seleccionada. Em 2012, apesar dos sucessos alcançados pelo Kepler, a maioria dos downloads de dados do CoRoT foram solicitados a partir dos EUA.

Links:

Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
27/12/06 - Chegou a vez do CoRoT
04/02/09 - CoRoT descobre o planeta extrasolar mais pequeno até agora
19/03/09 - Medido o primeiro exoplaneta temperado
29/05/09 - Observadas fases em planeta extrasolar
18/09/09 - Primeiras sólidas provas da existência de um planeta extrasolar rochoso
02/10/09 - Chovem rochas em CoRoT-7b
09/08/11 - Super-Terras: a nova classe de corpos planetários

Notícias relacionadas:
CNES (comunicado de imprensa - formato PDF)
Universe Today
Sky & Telescope
PHYSORG

Missão CoRoT:
Página oficial 
ESA
Wikipedia

CoRoT-7b:
Wikipedia
Exoplanet.eu

CoRoT-9b:
Wikipedia
Exoplanet.eu

CoRoT-20b:
Exoplanet.eu

Planetas extrasolares:
Wikipedia
Lista de planetas confirmados (Wikipedia)
Lista de planetas não confirmados (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares
Exosolar.net

CNES:
Site oficial
Wikipedia

GAIA:
ESA
Wikipedia

CHEOPS:
ESA
Site oficial
Wikipedia

EChO:
ESA
Site oficial
Wikipedia

Telescópio Espacial Kepler:
NASA (página oficial)
Arquivo de dados do Kepler
Descobertas planetárias do Kepler
Mapa das zonas de estudo do Kepler (formato PDF)
Wikipedia

TESS:
NASA
Wikipedia


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Impressão de artista do satélite COROT a observar um trânsito planetário (obviamente não à escala).
Crédito: CNES
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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