Top thingy left
 
"BELA ADORMECIDA" DA ESA ACORDA DO SEU SONO PROFUNDO
21 de Janeiro de 2014

 

Foi um desfecho de capítulo típico de um conto de fadas. A longínqua sonda espacial Rosetta fez-se ouvir pela primeira vez em 31 meses.

A Rosetta está a perseguir o Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko e tornar-se-á na primeira missão espacial a encontrar-se com um cometa, a primeira a tentar aterrar na sua superfície e a primeira a seguir um cometa à medida que dá a volta ao Sol.

Desde o seu lançamento em 2004, a Rosetta fez três "flybys" pela Terra e um por Marte em ordem a ganhar velocidade para o seu encontro com o 67P/Churyumov-Gerasimenko, cruzando-se pelo caminho com os asteróides Steins e Lutetia.

Operando apenas a energia solar, a Rosetta foi colocada num profundo estado de hibernação em Junho de 2011 à medida que se afastava quase 800 milhões de quilómetros do calor do Sol, para lá da órbita de Júpiter.

Agora, como a órbita da Rosetta a trouxe até "apenas" 673 milhões de quilómetros do Sol, existe novamente energia solar suficiente para alimentar a sonda totalmente.

Ontem, ainda a cerca de 9 milhões de quilómetros do cometa, o alarme interno e pré-programado da Rosetta acordou-a. Depois de aquecer os seus principais instrumentos de navegação, de sair de uma rotação de estabilização e de apontar a sua antena para a Terra, a Rosetta enviou um sinal para avisar os operadores que tinha sobrevivido à parte mais distante da sua jornada.

O sinal foi recebido pelas estações terrestres Goldstone e Canberra da NASA às 18:18 (hora de Portugal), durante a primeira janela de oportunidade que a sonda tinha para comunicar com a Terra. Foi confirmado imediatamente pelo centro de operações espaciais da ESA em Darmstadt, Alemanha, e o acordar bem-sucedido foi anunciado através da conta Twitter @ESA_Rosetta, que enviou: "Hello, World!"

"Temos o nosso caçador de cometas de volta," afirma Alvaro Giménez, Director de Exploração Científica e Robótica da ESA. "Com a Rosetta, vamos levar a exploração cometária a outro nível. Esta incrível missão continua a marcar a nossa história em cometas, com base nos avanços tecnológicos e científicos da nossa primeira missão de espaço profundo, Giotto, que enviou as primeiras imagens obtidas [de perto] de um núcleo de cometa, quando passou pelo Halley em 1986.

Os cometas são considerados os blocos de construção primitivos do Sistema Solar e provavelmente ajudaram a "semear" a Terra com água, talvez até mesmo com ingredientes da vida. Mas ainda permanecem por responder muitas questões fundamentais, e através do estudo compreensivo do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, a Rosetta tem por objectivo desvendar segredos escondidos.

"Todas as outras missões cometárias têm sido passagens rasantes, capturando momentos fugazes na vida destas arcas de tesouro geladas," afirma Matt Taylor, cientista do projecto Rosetta da ESA. "Com a Rosetta, vamos acompanhar diariamente a evolução de um cometa durante mais de um ano, dando-nos uma perspectiva única sobre o comportamento de um cometa e, finalmente, ajudando-nos a decifrar o seu papel na formação do Sistema Solar."

Mas primeiro que tudo as verificações essenciais da saúde da sonda têm que ser concluídas. Depois, serão ligados os onze instrumentos na sonda e os dez no "lander".

"Vamos passar alguns meses a preparar a sonda e os seus instrumentos para os desafios operacionais exigidos por um longo estudo detalhado de um cometa que, até que cheguemos lá, não conhecemos bem," realça Andrea Accomazzo, gerente de operações da Rosetta.

As primeiras imagens do 67P/Churyumov-Gerasimenko pela Rosetta são esperadas em Maio, quando a sonda estiver ainda a 2 milhões de quilómetros do seu alvo. No final de Maio, a sonda executará uma grande manobra com o objectivo de se alinhar para o seu encontro crítico com o cometa em Agosto.

Após o encontro, a Rosetta começará com dois meses de mapeamento da superfície do cometa, fará também importantes medições da gravidade, massa e forma do cometa e avaliará a sua atmosfera (ou cabeleira) gasosa e poeirenta. Também estudará o ambiente de plasma a analisará como este interage com a atmosfera exterior do Sol, o vento solar.

Usando estes dados, os cientistas vão escolher um local de aterragem para o "lander" Philae de 100 kg. Esta está actualmente prevista para 11 de Novembro e será a primeira vez que é tentada uma aterragem num cometa.

Na verdade, dada a gravidade quase negligenciável do núcleo cometário de 4 km, o Philae terá de usar parafusos e arpões para impedi-lo de ressaltar de volta ao espaço após a aterragem.

Entre a sua vasta gama de medições científicas, o Philae enviará de volta um panorama das áreas circundantes, bem como fotos de alta-resolução da superfície. Também realizará uma análise da composição dos gelos e de material orgânico, incluindo uma perfuração até 23 cm de profundidade e recolha de amostras que serão analisadas por um laboratório a bordo do Philae.

O foco da missão passará então para a fase de "escolta", durante a qual a Rosetta acompanhará o cometa durante a sua aproximação ao Sol, monitorizando as condições em constante mudança na superfície à medida que aquece e os seus gelos sublimam.

O cometa alcançará a sua distância mais próxima do Sol a 13 de Agosto de 2015 a cerca de 185 milhões de quilómetros, aproximadamente entre as órbitas da Terra e de Marte. A Rosetta seguirá o cometa durante o resto do ano, à medida que se afasta do Sol e a sua actividade começa a diminuir.

"Vamos enfrentar muitos desafios este ano, enquanto exploramos o território desconhecido do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko e tenho a certeza que haverá muitas surpresas, mas hoje estamos apenas extremamente felizes por estar novamente a comunicar com a sonda," conclui Matt Taylor.

Links:

Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
17/01/2014 - O despertador mais importante do Sistema Solar
13/07/2010 - Rosetta triunfa no asteróide Lutetia
13/11/2009 - Será que o "flyby" da Rosetta indica uma nova física exótica? 
06/11/2009 - Rosetta faz último "flyby" pela Terra a 13 de Novembro 
06/09/2008 - Rosetta passa por Steins: um diamante no céu 
03/09/2008 - Contagem decrescente para "flyby" por asteróide 
28/02/2007 - A semana dos "flybys" 
01/06/2004 - Primeira observação científica da Rosetta 
12/03/2004 - Escolhidos os dois asteróides para aproximação da Rosetta 
09/03/2004 - Sonda Rosetta finalmente lançada

Notícias relacionadas:
ESA (comunicado de imprensa)
Rosetta acorda (via YouTube)
NASA
Science
Sky & Telescope
Space Daily
Universe Today
SPACE.com
New Scientist
PHYSORG
Spaceflight Now
redOrbit
Discovery News
BBC News
RT
Reuters
UPI
ars technica
RTP
Diário de Notícias
Visão

Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko:
Wikipedia
ESA

Sonda Rosetta:
ESA
Blog da Rosetta - ESA
Twitter
Como a Rosetta vai orbitar o cometa (YouTube - New Scientist)
Wikipedia


comments powered by Disqus

 


Sinal que assinala o acordar da Rosetta.
Crédito: ESA
(clique na imagem para ver versão maior)


Impressão de artista da sonda Rosetta e do "lander" Philae, aterrando no cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko.
Crédito: ESA-J. Huart, 2013
(clique na imagem para ver versão maior)

 
Top Thingy Right