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COMO ATERRAR NUM COMETA
11 de Novembro de 2014

 

De um modo geral, as missões espaciais caem numa de três categorias: difícil, mais difícil e ridiculamente difícil.

As passagens rasantes são difíceis. Uma nave espacial viaja centenas de milhões de quilómetros através do vazio e escuro do espaço, aponta para um planeta distante ou lua, passa a 30.000-50.000 km/h e furiosamente captura fotos durante um encontro dolorosamente breve.

Entrar em órbita é mais difícil. Em vez de passar pelo seu alvo, a nave em aproximação trava, mudando a sua velocidade apenas o suficiente para começar a girar em torno do planeta. Um movimento errado e a nave entra na atmosfera, tornando-se num meteoro não intencional.

Aterrar é ridiculamente difícil. Basta ver o vídeo "Sete Minutos de Terror" da NASA. Se assistirmos às fases de aterragem do rover Curiosity (pára-quedas, retrofoguetes e guindaste aéreo) raramente não nos arrepiamos. Desde que a Era Espacial começou, as agências espaciais da Terra conseguiram pousar em apenas seis corpos: Vénus, Marte, a Lua, Titã e nos asteróides 433 Eros e Itokawa.

Numa manobra que pode definir uma nova categoria de dificuldade, a ESA está prestes a acrescentar um sétimo membro à lista. Amanhã, dia 12 de Novembro, a sonda Rosetta vai libertar um módulo chamado "Philae" na superfície do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.

"Quão difícil é esta aterragem?" pergunta Art Chmielewski, gerente da secção americana do projecto Rosetta no JPL, EUA. "Considere isto: o cometa estará a mover-se 40 vezes mais depressa que uma bala, rodopiando, expelindo gás e dando as boas-vindas à Rosetta na superfície com pedregulhos, fendas, escarpas e possivelmente metros de poeira!"

A Rosetta vai deixar cair o Philae a partir de uma altura de 22,5 km à medida que o cometa gira livremente abaixo. Sem navegação activa durante a lenta descida.

"Ao contrário das aterragens passadas, cujo reconhecimento havia sido feito anteriormente - em Marte, por exemplo mapeámos o planeta com bastante antecedência - a Rosetta apenas começou a conhecer o seu alvo há cerca de dois, três meses atrás," explica Claudia Alexander, cientista da secção americana do projecto Rosetta. "Isto introduz muito mais risco."

A Rosetta chegou ao cometa 67P no dia 6 de Agosto de 2014. O que encontrou foi chocante. O núcleo do cometa tem uma forma estranha (um observador comparou-o com um patinho de borracha), dominada por um par de lóbulos unidos por um "pescoço" repleto de pedregulhos. A escolha de um local de pouso não seria fácil.

A Rosetta passou mais de um mês a estudar o cometa antes dos engenheiros e cientistas se reunirem na França para tomarem a sua decisão.

"Nenhum dos locais candidatos preenchia os critérios operacionais a 100%," afirma Stephan Ulamec, gerente do projecto Philae no DLR (Centro Aeroespacial Alemão), mas "Agilkia é claramente a melhor solução."

Agilkia é um local relativamente plano, sem pedregulhos, no lóbulo mais pequeno do cometa. Recebe muita luz solar para os painéis do Philae e tem uma boa linha de visão para comunicações com a Rosetta que orbita acima.

A descida vai levar cerca de sete horas, um processo longo que pode ser animado por jactos imprevisíveis de gás que emergem do núcleo do cometa.

Pensava que sete minutos de terror era mau? "Estas serão Sete Horas de Terror," afirma Alexander. E tendo em conta a distância até à Terra, ainda teremos que esperar 28 minutos e 20 segundos para o sinal chegar assinalando que tudo correu bem... ou não.

Se tudo correr bem, o Philae vai aterrar à velocidade que um ser humano caminha e implantar arpões para se fixar à superfície. Um conjunto de 10 sensores no módulo, incluindo uma broca para recolha de amostras e um instrumento acústico para analisar a estrutura sub-superficial do cometa, podem então começar um estudo sem precedentes de um cometa à "queima-roupa".

"O cometa é diferente de qualquer outro corpo planetário onde já tentámos aterrar," afirma Alexander. "A aterragem bem-sucedida do Philae será um feito incrível para a humanidade!"

 

Cronologia da descida planeada do Philae

Terça-feira, dia 11 de Novembro:

  • 19:30 GMT: Primeiro sinal "go/no-go" é dado após uma análise dos sistemas críticos para confirmar que a Rosetta se encontra na trajectória correcta para libertar a sua preciosa carga;
  • Meia-noite GMT: Segundo "go/no-go" que confirma que as instrucções da separação do Philae da Rosetta, e da sua aterragem no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, foram correctamente carregadas. A Rosetta está preparada.

Quarta-feira, dia 12 de Novembro:

  • 01:35 GMT: Terceiro "go/no-go" que confirma a saúde e estado do Philae. O robot está agora pronto para a aterragem;
  • 06:03 GMT: A Rosetta realiza a manobra final de pré-entrega para se colocar na trajectória correcta à distância de 22,5 km do centro do cometa;
  • Entre as 06:35 e as 07:35 GMT: O "go/no-go" final para a separação do Philae - a verificação final de que a Rosetta, o Philae, a órbita, as estações terrestres, os sistemas terrestres e as equipas estão preparadas para a aterragem;
  • 08:35 GMT: O Philae tem que se auto-ejectar da Rosetta para começar a sua descida de sete horas em direcção ao cometa;
  • 09:03 GMT: Se tudo tiver corrido bem, o sinal da Rosetta que confirma a separação do Philae deverá chegar à Terra;
  • 10:53 GMT: O primeiro sinal do Philae, enviado via Rosetta, tem chegada prevista à Terra. Este irá indicar que os dois módulos estabeleceram com sucesso as comunicações;
  • Cerca das 15:34 GMT: O Philae aterra em 67P;
  • Por volta das 16:02 GMT, com uma janela de uma hora: o sinal que confirma a aterragem chega à Terra - terminando a espera dos controladores terrestres, quatro vezes maior que os chamados "sete minutos de terror" que o sinal do rover Curiosity demorou quando aterrou em Marte em 2012;
  • O Philae está construído para obter e transmitir as primeiras imagens da superfície do 67P quase imediatamente após a aterragem, e para começar as suas experiências científicas da missão durante pelo menos uma semana.

Links:

Cobertura da missão Rosetta pelo Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
07/11/2014 - Adeus "J", olá Agilkia
28/10/2014 - O "perfume" do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko
17/10/2014 - ESA confirma local de aterragem do Philae
30/09/2014 - Philae com aterragem prevista para 12 de Novembro
16/09/2014 - Está escolhido o local de aterragem do Philae
26/08/2014 - Onde é que o Philae vai aterrar?
08/08/2014 - A nave Rosetta chega ao seu cometa de destino
05/08/2014 - Sonda Rosetta chega a cometa esta semana
01/04/2014 - Philae está acordado!
17/01/2014 - O despertador mais importante do Sistema Solar
13/07/2010 - Rosetta triunfa no asteróide Lutetia
13/11/2009 - Será que o "flyby" da Rosetta indica uma nova física exótica? 
06/11/2009 - Rosetta faz último "flyby" pela Terra a 13 de Novembro 
06/09/2008 - Rosetta passa por Steins: um diamante no céu 
03/09/2008 - Contagem decrescente para "flyby" por asteróide 
28/02/2007 - A semana dos "flybys" 
01/06/2004 - Primeira observação científica da Rosetta 
12/03/2004 - Escolhidos os dois asteróides para aproximação da Rosetta 
09/03/2004 - Sonda Rosetta finalmente lançada

Notícias relacionadas:
Science@NASA
NASA
Vídeo (via YouTube)
PHYSORG
EarthSky
SPACE.com
Spaceflight Now
redOrbit
Popular Mechanics
TIME
euronews
euronews - 2
BBC News
CNN

Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko:
Wikipedia
ESA

Sonda Rosetta:
ESA
Blog da Rosetta - ESA
NASA
Vídeo da descida e operações científicas do Philae (ESA - YouTube)
Curta "Aterrando num cometa" (DLR - YouTube)
Curta "Ambition" (ESA - YouTube)
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Wikipedia
Philae (Wikipedia)


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Impressão de artista da sonda Rosetta a entregar o módulo de aterragem Philae ao cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.
Crédito: ESA-J. Huart, 2013
(clique na imagem para ver versão maior)


Imagem que mostra a posição do local de aterragem primário para o "lander" Philae da sonda Rosetta.
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para Equipa OSIRIS MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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