O LEGADO DAS MISSÕES VOYAGER
5 de setembro de 2017
Esta impressão de artista mostra a Voyager 1 da NASA a entrar no espaço interestelar, o espaço entre as estrelas.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
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As gémeas Voyager 1 e 2 ainda estão em funcionamento e a viajar onde nenhuma nave espacial já esteve antes. Hoje, dia 5 de setembro, assinalamos o 40.º aniversário do lançamento da Voyager 1 e refletimos sobre a visão que inspirou a missão, os seus maiores feitos e o seu legado duradouro.
Em agosto de 2012, a Voyager 1, depois de percorrer mais de 19 mil milhões de quilómetros, deixou o nosso Sistema Solar e entrou no espaço interestelar. A Voyager 2, agora a mais de 16 mil milhões de quilómetros da Terra, deverá juntar-se à sua gémea pioneira, no espaço interestelar, nos próximos anos. Quarenta anos após os seus lançamentos sucessivos, as Voyagers visitaram mais planetas, descobriram mais luas e fotografaram mais lugares únicos do que qualquer outro veículo espacial da História.
A primeira sonda a passar pelos quatro planetas gigantes do Sistema Solar exterior, a Voyager produziu um verdadeiro tesouro de dados científicos. Entre os muitos marcos da missão:
A única nave espacial a visitar Úrano e Neptuno (Voyager 2) e a primeira a fotografar os anéis de Júpiter, Úrano e Neptuno;
A primeira sonda a descobrir vulcões ativos para lá da Terra (Io) e múltiplas luas dos quatro planetas exteriores: três novas luas em Júpiter, quatro em Saturno, 11 em Úrano e cinco em Neptuno;
Primeira deteção de relâmpagos noutro planeta que não a Terra (Júpiter) e a primeira sugestão de um oceano para lá da Terra (por baixo da crosta de Europa);
O programa Voyager preparou o caminho para várias missões da NASA. As missões Galileo e Juno a Júpiter e a missão Cassini a Saturno tiveram as suas origens na ciência das Voyagers. Os seus dados revelaram a turbulenta atmosfera de Júpiter. Hoje, como resultado das antevisões das Voyagers, a Juno observa de perto as tempestades de Júpiter e descobriu ciclones com quase o tamanho da Terra em ambos os polos.
A missão Europa Clipper, agora em desenvolvimento, é um orbitador que irá basear-se na experiência das Voyagers. Com lançamento previsto para o início da década de 2020, e o seu potencial sucessor - um "lander" que aterrará em Europa - será um sucessor lógico para a exploração desta lua joviana, procurando evidências de vida para lá da Terra. As descobertas das Voyagers também inspiraram uma missão futura de volta à fascinante lua vulcânica de Júpiter, Io, estando a sonda Io Observer listada como uma das principais prioridades científicas da linha de missões New Frontiers da NASA em fevereiro de 2007.
Em Saturno, a complexidade e variedade da estrutura do sistema de anéis, conforme revelado pela missão Voyager, surgiu como uma completa surpresa. Foi observada pela primeira vez a bizarra tempestade hexagonal no polo norte de Saturno. Titã revelou-se ser uma bola laranja com uma atmosfera nublada e tão densa que a superfície não podia ser observada.
Os gigantes gelados Úrano e Neptuno permanecem por explorar desde que a Voyager 2 passou por Úrano em 1986 e por Neptuno em 1989, mas isso poderá mudar nos próximos anos. O atual Levantamento de Ciência Decenal, que cobre 2013-2022, lista um regresso a Úrano ou Neptuno como uma prioridade futura.
A Voyager 2 passou a cerca de 5000 km do topo das nuvens polares norte de Neptuno a fim de observar a lua Tritão. Esta foi a trajetória mais próxima de qualquer dos planetas exteriores e iniciou o desenvolvimento de trajetórias de precisão para suportar "flybys" íntimos. No presente, a Cassini atravessou as plumas da lua gelada de Saturno, Encélado, a apenas 15 km da superfície. Esta corajosa passagem pode ser traçada até ao sucesso do "flyby" rasante por Neptuno realizado pela Voyager 2 com o objetivo de observar Tritão.
O princípio de assistência gravitacional foi de importância crítica para a viagem das Voyagers pelos planetas exteriores. A Voyager 2 acertou em cheio na assistência gravitacional para passar por Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno. Desde então, muitas missões empregaram assistências gravitacionais para poupar combustível e para reduzir drasticamente a quantidade de tempo que leva para alcançar destinos no Sistema Solar exterior. Embora o "Grand Tour" das Voyagers não tivesse incluído Plutão, uma assistência gravitacional da New Horizons por Júpiter enviou a nave para lá do planeta anão em julho de 2015, completando o reconhecimento inicial do Sistema Solar. A OSIRIS-REx também receberá uma assistência gravitacional da Terra no dia 22 de setembro para acelerar a sonda até ao asteroide Bennu. A MESSENGER recebeu assistências da Terra e de Vénus, e três assistências distintas do próprio Mercúrio antes entrar em órbita deste planeta. A Cassini recebeu dois impulsos gravitacionais de Vénus, um da Terra e outro de Júpiter a caminho de Saturno.
As descobertas da Voyager 1 não pararam com os "flybys" planetários. As Voyagers têm uma lista impressionante de feitos enquanto continuam a sua viagem para o desconhecido:
Primeira nave espacial a deixar a heliosfera e a entrar no espaço interestelar em 2012 (Voyager 1);
Primeira medição da intensidade total de raios cósmicos no espaço interestelar, campo magnético galáctico no espaço interestelar e densidade do meio interestelar (Voyager 1);
Primeiras medições do choque de terminação do vento solar (Voyager 2).
Além desta ciência transformadora, as Voyagers capturaram a imaginação do mundo com uma espécie de cápsula do tempo em ambas as sondas - o Disco Dourado. Os registos duplos estão repletos com imagens e sons que fornecem um instantâneo da vida e cultura da Terra, caso as naves espaciais entrem em contato com futuros viajantes espaciais. Tal como Carl Sagan realçou: "O lançamento desta 'garrafa' no oceano cósmico diz algo muito promissor sobre a vida neste planeta."
É esperançoso pensar na possibilidade de que num futuro muito distante, quando o nosso Sol se tornar numa gigante vermelha, a nossa Terra deixar de ser habitável, que os humanos - possivelmente - sobreviveram o tempo suficiente para deixar este "ninho" por outro lar, seguindo o caminho forjado pelas missões Voyager. É inspirador pensar que daqui a milhares de milhões de anos as Voyagers ainda permanecerão como embaixadoras da Terra - cada, uma cápsula no tempo, de uma época em que audaciosos exploradores no nosso Pálido Ponto Azul deixaram a casa rumo aos confins do nosso sistema planetário, rumo às estrelas.
Esta cobertura de alumínio e ouro foi desenhada para proteger os Discos Dourados das Voyager 1 e 2 de bombardeamentos de micrometeoritos. Ambos têm imagens e sons da Terra.
Crédito: NASA
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