PRIMEIROS RESULTADOS CIENTÍFICOS DO "FLYBY" DA NEW HORIZONS POR ULTIMA THULE 21 de maio de 2019
Esta composição do binário de contacto 2014 MU69 (com a alcunha Ultima Thule) - capa da edição de 17 de maio da revista Science - foi compilada a partir de dados obtidos pela sonda New Horizons da NASA quando passou pelo objeto no dia 1 de janeiro de 2019. A imagem combina dados de cor melhorados (perto do que o olho humano veria) com imagens pancromáticas de alta-resolução.
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI/Roman Tkachenko
A equipa da missão New Horizons da NASA publicou o seu perfil do mundo mais distante já explorado, um bloco de construção planetária e objeto da Cintura de Kuiper chamado 2014 MU69.
Analisando apenas os primeiros conjuntos de dados recolhidos durante o "flyby" de Ano Novo de 2019 da New Horizons por MU69 (apelidado de Ultima Thule), a equipa da missão rapidamente descobriu um objeto muito mais complexo do que o esperado. A equipa publicou os seus primeiros resultados científicos e interpretações revistas por pares - apenas quatro meses depois da passagem rasante - na edição de 17 de maio da revista Science.
Os dados iniciais resumidos na revista Science revelam muito sobre o desenvolvimento, a geologia e a composição do objeto. É um binário de contacto com dois lóbulos distintamente diferentes. Com cerca de 36 quilómetros de comprimento, Ultima Thule é composto por um lóbulo maior e estranhamente achatado (chamado "Ultima") ligado a um lóbulo mais pequeno e mais redondo (chamado "Thule") num ponto chamado "pescoço". O modo como os dois lóbulos adquiriram a sua forma invulgar é um mistério imprevisto que provavelmente se relaciona com o modo como se formaram há milhares de milhões de anos.
Os lóbulos provavelmente orbitavam-se um ao outro, como muitos dos chamados mundos binários na Cintura de Kuiper, até que algum processo os reuniu no que os cientistas mostraram ser uma fusão "gentil". Para que isso aconteça, grande parte do momento orbital do binário deve ter-se dissipado para os objetos se unirem, mas os cientistas ainda não sabem se isso ocorreu devido às forças aerodinâmicas do gás na antiga nebulosa solar, ou se Ultima e Thule expulsaram outros lóbulos, formados juntamente com eles, para dissiparem energia e encolherem a sua órbita. O alinhamento dos eixos de Ultima e Thule indica que, antes da fusão, os dois lóbulos devem ter ficado com bloqueio de marés, o que significa que os mesmos lados estavam sempre virados um para o outro enquanto orbitavam em torno do mesmo ponto.
"Estamos a estudar os remanescentes bem preservados do passado," disse Alan Stern, investigador principal da New Horizons, do SwRI (Southwest Research Institute) em Boulder, no estado norte-americano do Colorado. "Não há dúvida de que as descobertas feitas sobre Ultima Thule vão avançar as teorias de formação do Sistema Solar."
Tal como o artigo na Science divulga, os investigadores da New Horizons também estão a investigar uma série de características da superfície de Ultima Thule, como pontos brilhantes e manchas, colinas e vales, crateras e buracos. A maior depressão é uma característica com 8 km de diâmetro que a equipa apelidou de cratera Maryland - provavelmente formada a partir de um impacto. No entanto, algumas depressões mais pequenas no objeto da Cintura de Kuiper podem ter sido criadas por material caindo em espaço subterrâneo, ou devido a gelos exóticos que passam do estado sólido para o estado gasoso (processo chamado sublimação) e deixando buracos em seu lugar.
Em cor e composição, Ultima Thule assemelha-se com muitos outros objetos encontrados na sua área da Cintura de Kuiper. É muito vermelho - mais vermelho do que Plutão, muito maior, com 2400 km de diâmetro, que a New Horizons explorou na orla interna da Cintura de Kuiper em 2015 - e é, na verdade, o objeto do Sistema Solar mais vermelho já visitado por uma sonda espacial; pensa-se que o seu tom avermelhado seja provocado por modificação dos materiais orgânicos à superfície. Os cientistas da New Horizons encontraram evidências de metanol, água gelada e moléculas orgânicas à superfície de Ultima Thule - uma mistura muito diferente da maioria dos objetos gelados explorados anteriormente pela sonda.
A transmissão de dados do "flyby" continua e continuará até ao final do verão de 2020. Entretanto, a New Horizons continua a realizar novas observações de objetos adicionais da Cintura de Kuiper que passa à distância. Estes KBOs (Kuiper Belt Objects) estão demasiado distantes para revelar descobertas como aquelas em MU69, mas a equipa pode medir aspetos como o brilho do objeto. A New Horizons também continua a mapear o ambiente de radiação de partículas carregadas e da poeira na Cintura de Kuiper.
A sonda New Horizons está agora a 6,6 mil milhões de quilómetros da Terra, operando normalmente e avançando mais profundamente na Cintura de Kuiper a quase 53.000 quilómetros por hora.