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EQUIPA DA NEW HORIZONS DA NASA ALCANÇA OURO NA ARGENTINA
21 de julho de 2017

 


Um telescópio da campanha de observação da ocultação estelar de 2014 MU69 apontado para o céu.
Crédito: NASA
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Um objeto do Sistema Solar primitivo, a mais de 6,5 mil milhões de quilómetros de distância, passou em frente de uma estrela distante a partir do ponto de vista da Terra. Por volta das 00:50 (hora local) de dia 17 de julho, vários telescópios montados pela equipa da New Horizons, numa zona remota da Argentina, estavam exatamente no lugar certo e no momento certo para avistar a sua sombra fugaz - um evento conhecido como ocultação.

Em questão de segundos, a equipa da New Horizons da NASA captou novos dados sobre o seu objeto evasivo, um antigo objeto da Cintura de Kuiper conhecido como 2014 MU69. Os membros da equipa, cansados, mas excitados, conseguiram detetar o próximo destino da nave espacial, no que foi apelidado da mais ambiciosa e desafiante campanha de observação terrestre de uma ocultação de sempre.

"Até agora temos cinco ocultações confirmadas," comenta Marc Buie do SwRI (Southwest Research Institute) em Boulder, no estado norte-americano do Colorado, colocando cinco dedos no ar enquanto os cientistas examinavam os estimulantes dados iniciais. Buie liderou uma equipa de mais de 60 observadores que enfrentaram ventos fortes e frios para construir uma "vedação" de 24 telescópios móveis numa região remota de Chubut e Santa Cruz, Argentina. O seu objetivo: avistar a sombra do misterioso objeto da Cintura de Kuiper, por onde a New Horizons vai passar no dia de Ano Novo de 2019 - para melhor compreender o seu tamanho, forma, órbita e ambiente. Antes destas observações, só o Telescópio Espacial Hubble tinha conseguido detetar com sucesso MU69, e até mesmo ele não tinha sido capaz de determinar o tamanho ou a forma do objeto.

"Foi a ocultação mais histórica de sempre," comenta Jim Green, diretor de ciência planetária da NASA num telefonema de felicitações à equipa. "Conseguiram torná-la realidade."

O primeiro cientista da campanha de ocultação de MU69 a ver a assinatura reveladora do objeto foi Amanda Zangari, coinvestigadora da New Horizons no SwRI.

A equipa da New Horizons recebeu um forte apoio dos cientistas argentinos, do governo e dos locais, que deram o máximo para garantir o sucesso da missão. Uma importante estrada nacional foi fechada durante duas horas para manter os faróis dos carros afastados. As luzes das ruas foram desligadas para garantir uma escuridão absoluta. Estacionaram camiões para impedir grandes perturbações do vento.

"O planeamento desta complexa campanha astronómica começou há poucos meses e embora as hipóteses parecessem assustadoras - como encontrar uma agulha num palheiro - a equipa foi bem-sucedida graças à ajuda de instituições e do povo argentino. É outro exemplo de como a exploração espacial traz ao de cima o melhor de todos nós," comenta Adriana Ocampo, Executiva do Programa New Horizons.

Esta foi a última de três ambiciosas observações para a New Horizons e todas contribuíram para o sucesso da campanha. No dia 3 de junho, equipas na Argentina e na África do Sul tentaram observar MU69. No dia 10 de julho, investigadores usaram o SOFIA (Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy) da NASA para estudar o ambiente em redor de MU69, enquanto este voava por cima do Oceano Pacífico a partir de Christchurch, Nova Zelândia.

Quando a New Horizons por lá passar, MU69 tornar-se-á no objeto mais distante já explorado por uma sonda espacial, mais de 1,6 mil milhões de quilómetros mais distante que Plutão do Sol. Este antigo objeto da Cintura de Kuiper não é bem entendido, porque é muito ténue (tem provavelmente 22-40 quilómetros de tamanho) e está muito longe. Para estudar este distante objeto a partir da Terra, a equipa da New Horizons usou o Telescópio Espacial Hubble e dados do satélite Gaia para calcular onde MU69 lançaria uma sombra à superfície da Terra. Ambos os satélites foram cruciais para a campanha de ocultação.

Ainda levará algumas semanas para os cientistas analisarem os muitos conjuntos de dados da campanha multifacetada. Esta observação avançada é um passo crítico no planeamento de voo antes da nave New Horizons alcançar MU69 no dia 1 de janeiro de 2019.

"Este esforço, que abrange seis meses, três naves, 24 telescópios terrestres portáteis e o observatório aéreo SOFIA da NASA, foi a ocultação estelar mais complexa da história da astronomia, mas conseguimos!" acrescenta Alan Stern, investigador principal da New Horizons, no SwRI: "Nós espiámos pela primeira vez a forma e o tamanho de 2014 MU69, um tesouro científico da Cintura de Kuiper que vamos explorar daqui a pouco mais de 17 meses. Graças a este sucesso podemos agora planear o nosso próximo 'flyby' com muito mais confiança."

 


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"Agora vê, agora não": a equipa da New Horizons apontou vários telescópios para uma estrela sem nome (centro) a partir da Argentina no dia 17 de julho de 2017. 2014 MU69, a mais de 6,5 mil milhões de quilómetros de distância, bloqueou por breves momentos a luz da estrela de fundo, evento que chamamos de ocultação. As imagens estão separadas por 200 milissegundos, ou 0,2 segundos. Estes dados ajudam os cientistas a melhor medir a forma, o tamanho e o ambiente em torno do objeto; a New Horizons vai passar por esta relíquia antiga da formação do Sistema Solar no dia 1 de janeiro de 2019.
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI
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Marc Buie, líder da campanha de ocultação da New Horizons, levanta cinco dedos para representar o número de telescópios móveis na Argentina que inicialmente se pensava terem detetado a veloz sombra de 2014 MU69. A sonda New Horizons vai passar pelo antigo objeto da Cintura de Kuiper no dia 1 de janeiro de 2019.
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI/Adriana Ocampo
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Amanda Zangari, coinvestigadora da New Horizons, foi a primeira cientista da campanha de ocultação a avistar a assinatura reveladora de MU69 enquanto analisava dados de dia 17 de julho.
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI/Adriana Ocampo
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Links:

Cobertura da missão New Horizons pelo Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
11/07/2017 - Novos mistérios em redor do próximo alvo da New Horizons
16/06/2017 - Equipa da New Horizons examina novos dados do próximo alvo da sonda
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03/02/2017 - New Horizons refina trajetória para próximo "flyby"
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25/07/2007 - Neva em Caronte
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18/06/2004 - New Horizons II - uma missão ao Sistema Solar lonqínguo

Notícias relacionadas:
NASA (comunicado de imprensa)
COSMOS
Popular Science

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