Top thingy left
 
VOYAGER 2 ILUMINA FRONTEIRA DO ESPAÇO INTERESTELAR
8 de novembro de 2019

 


Esta impressão de artista mostra uma das sondas Voyager da NASA a entrar no espaço interestelar, ou o espaço entre as estrelas. Esta região é dominada por plasma expelido durante a morte de estrelas gigantes há milhões de anos. O plasma mais quente e mais esparso preenche o ambiente dentro da nossa bolha solar.
Crédito: NASA/JPL-Caltech

 

Há um ano atrás, no dia 5 de novembro de 2018, a sonda Voyager 2 da NASA tornou-se apenas na segunda sonda espacial da história a deixar a heliosfera - a bolha protetora de partículas e campos magnéticos criada pelo nosso Sol. A uma distância de aproximadamente 18 mil milhões de quilómetros da Terra - bem para lá da órbita de Plutão - a Voyager 2 entrou no espaço interestelar, a região entre as estrelas. Esta semana, cinco novos artigos científicos publicados na revista Nature Astronomy descrevem o que os cientistas observaram durante e desde esta passagem histórica da Voyager 2.

Cada artigo detalha as descobertas de cada um dos cinco instrumentos científicos operacionais da Voyager 2: um sensor de campo magnético, dois instrumentos para detetar partículas energéticas em diferentes faixas de energia e dois instrumentos para estudar o plasma (um gás composto de partículas carregadas). Em conjunto, as descobertas ajudam a pintar uma imagem desta "linha costeira" cósmica, onde o ambiente criado pelo nosso Sol termina e começa o vasto oceano do espaço interestelar.

A heliosfera do Sol é como um navio navegando pelo espaço interestelar. Tanto a heliosfera como o espaço interestelar contêm plasma, um gás que teve alguns dos seus átomos desprovidos dos seus eletrões. O plasma dentro da heliosfera é quente e escasso, enquanto o plasma no espaço interestelar é mais frio e mais denso. O espaço entre as estrelas também contém raios cósmicos, ou partículas aceleradas por explosões estelares. A Voyager 1 descobriu que a heliosfera protege a Terra e os outros planetas de mais de 70% dessa radiação.

Quando a Voyager 2 saiu o ano passado da heliosfera, os cientistas anunciaram que os seus dois detetores de partículas energéticas haviam notado mudanças dramáticas: a taxa de partículas heliosféricas detetadas pelos instrumentos tinha caído, enquanto a taxa de raios cósmicos (que normalmente têm energias mais altas do que as partículas heliosféricas) aumentou dramaticamente e permaneceu alta. As mudanças confirmaram que a sonda havia entrado numa nova região do espaço.

Antes da Voyager 1 ter alcançado a orla da heliosfera em 2012, os cientistas não sabiam exatamente a que distância do Sol se encontrava este limite. As duas sondas saíram da heliosfera em locais diferentes e também em momentos diferentes do ciclo solar, que tem aproximadamente 11 anos de duração, durante o qual o Sol passa por um período de alta e baixa atividade. Os cientistas esperavam que a fronteira da heliosfera, chamada heliopausa, se movesse com as mudanças na atividade do Sol, como um pulmão que se expande e contrai com a respiração. Isto era consistente com o facto de que as duas sondas encontraram a heliopausa a diferentes distâncias do Sol.

Os novos artigos confirmam agora que a Voyager 2 não está ainda numa região interestelar imperturbável: tal como a sua gémea, a Voyager 1, a Voyager 2 parece estar numa região de transição perturbada logo após a heliosfera.

"As sondas Voyager estão a mostrar-nos como o nosso Sol interage com as coisas que ocupam a maior parte do espaço entre as estrelas na Via Láctea," disse Ed Stone, cientista do projeto Voyager e professor de física no Caltech. "Sem estes novos dados da Voyager 2, não saberíamos se o que estávamos a ver com a Voyager 1 era característico de toda a heliosfera ou específico apenas ao local e altura em que a atravessou."

Através do Plasma

As duas naves Voyager confirmaram agora que o plasma no espaço interestelar local é significativamente mais denso do que o plasma dentro da heliosfera, como os cientistas esperavam. Agora, a Voyager 2 também mediu a temperatura do plasma no espaço interestelar próximo e confirmou que é mais frio do que o plasma dentro da heliosfera.

Em 2012, a Voyager 1 observou uma densidade plasmática ligeiramente acima do esperado, fora da heliosfera, indicando que o plasma está a ser um tanto ou quanto comprimido. A Voyager 2 observou que o plasma fora da heliosfera é ligeiramente mais quente do que o esperado, o que também pode indicar que está a ser comprimido (o plasma externo é ainda mais frio do que o plasma interno). A Voyager 2 também observou um ligeiro aumento na densidade do plasma imediatamente antes de sair da heliosfera, indicando que o plasma é comprimido em torno da borda interior da bolha. Mas os cientistas ainda não entendem completamente o que está a provocar a compressão de ambos os lados.

"Derrame" de partículas

Se a heliosfera é como um navio que navega pelo espaço interestelar, parece que o casco tem "buracos". Um dos instrumentos de partículas da Voyager mostrou que uma corrente de partículas de dentro da heliosfera "derrama" através da fronteira e para o espaço interestelar. A Voyager 1 saiu perto da própria "frente" da heliosfera, em relação ao movimento da bolha pelo espaço. A Voyager 2, por outro lado, está localizada mais perto do flanco, e essa região parece ser mais porosa do que a região onde a Voyager 1 está localizada.

Mistério do Campo Magnético

Uma observação do instrumento de campo magnético da Voyager 2 confirma um resultado surpreendente da Voyager 1: o campo magnético na região logo após a heliopausa é paralelo ao campo magnético dentro da heliosfera. Com a Voyager 1, os cientistas tinham apenas uma amostra desses campos magnéticos e não podiam dizer com certeza se o alinhamento aparente era característico de toda a região exterior ou apenas uma coincidência. As observações do magnetómetro da Voyager 2, de acordo com Stone, confirmam a descoberta da Voyager 1 e indicam que os dois campos estão alinhados.

As sondas Voyager foram lançadas em 1977 e ambas passaram por Júpiter e Saturno. A Voyager 2 mudou de rumo em Saturno para passar por Úrano e Neptuno, realizando os únicos "flybys" desses planetas na história. As sondas Voyager completaram o seu "Grande Tour" pelos planetas e começaram a sua "Missão Interestelar" de alcançar a heliopausa em 1989. A Voyager 1, a mais rápida das duas sondas, está atualmente a mais de 22 mil milhões de quilómetros do Sol, enquanto a Voyager 2 está a 18,2 mil milhões de quilómetros do Sol. A luz demora cerca de 16,5 horas a viajar desde a Voyager 2 até à Terra. Em comparação, a luz do Sol demora cerca de 8 minutos a chegar até ao nosso planeta.

 


comments powered by Disqus

 


Esta ilustração mostra a posição das sondas Voyager 1 e Voyager 2 da NASA, para lá da heliosfera, uma bolha protetora criada pelo Sol que se estende bem para lá da órbita de Plutão.
Crédito: NASA/JPL-Caltech


// NASA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (Nature Astronomy)
// Artigo científico #2 (Nature Astronomy)
// Artigo científico #3 (Nature Astronomy)
// Artigo científico #4 (Nature Astronomy)
// Artigo científico #5 (Nature Astronomy)

Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
12/07/2019 - Um novo plano para manter vivos os exploradores mais antigos da NASA
05/04/2019 - A viagem ao espaço interestelar
11/12/2018 - Voyager 2 entra no espaço interestelar
09/10/2018 - Voyager 2 pode estar perto de alcançar o espaço interestelar
05/09/2017 - O legado das missões Voyager
04/08/2017 - Após 40 anos, sondas Voyager ainda querem alcançar as estrelas
17/01/2017 - Hubble fornece roteiro interestelar da viagem galáctica das Voyager
17/09/2013 - Como é que sabemos que a Voyager alcançou o espaço interestelar? 
13/09/2013 - É oficial: Voyager 1 deixa Sistema Solar e entre no espaço interestelar
16/08/2013 - Novo estudo argumenta que Voyager 1 já saiu do Sistema Solar 
02/07/2013 - Voyager 1 explora fronteira final da nossa "bolha solar"
04/12/2012 - Voyager 1 da NASA encontra nova região no espaço profundo
09/10/2012 - Voyager 1 pode já ter deixado o Sistema Solar
19/06/2012 - Dados da Voyager 1 apontam para futuro interestelar
02/12/2011 - Sondas Voyager detectam radiação Lyman-Alpha da Via Láctea
10/06/2011 - Uma grande surpresa no limite do Sistema Solar
11/03/2011 - Voyager 1 procura resposta que sopra ao vento
25/11/2009 - Resolvido mistério nos confins do Sistema Solar
12/12/2007 - Sistema Solar é "esborrachado"
27/05/2005 - Voyager alcança fronteira do Sistema Solar

Notícias relacionadas:
EurekAlert!
MIT Technology Review
Astronomy
Astronomy Now
Universe Today
SPACE.com
Sky & Telescope
science alert
EarthSky
ScienceDaily
Inverse
COSMOS
Scientific American
New Scientist
ScienceNews
ScienceDaily
Discover
PHYSORG
ZME science
National Geographic
Popular Mechanics
Newsweek
Forbes
METRO
euronews
BBC News
CNN
ars technica
Gizmodo
TSF
Visão
Público
Diário de Notícias
Observador
ZAP.aeiou

Sondas Voyager:
Página oficial (NASA)
Heavens Above
Voyager 1 (Wikipedia)
Voyager 2 (Wikipedia)
Documentário "Voyager - Journey to the Stars" (SpaceRip via YouTube)

Heliosfera:
Wikipedia

Sistema Solar:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia

Espaço interestelar:
Wikipedia

 
Top Thingy Right