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  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
Agora também com o apoio do Centro Ciência de Tavira
   
 
  Astroboletim #1605  
  26/07 a 29/07/2019  
     
     
 
Astronomia no Verão
CCVAlg | CCVTavira

Atividades astronómicas planeadas para o restante mês de julho:

26/07 - Passeio noturno em barco solar para melhor observar estrelas; ponto de encontro, às 21:00, no cais de embarque na muralha da Villa Adentro (atividade realizada pelo CCVAlg)

Atividades astronómicas planeadas para o mês de agosto:

06/08 - Tavira, a partir das 21:30, junto ao Forte do Rato (atividade realizada pelo CCVTavira)

07/08 - Praia de Faro, a partir das 10:00, observação do Sol no Centro Náutico (atividade realizada pelo CCVAlg)

09/08 - Praia de Faro, a partir das 10:00, observação do Sol no Centro Náutico (atividade realizada pelo CCVAlg)

09/08 - Tavira, a partir das 21:30, observação da Lua, na Praça da República (atividade realizada pelo CCVTAvira)

10/08 - Praia de Faro, a partir das 13:00, observação do Sol no Centro Náutico (atividade realizada pelo CCVAlg)

12/08 - Praia de Faro, a partir das 10:00, observação do Sol no Centro Náutico (atividade realizada pelo CCVAlg)

13/08 - Albufeira, a partir das 21:00, no Miradouro que fica na descida do Pau da Bandeira em direção à praia do Inatel, junto ao acesso do Restaurante Reis dos Mares (atividade realizada pelo CCVAlg)

14/08 - Tavira, a partir das 22:00, observação da Lua, na Praça da República (atividade realizada pelo CCVTAvira)

19/08 - Ria Formosa, a partir das 20:30, frente ao Centro de Educação Ambiental de Marim, astros e sons noturnos da Ria Formosa

20/08 - Carvoeiro, a partir das 21:30, junto ao Forte de Nossa Senhora da Encarnação (atividade realizada pelo CCVAlg)

22/08 - Castelo de Paderne, a partir das 20:30 (atividade realizada pelo CCVAlg)

27/08 - Tavira, a partir das 21:30, junto ao Forte do Rato (atividade realizada pelo CCVTavira)

(todas as atividades estão dependentes de condições meteorológicas favoráveis; consulte cada uma das atividades para obter mais informações e para fazer a sua inscrição)

 
     
 
Efemérides

Dia 26/07: 207.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1958, lançamento do Explorer 4.
Em 1963, era lançado o Syncom 2, o primeiro satélite geosíncrono.

Em 1971 era lançada a Apollo 15, a quarta aterragem do Homem na Lua.
Em 2005, lançamento da missão STS-114 do vaivém espacial Discovery, o primeiro voo desde o desastre do Columbia em 2003.
Observações: Vega passa perto do zénite pouco antes da meia-noite. Consegue determinar a hora exata? Deneb passa o mais perto do zénite quase exatamente duas horas depois de Vega.

Dia 27/07: 208.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1801 nascia George Biddell Airy, "Astronomer Royal" (título, agora honorário, que se dá ao diretor do Observatório Real de Greenwich) entre 1835 e 1881.

Forneceu importantes contributos nos campos da Matemática e da Astronomia, nomeadamente a descoberta de irregularidades nos movimentos de Vénus e da Terra, e no seu método de cálculo da densidade média do planeta Terra.
Observações: Antevisão do "tempo frio": antes do amanhecer de sábado, dia 27, encontrará a Lua quase entre Aldebarã e as Plêiades, estrelas mais familiares do céu noturno do final de outono e inverno.
Ocultação de Io, entre as 05:27 e as 07:44.

Dia 28/07: 209.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1851 era tirada a primeira fotografia do Sol durante um eclipse total, a partir da qual se descobre a coroa solar.
Em 1867 nascia Charles Dillon Perrine, astrónomo americano-argentino, descobridor de duas luas de Júpiter (Himalia em 1904 e Elara em 1905).

Foi também diretor do Observatório Nacional Argentino (hoje com o nome Observatório Astronómico de Córdoba).
Em 1964 era lançada a sonda Ranger 7, que regista as primeiras imagens da Lua tiradas por uma nave americana.
Observações: Trânsito da sombra de Io, entre as 03:46 e as 06:03.
A Lua encontra-se à esquerda de Aldebarã, a este antes do amanhecer.
Ainda não estamos a meio do verão, mas Cassiopeia e a sua forma de W, constelação pertencente às noites de outono e inverno, já sobe a norte-nordeste com o passar da noite. E o Grande Quadrado de Pégaso, emblema do outono, surge para se apoiar num canto perto do horizonte a este.

Dia 29/07: 210.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1851, A. De Gasparis descobria o asteroide 15 Eunomia.
Em 1898, nascia o físico Isidor Isaac Rabi, que recebeu o prémio Nobel da Física em 1944, pelo seu método de ressonância para registar as propriedades magnéticas do núcleo atómico.

Em 2005, astrónomos anunciam a descoberta do planeta anão Éris.
Observações: Eclipse de Io, entre as 00:54 e as 03:13.
A Lua continua a sua viagem pelo céu. Hoje encontra-se quase no ponto médio de um segmento de reta que une Capella (Cocheiro) a Betelgeuse (Orionte), antes do amanhecer a este-nordeste.
Trânsito de Io, entre as 21:14 e as 23:30.
Trânsito da sombra de Io, entre as 22:16 e as 00:33 (já de dia 30).
Úrano na sua quadratura oeste, pelas 23:58.

 
     
 
Curiosidades


O Observatório de raios-X Chandra da NASA comemorou, no passado dia 23, 20 anos no espaço. A NASA divulgou novas imagens que demonstram a variedade de objetos que estuda e como os raios-X complementam os dados recolhidos noutros tipos de radiação. Também lançou um mini-documentário sobre o telescópio e as suas descobertas.

 
 
   
Como os buracos negros moldam galáxias
 
Impressão de artista que mostra como os ventos ultrarrápidos soprados por um buraco negro supermassivo interage com a matéria interestelar na galáxia hospedeira, limpando gás das suas regiões centrais.
Crédito: ESA/ATG medialab
 

Dados do observatório de raios-X XMM-Newton da ESA revelaram como os buracos negros supermassivos moldam as suas galáxias hospedeiras com ventos fortes que varrem a matéria interestelar.

Num novo estudo, os cientistas analisaram oito anos de observações do XMM-Newton do buraco negro no centro de uma galáxia ativa conhecida como PG 1114+445, mostrando como os ventos ultrarrápidos - fluxos de gás emitidos do disco de acreção muito próximo do buraco negro - interagem com a matéria interestelar nas partes centrais da galáxia. Estes fluxos já tinham sido vistos antes, mas o novo estudo identifica claramente, e pela primeira vez, três fases da sua interação com a galáxia hospedeira.

"Estes ventos podem explicar algumas correlações surpreendentes que os cientistas conhecem há anos, mas que não conseguiam explicar," disse o autor principal Roberto Serafinelli do Instituto Nacional de Astrofísica de Milão, Itália, que realizou a maior parte do trabalho como parte do seu doutoramento na Universidade de Roma Tor Vergata.

"Por exemplo, vemos uma correlação entre as massas de buracos negros supermassivos e a dispersão de velocidade das estrelas nas partes internas das suas galáxias hospedeiras. Mas não há como tal se deva ao efeito gravitacional do buraco negro. O nosso estudo mostra, pela primeira vez, como estes ventos de buracos negros impactam a galáxia em maior escala, possivelmente fornecendo o elo que faltava."

Os astrónomos já haviam detetado dois tipos de fluxos nos espectros de raios-X emitidos pelos núcleos ativos das galáxias, as densas regiões centrais das galáxias conhecidas por conter buracos negros supermassivos. Os chamados fluxos ultrarrápidos (em inglês "ultra-fast outflows", ou UFOs), feitos de gás altamente ionizado, viaja a velocidades de até 40% da velocidade da luz e são observáveis nas proximidades do buraco negro central.

Os fluxos mais lentos, conhecidos como absorvedores quentes, viajam a velocidades muito mais baixas, de centenas de quilómetros por segundo, e possuem características físicas semelhantes - como densidade de partículas e ionização - à matéria interestelar circundante. É mais provável que esses fluxos mais lentos sejam detetados a distâncias maiores dos centros das galáxias.

No novo estudo, os cientistas descrevem um terceiro tipo de fluxo que combina características dos dois anteriores: a velocidade de um UFO e as propriedades físicas de um absorvedor quente.

"Nós pensamos que este é o ponto em que o UFO toca a matéria interestelar e varre-a como um limpa-neves," disse Serafinelli. "Nós chamamos a isto 'escoamento ultrarrápido de arrasto' porque o UFO neste estágio está a penetrar na matéria interestelar. É similar ao vento que empurra os barcos no mar."

Este arrasto acontece a uma distância de dezenas a centenas de anos-luz do buraco negro. O UFO gradualmente empurra a matéria interestelar para longe das partes centrais da galáxia, limpando-a do gás e diminuindo a acreção da matéria em redor do buraco negro supermassivo.

Embora os modelos já tenham previsto antes este tipo de interação, o estudo atual é o primeiro a apresentar observações reais das três fases.

"Nos dados do XMM-Newton, podemos ver material a distâncias maiores do centro da galáxia que ainda não foi perturbado pelo UFO interno," disse o coautor Francesco Tombesi da Universidade de Roma Tor Vergata e do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA. "Também podemos ver nuvens mais próximas do buraco negro, perto do núcleo da galáxia, onde o UFO começou a interagir com a matéria interestelar."

Esta primeira interação acontece muitos anos depois do UFO ter deixado o buraco negro. Mas a energia do UFO permite que o buraco negro relativamente pequeno tenha impacto sobre o material muito além do alcance da sua força gravitacional.

De acordo com os cientistas, os buracos negros supermassivos transferem a sua energia para o ambiente circundante através desses fluxos e gradualmente limpam as regiões centrais da galáxia de gás, o que pode então interromper a formação estelar. De facto, as galáxias de hoje produzem estrelas com muito menos frequência do que costumavam nos estágios iniciais da sua formação.

"Esta é a sexta vez que estes fluxos são detetados," acrescentou Serafinelli. "É tudo ciência muito recente. Estas fases do fluxo já tinham sido observadas separadamente, mas a ligação entre elas não era clara até agora."

A resolução de energia sem precedentes do XMM-Newton foi fundamental para diferenciar os três tipos de características correspondentes aos três tipos de fluxos. No futuro, com observatórios novos e mais poderosos, como o ATHENA (Advanced Telescope for High ENergy Astrophysics) da ESA, os astrónomos poderão observar centenas de milhares de buracos negros supermassivos, detetando estes fluxos mais facilmente. ATHENA, que será mais de 100 vezes mais sensível do que o XMM-Newton, deverá ser lançado no início da década de 2030.

"A descoberta de uma fonte é excelente, mas o saber que este fenómeno é comum no Universo seria um grande avanço," comentou Norbert Schartel, cientista do projeto XMM-Newton da ESA. "Mesmo com o XMM-Newton, podemos encontrar mais destas fontes na próxima década."

Mais dados, no futuro, vão ajudar a desvendar as complexas interações entre os buracos negros supermassivos e as suas galáxias hospedeiras em detalhe e a explicar a diminuição na formação estelar que os astrónomos observam ter ocorrido ao longo de milhares de milhões de anos.

// ESA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Astronomy & Astrophysics)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


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Buraco negro supermassivo:
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Observatório XMM-Newton:
ESA
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Revelados os primeiros dias da Via Láctea
 
Impressão de artista dos primeiros dias da Via Láctea.
Crédito: Gabriel Pérez Diaz, SMM (IAC)
 

O Universo, há 13 mil milhões de anos atrás, era muito diferente do Universo que conhecemos hoje. Sabemos que as estrelas se formavam a um ritmo muito elevado, dando origem às primeiras galáxias anãs, cujas fusões fizeram surgir as galáxias atuais mais massivas, incluindo a nossa. No entanto, não era conhecida a exata cadeia de eventos que produziram a Via Láctea. Até agora.

Medições exatas da posição, brilho e distância de aproximadamente um milhão de estrelas da nossa Galáxia, até 6500 anos-luz do Sol, obtidas com o telescópio espacial Gaia, permitiram que uma equipa do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC) revelasse alguns dos seus estágios iniciais. "Nós analisámos e comparámos com modelos teóricos a distribuição de cores e magnitudes (brilhos) das estrelas na Via Láctea, dividindo-as em vários componentes; o chamado halo estelar (uma estrutura esférica que envolve galáxias espirais) e o disco espesso (estrelas que se formam no disco da nossa Galáxia, mas que ocupam uma certa gama de alturas)" explica Carme Gallart, investigadora do IAC e a autora principal do artigo científico, publicado na revista Nature Astronomy.

 
Impressão de artista dos primeiros dias da Via Láctea.
Crédito: Gabriel Pérez Diaz, SMM (IAC)
 

Estudos anteriores haviam descoberto que o halo Galáctico mostrava sinais claros de ser formado por dois componentes estelares distintos, um dominado por estrelas mais azuis do que o outro. O movimento das estrelas no componente azul rapidamente permitiu identificá-lo como os restos de uma galáxia anã (Gaia-Encélado) que colidiu com a Via Láctea primitiva. No entanto, a natureza da população vermelha, e a época da fusão entre Gaia-Encélado e a nossa Galáxia, eram desconhecidas até agora.

"A análise dos dados do Gaia permitiu-nos obter a distribuição de idades das estrelas em ambos os componentes e mostrou que os dois são formados por estrelas igualmente antigas, que são mais antigas do que as do disco espesso," disse Chris Brook, investigador do IAC e coautor do artigo. Mas se ambos os componentes foram formados ao mesmo tempo, o que diferencia um do outro? "A peça final do quebra-cabeças foi dada pela quantidade de 'metais' (elementos que não são hidrogénio ou hélio) nas estrelas de um componente ou outro," explicou Tomás Ruiz Lara, investigador do IAC e coautor do artigo. "As estrelas no componente azul têm uma quantidade mais baixa de metais do que as do componente vermelho". Estes achados, com a adição de previsões de simulações que também foram analisadas no artigo, permitiram que os cientistas completassem a história da formação da Via Láctea.

 
Impressão de artista dos primeiros dias da Via Láctea.
Crédito: Gabriel Pérez Diaz, SMM (IAC)
 

Há 13 mil milhões de anos começaram a formar-se estrelas em dois sistemas estelares diferentes dos que então se fundiram: um era uma galáxia anã que chamamos Gaia-Encélado e o outro era o principal progenitor da nossa Galáxia, quatro vezes mais massivo e com uma maior proporção de metais. Há cerca de 10 mil milhões de anos, houve uma violenta colisão entre o sistema mais massivo e Gaia-Encélado. Como resultado, algumas das suas estrelas e de Gaia-Encélado foram colocadas num movimento caótico e, eventualmente, formaram o halo da Via Láctea atual. Depois, tiveram lugar surtos violentos de formação estelar até há 6 mil milhões de anos, quando o gás assentou no disco da Via Láctea e produziu o que conhecemos como o "disco fino".

"Até agora, todas as previsões e observações cosmológicas de galáxias espirais distantes, semelhantes à Via Láctea, indicam que esta fase violenta de fusão entre estruturas mais pequenas era muito frequente," explicou Matteo Monelli, investigador do IAC e coautor do artigo. Agora fomos capazes de identificar a especificidade do processo na nossa própria Galáxia, revelando os primeiros estágios da nossa história cósmica com detalhes sem precedentes.

// Instituto de Astrofísica das Canárias (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Os primeiros dias da Via Láctea (IACvideos via YouTube)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
02/11/2018 - Astrónomos descobrem o gigante que moldou os primórdios da Via Láctea
10/07/2018 - A "salsicha Gaia": a grande colisão que mudou a Via Láctea

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Via Láctea:
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Como usar os dados do Gaia
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Dentro das escuras crateras polares da Lua, a água não é tão invencível como se esperava
 
Uma cratera lunar permanentemente à sombra.
Crédito: Centro de Voo Espacial Goddard da NASA
 

A região do polo sul da Lua abriga alguns dos ambientes mais extremos do Sistema Solar: é inimaginavelmente fria, com muitas crateras e possui áreas que ou são constantemente banhadas pela luz do Sol ou estão constantemente à sombra. É exatamente por isso que a NASA pretende enviar para lá astronautas, em 2024, como parte do seu programa Artemis.

A característica mais sedutora desta região mais a sul são as crateras, algumas das quais nunca veem a luz do dia chegar ao chão. A razão para isto é o baixo ângulo da luz solar que atinge a superfície nos polos. Para uma pessoa no polo sul lunar, o Sol apareceria no horizonte, iluminando a superfície de lado e, assim, roçando principalmente as orlas de algumas crateras, deixando os interiores profundos à sombra.

Como resultado da escuridão permanente, a sonda LRO (Lunar Reconnaissance Orbiter) da NASA mediu as temperaturas mais baixas do Sistema Solar dentro destas crateras, que se tornaram conhecidas como ambientes perfeitos para preservar, durante muito tempo, material como água. Ou assim pensávamos.

Acontece que, apesar das temperaturas atingirem -233º C e, presumivelmente, poderem manter gelo no solo virtualmente para sempre, a água está a escapar lentamente da camada superfina (mais fina do que a largura de um glóbulo vermelho) da superfície da Lua. Os cientistas da NASA relataram esta descoberta recentemente num artigo publicado na revista Geophysical Research Letters.

 
Meteoroides que atingem a superfície da Lua.
Crédito: Centro de Voo Espacial Goddard da NASA
 

"As pessoas pensam que algumas destas áreas nas crateras polares capturam água e não fazem mais nada," disse William M. Farrell, físico de plasma do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland, que liderou a investigação sobre esta geada lunar. "Mas há partículas de vento solar e meteoroides que atingem a superfície, e podem criar reações que tipicamente ocorrem a temperaturas mais quentes. Isto é algo que não foi enfatizado."

Ao contrário da Terra, que tem uma atmosfera opulenta, a Lua não tem atmosfera para proteger a sua superfície. Assim, quando o Sol pulveriza partículas carregadas conhecidas como vento solar pelo Sistema Solar, algumas bombardeiam a superfície da Lua e expelem moléculas de água que saltam para novos locais.

Da mesma forma, os meteoroides rebeldes colidem constantemente com a superfície e desenraízam o solo misturado com pedaços de água gelada. Os meteoroides podem lançar essas partículas de solo - que são muitas vezes mais pequenas do que a largura de um fio de um cabelo humano - até 30 quilómetros do local do impacto, dependendo do tamanho do meteoroide. As partículas podem viajar para tão longe porque a Lua tem uma gravidade baixa e não tem ar para atrasar as coisas: "De modo que de cada vez que temos um destes impactos, uma camada muito fina de grãos de gelo é espalhada pela superfície, exposta ao calor do Sol e ao ambiente espacial, e eventualmente são sublimados ou perdidos para outros processos ambientais," disse Dana Hurley, cientistas planetária do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, Maryland, EUA.

Os autores do estudo salientam que, embora seja importante considerar que, mesmo nas crateras à sombra, a água esteja lentamente a escapar, é possível que a água também esteja a ser adicionada. Os cometas gelados que colidem com a Lua, mais o vento solar, podem estar a reabastecer como parte de um ciclo global da água; isto é algo que os cientistas estão a tentar descobrir. Além disso, não se sabe exatamente quanta água lá está. Será que está apenas à superfície da Lua ou que se estende profundamente na crosta?

 
Mapa de gravidade com base em dados transmitidos pela missão GRAIL (Gravity Recovery and Interior Laboratory) da NASA, sobreposta sobre terreno com base em dados do altímetro e da câmara da sonda LRO (Lunar Reconnaissance Orbiter) da NASA. A imagem mostra o sul em cima, com o polo sul perto do horizonte em cima à esquerda. O terminador atravessa o limite este da bacia Schrödinger. O vermelho corresponde a excessos de massa e o azul a défices de massa.
Crédito: Scientific Visualization Studio da NASA
 

De qualquer forma, a camada superior do piso das crateras polares está a ser retrabalhado ao longo de milhares de anos, segundo cálculos por Farrell, Hurley e pela sua equipa. Portanto, as fracas regiões de geada que os cientistas detetaram nos polos usando instrumentos como o LAMP (Lyman Alpha Mapping Project) da LRO podem ter apenas 2000 anos, em vez de milhões ou milhares de milhões de anos como alguns podiam esperar, estimou a equipa de Farrell. "Não podemos pensar nestas crateras como pontos mortos gelados," observou.

Para confirmar os cálculos da sua equipa, disse Farrell, um futuro instrumento capaz de detetar vapor de água deverá encontrar, acima da superfície da Lua, uma a 10 moléculas de água por centímetro cúbico que foram libertadas por impactos.

As boas notícias para a exploração lunar futura

Para a exploração e para a ciência do futuro, a dispersão de partículas de água pode ser uma ótima notícia. Significa que os astronautas podem não precisar de se sujeitar, e aos seus instrumentos, ao ambiente hostil dos pisos das crateras à sombra, a fim de encontrar um solo rico em água - podem encontrá-lo em regiões próximas e ensolaradas.

"Esta investigação está a dizer-nos que os meteoroides estão a fazer parte do trabalho por nós e a transportar material dos lugares mais frios para algumas das regiões limítrofes onde os astronautas podem aceder com um veículo movido a energia solar," disse Hurley. "Também está a dizer-nos que o que precisamos de fazer é alcançar a superfície de uma destas regiões e obter alguns dados em primeira mão sobre o que está a acontecer."

Chegar à superfície lunar tornaria muito mais fácil a avaliação da quantidade de água na Lua. Porque a identificação da água de longe, particularmente em crateras permanentemente à sombra, é uma tarefa complexa. A principal maneira de os cientistas encontrarem água é através de instrumentos que podem identificar elementos químicos com base na luz que refletem ou absorvem. "Mas, para isso, precisamos de uma fonte de luz," disse Hurley. "E, por definição, estas regiões permanentemente à sombra, não têm uma forte fonte de luz."

 
Esta animação mostra evidências de altas concentrações de hidrogénio no polo sul da Lua. Em 1998, a missão Lunar Prospector da NASA identificou hidrogénio na Lua, evidências de potenciais depósitos de gelo. Como pode ver na animação, os dados da Prospector mostraram significativamente mais hidrogénio (azul) no polo sul da Lua.
Crédito: Scientific Visualization Studio do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA
 

Entendendo o ambiente da água na Lua

Até que os astronautas da NASA voltem à Lua para escavar algum solo, ou a agência envie novos instrumentos para perto da superfície a fim de detetar moléculas flutuantes de água, a teoria da equipa de investigação sobre a influência de meteoroides no ambiente dentro de crateras permanentemente à sombra pode ajudar em alguns dos mistérios que rodeiam a água da Lua. Já ajudou os cientistas a entender se a água da superfície superior é nova ou antiga, ou como pode migrar pela Lua. Outra coisa que os impactos de meteoroides no chão das crateras podem ajudar a explicar é o porquê de os cientistas estarem a encontrar fragmentos de gelo fino diluído em rególito, ou solo lunar, em vez de blocos de água gelada pura.

Embora as questões sobre a água sejam abundantes, é importante lembrar, disse Farrell, que foi apenas na última década que os cientistas encontraram evidências de que a Lua não é uma rocha seca e morta, como muitos assumiam há muito tempo. A LRO, com as suas milhares de órbitas e 1 petabyte de dados científicos transmitidos (equivalente a cerca de 200.000 filmes de longa-metragem transmitidos online em alta definição), tem sido fundamental. O mesmo acontece com o LCROSS (Lunar Crater Observation and Sensing Satellite), que revelou água gelada depois de cair propositadamente na cratera Cabeus em 2009 e de libertar uma nuvem de material preservado no fundo da cratera, material este que incluía água.

"Nós suspeitávamos que havia água nos polos e tivemos a certeza com o LCROSS, mas agora temos evidências de que há água a latitudes médias," acrescentou Farrell. "Também temos evidências de que há água proveniente de impactos de meteoroides e temos medições de geada. Mas a questão é: como é que todas estas fontes de água estão relacionadas?"

Esta é uma pergunta que Farrell e colegas estão mais próximos de responder do que nunca.

// NASA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Geophysical Research Letters)

 


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Notícias relacionadas:
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Lua:
CCVAlg - Astronomia
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Água na Lua (Wikipedia)

LRO (Lunar Reconnaissance Orbiter):
Página oficial
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LCROSS:
NASA
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Programa Artemis:
NASA
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  Astrónomos mapeiam vasto vazio na nossa vizinhança cósmica (via Universidade do Hawaii)
O Universo é uma tapeçaria de agrupamentos galácticos e vastos vazios. Num novo estudo, uma equipa de astrónomos aplica as mesmas ferramentas de um estudo anterior para mapear o tamanho e forma de uma grande região vazia chamada "Vazio Local" que faz fronteira com a Via Láctea. Ler fonte
     
  Astrónomos fazem primeiros cálculos da atividade magnética nos exoplanetas "Júpiteres quentes" (via Universidade Estatal do Arizona)
De acordo com um novo estudo por uma equipa de astrofísicos, os planetas gigantes que orbitam muito perto de outras estrelas têm poderosos campos magnéticos, muitas vezes mais fortes do que o do nosso próprio gigante Júpiter. É a primeira vez que a força destes campos foi calculada a partir de observações. Ler fonte
 
   
Álbum de fotografias - Paisagem Estelar de Cisne
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Alistair Symon
 
Em pinceladas de poeira interestelar e hidrogénio gasoso incandescente, esta bela paisagem estelar está pintada no plano da Via Láctea, perto do extremo norte do chamado "Great Rift" e da constelação de Cisne. Composta por três diferentes telescópios e com cerca de 90 horas de dados de imagem, o mosaico de campo amplo mede uns impressionantes 24 graus no céu. A estrela alfa de Cisne, a supergigante brilhante e quente Deneb, está perto do topo central. Repleto de estrelas e nuvens luminosas de gás, Cisne é também o lar da escura Nebulosa do Saco de Carvão do Norte, que se estende de Deneb até ao centro da imagem. O brilho avermelhado das regiões de formação estelar NGC 7000, da Nebulosa da América do Norte e de IC 5070, a Nebulosa do Pelicano, estão para a esquerda de Deneb. A Nebulosa do Véu destaca-se para baixo e para a esquerda do centro. Um remanescente de supernova, o Véu fica a cerca de 1400 anos-luz de distância, mas muitas outras nebulosas e aglomerados de estrelas são identificáveis por toda a cena cósmica. Claro, Deneb também é conhecida pelos observadores do hemisfério norte pelo seu lugar em dois asterismos - assinala o topo da Cruz do Norte e é um vértice do Triângulo de Verão.
 
   
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