
Comparação entre o aspeto dos paineis solares nos primeiros dias da missão (final de dezembro de 2018) e o seu aspeto a 24 de abril de 2022, o 1211.º dia marciano, ou sol, da missão.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
O "lander" marciano InSight da NASA está gradualmente a perder energia e prevê-se que termine as operações científicas no final deste verão. Até dezembro, a equipa do InSight espera que o módulo de aterragem se tenha tornado inoperante, concluindo uma missão que até agora detetou mais de 1300 sismos marcianos - mais recentemente, um de magnitude 5 que ocorreu no dia 4 de maio - e localizou regiões do Planeta Vermelho propensas a abalos.
A informação recolhida a partir destes sismos permitiu aos cientistas medir a profundidade e composição da crosta, manto e núcleo de Marte. Além disso, o InSight (abreviatura para "Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport") registou dados meteorológicos inestimáveis e estudou o remanescente do antigo campo magnético de Marte.
"O Insight transformou a nossa compreensão dos interiores dos planetas rochosos e preparou o cenário para futuras missões," disse Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciências Planetárias da NASA. "Podemos aplicar o que aprendemos sobre a estrutura interior de Marte à Terra, à Lua, a Vénus e até mesmo aos planetas rochosos noutros sistemas solares."
O Insight aterrou em Marte no dia 26 de novembro de 2018. Equipado com um par de painéis solares, cada um medindo cerca de 2,2 metros de diâmetro, foi concebido para cumprir os principais objetivos científicos da missão no seu primeiro ano marciano (quase dois terrestres). Tendo-os alcançado, o módulo está agora numa missão alargada e os seus painéis solares têm vindo a produzir menos energia à medida que continuam a acumular poeira.
Devido à energia reduzida, a equipa irá em breve colocar o braço robótico do "lander" na sua posição de descanso (chamada "pose de reforma") pela última vez no final deste mês. Originalmente com o objetivo de implantar o sismómetro e a sonda de calor, o braço desempenhou um papel inesperado na missão: juntamente com a sua utilização para ajudar a enterrar a sonda de calor após o solo marciano lhe ter colocado desafios, a equipa utilizou o braço de uma forma inovadora para remover a poeira dos painéis solares. Como resultado, o sismómetro foi capaz de funcionar com mais frequência do que teria conseguido de outro modo, levando a novas descobertas.
Quando o InSight pousou, os painéis solares produziam cerca de 5000 watt-hora por cada dia marciano, ou sol - o suficiente para alimentar um forno elétrico durante uma hora e 40 minutos. Agora, estão a produzir cerca de 500 watt-hora por sol - o suficiente para alimentar o mesmo forno elétrico durante apenas 10 minutos.
Além disso, as mudanças sazonais estão a começar em Elysium Planitia, a localização do InSight em Marte. Nos próximos meses, haverá mais poeira no ar, reduzindo a luz solar - e a energia do módulo. Apesar de esforços passados terem removido alguma poeira, a missão precisaria de um evento de limpeza mais poderoso, tal como um "diabo de poeira" (um turbilhão passageiro) para inverter a tendência atual.
"Temos estado à espera de uma limpeza de poeira como aquela que vimos acontecer várias vezes aos rovers Spirit e Opportunity," disse Bruce Banerdt, investigador principal do InSight no JPL da NASA no sul do estado norte-americano da Califórnia, que lidera a missão. "Isso ainda é possível, mas a energia é suficientemente baixa para que o nosso foco esteja em aproveitar ao máximo a ciência que ainda podemos recolher."
Se apenas 25% dos painéis do InSight fossem limpos pelo vento, o "lander" ganharia cerca de 1000 watt-hora por sol - o suficiente para continuar a recolher ciência. No entanto, ao ritmo atual que a potência está a diminuir, os instrumentos não sísmicos do InSight raramente serão ligados após o final de maio.
Está a ser dada prioridade ao sismómetro do "lander", que funcionará a horas selecionadas do dia, como à noite, quando os ventos estão baixos e os sismos marcianos são mais fáceis de "ouvir". O próprio sismómetro deverá ser desligado no final do verão, concluindo a fase científica da missão.
Nessa altura, o InSight ainda terá energia suficiente para operar, tirando a ocasional fotografia e comunicando com a Terra. Mas a equipa espera que, em meados de dezembro, a energia seja tão baixa que um dia o InSight deixe simplesmente de responder.
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