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  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
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  Astroboletim #1774  
  09/03 a 11/03/2021  
     
 
Efemérides

Dia 09/03: 68.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1564 nascia David Fabricius, descobridor da primeira estrela variável (Mira, ou Omicron Ceti).
Em 1934, nascimento de Yuri Gagarin, cosmonauta soviético, o primeiro humano no espaço.

Em 1955, Walt Disney apresenta pessoalmente o primeiro programa televisivo de "Man in Space", no canal norte-americano ABC. Wernher von Braun, o engenheiro aeroespacial e Walt Dinsey, o artista, usaram este novo meio de comunicação que era a televisão para mostrar que os humanos podiam ir à Lua e além com base em tecnologias futuras e no desejo de exploração e descoberta. 
Em 1961, é lançado com sucesso o Sputnik 9, que transporta um boneco humano com a alcunha de Ivan Ivanovich e demonstra que a União Soviética está pronta para os voos espaciais tripulados.
Em 1974, voo rasante da sonda soviética Mars 7 por Marte.
Em 1997, observadores na China, Mongólia e partes da Sibéria têm a rara oportunidade de ver um espetáculo duplo: um eclipse permite ver o cometa Hale-Bopp durante o dia.
Em 2011, o vaivém Discovery faz a sua aterragem final após 39 voos.
Observações: Sirius, alta a sul por estas noites, é a estrela da parte de baixo do equilátero Triângulo de Inverno. As outras duas estrelas do Triângulo são a alaranjada Betelgeuse, para cima e para a direita de Sirius (ombro de Orionte) e Procyon para cima e para a esquerda de Sirius.
Usando binóculos, examine a pequena mancha 4º para sul de Sirius (diretamente por baixo quando estiver perto do meridiano). Quatro graus é menos do que a largura do campo de visão de uns binóculos normais. Consegue ver a pequena mancha difusa cinzenta? É o enxame aberto M41, a cerca de 2200 anos-luz de distância. A sua magnitude é de 5,0.
Sirius, em comparação, fica a apenas 8,6 anos-luz - e é 400 vezes mais brilhante.

Dia 10/03: 69.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1977, os astrónomos descobrem os anéis de Úrano.
Em 2006, a Mars Reconnaissance Orbiter chega a Marte.

Observações: Ao cair da noite, a Ursa Maior encontra-se alta a nordeste e começa a inclinar-se para a esquerda. Olhe para a esquerda do seu centro, a cerca de três punhos à distância do braço esticado, em busca da Estrela Polar, na constelação de Ursa Menor. Além da Polar, tudo o que conseguirá ver da Ursa Menor, com poluição luminosa, são as duas estrelas que formam o limite externo da sua "frigideira": Kochab (parecida à Polar em brilho) e, por baixo, a mais fraca Pherkad. Encontre estas duas "Guardiãs do Polo" para baixo e para a direita da Estrela Polar a cerca de punho e meio à distância do braço esticado.
Esta é a altura do ano em que as Guardiãs alinham-se exatamente na vertical por volta do fim do lusco-fusco.

Dia 11/03: 70.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1811 nascia Urbain Le Verrier, que previu a existência de Neptuno usando apenas matemática. Os cálculos foram feitos para explicar as discrepâncias na órbita de Úrano recorrendo às leis de Kepler e Newton.

Le Verrier enviou as coordenadas do suposto planeta a Johann Gottfried Galle, pedindo que verificasse a existência de tal objeto. Galle descobriu Neptuno na mesma noite em que recebeu a carta, a apenas 1º da posição prevista. A descoberta de Neptuno é largamente considerada como uma dramática validação da mecânica celeste e um dos momentos científicos mais marcantes do século XIX. 
Em 1897, um meteoro entrava na atmosfera sobre New Martinsville (West Virginia, EUA) tendo-se estilhaçado sobre esta cidade, com muitos danos físicos.
Observações: Para a esquerda de Orionte, e para cima de Sirius, está a ténue constelação de Unicórnio. Se tiver acesso a uns binóculos, talvez conheça o enxame NGC 2244, o longo retângulo exatamente por cima da ténue Nebulosa Roseta. Mas conhece o mais subtil e solto NGC 2232, a cerca de 10º para sul, logo acima da pata dianteira de Unicórnio?

 
     
 
Curiosidades


Ceres é a deusa romana da agricultura, dos cereais (daí o nome), da fertilidade e das relações maternas.

 
 
   
Rover Perseverance da NASA move-se primeira vez

O rover Perseverance da NASA realizou a sua primeira viagem em Marte no passado dia 4 de março, percorrendo 6,5 metros na paisagem marciana. O passeio serviu como um teste de mobilidade que marca apenas um de muitos marcos à medida que os membros da equipa verificam e calibram cada sistema, subsistema e instrumento no Perseverance. Assim que o rover começar a perseguir os seus objetivos científicos, são esperadas deslocações regulares de 200 metros ou mais.

"Quando se trata de veículos com rodas noutros planetas, há poucos eventos inéditos que se comparam à importância da primeira viagem," disse Anais Zarifian, engenheira de mobilidade do rover Perseverance no JPL da NASA no sul da Califórnia. "Esta foi a nossa primeira oportunidade de 'chutar os pneus' e de dar uma volta com o Perseverance. A tração nas seis rodas do veículo marciano teve uma excelente resposta. Estamos agora confiantes de que o nosso sistema de condução está pronto para funcionar, capaz de nos levar aonde quer que a ciência nos leve nos próximos dois anos."

 
Esta imagem foi obtida enquanto o rover Perseverance da NASA passeava em Marte pela primeira vez no dia 4 de março de 2021. Uma das Hazcams (Hazard Avoidance Cameras) do Perseverance capturou esta imagem enquanto o rover completava uma curta travessia e curva a partir do seu local de aterragem na Cratera Jezero.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

A viagem, que durou cerca de 33 minutos, impulsionou o rover para a frente cerca de 4 metros, onde então girou 150 graus para a esquerda e recuou 2,5 metros para o seu novo estacionamento temporário. Para ajudar a entender melhor a dinâmica de um retrofoguete a pousar no Planeta Vermelho, os engenheiros usaram as câmaras de navegação e de prevenção de perigos do Perseverance para obter imagens do local onde o Perseverance pousou, dispersando poeira marciana com plumas dos seus motores.

Mais do que uma condução

O sistema de mobilidade do rover não é a única coisa que pode ser testada durante este período de verificações iniciais. No dia 26 de fevereiro - o oitavo dia marciano do Perseverance, ou sol, desde a aterragem - os controladores da missão concluíram uma atualização de software, substituindo o programa de computador que ajudou ao pouso do Perseverance por outro que irão usar para investigar o planeta.

Mais recentemente, os controladores verificaram os instrumentos RIMFAX (Radar Imager for Mars’ Subsurface Experiment) e MOXIE (Mars Oxygen In-Situ Resource Utilization Experiment) do Perseverance, e ligaram os dois sensores de vento do MEDA (Mars Environmental Dynamics Analyzer), que se estendem para fora do mastro do rover. Outro marco significativo ocorreu no dia 2 de março, ou sol 12, quando os engenheiros esticaram pela primeira vez o braço robótico de 2 metros do rover, flexionando cada uma das suas cinco juntas durante duas horas.

"O primeiro teste do braço robótico de terça-feira foi um grande momento para nós," disse Robert Hogg, gerente adjunto da missão Mars 2020 do Perseverance. "Esta é a principal ferramenta que a equipa científica vai usar para fazer análises detalhadas das características geológicas da Cratera Jezero, e depois perfurações e recolhas de amostras daquelas que acharem mais interessantes. Quando obtivemos a confirmação do braço robótico a 'mover os seus músculos', incluindo imagens do seu perfeito funcionamento após a sua longa viagem até Marte - bem, ganhei o dia."

Os próximos eventos e avaliações incluem testes e calibrações mais detalhadas dos instrumentos científicos, enviando o rover em passeios mais longos e a expulsão das coberturas que protegem o conjunto de cache adaptativa (parte do sistema de recolha de amostras do rover) e o helicóptero Ingenuity durante o pouso. O programa de teste de voo experimental do Ingenuity também terá lugar durante o comissionamento do rover.

E durante estas etapas o rover estará a enviar imagens obtidas pelo conjunto mais avançado de câmaras já enviadas para Marte. As câmaras da missão já enviaram cerca de 7000 imagens. Na Terra, as imagens pelo Perseverance são recebidas pela poderosa DSN (Deep Space Network), gerida pelo programa SCaN (Space Communications and Navigation) da NASA. No espaço, vários orbitadores marcianos desempenham um papel igualmente importante.

"O suporte orbital para a transmissão de dados tem sido deveras fundamental," disse Justin Maki, engenheiro-chefe de imagem e cientista de imagem da missão Mars 2020 do rover Perseverance no JPL. "Quando vir uma bela imagem da Cratera Jezero, considere que foi necessária uma equipa inteira de 'marcianos' para cá chegar. Todas as imagens do Perseverance são retransmitidas pelos orbitadores TGO (Trace Gas Orbiter) da ESA, MAVEN, Mars Odyssey ou MRO (Mars Reconnaissance Orbiter) da NASA. São parceiros importantes nas nossas explorações e descobertas."

O grande volume de imagens e dados transmitidos pela missão tem sido uma recompensa bem-vinda para Matt Wallace, que se lembra de ter esperado ansiosamente pelas primeiras imagens, às "pingas", do primeiro rover marciano da NASA, o Sojourner, que explorou Marte em 1997. No dia 3 de março, Wallace tornou-se o novo gerente de projeto da missão. Substituiu John McNamee, que está a deixar o cargo como pretendia, após dirigir o projeto durante quase uma década.

"John forneceu apoio inabalável, a mim e a todos os membros do projeto durante mais de uma década," disse Wallace. "Ele deixou a sua marca nesta missão e nesta equipa, e foi um privilégio não apenas chamá-lo de chefe, mas também de meu amigo."

O nome do local de aterragem

Com o Perseverance agora prestes a sair do local onde pousou, os cientistas da equipa da missão comemoraram o local, batizando-o informalmente em homenagem à falecida autora de ficção científica Octavia E. Butler. A inovadora autora e nativa de Pasadena, Califórnia, foi a primeira mulher afro-americana a ganhar os prémios Hugo e Nebula, e foi a primeira escritora de ficção científica homenageada com uma bolsa MacArthur. O local onde o Perseverance começou a sua missão em Marte tem agora o nome "Octavia E. Butler Landing".

 
O local de aterragem do rover Perseverance dentro da Cratera Jezero, agora batizado não oficialmente de "Octavia E. Butler Landing".
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Universidade do Arizona
 

Os nomes científicos oficiais para lugares e objetos por todo o Sistema Solar - incluindo asteroides, cometas e locais em planetas - são designados pela União Astronómica Internacional. Os cientistas que trabalham com os rovers marcianos da NASA têm tradicionalmente dado alcunhas não oficiais a várias características geológicas, que podem ser usadas como referências em artigos científicos.

"Os protagonistas de Butler incorporam a determinação e inventividade, tornando-a perfeita para a missão do rover Perseverance e para o seu tema de superar desafios," disse Kathryn Stack Morgan, cientista ajunta do projeto Perseverance. "Butler inspirou e influenciou a comunidade científica planetária e muitas outras, incluindo aquelas normalmente sub-representadas nos campos STEM (sigla do inglês "Science, Technology, Engineering, and Mathematics").

"Não consigo pensar noutra pessoa para marcar este local de pouso histórico do que Octavia E. Butler, que não apenas cresceu perto do JPL em Pasadena, mas também inspirou milhões com as suas visões de um futuro baseado na ciência," disse Thomas Zurbuchen, administrador associado da NASA para a ciência. "O seu princípio orientador, 'Ao usar a ciência, faça-o com precisão,' é o objetivo da equipa científica da NASA. O seu trabalho continua a inspirar os cientistas e engenheiros de hoje em todo o mundo - tudo em nome de um futuro mais ousado e mais justo para todos."

Butler, que faleceu em 2006, escreveu obras notáveis como "Kindred," "Bloodchild," "Speech Sounds," "Parable of the Sower," "Parable of the Talents," e a série "Patternist”. A sua escrita explora temas de raça, género, igualdade e humanidade, e as suas obras são tão relevantes hoje quanto eram quando originalmente escritas e publicadas.

Mais sobre a missão

Um objetivo principal da missão do Perseverance em Marte é a investigação astrobiológica, incluindo a busca por sinais de vida microbiana antiga. O rover vai caracterizar a geologia do planeta e o clima passado e será a primeira missão a recolher e a armazenar rochas e rególito marciano, abrindo caminho para a exploração humana do Planeta Vermelho.

As missões subsequentes da NASA, em cooperação com a ESA, vão enviar naves a Marte para recolher estas amostras armazenadas à superfície e trazê-las para a Terra para uma análise mais profunda.

A missão Mars 2020 do rover Perseverance faz parte da abordagem da exploração Lua a Marte da NASA, que inclui as missões Artemis à Lua que vão ajudar a preparar a exploração humana do Planeta Vermelho.

// NASA (comunicado de imprensa)

 


Saiba mais

Cobertura da missão do rover Perseverance pelo CCVAlg - Astronomia:
26/02/2021 - À procura de vida nas amostras do rover Perseverance
19/02/2021 - Rover Perseverance da NASA pousa em segurança no Planeta Vermelho
09/02/2021 - Rover Perseverance a poucos dias de pousar em Marte
10/11/2020 - Estudo mostra a dificuldade em encontrar evidências de vida em Marte
31/07/2020 - Missão do rover Perseverance a caminho do Planeta Vermelho
30/06/2020 - Aproxima-se o lançamento do rover Perseverance
29/05/2020 - O detetive a bordo do rover Perseverance
19/11/2019 - Rover Mars 2020 vai procurar fósseis microscópicos
15/02/2019 - Sonda MAVEN vai diminuir a sua órbita em preparação para o rover 2020 da NASA
15/05/2018 - NASA planeia levar um helicóptero até Marte
29/05/2018 - Rochas marcianas podem conter sinais de vida

Marte:
CCVAlg - Astronomia
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Cratera Jezero:
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Rover Perseverance:
NASA
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Octavia E. Butler:
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Hubble resolve o mistério do escurecimento de estrela monstruosa

No ano passado, os astrónomos ficaram intrigados quando Betelgeuse, a brilhante estrela supergigante vermelha na constelação de Orionte, desvaneceu dramaticamente, mas depois recuperou. A diminuição de brilho durou semanas. Agora, os astrónomos voltaram as suas atenções para uma estrela monstruosa na constelação adjacente de Cão Maior.

A hipergigante vermelha VY Canis Majoris - que é muito maior, mais massiva e mais violenta do que Betelgeuse - passa por períodos muito mais longos e ténues que duram anos. Novas descobertas do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA sugerem que os mesmos processos que ocorreram em Betelgeuse estão a acontecer nesta hipergigante, mas a uma escala muito maior.

 
Esta ampliação de VY Canis Majoris é uma combinação de imagens do Hubble e uma impressão de artista. O painel da esquerda é uma imagem colorida pelo Hubble da grande nebulosa de material libertado pela estrela hipergigante. Esta nebulosa tem mais de um bilião de quilómetros de diâmetro. O painel do meio é uma ampliação pelo Hubble da região em torno da estrela. Esta imagem revela nós, arcos e filamentos próximos, material ejetado pela estrela enquanto passa pelo seu processo violento de libertar material para o espaço. VY Canis Majoris não é vista nestas imagens, mas o pequeno quadrado vermelho assinala a posição da hipergigante, e representa o diâmetro do Sistema Solar até à órbita de Neptuno, equivalente a 8,8 mil milhões de quilómetros. O último painel é uma impressão de artista da estrela hipergigante com enormes células convectivas e sofrendo ejeções violentas. VY Canis Majoris é tão grande que se substituísse o Sol, a estrela estender-se-ia por quase mil milhões de quilómetros, até entre as órbitas de Júpiter e Saturno.
Crédito: NASA, ESA e R. Humphreys (Universidade do Minnesota) e J. Olmsted (STScI)
 

"VY Canis Majoris está a comportar-se muito como Betelgeuse com esteroides," explicou a líder do estudo, a astrofísica Roberta Humphreys da Universidade do Minnesota, em Minneapolis, EUA.

Tal como Betelgeuse, os dados do Hubble sugerem a resposta de porque é que esta estrela maior está a diminuir de brilho. Para Betelgeuse, o escurecimento correspondeu a um fluxo de gás que pode ter formado poeira, o que obstruiu brevemente parte da luz de Betelgeuse a partir do nosso ponto de vista, criando o efeito de escurecimento.

"Em VY Canis Majoris vemos algo semelhante, mas a uma escala muito maior. Ejeções massivas de material que correspondem ao seu desvanecimento muito profundo, o que é provavelmente devido à poeira que bloqueia temporariamente a luz da estrela," explicou Humphreys.

A enorme hipergigante vermelha é 300.000 vezes mais brilhante do que o nosso Sol. Se substituíssemos o Sol no nosso próprio Sistema Solar, este monstro inchado estender-se-ia por quase mil milhões de quilómetros, até entre as órbitas de Júpiter e Saturno.

"Esta estrela é absolutamente incrível. É uma das maiores estrelas que conhecemos - uma supergigante vermelha muito evoluída. Já teve múltiplas erupções gigantes," salientou Humphreys.

 
Esta imagem do Hubble mostra a grande nebulosa de material expelido pela hipergigante VY Canis Majoris.
Crédito: NASA, ESA e R. Humphreys (Universidade do Minnesota)
 

Arcos colossais de plasma rodeiam a estrela a distâncias milhares de vezes superiores à distância Terra-Sol. Estes arcos parecem-se com as proeminências solares do nosso próprio Sol, apenas numa escala muito maior. Além disso, não estão fisicamente ligadas à estrela, mas, ao invés, podem ter sido expelidas e estão a afastar-se. Algumas das outras estruturas próximas da estrela ainda são relativamente compactas, parecendo pequenos nós e características nebulosas.

Em trabalhos anteriores com o Hubble, Humphreys e a sua equipa foram capazes de determinar quando estas grandes estruturas foram expulsas da estrela. Descobriram datas que variam ao longo das últimas centenas de anos, algumas apenas nos últimos 100 a 200 anos.

Agora, num novo trabalho com o Hubble, os investigadores resolveram características muito mais próximas da estrela, que podem ter menos de um século. Usando o Hubble para determinar as velocidades e movimentos de nós próximos de gás quente e outras características, Humphreys e a sua equipa conseguiram datar estas erupções com mais precisão. O que descobriram foi notável: muitos destes nós estão ligados a episódios múltiplos nos séculos XIX e XX quando VY Canis Majoris desvaneceu para um-sexto do seu brilho normal.

 
Esta impressão de artista da estrela hipergigante VY Canis Majoris mostra as suas vastas células de convecção e ejeções violentas. VY Canis Majoris é tão grande que se substituísse o Sol, a estrela estender-se-ia por quase mil milhões de quilómetros, até entre as órbitas de Júpiter e Saturno.
Crédito: NASA, ESA e R. Humphreys (Universidade do Minnesota) e J. Olmsted (STScI)
 

Ao contrário de Betelgeuse, VY Canis Majoris é agora demasiado ténue para ser vista a olho nu. A estrela já foi visível à vista desarmada, mas escureceu tanto que agora só pode ser observada com telescópios.

A hipergigante perde 100 vezes mais massa do que Betelgeuse. A massa em alguns dos nós é mais do que o dobro da massa de Júpiter. "É incrível que a estrela possa fazer isto," diz Humphreys. "A origem destes episódios de alta perda de massa, tanto em VY Canis Majoris como em Betelgeuse, é provavelmente provocada pela atividade em grande escala à superfície, grandes células convectivas como no Sol. Mas em VY Canis Majoris, as células podem ser tão grandes quanto o Sol, ou maiores."

"Isto é provavelmente mais comum em supergigantes vermelhas do que os cientistas pensavam e VY Canis Majoris é um exemplo extremo," continuou Humphreys. "Pode até ser o principal mecanismo responsável pela perda de massa, o que sempre foi um mistério para as supergigantes vermelhas."

 
Esta imagem mostra a posição da estrela hipergigante vermelha VY Canis Majoris no céu. A estrela monstruosa está localizada logo acima das costas de Cão Maior.
Crédito: NASA, ESA e J. DePasquale (STScI); Reconhecimento: A. Fujii
 

Embora outras supergigantes vermelhas sejam comparativamente brilhantes e libertem muita poeira, nenhuma delas é tão complexa quanto VY Canis Majoris. "Porque é, então, tão especial? VY Canis Majoris pode estar num estágio evolutivo único que a separa das outras estrelas. Está provavelmente assim tão ativa por um período muito curto, talvez apenas alguns milhares de anos. Não vamos ver muitos destes," comentou Humphreys.

A estrela começou a sua vida como uma supergigante azul, brilhante e superquente, talvez com 35 a 40 vezes a massa do nosso Sol. Depois de alguns milhões de anos, à medida que o ritmo de fusão do hidrogénio no seu núcleo mudava, a estrela inchou até se tornar numa supergigante vermelha. Humphreys suspeita que a estrela pode ter retornado brevemente a um estado muito quente e, em seguida, inchado de volta a um estágio de supergigante vermelha.

"Talvez o que torna VY Canis Majoris tão especial, tão extrema, com este material ejetado muito complexo, seja o facto de ser uma supergigante vermelha de segundo estágio," explicou Humphreys. VY Canis Majoris pode já ter perdido metade da sua massa. Em vez de explodir como uma supernova, poderá simplesmente colapsar diretamente para um buraco negro.

As descobertas da equipa foram publicadas dia 4 de fevereiro na revista The Astronomical Journal.

// NASA (comunicado de imprensa)
// Hubblesite (comunicado de imprensa)
// ESA (comunicado de imprensa)
// Universidade do Minnesota (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astronomical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

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03/03/2020 - Os últimos suspiros de uma estrela massiva
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27/11/2015 - Revelado segredo da perda de peso de estrela a envelhecer

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VY Canis Majoris:
AAVSO
Universe Today
Wikipedia

Hipergigante:
Wikipedia

Betelgeuse:
Wikipedia

Supergigante vermelha:
Wikipedia

Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
Hubblesite
STScI
SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

 
   
Descoberta uma super-Terra que poderá ser usada para testar modelos de atmosferas planetárias

Ao longo dos últimos 25 anos, os astrónomos descobriram uma grande variedade de exoplanetas, compostos por rocha, gelo e gás, graças à construção de instrumentos astronómicos projetados especificamente para a caça de planetas. Além disso, usando uma combinação de diferentes técnicas de observação, foram capazes de determinar um grande número de massas, tamanhos e, portanto, densidades dos planetas, o que os ajuda a estimar a sua composição interna e a elevar o número de planetas que foram descobertos para lá do Sistema Solar.

No entanto, o estudo das atmosferas dos planetas rochosos, que por sua vez permitiria caracterizar completamente aqueles exoplanetas semelhantes à Terra, é extremamente difícil com os instrumentos atualmente disponíveis. Por isso, os modelos atmosféricos para planetas rochosos ainda não foram testados.

 
Impressão de artista da atmosfera de Gliese 486b.
Crédito: RenderArea
 

Assim sendo, é interessante que os astrónomos do projeto CARMENES (Calar Alto high-Resolution search for M dwarfs with Exoearths with Near-infrared and optical échelle Spectrographs), um consórcio do qual o IAC (Instituto de Astrofísica das Canárias) é parceiro, recentemente publicaram um estudo, liderado por Trifon Trifonov, astrónomo do Instituto Max Planck para Astronomia em Heidelberg (Alemanha), sobre a descoberta de uma super-Terra quente em órbita de uma anã vermelha próxima, Gliese 486, a apenas 26 anos-luz do Sol.

Para tal, os cientistas usaram as técnicas combinadas de fotometria de trânsito e espectroscopia de velocidade radial, e usaram, entre outras, observações com o instrumento MuSCAT2 (Multicolour Simultaneous Camera for studying Atmospheres of Transiting exoplanets) acoplado ao Telescópio Carlos Sánchez de 1,52 metros no Observatório de Teide. Os resultados deste estudo foram publicados na revista Science.

O planeta que descobriram, chamado Gliese 486b, tem uma massa 2,8 vezes a da Terra e é apenas 30% maior. "Calculando a sua densidade média a partir das medições da sua massa e raio, inferimos que a sua composição é parecida à de Vénus ou da Terra, que possuem núcleos metálicos no seu interior," explica Enric Pallé, investigador do IAC e coautor do artigo.

 
O diagrama fornece uma estimativa das composições internas de exoplanetas selecionados com base nas suas massas e raios em unidades terrestres. O ponto vermelho representa Gliese 486b, e os símbolos laranjas representam planetas em torno de estrelas frias como Gliese 486. Os pontos cinzentos mostram planetas em órbita de estrelas mais quentes. As curvas coloridas indicam as relações teóricas de massa-raio para a água pura a 700K (azul), para o mineral enstatita (laranja), para a Terra (verde) e para o ferro puro (vermelho). Para efeitos de comparação, o diagrama também realça Vénus e a Terra.
Crédito: Trifonov et al./Departamento Gráfico do Instituto Max Planck para Astronomia
 

Gliese 486b orbita a sua estrela hospedeira num percurso circular a cada 1,5 dias, a uma distância de 2,5 milhões de quilómetros. Apesar de estar tão perto da sua estrela, o planeta provavelmente conservou parte da sua atmosfera original (a estrela é muito menos quente do que o nosso Sol), de modo que é um bom candidato para ser observado em mais detalhe com a próxima geração de telescópios espaciais e terrestres.

Para Trifonov, "o facto deste planeta estar tão perto da sua estrela é excitante porque será possível estudá-lo em mais detalhe usando telescópios poderosos como o iminente Telescópio Espacial James Webb e o ELT (Extremely Large Telescope), atualmente em construção."

Gliese 486b leva o mesmo tempo a completar uma rotação sob si próprio do que a completar uma órbita à volta da sua estrela-mãe, de modo que tem sempre o mesmo lado voltado para a estrela. Embora Gliese 486 seja muito mais fraca e fria que o Sol, a radiação é tão intensa que a superfície do planeta aquece até pelo menos 700 K (cerca de 430º C). Por isso, a superfície de Gliese 486b é provavelmente mais parecida com a superfície de Vénus do que a da Terra, com uma paisagem quente e seca, com rios ardentes de lava. No entanto, ao contrário de Vénus, Gliese 486b pode ter uma atmosfera fina.

 
Impressão de artista da superfície de Gliese 486b.
Crédito: RenderArea
 

Os cálculos feitos com modelos existentes de atmosferas planetárias podem ser consistentes com cenários de superfície quente e atmosfera fina porque a irradiação estelar tende a evaporar a atmosfera, enquanto a gravidade do planeta tende a retê-la. A determinação do equilíbrio entre as duas contribuições é, nos dias de hoje, difícil.

"A descoberta de Gliese 486b foi um golpe de sorte. Se fosse cerca de cem graus mais quente, toda a sua superfície seria lava e a sua atmosfera seria rocha vaporizada," explica José Antonio Caballero, investigador do Centro de Astrobiologia e coautor do artigo. "Por outro lado, se Gliese 486b fosse cerca de cem graus mais frio, não seria adequado para observações de acompanhamento."

Futuras observações planeadas pela equipa do CARMENES tentarão determinar a sua inclinação orbital, o que torna possível que Gliese 486 atravessa a linha de visão entre nós e a superfície da estrela, ocultando parte da sua luz, e produzindo o que é conhecido como trânsitos.

Vão também tentar fazer medições espectroscópicas, usando "espectroscopia de emissão", quando as áreas do hemisfério iluminado pela estrela forem visíveis como fases do planeta (análogas às fases da nossa Lua), durante as órbitas de Gliese 486b, antes de desaparecer por trás da estrela.

 
O gráfico ilustra a órbita de um exoplaneta rochoso em trânsito como Gliese 486b em torno da sua estrela hospedeira. Durante o trânsito, o planeta eclipsa o disco estelar. Simultaneamente, uma pequena porção da luz estelar passa pela atmosfera planetária. À medida que Gliese 486b continua o seu percurso, partes do hemisfério iluminado tornam-se visíveis como fases até que o planeta desaparece por trás da estrela.
Crédito: Departamento Gráfico do Instituto Max Planck para Astronomia
 

"Mal podemos esperar até que os novos telescópios estejam disponíveis," admite Trifonov. "Os resultados que possamos obter com eles vão ajudar-nos a compreender melhor as atmosferas dos planetas rochosos, a sua extensão, a sua altíssima densidade, a sua composição e a sua influência na distribuição de energia em torno dos planetas".

O projeto CARMENES, cujo consórcio é formado por 11 institutos de investigação na Espanha e na Alemanha, tem como objetivo monitorizar um conjunto de 350 estrelas anãs vermelhas em busca de planetas como a Terra, usando um espectrógrafo no telescópio de 3,5 m do Observatório de Calar Alto (Espanha). O presente estudo também usou medições espectroscópicas para inferir a massa de Gliese 486b. As observações foram feitas com o instrumento MAROON-X acoplado ao Telescópio Gemini Norte (8,1 m) nos EUA, e os dados de arquivo foram recolhidos pelo Telescópio Keck de 10 m (EUA) e pelo telescópio de 3,6 m do ESO (Chile).

As observações fotométricas provêm do observatório espacial TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA (EUA), cujos dados foram usados para obter o raio do planeta. Provêm também do instrumento MuSCAT2 acoplado ao Telescópio Carlos Sánchez de 1,52 m do Observatório de Teide (Espanha) e do LCOGT (Las Cumbres Observational Global Telescope) no Chile, entre outros.

// IAC (comunicado de imprensa)
// Instituto Max Planck para Astronomia (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science)
// Artigo científico (PDF)

 


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Exoplanetas:
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Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
NASA
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

Observatório de Calar Alto:
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Wikipedia

Observatório Las Cumbres:
Página principal
Wikipedia

Observatório Gemini:
Página principal
Wikipedia

Observatório W. M. Keck:
Página principal
Wikipedia

TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite):
NASA
NASA/Goddard
Programa de Investigadores do TESS (HEASARC da NASA)
MAST (Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais)
Exoplanetas descobertos pelo TESS (NASA Exoplanet Archive)
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  Descoberto quasar mais distante de nós com poderosos jatos rádio (via ESO)
Com a ajuda do VLT (Very Large Telescope) do ESO, os astrónomos descobriram e estudaram com grande detalhe a fonte de emissão rádio mais distante conhecida até à data — um quasar com forte emissão rádio (um objeto brilhante com jatos poderosos que emitem nos comprimentos de onda do rádio) tão distante que a sua luz demorou 13 mil milhões de anos a chegar até nós. A descoberta poderá dar-nos pistas importantes sobre o Universo primordial. Ler fonte
 
   
Álbum de fotografias - As Três Caudas do Cometa NEOWISE
(clique na imagem para ver versão maior; aqui para a versão legendada)
Crédito: Nicolas Lefaudeux
 
O que criou a invulgar cauda vermelha no Cometa NEOWISE? Sódio. Uma visão espetacular durante o verão de 2020, o Cometa NEOWISE, por vezes, exibiu algo mais do que apenas uma cauda de poeira branca surpreendentemente estriada e uma cauda iónica azul agradavelmente irregular. Algumas imagens sensíveis à cor mostraram uma invulgar cauda vermelha, e uma análise mostrou que grande parte da cor dessa terceira cauda era emitida pelo sódio. Gás rico em átomos de sódio pode ter sido libertado no núcleo em aquecimento do Cometa NEOWISE no início de julho pela brilhante luz do Sol, luz solar ultravioleta eletricamente carregada, e então expelido pelo vento solar. A imagem em destaque foi capturada em meados de julho a partir de Bretagne, França, e mostra as cores reais. Caudas cometárias de sódio já foram vistas antes, mas são raras - esta desapareceu no final de julho. O Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) desde então desvaneceu, perdeu todas as suas caudas brilhantes e agora aproxima-se da órbita de Júpiter enquanto se afasta para o Sistema Solar exterior, para regressar somente daqui a 7000 anos.
 
   
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