
Dois furos na superfície marciana, depois do rover Perseverance ter usado uma broca especial para recolher as primeiras amostras de rególito da missão - rocha quebrada e pó - nos dias 2 e 6 de dezembro.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
O rover Perseverance da NASA recolheu duas novas amostras da superfície marciana nos dias 2 e 6 de dezembro. Mas, ao contrário das 15 amostras rochosas recolhidas até à data, estas novas amostras são provenientes de um monte de areia e poeira soprada pelo vento semelhante a uma duna. Agora contidas em tubos metálicos especiais, uma destas duas amostras será tida em consideração para depósito à superfície marciana ainda este mês, como parte da campanha MSR (Mars Sample Return).
Os cientistas querem estudar amostras marcianas com poderosos equipamentos de laboratório cá na Terra para procurar sinais de antiga vida microbiana e para melhor compreender os processos que esculpiram a superfície de Marte. A maioria das amostras são rocha; contudo, os investigadores também querem examinar rególito - rocha quebrada e poeira - não só por causa do que nos pode ensinar sobre os processos geológicos e sobre o ambiente em Marte, mas também para mitigar alguns dos desafios que os astronautas vão enfrentar no Planeta Vermelho. O rególito pode afetar tudo, desde fatos espaciais a painéis solares, por isso é tão interessante para os engenheiros como para os cientistas.
Tal como com as amostras rochosas, estas amostras mais recentes foram recolhidas usando uma broca na extremidade do braço robótico do rover. Mas, para as amostras de rególito, o Perseverance usou uma broca que se parece com um espigão com pequenos furos numa extremidade para recolher esse material solto.
Os engenheiros conceberam a broca especial após extensos testes com rególitos simulados desenvolvidos pelo JPL. De nome "Mojave Mars Simulant", é feito de rocha vulcânica esmagada numa variedade de tamanhos de partículas, desde poeira fina a seixos ásperos, com base em imagens de rególito e dados recolhidos por missões marcianas anteriores.
"Tudo o que aprendemos sobre o tamanho, forma e química dos grãos de rególito ajuda-nos a conceber e testar melhores ferramentas para missões futuras", disse Iona Tirona do JPL da NASA no sul do estado norte-americano da Califórnia, que lidera a missão do Perseverance. Tirona foi a líder da atividade para operações de recolha da recente amostra de rególito. "Quanto mais dados tivermos, mais realistas poderão ser os nossos rególitos simulados".
O desafio da poeira
O estudo aprofundado do rególito pode ajudar os engenheiros a desenhar as futuras missões a Marte - bem como o equipamento utilizado pelos futuros astronautas marcianos. A poeira e o rególito podem danificar tanto os veículos como os instrumentos científicos. O rególito pode encravar peças sensíveis e abrandar rovers à superfície. Os grãos também podem representar desafios únicos para os astronautas: o rególito lunar foi descoberto como sendo suficientemente afiado para rasgar buracos microscópicos nos fatos espaciais durante as missões Apollo à Lua.
O rególito pode ser útil se utilizado como escudo num habitat concebido para proteger os astronautas da radiação, mas também contém riscos: a superfície marciana contém perclorato, um químico tóxico que pode ameaçar a saúde dos astronautas caso grandes quantidades forem acidentalmente inaladas ou ingeridas.
"Se queremos ter uma presença mais permanente em Marte, precisamos de saber como a poeira e o rególito vão interagir com os nossos veículos e habitats", disse Erin Gibbons, membro da equipa do Perseverance, candidata a doutoramento na Universidade McGill, que usa rególito marciano simulado como parte do seu trabalho com o laser vaporizador do rover, chamado SuperCam.
"Alguns destes grãos de poeira podem ser tão finos como o fumo do cigarro, e podem entrar no aparelho respiratório de um astronauta", acrescentou Gibbons, que fez anteriormente parte de um programa da NASA que estudou a exploração humana e robótica de Marte. "Queremos uma imagem mais completa de quais os materiais prejudiciais para os nossos exploradores, sejam eles humanos ou robóticos".
Para além de responder a perguntas sobre perigos para a saúde e para a segurança, um tubo de rególito marciano pode inspirar maravilhas. Estudando-o com um microscópio revelaria um caleidoscópio de grãos de diferentes formas e cores. Cada um seria como uma peça do puzzle, todos eles unidos pelo vento e pela água ao longo de milhares de milhões de anos.
"Há muitos materiais diferentes misturados com o rególito marciano", disse Libby Hausrath da Universidade do Nevada, Las Vegas, uma das cientistas das amostras do Perseverance. "Cada amostra representa uma história integrada da superfície do planeta".
Como especialista dos solos da Terra, Hausrath está mais interessada em encontrar sinais de interação entre a água e a rocha. Na Terra, a vida é encontrada praticamente em todo o lado onde há água. O mesmo pode ter sido verdade para Marte há milhares de milhões de anos, quando o clima do planeta era muito mais parecido com o da Terra.
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