MANCHAS BRILHANTES E DIFERENÇAS DE COR EM CERES
25 de março de 2016
As manchas brilhantes da Cratera Occator, vistas aqui numa imagem de cores melhoradas obtida pela sonda Dawn da NASA. Estas imagens podem ser usaadas para realçar diferenças subtis de cor à superfície do planeta anão.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA/PSI/LPI
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Cientistas da missão Dawn da NASA divulgaram novas imagens da órbita mais baixa da sonda em redor de Ceres, incluindo fotos altamente antecipadas da Cratera Occator, durante a 47.ª conferência de Ciência Lunar e Planetária em The Woodlands, Texas, EUA, na terça-feira passada.
A Cratera Occator, com 92 km em diâmetro e 4 em profundidade, contém a área mais brilhante de Ceres, o planeta anão que a Dawn tem vindo a explorar desde 2015. As imagens mais recentes, obtidas 385 km acima da superfície de Ceres, revelam uma cúpula num poço com paredes lisas no centro brilhante da cratera. Várias características lineares e fraturas cruzam a parte superior e os flancos desta cúpula. As fraturas também rodeiam a cúpula e atravessam outras regiões brilhantes, mas mais pequenas, encontradas também dentro da cratera.
"Antes da Dawn ter começado as suas observações intensivas de Ceres no ano passado, a Cratera Occator parecia ser uma grande área brilhante. Agora, com as imagens recentes obtidas de perto, podemos ver características complexas que fornecem novos mistérios para investigar," afirma Ralf Jaumann, cientista planetário e coinvestigador da Dawn do Centro Aeroespacial Alemão em Berlim. "A geometria complexa do interior da cratera sugere atividade geológica no passado recente, mas teremos de concluir o mapeamento geológico detalhado da cratera antes de testar hipóteses para a sua formação."
Diferenças de cor
A equipa também divulgou um mapa de cores melhoradas da superfície de Ceres, destacando a diversidade dos materiais à superfície e as suas relações com a morfologia superficial. Os cientistas têm vindo a estudar as formas das crateras e a sua distribuição com grande interesse. Ceres não tem tantas bacias de impacto quanto os cientistas esperavam, mas o número de crateras mais pequenas geralmente coincide com as suas previsões. O material azul em destaque no mapa colorido está relacionado com fluxos, planícies lisas e montanhas, que parecem ser características de superfície muito jovens.
"Embora os processos de impacto dominem a geologia da superfície de Ceres, nós identificámos variações específicas de cor que indicam alterações de material devidas a uma complexa interação do processo de impacto com a composição subsuperficial," explica Jaumann. "Adicionalmente, isto fornece evidências para uma camada subsuperficial enriquecida com gelo e voláteis."
Contando neutrões
Dados relevantes para a possibilidade de gelo à subsuperfície também estão a emergir do instrumento GRaND (Gamma Ray and Neutron Detector) da Dawn, que começou a adquirir os seus dados primários em dezembro. Os neutrões e os raios-gama, produzidos por interações dos raios cósmicos com os materiais à superfície, fornecem uma impressão digital da composição química de Ceres. As medições são sensíveis à composição química elementar do metro superior do rególito.
Na órbita mais baixa da Dawn, o instrumento detetou menos neutrões perto dos polos de Ceres do que no equador, o que indica uma maior concentração de hidrogénio a altas latitudes. Dado que o hidrogénio é o componente principal da água, a água gelada deverá estar presente perto da superfície nas regiões polares.
"As nossas análises vão testar uma previsão de longa data de que a água gelada pode sobreviver, durante milhares de milhões de anos, mesmo por baixo da fria superfície a altas latitudes de Ceres," comenta Tom Prettyman, líder da equipa GRaND e coinvestigador da Dawn no Instituto de Ciência Planetária em Tucson, no estado americano do Arizona.
O mistério da Cratera Haulani
Mas a subsuperfície não tem a mesma composição em todo o planeta anão Ceres, de acordo com dados do VIR (Visible and Infrared Spectrometer), um instrumento que analisa a forma como vários comprimentos de onda da luz do Sol são refletidos pela superfície, permitindo com que os cientistas identifiquem minerais.
A Cratera Haulani, em particular, é um exemplo interessante de quão diverso Ceres é em termos de composição da superfície. Esta cratera de forma irregular, com as suas impressionantes listas brilhantes de material, mostra uma proporção diferente de materiais superficiais do que os seus arredores quando estudada pelo VIR. Enquanto a superfície de Ceres é composta principalmente por uma mistura de materiais contendo carbonatos e silicatos, a sua proporção relativa varia ao longo da superfície.
"As imagens de cores falsas de Haulani mostram que o material escavado pelo impacto é diferente da composição geral de Ceres. A diversidade de materiais implica que ou existe uma camada de mistura por baixo, ou que o próprio impacto mudou as propriedades dos materiais," afirma Maria Cristina de Sanctis, principal cientista do VIR, com base no Instituto Nacional de Astrofísica de Roma.
Água em Oxo
Os cientistas da Dawn também informaram numa sessão científica da conferência que o instrumento VIR detetou água na Cratera Oxo, uma característica jovem com 9 km de largura no hemisfério norte de Ceres. Esta água pode estar incorporada em minerais ou, em alternativa, pode assumir a forma de gelo.
Jean-Philippe Combe do Instituto Bear Fight, em Winthrop, Washington, disse que este material com água pode ter ficado exposto durante um deslizamento de terra ou um impacto - talvez até mesmo uma combinação dos dois eventos.
Oxo é o único lugar em Ceres, até agora, onde a água foi detetada à superfície. A Dawn continuará a observar esta área.
O quadro geral
A Dawn fez história no ano passado quando se tornou na primeira missão a alcançar um planeta anão, e a primeira a orbitar dois alvos extraterrestres distintos - ambos na cintura de asteroides entre Marte e Júpiter. A missão realizou extensas observações de Vesta durante a sua estadia de 14 meses em 2011 e 2012.
"Estamos animados por divulgar estas belas novas imagens, sobretudo de Occator, que ilustram a complexidade dos processos que moldam a superfície de Ceres. Agora que podemos ver as enigmáticas manchas brilhantes de Ceres, os minerais à superfície e a morfologia em alta resolução, estamos trabalhando para descobrir os processos que formaram este planeta anão. Ao comparar Ceres com Vesta, podemos recolher novas informações sobre o início do Sistema Solar," afirma Carol Raymond, investigadora principal adjunta da missão Dawn, no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia.
A Cratera Occator, que mede 92 km de diâmetro e 4 de profundidade, contém a área mais brilhante de Ceres.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA/PSI
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A Cratera Haulani em Ceres (34 km de diâmetro), vista nestas imagens do VIR a bordo da sonda Dawn.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/ASI/INAF
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Este mapa mostra uma porção do hemisfério norte de Ceres com dados de contagem de neutrões obtidos pelo instrumento GrAND a bordo da sonda Dawn.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/ASI/INAF
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Este mapa colorido de Ceres criado a partir de um mosaico.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA
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Este mapa global mostra a superfície de Ceres em cores melhoradas, abrangendo comprimentos de onda infravermelhos, além do alcance visual humano.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA
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