ROVER CURIOSITY ENCONTRA CORRESPONDÊNCIA DE MINERAIS
7 de Novembro de 2014
Pó de rocha avermelhada, da primeira perfuração numa montanha marciana pelo rover Curiosity da NASA, forneceu a primeira confirmação da missão de um mineral mapeado a partir de órbita.
"Isto liga-nos às identificações minerais a partir de órbita, que agora podem ajudar a guiar as nossas investigações enquanto subimos a encosta e testamos hipóteses derivadas do mapeamento orbital," afirma John Grotzinger, cientista do projecto Curiosity e do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena.
O Curiosity recolheu o pó através da perfuração de um afloramento rochoso na base do Monte Sharp no final de Setembro. O braço robótico entregou uma pitada da amostra ao instrumento CheMin (Chemistry and Mineralogy) dentro do rover. Esta amostra, de um alvo chamado "Confidence Hills" dentro do afloramento "Pahrump Hills", continha muito mais hematita do que qualquer outra amostra de rocha ou solo analisada pelo CheMin durante os dois anos da missão. A hematita, ou hematite, é um mineral de óxido de ferro que nos dá pistas sobre as antigas condições ambientais de quando se formou.
Em observações relatadas em 2010, antes da selecção do local de aterragem do Curiosity, um instrumento de mapeamento mineral a bordo da sonda MRO (Mars Reconnaissance Orbiter) da NASA forneceu evidências de hematita na unidade geológica que inclui o afloramento Pahrump Hills. O local de aterragem encontra-se dentro da Cratera Gale, uma bacia de impacto com cerca de 154 km de diâmetro, e o Monte Sharp (repleto de camadas) atinge cerca de cinco quilómetros de altura no centro.
"Chegámos à zona da cratera onde temos informações mineralógicas que foram importantes na escolha da Cratera Gale como o local de aterragem," afirma Ralph Millken da Universidade de Brown, em Providence, no estado americano de Rhode Island. Ele faz parte da equipa científica do Curiosity e foi o autor principal do relatório de 2010, publicado na revista Geophysical Research Letters, que identificava os minerais com base em observações da zona inferior do Monte Sharp pelo instrumento CRISM (Compact Reconnaissance Imaging Spectrometer for Mars) da MRO. "Estamos agora num caminho onde os dados orbitais podem ajudar-nos a prever que minerais vamos encontrar e a fazer boas escolhas sobre onde perfurar. Análises como estas vão ajudar-nos a colocar as observações à escala do rover na história geológica mais ampla de Gale que vemos nos dados orbitais."
Grande parte do primeiro ano do Curiosity em Marte foi passado a investigar afloramentos numa área baixa da Cratera Gale chamada "Yellowknife Bay", perto do local onde o rover aterrou. O rover encontrou um antigo leito de um lago. As rochas aí presentes continham evidências de condições ambientais molhadas há milhares de milhões de anos atrás que ofereciam ingredientes e uma fonte de energia favorável à vida microbiana. Os minerais argilosos de interesse nessas rochas de Yellowknife Bay não foram detectados a partir de órbita, possivelmente devido aos revestimentos de poeira que interferem com as observações do CRISM.
O rover passou grande parte do seu segundo ano a viajar desde Yellowknife Bay até à base do Monte Sharp. A hematita descoberta na primeira amostra da montanha demonstra condições ambientais diferentes daquelas registadas nas rochas de Yellowknife Bay. O material rochoso interagiu com a água e a atmosfera para se tornar mais oxidado.
As rochas analisadas anteriormente contêm minerais de óxido de ferro, principalmente magnetita. Uma maneira de formar hematita é colocar magnetita em condições oxidantes. A amostra mais recente contém cerca de 8% de hematita e 4% de magnetita. As rochas perfuradas em Yellowknife Bay e no caminho para o Monte Sharp contêm, no máximo, cerca de 1% de hematita e quantidades muito maiores de magnetita.
"Há mais oxidação envolvida na nova amostra," afirma David Vaniman, vice-investigador principal do CheMin e do Instituto de Ciência Planetária em Tucson, Arizona.
A amostra está apenas parcialmente oxidada, e a preservação da magnetita e da olivina indica um gradiente de níveis de oxidação. Esse gradiente poderia ter fornecido uma fonte de energia química para os micróbios.
O afloramento Pahrump Hills contém múltiplas camadas acima da camada onde a amostra de Confidence Hills foi recolhida. As camadas variam em textura e também podem variar em concentrações de hematita e outros minerais. A equipa do rover está agora usando o Curiosity para o levantamento do afloramento e avaliação de possíveis alvos para uma inspecção mais detalhada e perfuração.
A missão poderá passar semanas ou até meses em Pahrump Hills antes de prosseguir para cima até uma "pilha" de camadas geológicas que formam o Monte Sharp. Essas camadas superiores incluem uma banda resistente à erosão, mais alta no Monte Sharp, com uma assinatura de hematita tão forte que os cientistas a apelidaram de "Hematite Ridge". O alvo perfurado em Pahrump Hulls é muito mais suave e sofreu mais erosão do que Hematite Ridge.
Outro rover da NASA, o Opportunity, fez uma descoberta importante de esférulas ricas em hematita numa outra zona de Marte em 2004. Essa conclusão serviu como prova de uma história rica em água que produziu essas concreções minerais. A forma da hematita em Pahrump Hills é diferente e é muito importante como pista das condições de oxidação. Muitas outras evidências na Cratera Gale servem como testemunha da presença passada de água.
Esta imagem mostra os primeiros buracos perfurados pelo rover Curiosity no Monte Sharp. O material solto perto dos buracos é material rejeitado e uma acumulação de poeira que deslizou pela rocha durante a perfuração.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS
(clique na imagem para ver versão maior)
Esta imagem do rover Curiosity mostra uma amostra de pó extraído pela broca do rover no alvo "Confidence Hills" - a primeira rocha perfurada após o Curiosity ter alcançado a base do Monte Sharp em Setembro de 2014.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS
(clique na imagem para ver versão maior)
Esta comparação lado-a-lado mostra os padrões de difracção em raios-X de duas amostras diferentes recolhidas em rochas marcianas pelo rover Curiosity. As imagens apresentam dados obtidos pelo instrumento CheMin (Chemistry and Mineralogy) do Curiosity.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
(clique na imagem para ver versão maior)
Esta imagem mostra o percurso e alguns locais importantes no afloramento "Pahrump Hills" pelo rover Curiosity no Outono de 2014. O afloramento encontra-se na base do Monte Sharp, dentro da Cratera Gale.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS
(clique na imagem para ver versão maior)