FORMA DO COMETA 67P/C-G É BASTANTE MAIS JOVEM DO QUE SE PENSAVA
15 de novembro de 2016
Imagem do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko pela câmara OSIRIS da Rosetta, obtida a 3 de agosto de 2014 a partir de uma distância de 285 km.
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para a Equipa OSIRIS MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA
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Com base em simulações de computador, astrofísicos da Universidade de Berna concluíram que o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko não obteve a sua forma de "patinho de borracha" durante a formação do nosso Sistema Solar há 4,5 mil milhões de anos atrás. Embora contenha material primordial, foram capazes de mostrar que o cometa, na sua forma atual, tem pouco mais de mil milhões de anos.
Com base em dados da sonda Rosetta, os cientistas até agora assumiam que o cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko teve origem na fase inicial do nosso Sistema Solar. A sua peculiar forma de "patinho de borracha" teria resultado de uma gentil colisão entre dois objetos há cerca de 4,5 mil milhões de anos atrás. Segundo uma nova investigação, Martin Jutzi e Willy Benz do NCCR PlanetS e do CSH (Center for Space and Habitability) da Universidade de Berna, juntamente com outros colegas, chegaram a uma conclusão diferente. Como resultado de dois estudos publicados na revista Astronomy & Astrophysics, Jutzi explica que "é improvável que um corpo como Chury tenha sobrevivido tanto tempo sem danos - as nossas simulações de computador mostram isso."
Caso as suposições do atual modelo "padrão" da origem do nosso Sistema Solar estejam corretas, uma fase inicial e tranquila foi seguida por um período em que grandes corpos iniciaram velocidades mais altas e colisões mais violentas. Num primeiro artigo, os cientistas calcularam quanta energia seria necessária para destruir uma estrutura como 67P/C-G numa colisão. Ao que parece, o cometa tem um ponto fraco; a ligação entre as duas partes - o pescoço entre a cabeça e o corpo. "Descobrimos que esta estrutura pode ser facilmente destruída, mesmo com colisões de baixa energia," sumariza Jutzi. Willy Benz compara o pescoço do cometa com a haste de um copo de vinho: "O copo tem que ser lavado com cuidado para que a haste não se parta," diz o astrofísico. Obviamente, o Sistema Solar não teve tanto cuidado neste aspeto.
O novo estudo mostra que cometas como 67P/Churyumov-Gerasimenko sofreram um número significativo de colisões ao longo do tempo, cuja energia teria seria suficiente para destruir uma estrutura de lóbulos. Portanto, a forma não é primordial, mas desenvolveu-se através de colisões ao longo de milhares de milhões de anos. "A forma atual do Chury é o resultado do último grande impacto que provavelmente teve lugar nos últimos mil milhões de anos," comenta Jutzi. A forma de "patinho de borracha" do cometa é, portanto, muito mais jovem do que se pensava. A única alternativa seria que o atual modelo padrão da evolução inicial do Sistema Solar não está correto e que existiriam menos objetos pequenos do que se pensava. Neste caso, não teriam existido tantas colisões e o cometa teria tido a hipótese de manter a sua forma primordial. "De momento, pensamos que a forma do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko é o resultado de muitas colisões, e que o modelo padrão não precisa de ser revisto," realça Jutzi.
Nova forma, mesmo conteúdo
No segundo artigo, Jutzi e Benz investigam exatamente como a forma atual do cometa poderá ter resultado de uma colisão. Nos seus modelos de computador, fizeram colidir objetos pequenos - com um diâmetro de 200 a 400 metros - com um corpo de aproximadamente cinco quilómetros e em rotação, corpo este com a forma de uma bola de rugby. A velocidade de impacto variava entre os 200 e 300 metros por segundo, o que claramente excede a velocidade de escape para objetos deste tamanho (cerca de 1 metro por segundo). No entanto, a energia envolvida é ainda muito inferior à de um impacto catastrófico no qual uma grande parte do corpo é pulverizada. Como resultado, o alvo foi rasgado em duas partes, que, devido aos efeitos da sua atração gravitacional mútua, mais tarde se fundiu numa estrutura em duas partes - uma estrutura como Chury.
Será que o resultado desta investigação contradiz o conhecimento prévio de que os cometas consistem de material primordial pelo menos tão antigo quanto o nosso Sistema Solar? "Não," dizem os cientistas. As suas simulações mostram que a relativamente pequena energia de impacto não aquece ou comprime o cometa globalmente. O corpo é ainda poroso e o material volátil que estava aí contido desde o início permaneceu. Em ligação com o cometa Chury, estas propriedades puderam ser medidas de forma convincente com a sonda Rosetta. "Até agora, assumia-se que os cometas eram blocos de construção originais - semelhantes a Legos," realça Benz. "O nosso trabalho mostra que os blocos de Lego já não têm a sua forma original, mas o plástico de que são feitos é ainda o mesmo que no início."