CORRENTES OCEÂNICAS PREVISTAS EM ENCÉLADO 30 de março de 2021
Ilustração do interior de Encélado, que mostra um oceano global de água líquida entre o seu núcleo rochoso e a crosta gelada. A espessura das camadas não está à escala.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
Enterrado sob 20 quilómetros de gelo, o oceano subsuperficial de Encélado - uma das luas de Saturno - parece ter correntes semelhantes às da Terra.
A teoria, derivada da forma da concha gelada de Encélado, desafia o pensamento atual de que o oceano global da lua é homogéneo, além de alguma mistura vertical impulsionada pelo calor do núcleo da lua.
Encélado, uma pequena bola gelada com aproximadamente 500 km em diâmetro (cerca de 1/7 do diâmetro da Lua da Terra), é o sexto maior satélite de Saturno. Apesar do seu pequeno tamanho, Encélado atraiu a atenção dos cientistas em 2014, quando uma passagem rasante da sonda Cassini descobriu evidências do seu grande oceano subterrâneo e "saboreou" água de erupções semelhantes a geysers libertados de fissuras no gelo do polo sul. É um dos poucos locais no Sistema Solar com água líquida (outro é a lua de Júpiter, Europa), tornando-o um alvo de interesse para astrobiólogos em busca de sinais de vida.
O oceano em Encélado é quase totalmente diferente dos da Terra. Os oceanos da Terra são relativamente rasos (uma média de 3,6 km de profundidade), cobrem três-quartos da superfície do planeta, são mais quentes no topo por causa dos raios do Sol e mais frios nas profundezas, perto do fundo do mar, e têm correntes que são afetadas pelo vento; Encélado, por sua vez, parece ter um oceano que abrange todo o globo e está completamente abaixo da superfície, com pelo menos 30 km de profundidade e é mais frio no topo, perto da camada de gelo, e aquecido na parte inferior pelo calor do núcleo da lua.
Apesar das suas diferenças, a estudante de doutoramento Ana Lobo do Caltech sugere que o oceano em Encélado tem correntes semelhantes aos da Terra. O trabalho baseia-se em medições feitas pela Cassini e também na investigação de Andrew Thompson, professor de ciência ambiental e engenharia, que estuda a maneira como o gelo e a água interagem para impulsionar a mistura dos oceanos em torno da Antártida.
Lobo e Thompson colaboraram no trabalho com Steven Vance e Saikiran Tharimena do JPL, que o Caltech gere para a NASA.
As medições gravitacionais e cálculos de calor da Cassini já haviam revelado que a camada de gelo é mais fina nos polos do que no equador. As regiões de gelo fino nos polos estão provavelmente associadas com o derretimento e as regiões de gelo espesso no equador com o congelamento, diz Thompson. Isto afeta as correntes oceânicas porque, quando a água salgada congela, liberta os sais e torna a água em redor mais pesada, fazendo com que afunde. O oposto acontece nas regiões de derretimento.
"O conhecimento da distribuição do gelo permite-nos colocar restrições nos padrões de circulação," explica Lobo. Um modelo de computador idealizado, baseado nos estudos de Thompson da Antártica, sugere que as regiões de congelamento e derretimento, identificadas pela estrutura do gelo, estariam ligadas pelas correntes oceânicas. Isto criaria uma circulação do polo ao equador que influencia a distribuição de calor e nutrientes.
"Entender quais as regiões do oceano subterrâneo mais hospitaleiras para a vida como a conhecemos pode, um dia, ajudar a procurar sinais de vida," diz Thompson.