O ano de 2009 deu-nos muitos momentos cósmicos impressionantes, tanto para astrónomos como para observadores casuais. Planetas vizinhos, como Mercúrio e Júpiter, receberam transformações, tanto no sentido científico como literalmente. A descoberta de água na Lua e em Marte providenciou pistas do passado, bem como sugestões para a exploração espacial do futuro. E uma classe de recém-detectadas "super-Terras" em torno de outras estrelas podem, em última análise, revelar-se mais habitáveis que a própria Terra. Aqui ficam as histórias que mais sobressaíram durante este ano que agora termina.
Chuvas de meteoros e objectos excêntricos
A Terra ficou num lugar privilegiado para a observação de objectos espaciais em 2009, com chuvas de meteoros, passagens de rochas espaciais, e estranhas luzes no céu - tanto naturais como feitas pelo Homem.
Espectáculos anuais, como as Leónidas, continuaram a maravilhar os observadores, mas algumas rochas espaciais aproximaram-se demasiado do nosso planeta. Um asteróide explodiu por cima da Indonésia, com a força de várias bombas de Hiroshima, no dia 8 de Outubro de 2009, e tornou-se na maior rocha espacial a atingir a Terra em mais de uma década.
Luzes estranhas e lindas, feitas pelo Homem, também se juntaram aos festejos este ano. A NASA lançou um foguetão experimental que recreou brevemente nuvens misteriosas que brilham à noite durante o passado mês de Setembro. Mas o espectáculo mais estranho veio de uma forma espiral que apareceu por cima da Noruega em Dezembro, e que despoletou uma enorme especulação acerca de extraterrestres e de meteoros - antes do Ministério da Defesa da Rússia ter confirmado que era o lançamento falhado de um míssil, míssil este que ficou fora de contolo.
Mercúrio revelado
O planeta Mercúrio recebeu uma grande transformação científica em 2009, quando a sonda MESSENGER da NASA completou o seu terceiro e último "flyby" em Setembro de 2009, que a ajudará a atingir órbita de Mercúrio em 2011.
Um terceiro encontro com Mercúrio não só ajudou a mapear até 98% da superfície do planeta, mas também mostrou que a superfície contém grandes quantidades de metais pesados, como o ferro e titânio. A surpresa forçou os cientistas a repensar a evolução do pequeno planeta.
Esta última passagem também revelou mudanças sazonais no planeta mais próximo do Sol. Tais mudanças tomam a forma de alterações na composição química da fina atmosfera de Mercúrio.
O buraco negro mais massivo
Ele há o grande, e depois o grande galáctico. Um buraco negro supermassivo tornou-se no campeão dos pesos pesados este ano, com 6,4 mil milhões de vezes a massa do Sol, após os astrofísicos terem revisto estimativas anteriores do tamanho do monstro, através de modelos computacionais e observações telescópicas.
Este colosso cósmico situa-se no coração da gigante galáxia M87, tal como o buraco negro massivo da nossa própria Via Láctea. Outros buracos negros em grandes galáxias vizinhas poderão agora também vir a receber um segundo olhar, por isso não ponha de parte um novo detentor deste recorde nos próximos anos.
Notícias:
17/04/09 - Especáculo de luz, pelo buraco negro supermassivo de M87
10/06/09 - Buraco negro supermassivo de M87 é o maior conhecido
O ano do Telescópio Espacial
Em 2009 foi lançada uma nova geração de telescópios espaciais, para descobrir novos mundos ou revelar antigos mistérios do Cosmos. Provavelmente nenhum recebeu mais mediatismo que o novo caçador de planetas extrasolares da NASA, o Kepler, que pode detectar mundos distantes com base na tantalizante diminuição da luz criada por um planeta à medida que passa em frente da sua estrela, visto da perspectiva da Terra. Entre os outros recém-chegados destacam-se os observatórios espaciais Herschel e Planck da ESA, que vislumbraram o Universo pela primeira vez já este ano. O Herschel é o telescópio infravermelho mais poderoso já lançado para o espaço, enquanto o Planck tem o objectivo de estudar a "primeira luz" do Universo, que emergiu pouco tempo depois do Big Bang.
Por último mas não menos importante, a sonda WISE da NASA foi lançada em Dezembro, com o objectivo de estudar o céu infravermelho uma vez e meia durante o seu tempo de vida.
Estes telescópios de próxima geração juntam-se a um grupo mais antigo que inclui o Chandra (NASA) e o XMM Newton da ESA. Ambos comemoraram este ano o seu 10.º aniversário.
Notícias:
06/02/09 - Telescópio Kepler irá pesquisar "Terras" extrasolares
06/03/09 - Telescópio Kepler é lançado hoje
09/03/09 - Missão Kepler parte em busca de novos mundos
08/04/09 - Monstruoso telescópio espacial está preparado para lançamento
10/04/09 - Telescópio Kepler abre o seu olho
20/04/09 - Primeiras imagens da missão Kepler
13/05/09 - Satélite Planck pronto para medir o Big Bang
15/05/09 - Que comece a caça planetária
18/05/09 - Herschel e Planck lançados com sucesso
13/07/09 - Primeiras imagens do Herschel
10/08/09 - Kepler descobre o seu primeiro planeta extrasolar
07/09/09 - XMM-Newton descobre "Pedra de Roseta" das supernovas tipo Ia
05/10/09 - Herschel descobre novas pérolas de formação estelar
09/12/09 - NASA lança WISE esta Sexta-feira
Água gelada em Marte
O caso de um passado molhado em Marte nunca foi tão favorável como em 2009. As rochas espaciais deram uma ajuda à Ciência, ao criar crateras na superfície marciana que revelaram quase 99% de pura água gelada perto da superfície - possíveis restos de camadas geladas, que podem cobrir até metade do planeta.
Os cientistas afirmam que um extenso mapa dos vales que cruzam Marte aponta para um possível oceano no passado do planeta. O intrépido rover Opportunity da NASA continuou também a fornecer provas de que a água poderá ter ajudado a esculpir a superfície marciana.
Uma das questões mais duradouras que se prolonga para 2010 é se ainda existe água líquida à superfície de Marte. Um conjunto de glóbulos ligados às pernas da sonda Phoenix da NASA reprenta provas possíveis mas controversas de água líquida marciana, de acordo com os cientistas da NASA que reveram a missão, restringida a cinco meses, no ano passado.
Notícias:
19/01/09 - Metano revela que Marte não é um planeta morto
24/01/09 - Confirma-se a existência de água nos pólos de Marte
20/02/09 - Água líquida poderá ter sido avistada em Marte
01/04/09 - Revelada a zona mais habitável de Marte
19/06/09 - Primeiras provas conclusivas de antigo lago em Marte
01/07/09 - Formações geológicas indicam "recente" clima quente em Marte
08/07/09 - Resultados da Phoenix apontam para ciclos climáticos em Marte
07/10/09 - Como as rochas marcianas poderão preservar sinais de vida
11/12/09 - Teoria de vida em Marte impulsionada por novo estudo de metano
Primeiro planeta rochoso em torno de outra estrela
Duas das maiores descobertas exoplanetárias até à data ocorreram em 2009, à medida que os caçadores de planetas extrasolares deram os primeiros passos na descoberta de planetas tipo-Terra para lá do nosso Sistema Solar. Ambos os casos envolveram a observação de mundos distantes passando em frente das suas estrelas-mãe, em vez de inferir meramente a existência de planetas com base na oscilação gravitacional que provocariam nas estrelas.
Primeiro, os astrónomos confirmaram o primeiro mundo rochoso avistado em órbita de outra estrela. Denominado CoRoT-7b, representa o primeiro planeta extrasolar com uma densidade parecida à da Terra - mesmo que a sua superfície se pareça muito menos com a do nosso planeta, onde as temperaturas ultrapassam os 1000 graus Celsius.
Um segundo mundo rochoso, rico em água, denominado GJ 1214b, também se tornou na primeira "super-Terra" a ter uma atmosfera confirmada.
O punhado cada vez maior de super-Terras, ou planetas com massas entre a da Terra e a de Neptuno, pode agora sobressaír entre as centenas de gigantes gasosos parecidos a Júpiter já detectados em órbita de outras estrelas. Alguns cientistas acreditam que tais super-Terras poderão, em última análise, ser potencialmente mais habitáveis que a Terra.
Notícias:
21/01/09 - Exoplaneta mais pequeno conhecido pode na realidade ter aproximadamente a massa da Terra
04/02/09 - CoRoT descobre o planeta extrasolar mais pequeno até agora
18/02/09 - Via Láctea poderá ter milhares de milhões de 'Terras'
22/04/09 - Descoberto o planeta extrasolar mais leve (e pequeno) até agora
18/09/09 - Primeiras sólidas provas da existência de um planeta extrasolar rochoso
02/10/09 - Chovem rochas em CoRoT-7b
Telescópio Hubble observa as profundezas do Universo
O telescópio mais famoso do mundo, o Hubble, sobreviveu a uma cirurgia no espaço e emergiu na sua melhor forma de sempre em 2009. O telescópio, já com 19 anos, celebrou o seu renascimento ao observar o que poderão ser as galáxias mais distantes e antigas já descobertas.
A nova câmara WFC3 do Hubble observou, no infravermelho, galáxias que se formaram 600 milhões depois do teórico Big Bang, ou há cerca de 13,1 mil milhões de anos. A ser confirmada, esta descoberta pode substituir as detentoras actuais deste recorde de galáxias mais distantes e antigas do Universo.
Para além dos recordes, o Hubble também teve tempo para observar um inesperado impacto em Júpiter.
Notícias:
29/04/09 - NASA prepara-se para última missão ao Hubble
22/05/09 - Começou a 2.ª revolução do Hubble
11/09/09 - Quão melhor é o "novo" Hubble? Vamos comparar
Júpiter debaixo de fogo
O que um astrónomo amador anunciou pela primeira vez como uma nova mancha escura em Júpiter, revelou-se uma grande ferida planetária com o tamanho do Oceano Pacífico, deixada para trás por um asteróide ou um cometa no verão de 2009. O massivo impacto cósmico rivalizou facilmente com outro ocorrido há 15 anos, quando o Cometa Shoemaker-Levy 9 colidiu com o rei do planetas.
Os astrónomos estimaram que o culpado por trás do impacto não tinha mais que meio quilómetro em diâmetro. Mesmo assim, tal objecto cósmico teria que ter contido milhares de vezes a energia do impacto de Tunguska na Terra, que explodiu por cima da Sibéria em 1908 e arrasou uma área tão grande como uma cidade.
Um impacto de tamanho similar na Terra teria sido provavelmente catastrófico. Mas os observadores da Terra podem dar graças por Júpiter, que atrai rochas espaciais perigosas devido ao seu gigantesco tamanho e puxo gravitacional.
Notícias:
22/07/09 - Objecto colidiu com Júpiter
27/07/09 - Espectaculares imagens de Júpiter obtidas pelo novo Hubble
Água na Lua
Talvez nenhuma outra revelação espacial este ano tenha sido tão importante como a descoberta de água na Lua. Um satélite há muito descrito como estéril e seco, agora ostenta a tantalizante possibilidade de colónias lunares, já sem falar de um ponto de lançamento para uma exploração espacial mais longínqua.
Os cientistas confirmaram pela primeira vez traços de água nas camadas superiores da superfície lunar, com base em detecções de água ou de um grupo de hidróxilo (oxigénio e hidrogénio ligados quimicamente) obtidas pela sonda Chandrayaan-1 da Índia, pela sonda Deep Impact e pela Cassini. Mas as suas descobertas, anunciadas num artigo publicado na edição de 25 de Setembro da revista Science, apenas arranharam a superfície.
Depois, a sonda LCROSS da NASA colidiu com o pólo sul da Lua em Outubro, e tudo mudou ainda mais. A pluma de detritos libertados pelo impacto da sonda revelou água gelada, e em grandes quantidades. Este gelo pode servir como água potável para futuros astronautas e colonos, ou com hidrogénio para o combustível das naves.
Saber que a água aguarda a chegada de seres humanos à Lua é uma espécie de validação para um dos objectivos principais da NASA, o de colocar novamente botas no solo lunar. E pode também providenciar um impulso bastante necessário para as próximas gerações de cientistas e exploradores espaciais, desbravando o desconhecido para além de 2010.
Notícias:
17/06/09 - Debate continua acerca de água na Lua
25/09/09 - Água pode agarrar-se à superfície da Lua
30/09/09 - Como os astronautas poderiam "recolher" água na Lua
18/11/09 - Grandes quantidades de água descobertas na Lua
20/11/09 - Água descoberta na Lua veio provavelmente de cometas
28/12/09 - Estaremos à procura de água nos locais errados da Lua? |